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She Lost in Darkness

TRISH ASSISTIU O INIMIGO RECUAR, NÃO POR VONTADE PRÓPRIA, ATENDENDO UM CHAMADO e desaparecendo com uma, não muito discreta, explosão de raios. Ele não estava ali para dar continuidade ao ritual pelo qual forjaram o círculo, mas sim para sua linha de investigação. Assim que sua energia esvaeceu, a loira se atentou melhor as marcas no chão e quão recentes eram, conciliando com a possível data da invocação de Diva para este mundo.

Ela tinha dois serviços para fazer e, agora liberada da disputa, decidiu cumprir a primeira de sua “lista de tarefas pendentes”, ligando para Lady para que viesse buscar o que encontrara e que, a partir disso, reuniria mais dados pela cidade.

Tinha algo estranhamente intrigante naquilo tudo... Só não sabia ainda o que seria.

×××

UM PILAR LUMINOSO SE FORMOU E RASGOU AS NUVENS NEBULOSAS — uma poderosa onda de energia varreu tudo para longe. O guardião do local sagrado sabia que aquilo significava e que, para zelar pelo acervo e impedir que caísse em mãos erradas, Alexander desenvolveu um mecanismo de autodestruição que serviria para esse propósito. Contudo, nunca imaginou que acionaria tão prontamente e após tantos anos.

Alban ergueu as mãos, estendendo sobre o perímetro um manto escuro que engoliu tudo em seu curto raio de alcance. A escuridão tragou todo foco de luz até o mais mínimo e insignificante feixe solitário, manifestando uma barreira instransponível que permitiu ao meio-demônio enxergar fios anexados nos membros da garota como se fosse uma boneca — uma marionete — na qual uma força, agora não mais invisível, a controlasse a bel prazer. A criatura que a manipulava era uma figura espectral avermelhada fantasmagórica com a face oculta por uma máscara de teatro com feições que se alteravam de acordo com a vontade do ser. Agora visível aos olhos, o demônio não recuou e continuou a movimentar o corpo Diva conforme seu mestre coordenava.

Dante rosnou ante a perspectiva de ter que batalhar com a garota que jurou proteger tampouco podia enfrentar diretamente a silhueta diáfana sem o risco de causar danos a inocente vítima da confabulação de Ace. Este não demonstrava temor e agia com soberba, seu seguidor, o mesmo homem que raptou a jovem, se mantinha indiferente a tudo que acontecia em seu entorno, sério e compenetrado em seu trabalho de acompanhar e proteger seu amo.

Alban se ajoelhou debilitado por ter utilizado uma quantidade tão grande de magia para dar a Dante a sensibilidade visual que lhe concedia a capacidade de revelar o invisível — que deveria ser exposto — e também ter a chance de tirar o véu de encanto que Ace depositou nela. Ajustou os óculos e observou certa familiaridade no rapaz que emanava uma aura tão corrompida e perversa, um contraste absoluto ao que recordava, embora já visse, mesmo que minimamente, uma sombra nele desde que o conheceu quando ele era um adolescente repleto de cicatrizes e traumas. Nunca imaginou que, após tudo o que houve, o que deveria ser uma pequena mancha de ressentimento e raiva, se converterá em ódio corrosivo.

— Eu te conheço.

— Achei que nunca se daria conta. É sempre bom ver velhos rostos conhecidos, não é? — Ace murmurou em júbilo.

— Você está indo para um caminho sem volta, garoto. — Alban alertou com semblante sério. Dante percebeu bem a animosidade e, sobretudo, o tom cauteloso e coloquial. — Está cometendo um grande erro.

— Erro? — riu maquiavélico. — Temos visões distintas, meu caro.

Dante sacou Ebony e Ivory e mirou no demônio que controlava Diva, atirando sem parar em ângulos que pudessem lhe atordoar para arrancar a jovem de sua influência, o que fez apenas o ser evadir utilizando-a. Uma das balas raspou na perna dela que despencou no chão sem nenhuma reação humana considerável.

— Merda. — grunhiu, correndo para pegá-la.

