Two Steps
A FORÇA PROPULSORA do disparo que calibrei redirecionando para a ponta dos dedos engatilhados me recompensou com duas grandes realizações: a de ter conseguido a proeza de concentrar tanta energia em um ponto só considerando minhas falhas consecutivas anteriores e por ter ficado tão descolada que recordei de um dos personagens que marcaram minha infância com um dos melhores animes da época, meio que fiquei orgulhosa do meu êxito. Pensei, por um breve momento, em como Alexander também estaria satisfeito com meu progresso após uma jornada bastante complexa de instruções e paciente amparo e que ainda não tinha chegado no seu ápice.
Os demônios, não todos, mas os que ficaram na minha mira foram exterminados com a rajada energética que os pegou tão desprevenido quanto alguns dos brandir de espada de Dante ou sua saraivada de tiros com Ebony e Ivory. E meu amado Devil Hunter se saía muito bem com os combos estilosos que misturavam o elegante corte da Rebellion com os rugidos furiosos das pistolas, contrabalançando seus golpes.
Com um sorriso mais bobo, a expressão mais histericamente eufórica, soprei a pontinha dos dedos bem cheia de mim e mirei Dante.
— Leigan. — proferi, inspirada pelo Yusuke Urameshi e seu poder bacana que copiava quando era criança e que, agora, se tornara uma realidade. Claro, não era algo que eu pudesse reproduzir com uma deficiente proficiência com a maleabilidade de energia, porém ainda foi divertido. — Você viu aquilo, Dante? Fiz igualzinha o Yusuke. Acho que da próxima...
— Da próxima tenta não destruir janelas. — Dante replicou, rindo e meneando a cabeça em direção ao que outrora foi uma janela. — Isso vai sair do meu bolso.
— Foi mal, me empolguei. — esfreguei a nuca, ouvindo uma das pistolas disparar atrás de mim.
— Não tem problema — ele segurou meu braço com delicadeza e me girou para que ficasse entre mim e a horda.
— É estranho que tenham tantos demônios atrás de uma criança, não acha?
Dante me fitou com surpresa, não do tipo que ficou chocado com uma notícia bombástica, e sim como se estivesse intrigado por não ter visto a conexão óbvia diante de mim.
De modo geral, sabia que demônios possuíam hábitos noturnos — hábitos não era bem a palavra correta. A noite era o disfarce natural deles, onde poderiam rastejar para longe de seus esconderijos para caçar e manipular humanos a seu bel prazer. No entanto, chegava a ser bastante incômodo a insistência deles em nos atacar quando estávamos prontos para dormir.
Quero dizer, é covardia, não é? Não tem um senso comum sobre isso?
Talvez conduta moral não se aplicava a nenhuma criatura do submundo.
Se antes existia qualquer dúvida sobre a periculosidade da missão, a cláusula em letras miúdas, já desapareceu. E pior: estava de pijama. Não um discreto que mais parecia um macacão de bichinho. Era aqueles vestidos com o comprimento reduzido em menos da metade das coxas que com uma sopradinha de vento iria voar e mostrar o que não deve.
— Nem acredito que vou lutar de pijama. E um dos mais comprometedores.
— Não está tão mal assim, só ter cuidado para não virar pedaços.
— E por que viraria... — arquejei quando Dante se projetou para correr comigo antes que fosse atingida em cheio por uma foice desvairada. — Ok, eu entendi. Tomar cuidado.
Me posicionei, espargindo minha aura pelos músculos para aumentar a performance e potencializa meus ataques físicos — um tópico que Alexander gostava de acentuar. A onda repentina de poder cresceu pelo meu estômago subindo e alastrando-se por todos meus músculos, despertando o desejo indomável de lutar. Era uma excitação sem limites e precisa, gerando adrenalina em doses perfeitas e controladas. Cobri a retaguarda enquanto Dante ia direto onde os demônios se amontoavam. Minha preocupação primária era Ayden que dormia sozinho no quarto, sem supervisão e indefeso.
— Eu vou liberar o caminho e você vai atrás do garoto, capiche? — Dante anunciou com um sorriso, provavelmente lendo minha apreensões.