Ela se adiantou a seu intento e se posicionou para atacá-lo. O meio-demônio esquivou dos golpes que a garota executava com tamanha precisão contra ele para que não o atingissem. Por mais cético que estivesse a respeito do desempenho dela como lutadora, porque claramente não era a verdadeira Diva, não poderia revidar mesmo que isso, inconvenientemente, o atrasasse. Com as alternativas escassas, viu em um ponto cego dela, o que não seria difícil desvendar pela falta de coordenação e a performance sucinta e desajeitada, uma oportunidade de imobilizá-la para impedir seu avanço. Sem hesitar, agarrou o braço dela e a girou para prendê-la. Diva se contorceu mediante a pressão que a prendia. O caçador observou o símbolo pulsante na testa dela e a nocauteou com um leve esbarrada em sua nuca. Apesar de estar certo de ter salvado a sua protegida, o sorriso convencido de Ace lhe incomodou mais do que gostaria de mostrar.

— E qual é a graça? — o caçador indagou.

— Apenas estou satisfeito de tudo ter saído como planejado.

— Deixe a garota em paz. — Alban alertou, sério. — Está indo contra os ensinamentos de Alexander. Você sabe disso e que está também pondo em risco o legado dele.

Dante ignorou o diálogo que se desenrolava entre o velho homem e Ace, concentrado unicamente em Diva que estava sob algum encantamento que arduamente o repudiava, reagindo a cada intento dele de pegá-la. Ignorando o choque e a queimação nas mãos, guiou-as para perto da jovem e, prontamente, fora bloqueado por Alban.

— Se afaste, rapaz. Para o seu bem e o dela.

Dante fitou Diva e Alban, alternando entre ambos e confiou no ancião. Por mais que suportassem descargas de dores inimagináveis, não gostava da ideia de expor inocentes nisso. Ace tomou a garota desfalecida nos braços com toda delicadeza que possuía e abriu as longas asas desaparecendo no céu escuro. O meio-demônio quis persegui-lo, contudo o velho bibliotecário o parou.

— Você terá outra chance de resgatá-la, rapaz. — Alban suspirou longamente, tenso pela descoberta. — Eu preciso que me faça um favor.

Permaneceu ali o estranho acompanhante de Ace, em seu entorno uma névoa emergira flutuando ao redor dele como se a temperatura ao redor estivesse diminuindo consideravelmente, transformando o sussurrar suave do vento em uma feroz brisa glacial. Tudo, em seu raio de influência, congelavam diante de seu poder, as pequenas partículas de umidade se condensavam.

— Aqui será o túmulo de vocês. — o homem murmurou, estilhaçando a redoma criada pelo guardião.

— Eu discordo, parceiro. — Dante gracejou acidamente. — Essas vão ser suas últimas palavras.

— Dante. — Alban chamou, apreensivo. — Não tenho muito tempo, mas ouça com atenção: A garota é uma peça importante de algo muito maior. Ace sabe disso.

— E em todo esse tempo não poderia ter dito isso antes? — o caçador desferiu um corte no ar que criou pressão suficiente para destruir a esquife levantada pelo estranho para atacá-los. — Podia ter resumido tudo pra facilitar pra mim.

— Ainda não tinha certeza se deveria confiar em você. — argumentou, invocando, através de um círculo mágico, uma divisão entre eles e o inimigo. — De todo modo, não sei se terei como cumprir o pedido para o meu velho amigo... — resfolegou, decidido. — Alexander construiu esse lugar para comportar tudo que adquiriu durante sua peregrinação. Não era só uma biblioteca, ela era a prova viva de que ele existiu e sua sede de conhecimento o levou a querer compartilhar o que sabia, pois temia que, assim que morresse, esse legado desaparecesse.

Dante franziu o cenho.

— Ele parecia um cara bem pessimista. — comentou, de olho no que o inimigo poderia fazer.

— Ele morreu sem a esperança de encontrar alguém como ele. — pigarreou. — Ter o sentimento de não pertencer a lugar algum e não se encaixar em nada, certamente, era um fardo pesado pra ele.

Dante simpatizou com o homem — o espírito que acompanhava Diva — e entendia um pouco daquela sensação na própria carne, de como se questionava sobre sua natureza e da incessante busca em ser humano.

— Alexander era o último membro de um povo antigo que tinha um poder de balanceamento.

— Balanceamento?

— É muito complicado destrinchar isso sem ter que entrar em detalhes pertinentes. — o ancião tossiu um pouco de sangue, ciente que estava perto do seu limite. — Existem muito mais dimensões do que aparenta, rapaz. Muitas das quais deveria ser guardada por um membro desse povo, porém, não qualquer um. Alexander, milagrosamente, tem sangue real o que lhe confere a capacidade única para utilizar a habilidade herdada por gerações.

— E deixa eu ver... Diva tem a ver com isso por estar ligada a ele? — Dante disparou contra o adversário que revidou com ataques coreografados cujo elemento principal era o gelo. Sem qualquer contrição, o caçador combateu cada investida sem muita dificuldade.

— Não sei dizer ao certo, mas suspeito que sim. — suspirou longamente. — Eu tinha escutado algo dele sobre... — a dor lhe invadiu violentamente com o golpe traiçoeiro que o atravessou. Uma estaca de gelo fora o suficiente para o derrubar, caindo de joelhos. O homem estranho sorriu mesmo repelido pelo caçador que o rasgou ao meio, sem piedade, explodindo em pedaços de gelo antes de se refazer distante e desaparecer na névoa. Dante correu até o guardião e o segurou assim que caiu, sem forças. — Filho de Sparda... — arquejou com a tontura. — Lamento não ter te contado tudo... — lhe entregou o livro selado. — Isso será útil, rapaz. — o encarou com fraqueza. — Salve a garota... As engrenagens começaram a se mover...

— Eu salvarei. — murmurou, colocando o ancião junto ao que sobrou do lugar que, por anos, guardou. — Não tem jeito, não posso ignorar isso.

Um estrondo ecoou pelo céu. A chuva caia sem parar, fria e impiedosa,  lavando aquilo que se encontrava desprotegido, trazendo consigo o vento causticante que permeado com cheiro de terra úmida. No fim, estava novamente sem rumo algum, sem nada além de um caderno que sequer poderia acessar e uma informação superficial a respeito do amigo fantasma de Diva. Por mais que tudo tivesse um sentido prático na teoria, não fazia nem ideia de como conectar diretamente as duas pessoas. E ainda tinha o problema ainda maior para resolver: resgatar Diva.

Ele falhou no trabalho. Seu dever era zelar pela segurança dela e não permitir que a tirasse de seu entorno, entretanto, acabou por perdê-la. As coisas estavam indo de mal a pior e nem conseguia imaginar o que fariam com ela. A garota não pertencia a esse mundo, e, no entanto era mais caçada que ele próprio e até onde sabia era apenas uma humana — tinha habilidades estranhas, ainda assim, não passava de uma garota comum.

Por um breve instante, se deixou sentir raiva e o familiar sentimento de impotência. Um forte soco foi dado na parede recém ruída. Ele jurou para si que se Ace — ou seja lá o nome daquele maldito — tocar num fio de cabelo da jovem, ele iria dar cabo do miserável.

— Finalmente te encontrei, estava achando que não chegaria nunca. — bufou impaciente. — Ei, feioso!

O fato de tê-lo chamado de "feioso" já evidenciou quem era. A aprendiz de bruxa esticou o corpo, havia passado hora na forma de loba e queria tirar de si a impressão peculiar que tinha pela metamorfose e a fazia ter comportamentos licantropos. Ela surgiu em meio às sombras da noite, seu vestido negro de Lolita camuflado quase como se fosse parte da escuridão da noite.

— O que você quer? — perguntou rispidamente — Não tenho tempo para perder com você.

— Que grosseiro! — pousou as mãos no quadril. — Minha irmã teve uma visão e me mandou vir atrás de você e da Diva... — esquadrinhou os arredores. — O que houve aqui? Onde está Diva? — ela indagou visivelmente abismada.

— Não disse que sua irmã queria falar sobre uma visão? — a interrompeu com pressa. — Se ela tem algo a dizer, me leve até ela.

— Você é detestável.

— Também gosto bastante de você, pirralha. — retrucou. Por esse tipo de coisa que não gostava de ser “babá”, crianças, ou melhor, adolescentes como Maya o irritava. Ignorando o olhar aborrecido dela, o meio-demônio caminhou até seu carro sem se importar em deixar a garota para trás.