— Certo. — me esgueirei em meio a confusão e, de repente, uma epifania me atingiu com a fúria de um trem desgovernado. As chances seriam mínimas em teoria, mas gostaria de tentar e evitar mais bagunça que sobraria pro orçamento escasso. Ergui o braço e lancei uma descarga de luz dourada sobre os demais demônios, neutralizando a maioria e me descarregando completamente. Uma das minhas debilidades, apesar de não ser tão ignorante como era nos primeiros intentos, vinha de me sobrecarregar muito rapidamente. Digamos que seria um celular eficiente, mas que se usar demais simplesmente desliga por superaquecimento. Ouvi sons de palmas assim que terminei e nem foi preciso ver para saber quem seria o admirador. — Acho que exagerei um tiquinho.
— Você fez uma verdadeira limpa, doçura. — Dante me pegou nos braços e me carregou para o quarto. — Mas precisa tomar cuidado.
— Eu sou muito cuidadosa — retruquei.
Dante arqueou uma das sobrancelhas.
Ao entrar no quarto, vimos uma criatura próxima da cama de Ayden e para minha aflição o garotinho não estava mais lá. Vasculhei detalhe por detalhe do quarto em sua procura com a mente borbulhando com os mais terríveis cenários possíveis e o alívio de achá-lo foi tão inebriante que ri como uma resposta nervosa a situação estressante. No entanto, minha paz não durou muito, uma das criaturas suspendeu o garoto inconsciente pela camisa. A visão, em conjunto com um instinto primário que nublou meu bom juízo, desencadeou minha fúria.
— Não. — guinchei, sem fôlego.
Dante restringiu meus movimentos para não agir impulsivamente e acabar fazendo algo perigoso e idiota. Arrumei forças onde já não tinha mais, me desvencilhando e escapulindo dos braços do Devil Hunter, e me arremessei contra o demônio que teve a audácia de atacar uma criança indefesa. Agarrei Ayden em meio a queda pra fora e me usei para amortecer a queda dele.
Fiquei genuinamente impressionada que com tanta algazarra Ayden não acordou. A voz de Dante retumbou com a potência de um trovão, imponente e diria colérica. Ele saltou para perto de mim e verificou com cautela e suavidade se eu e Ayden estávamos bem antes de mirar os demônios nos rodeando.
— Se eles tiverem um arranhão, vou fazer questão de retribuir com o dobro — ele manteve a acidez e a petulância bem refletida em sua compostura mesmo que a chama no seu olhar dissesse mais sobre sua ferocidade e raiva que humor que qualquer outra emoção. Dante afagou a cabeça de Ayden e se aprumou. — É bom que estejam preparados.
Esperei o meu corpo se adaptar e curar — porque minha capacidade regenerativa dependia de certos requisitos para funcionar bem — para me reerguer com Ayden em meus braços. Com certa dificuldade, o ajeitei de modo que liberasse minhas mãos e tivesse como me defender.
Em uma tentativa de me “reacender”, estalei os dedos para criar um pouco de atrito sem nada mais que faíscas mixurucas que serviram somente para criar um campo de força limitado para proteger Ayden.
— Vou ter que botar meu treino de combate pra jogar — esquivei com agilidade dos ataques, atraindo a atenção de alguns para Dante que os destroçava com um rasgo, partindo-os ao meio. Um dos grandes veio diretamente para mim e corri, dando uma rasteira e passando por baixo dele. Não iria deixar ele me pegar tão fácil, mas precisava ser prática para não enrolar com o serviço. — Dante! — gritei, saltando direto para um ponto aberto dele ao mover Rebellion no instante que ele, em um fender coordenado, transformou o demônio em pedaços.
Um legítimo trabalho de equipe.
Lembrei das minhas armas e as saquei para abater mais alguns.
Abri um sorriso de triunfo com a ardente e prazerosa sensação de voltar ao controle.
— Vamos dançar. — voei contra dois demônios, ao mesmo tempo em que Oblivion e Glamour dispararam. Acertei outro com uma sequência rápida de chutes, retalhando o restante no processo. Resolvi que seria mais adequado que matasse todos de uma única vez, visto que não tinha tanto tempo disponível para jogar. Finquei uma lança no chão e minuciosamente enlacei minha perna na fina estrutura, e assim comecei a rodopiar nela enquanto que as minhas preciosas armas faziam sua parte. Me senti a própria Bayonetta, só que menos sensual.