— Ei, espera! — ela gritou.

— Entra. — foi à única coisa que ele resmungou antes de entrar no veículo. Maya correu para dentro sem dizer nada, percebendo que o caçador não estava com o melhor dos humores.

— O que sua irmã viu? — Dante perguntou acelerando na estrada deserta.

— Não faço ideia, mas é algo importante.

×××

LADY RETIROU OS ÓCULOS, SEUS OLHOS BICOLORES VIAJARAM DIRETO PARA AS DUAS NOVAS PRESENÇAS, estudando o ambiente com cuidado — ela possuía um bom manejo situacional. Após uma pesquisa bastante exaustiva e a ajuda de Trish, obteve material e livros que poderiam lançar alguma luz sobre o assunto que, até aquele momento, se tratava de algo completamente irreal e desconhecido. Eryna passou horas avaliando milimetricamente tudo o que lhe fora dado, extraindo o máximo de informações e preenchendo lacunas através de suas próprias interpretações — não ousando explorar imaginativamente certos aspectos dessa fábula. Dante franziu o cenho ao encontrar Lady, contudo, não questionou, afinal, as duas mulheres eram bastante conhecidas e próximas.

Maya sorriu ao vê-la e se aproximou com euforia contida, mantendo a postura e guiou o caçador até seu irmã. O meio-demônio passou a noite em claro apenas dirigindo com um único propósito e a encarou.

— Ace levou Diva, não é? — a mulher indagou, mesmo que nenhuma resposta fosse dita em voz alta, ela sabia.

Eryna sempre sabia.

— Sabe onde ela esta?

Eryna assentiu suavemente.

— Ace está encobrindo o rastro dela. — declarou pesarosa. — De qualquer forma, descanse. Você deve estar exausto e nesse ritmo, até um ser poderoso como você, vai colapsar.

O caçador fitou a mão por um breve segundo, refletindo sobre os eventos anteriores.

— Sei  que esta preocupado com Diva... Mas cansado não ajudará em nada.

Eryna tinha razão. Ele precisava descansar, porém sua taxa de adrenalina estava alta demais para que sequer pudesse repousar de imediato.

— Venha feioso, vou te mostrar o quarto.

— Tsc... — crispou os lábios.

Dormir nunca tinha sido trabalhoso na sua vida. No quarto, Dante deitou pesadamente no macio colchão que afundou com o peso e encarou o baixo teto de madeira. Normalmente ele dormiria sem problema e, mesmo que seu corpo tivesse exaurido por causa da batalha, das palavras de Alban e da perda de Diva, a letargia veio, entretanto, o sono simplesmente não veio no pacote. Nem fechando os olhos resultava.

As engrenagens começaram a se mover” a citação de Alban, de repente, voltaram sorrateiramente para superfície.

— O que isso significa? — ponderou, cético.

Sua mente vagou para Diva e o que ela poderia estar passando. Pobre garota desafortunada... Que disse que ele era um personagem de um jogo e revigorou seu espírito pelo novo desafio imposto.

Permitiu que seus pensamentos ficassem a deriva, navegando em um mar túrbido, lentamente afundando nele até...

Dante!” ouviu o grito e imediatamente ativou seu Devil Trigger, mergulhando em um voo rasante para pegar Diva que caía para o abismo de escuridão insondável. Aumentou sua velocidade, utilizando as correntes de ar para que suas asas pudessem ultrapassar seus limites, esticando os braços ao máximo. Uma sombra amorfa emergiu daquele breu e tomou forma, embora não muito definida, somente o bastante para identificar como uma criatura viva que estava prestes a pegar a jovem e antes que qualquer um dos dois tivesse algum sucesso em tê-la, o caçador abriu os olhos, vendo nada mais que o teto de madeira sobre si.

Aquilo foi um sonho?

Seu primeiro ímpeto fora fitar suas mãos.

Diva.

O sonho era um mau presságio.

Lady se acomodou, bebericando o café preparado por Maya em uma xícara de porcelana nobre. Não deixou de notar quantas reviravoltas se desenrolaram com o aparecimento da garota e que tudo que encaminhava para sua real identidade desapareceria, como se houvesse alguma força invisível, uma bizarra manobra do destino, que não quisesse que essa informação vazasse e que deveria continuar incógnita do mundo. A caçadora tinha um bom histórico com tipos especiais de criaturas, principalmente do lado sombrio — os temíveis demônios —, no entanto, nunca esteve tão perto de um ser desconhecido no corpo vulnerável de um ser humano.

Diva era uma garota normal em todo sentido da frase; ela sequer fazia ideia de como fora invocada para aquele mundo. Porém, ao compará-la aos casos que encontrou no decorrer de sua carreira, ela emanava, sem querer, uma aura de mistério. Ela era completamente alheia a sua capacidade.

— Isso é... Deveras fascinante.

— E o que achou, Eryna? — questionou após terminar o café. — Isso é o suficiente para nos dar uma pista?

— Pode-se dizer que sim... — respirou fundo, mirando o caderno que Dante trouxera. — Aparentemente existiu seres chamados Sophians ou mesmo Unchants, um povo antigo, tanto quanto os humanos. Pelo que compreendi dessas escritas, eles obtiveram a graça da deusa para viajar entre dimensões.

— Isso significa que ela é uma?

— Difícil dizer para ser honesta, o último descendente real dessa linhagem seria o conhecido Alexander, o Grande. — Lady franziu o cenho intrigada com o fato da aguçada percepção de Eryna ser ofuscada por algo assim. — Não é só dimensões que estão ligados os poderes desses seres, o papel deles parece ser mais complexo que isso, mas ainda falta muita coisa para que fique claro o que eles são realmente. É estranho...

— Estranho?

— É como se houvesse uma lacuna na história, uma vácuo tão grande que é como se esses fragmentos tivessem sido apagados.

Lady concordou com aquilo, pois ela mesma entendeu esse detalhe.

— Além disso, eles são quase tratados como seres de contos de fadas. São chamados de Peregrinos pelos humanos. — Eryna recordou algo instável em suas visões e o pouco que conheceu de Diva. — Mas... Tem uma coisa a mais nela... Um agente repressor que a acompanha.

— O que você acha que seria?

Antes que Eryna concluísse seu raciocínio, Dante apareceu repentinamente, com uma atitude presunçosa e relaxada. Ela sabia que por trás daquela couraça que ele mantinha mascarava uma ponta de preocupação. Dante acomodou-se na cadeira de frente a Eryna, não muito ligado a presença de Lady.

Na mesa tinha um copo d'água com ervas medicinais também arrumadas por Maya que, como uma obediente aprendiz, se resignava ao silêncio.

— Interrompi alguma coisa?

— Não, você chegou bem na hora, na verdade. — Eryna murmurou com certa prudência. — Estava conversando a Lady a respeito e acho que temos muito o que falar... E uma delas é muito grave.

O semblante de Dante mudou, até sua linguagem corporal agora exalava uma forte tensão. Seja lá o que o aguardava, já tinha para si o pior cenário possível.

As primeiras luzes do amanhecer raiavam no céu formando uma suave coloração laranja e rosa, deixando para trás a escuridão da noite junto do que um dia já fora uma cidade e que, agora, se estabelecera um reinado de caos com seres demoníacos. Estes, nos quais, Dante eliminou sem grandes percalços. O Devil Hunter caminhou calmamente até as ruínas de um empoleirado teatro; o ponto primordial desse cenário. Haviam marcas e respingos de sangue por todas as direções que se estendia seu campo de visão — um episódio de carnificina sem limites.

Seja lá o que tinha passado ali antes dele causou um verdadeiro estrago. Seus passos ecoaram no piso lamacento, formado pelas vísceras e restos de carne não decompostos derramados, e pedregoso. Eryna tinha sua parcela de razão em mostrar tanta preocupação com o que acontecera com Riverside City, principalmente depois que teve uma estranha visão da cidade sendo devastada por um exército de demônios e que Diva estava no centro do ataque.

No entanto, não tinha sentido.

Como ela, Diva, poderia estar envolvida nesse massacre?

Então as palavras de Eryna ecoaram em sua mente.