Puxei o braço livre do monstro e posicionando minha perna no rosto da criatura em pleno ar. Sabia que seria arriscado, mas não podia permitir que nada nem ninguém prejudicassem uma criança inocente. Glamour encontrava-se afundada em sua boca, e lancei meu olhar mais mortal que podia mostrando toda veracidade da minha exaltação. Em uma tentativa desesperada, ele ainda ousou infringir uma ofensiva contra mim que no máximo rasgou a frente da camisola. Tomei Ayden de suas mãos e usei o braço livre para arrancar o da criatura que urrou ensurdecedoramente e para calar o irritante som tive o prazer de finalizar a tarefa atirando em sua boca. Pelo barulho o pequenino Ayden despertou meio tonto e confuso. Eu pousei elegantemente em cima de um carro — que por muitíssima sorte não fora o de Dante. Até por que seria o cúmulo da fatalidade.
Na real, achava que isso nem arranharia a superfície do grande esquema das coisas.
Quando dei por mim e refletindo sobre o que fiz, realmente fiquei surpreendida com meu desempenho e as inusitadas coisas que executara tão perfeitamente. Mas nada se comparava com minha excitação e empenho para lutar mais e mais. Por essas e outras que concordo com Dante sobre as batalhas deixarem a vida mais interessante. O vento frio atravessou meu corpo e, finalmente, notei que estava praticamente de roupas íntimas já que a camisola estava rasgada. Havia mais demônios chegando e Dante se encarregou deles sem nenhum problema. Ayden escondeu o rosto na curva do meu pescoço, muito assustado e ainda se apertou em mim num apelo mudo por afeto e proteção.
— Vocês estão bem?
— Inteiros. — corrigi, meio indignada pelo pijama retalhado. — Pelo menos onde importa.
Carinhosamente afaguei os cabelos escuros de Ayden transmitindo toda segurança que ele necessitava nesse momento.
— Não se aflija, Aydenzinho. Está tudo bem agora. — sussurrei em compaixão e ternura. Comparado a uma mãe que acolhe seus filhos.
Ayden fungou em resposta, deixando claro que estava chorando. Aquilo por si só foi de cortar o coração.
— Não chore, garoto. — Dante tocou gentilmente a cabeça dele. — Mostre o quão forte você é.
— Ele é uma criança, Dante. Está com medo.
— Não tem nada errado ter medo, mas o medo se enfrenta. — a convicção queimando no olhar dele foi um combustível para que o compreendesse. — E ele não está sozinho. Não precisa se preocupar com nada, garoto, vamos salvar sua pele sempre que necessário.
Ayden fungou novamente e esfregou os olhinhos.
— Não foi tão difícil. Caras legais choram, mas ainda mantém a coragem.
— Isso foi bem fofo da sua parte, viu?
Ayden balançou a cabeça em concordância.
— Bom garoto. — Dante acariciou gentilmente a cabeça de Ayden, sorrindo amigável. Até quando são pequenos os homens não deixam de ser engraçados a sua maneira.
O menino bocejou.
— Estou com sono — pronunciou com a voz embargada de sono.
— Todos nós estamos, afinal a noite foi bem agitada. — senti subitamente que estávamos sendo observados de algum ponto próximo. Dante também percebeu, mas não deu muita importância.
Também, por que ele daria, entre nós e uma possível ameaça, Dante finalizaria sem suar.
Ayden desceu do meu colo e correu para dentro do hotel.
— Caramba... Como vamos consertar isso? — olhei para o estrago.
Dante me encarou com um sorriso.
— O que foi?
— Nada. Vamos, doçura, você está quase pelada no meio da rua.
Me cobri com meus braços. Dante me pegou no colo e saltou direto para o quarto.
— Obrigada pelo atalho — brinquei, procurando algo melhor pra vestir.
Veria como solucionar a questão da destruição depois de dormir. Minha eu de amanhã resolverá com toda certeza.
As águas cristalinas se estendiam e ondulavam a medida que me movia — no centro, como um altar, estava uma mulher de costas pra mim. O fluxo se originava dali e se desaguava em algum ponto do misterioso cenário fantástico e silencioso vindo de algum livro de fantasia ou de algum jogo bem feito com um ótimo level design. Saindo um pouco do transe, notei que usava nada mais que um vestido branco de alcinhas tão leve que se colava em mim com o sopro terno da brisa.
A música que tinha me guiado para aquele lugar, a da Nilin... Ela me contou sobre e por algum motivo sempre me atraía. Como se chamava mesmo? Vasculhei nas minhas memórias e recordei prontamente quase que uma iluminação apoteótica: a canção do herói. Entretida com o som, comecei intuitivamente a cantar junto com a letra e tudo. Surpresa com a interação, a mulher virou, revelando de fato ser Nilin.
— Isso é um sonho? — perguntei impressionada. — Parece tão real.
— Quem sabe... — Nilin sorriu. — Sabe, eu não sinto que fiz muito, algo pra me orgulhar. Tenho um propósito, mas agora não faz muito sentido.
— Talvez eu possa te ajudar.
Nilin negou com a cabeça.
— Eu errei com você, Diva.
— Do que está falando?
— Eu meio que te trouxe até aqui — admitiu com pesar. — Pra esse mundo de certa forma. Aquelas ruínas eram um ponto de tecido frágil, se tivesse um gatilho você seria deslocada pra lá.
— Se refere ao santuário?
— Sim. Era um antigo recinto de magia antiga. Ele é um selo da família Lockhard.
Família Lockhard? A família do Alexander?
— Isso não explica nada.
— Você é uma Lockhard, foi por isso que foi puxada pra aquela fenda específica. Por isso que... — a boca de Nilin se movia, mas nenhuma palavra fora vocalizada, como se algo interferisse diretamente na transmissão do sonho. Ela pareceu que não percebeu a interrupção e eu não tinha a melhor técnica em leitura labial pra compreender do que ela tanto falava.
Acordei com um braço firmemente enroscado em meu pescoço, me imobilizando. Para alguém atordoada, confusa em um começo de histeria, cravei os dentes no braço da pessoa que me segurava com toda força que reuni em segundos escutando um grito feminino em resposta.
— Droga. Eu te salvo e é assim que me agradece? — a mulher resmungou.
— Salvou? — indaguei perplexa. — Quem é você?
— Meu nome é Ana. — ela respondeu. — Bem, de nada.
Olhei ao redor tentando decifrar meus pensamentos embaralhados, buscando alguma lógica enquanto minha visão se clareava com a vista de cima de um algum prédio.
— Como eu vim parar aqui?
— Sonambulismo talvez?
— Eu não sou sonâmbula... Eu acho. — esfreguei a nuca. — Bem... Ana, meu nome é Diva. Obrigada por ter me... Ajudado.
Diva Lockhard. Uma voz murmurou em minha cabeça que imediatamente espantei.
— Diva? Você é uma das encarregadas do garoto, não é?
— Como sabe disso...?
— Eu também sou.
— Uau, parece que essa missão é mais complexa do que parece.
— Melhor voltar antes que dêem falta. — me preparei para retornar quando me ocorreu uma impressão esquisita.
— Era você que estava seguindo a gente, não é?
Ana deu um sorriso vago.
— Trabalho é trabalho.
Arfei com o calafrio que percorreu a espinha ao pressentir a aura poderosamente quente que invadiu a área. Dante estava preguiçosamente acomodado no peitoril do terraço, seu olhar aguçado viajou entre mim e Ana antes de voltar para mim e fixar sua atenção em meu rosto.
— Você está bem, doçura?
— Quando foi que chegou aqui? — indaguei. — Desculpa, é que aparentemente sou sonâmbula — brinquei com a probabilidade.
— O famigerado Devil Hunter Dante. — Ana cantarolou.
— Dava pra perceber que estava nos seguindo — Dante disse sem cerimônia. — De qualquer forma, não tem com que se preocupar, estamos cuidando bem do garoto.
— É bom sempre prevenir, não é?
Ana deu de ombros.
Dante foi até mim e pegou nos braços tal qual a noite passada.
— Já é a segunda vez. Me sinto até uma princesa.
Não queria preocupar Dante, mesmo ciente de que ele estaria captando as mudanças em mim devido a nossa conexão. O sonho distorceu meu bom senso e meu suposto sonambulismo me fez quase ir dessa pra melhor. Especulei inúmeras razões para aquilo ter acontecido, porém nada se encaixou nas mirabolantes teorias. Ana nos acompanhou e decidiu ficar na recepção... Gritei com o prédio novinho em folha como nada dos eventos passados tivesse acontecido.
— Mas como? — gaguejei atônita. — Isso é impossível...!
— impossível ou não, o melhor que podemos fazer é aceitar que não vamos precisar pagar nenhum estrago — Dante sorriu com toda pompa.