"Sem controle, a energia da Diva pode despertar ou atrair demônios, dando um intenso frenesi a eles”.

O meio-demônio continuou seguindo pelos escombros, ele parou; no chão tinha um corpo de uma mulher, ela estava de bruços com um vestido cinza molhado e sujo, por um momento pensou que aquela jovem fosse Diva, até os cabelos curtos e em tons de castanhos eram iguais.

Aquela não era Diva.

Dante deixou um suspiro de frustração escapar. Ele tinha perdido a chance de encontrá-la. Nem ao menos tinha ideia de qual era o próximo passo, e mesmo que Eryna tivesse outra esclarecedora visão ou Lady descobrisse algo com algum informante não faria diferença.

Deu meia volta e partiu.

Não havia mais nada que fazer ali.

Em uma viagem bastante entediante, Dante retornou a casa das irmãs bruxas e não encontrou mais Lady por ali, o que deduziu que ela foi procurar suas próprias pistas ou simplesmente ter atendido a um chamado. Nunca saberia e nem queria saber realmente. Se acomodou,  repousado num acento acolchoado.

— Hey, Dante — chamou Maya, justo quando ele pensou ter um momento tranquilo para si mesmo.

— Sem mais feioso? — ele caçoou, e acrescentou: — Estamos evoluindo nossa relação.

— Hunf! Não começa, quer que eu volte a te chamar de feioso? — Maya resmungou, seu rosto adquiriu um leve tom de vermelho.

— Não. Você me chamar pelo meu nome já é um milagre, melhor não desperdiçar a oportunidade. — debochou.

Devido aos dias que conviveu com a garota, sabia que ela não o odiava tanto quanto fazia parecer. Ela apenas sentia um leve ciúme e irritação com as provocações constantes do caçador. Maya queria ser uma adulta, então quando viu Diva pela primeira vez viu-se no lugar dela. Além de criar uma rápida e intensa afeição por ela.

— E então... Achou alguma pista? — Maya indagou esperançosa.

Dante negou com a cabeça.

— Droga!

Maya afundou no banco de frente a ele, debruçou-se sobre a mesa e o encarou fixamente. Dante sentiu um par de olhos o perfurando, mesmo que tivesse totalmente relaxado e a pálpebras cerradas dada a sua intenção de descansar, sentia que Maya ainda estava lá o mirando, aquelas orbes bicolores irritantemente tentando extrair alguma informação a mais dele.

Abriu um dos olhos, fazendo com que seus olhares se cruzassem.

— O que foi? — perguntou deixando o tom de voz demonstrar seu visível desconforto com a vigília.

— Hmm, nada. — Maya respondeu despreocupadamente.

— Se não é nada então porque fica me encarando? Vamos deixar bem claro que você não é meu tipo de garota... Não curto meninas, prefiro mulheres.

Sorrindo, Dante desenhou curvas no ar, Maya revirou os olhos.

— Como se eu fosse gostar de um chato feioso como você! Bem, eu queria saber uma coisa.

— O que é? — indagou, voltando a sua posição de antes.

— Você gosta da Diva?

— Isso te interessa?

— Claro! É bem obvio que ninguém ajudaria uma desconhecida sem motivo.

Franziu o cenho com a indagação da menina.

— Sou caridoso. Além disso, o que eu faço ou deixo de fazer com a Diva não é da sua conta.

— Não dá para conversar com você! — Maya levantou nervosa e saiu batendo perna.

Finalmente Dante poderia descansar sossegado. Sua mente estava a mil e desconexa, como se cada pensamento levasse a outros cem. Ele não conseguia raciocinar com clareza. Talvez descansando pudesse refletir melhor.

Que problemático, pensou ele.

×××

NÃO DEMOROU PARA TRISH DESCOBRISSE A LOCALIZAÇÃO DE AMARA, a casa ficava em uma área ladeada por árvores e com uma atmosfera mística o que validava a impressão que alimentava a respeito da cidade. Sem hesitar, estacionou a moto e andou até a varanda onde uma garotinha a aguardava.

— Seja bem vinda. — saudou educadamente, autorizando-a entrar.

— Deseja alguma coisa? — a anciã inquiriu, amassando algumas ervas.