É, o jeito era aceitar por mais louco que soasse.
— Diva! — Ayden veio correndo me receber com um penteado estranho que me fez automaticamente olhar para o meio-demônio.
— O que? Ele ficou legal. — Dante justificou, me firmando de pé. — Não é, garoto?
— Sim!
— Não converta o garoto, Dante — acabei rindo.
— Será que podemos ir? — Ayden indicou o folheto da exposição que tinha visto antes.
— Eu adoraria ir também — proferi inspirada. — Podemos desviar um pouco do percurso original por algumas horas, não é?
— Claro, por que não?
— Aproveitando a deixa, é bom ficarmos apresentáveis. — disse encorajando Ayden e Dante a tomarem um banho. — É uma exposição bem importante e devemos estar a rigor, não acham?
— Tem algo errado com minhas roupas? — Dante arqueou uma das sobrancelhas.
Ri discretamente.
Assim que eles foram se arrumar soltei um longo suspiro por não ter que sustentar uma fachada. Por um lado o sonho me deixou desorientada e por outro tinha a oportunidade de ver algo do meu passado — a parte da história da Arya. Estava fissurada com a simples possibilidade de saber mais que não conseguia pensar em outra coisa. Estranhamente as antigas memórias ameaçavam jorrar descontroladas se nada fizesse nada para manter o controle. E suspeitava que havia algo muito mais significativo no “antes” que me influenciava de um modo estranho, uma coisa profunda e sombria que se integravam nos ligamentos das minhas memórias.
É oficial: Estou definitivamente paranoica.
Escovei meus cabelos para me distrair.
Olhando minha imagem no espelho da cômoda, notei que estava diferente fisicamente e passou tão despercebido que fora quase impossível não ficar admirada com a perceptível e deslumbrante mudança; meus olhos tinha um brilho forte e decidido, minha pele estava impecável como porcelana e meu corpo — uma das coisas que não era tão fã em mim — criaram mais curvas. Minha primeira reação fora prazer incomparável. A mulher refletida no vidro era tão bonita e fascinante. E meus movimentos eram graciosos e altivos como se fizesse parte da nobreza. A segunda reação fora aversão e horror. Por que raios estou assim? E pior por que estou tão embasbacada?
Espera... Arya?
Não.
Só a partir disso, me dei conta; eu não mudei — não exatamente — o que realmente era novo seria minha visão. Nunca tive confiança na minha aparência e, agora, podia ver muito além das minhas inseguranças. Definitivamente tornei-me uma verdadeira mulher. Quando será que houve essa repentina mudança?
— Será que tudo mudou mesmo...? — baixei a cabeça.
Num gesto curiosamente instintivo, apertei meus seios analisando-os por que eles pareciam um pouco maiores. Fiquei uns minutos observando e destacando as sutis diferenças: firmes, só que não maiores.
Alegria de pobre dura pouco, né?
— O que esta fazendo, doçura? Se descobrindo, por acaso? — ouvi Dante brincar, sua voz sedutoramente rouca. O susto me fez virar para encará-lo, porém ponderei brevemente que ele fosse melhor em distinguir se há realmente inúmeras diferenças em mim já que ele me conhecia tão bem.
— Hm, Dante... Estou diferente?
Expliquei minha percepção, vagamente prestando atenção no vinco que se formou em sua testa. Não soube identificar se sua expressão era de malícia ou severa dúvida. Seus olhos vagaram por todas as minhas curvas.
— Isso é algum truque? — perguntou, rindo. — Mais bonita. Gostosa. Isso te responde? — Dante pegou delicadamente meu queixo e me aproximou de si. — Que tal um beijo de bom dia?
— Não precisa pedir. — sussurrei inebriadas pelo efeito que Dante me causava. Esse homem tinha um enorme poder sobre mim, como se conhecesse todos os meus pontos fracos e que reações poderia ter se ativá-los.
Nossos lábios se uniram em um encaixe perfeito, a deliciosa emoção de estar completa. Dante ousou mordiscar meu lábio inferior, deixando-o levemente inchado.
— Não consigo abrir a torneira. — Ayden disse alto para um de nós ir socorrê-lo.
— O garoto espera — Dante meneou a cabeça em direção ao banheiro. — Vou fazer o penteado mais descolado que o de antes.
— Uhul! — Ayden comemorou.
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