— Meu parceiro esteve aqui há um tempo...

— Você se refere a Dante, estou certa? — Trish arqueou uma das sobrancelhas, surpreendida pela boa memória e raciocínio rápido.

— Está correta.

— Como está a jovem, Diva?

— Dante está procurando ainda uma forma de levá-la de volta para o mundo que veio. — explicou para a velha senhora que parou de imediato a atividade que executava com tanto afinco.

— Você veio aqui para saber mais disso. — rematou prudente e sagaz.

— Em parte, sim. Não é sobre a Diva que desejo saber exatamente, é sobre os Lockhards.

A apreensão notória não escapou de seu escrutínio, a caçadora não deixaria ingenuamente escapar uma reação tão abertamente sugestiva.

— Há alguma razão em especial para seu interesse? — Amara mediu bem seu tom e ocultou sua preocupação. — Não é sempre que alguém vem aqui atrás da história de uma das famílias fundadoras da cidade.

Trish agiu com um pouco de passividade para demonstrar que estavam do mesmo lado, Contudo, não desistiria de usar outras formas para convencê-la, tinha que saber qual seria o segredo dessa família.

— Venha, te contarei tudo que precisa saber. — limpou as mãos e a guiou para outro cômodo. Se sentou com os olhos fixos nela, bastante concentrada no que poderia vir desse diálogo. — Só lhe peço que o que contar aqui, permaneça aqui. Essa cidade já foi palco para todo tipo de momentos complicados no passado.

Trish cruzou as pernas, seu olhar atento com cada movimento perpetrado pela senhora.

— Os Lockhards eram membros importantes da cidade, tendo um papel fundamental no desenvolvimento. — fechou os olhos meditativamente. — Isso é algo levado como uma lenda pelas gerações mais jovens, mas para pessoas como eu, que estão aqui há longos anos, é uma crença verdadeira. — fitou a loira com serenidade. — Eles possuíam ligação com o sobrenatural, essa cidade prosperou somente com a graça deles.

— Que tipo de ligação?

— Não dá pra afirmar ao certo, afinal, todos os membros da família foram mortos há muito tempo. — Amara foi até a bancada e recolheu as essência das ervas que dispunha em uma delicada caixa de madeira. — O último que tive conhecimento foi o jovem Alexander. Ele faleceu há dezoito anos... Pobre rapaz. Ele tinha um futuro promissor.

Trish arqueou uma das sobrancelhas, mais curiosa sobre a história do lugar e da enigmática família.

— Pode me mostrar onde fica?

Amara demorou para lhe responder, cautelosa.

— Como deseja.

×××

Diva

A luz alaranjada tocou meu rosto enquanto observava os barcos no porto. Tudo parecia oriundo de um sonho, um no qual não conseguia escapar, mesmo com ansiando sair dessa nuvem de delírio onírico.  Mal tinha o alento para estender a mão sobre mim para proteger-me da suave onda de calor. Minha individualidade fora relegada ao vazio e o que me restou, diante desse sentimento de invasão e usurpação, era um lampejo de esperança de que Dante viesse me salvar.

Alexander me fitava com apreensão, tendo todo cuidado em me supervisionar enquanto estivéssemos ali. Ele tentava não transparecer tenso demais por estar ciente de que isso me afetaria e agradecia esse intento dele — apesar de perceber certas nuances. Nesse plano em que nos jogaram, parecia um limbo, daqueles onde as almas vagavam sem direção para que pudessem ter uma jornada de redenção para ir, para o céu ou para o inferno de acordo com sua conduta.

— Esse é o plano? — indaguei.

Alexander assentiu, prudente.

 

A cidade ficava ao sul da ilha e ostenta distintiva arquitetura renascentista; incluindo o Porto Caerula, catedral — ou pelo menos o que já fora uma — e uma extensa área de negócios.

— Linda, não é mesmo? — Ace sussurrou docentemente. A visão do Porto Caerula realmente era belíssima; o nascer do sol fazia o céu tornar-se levemente alaranjado, as ondas batiam-se uns contras outras num azul cristalino e brilhando com os raios de luz solar, elas chocavam-se com a terra criando pequenas deformações. Diva ergueu a cabeça para encarar o céu, seu olhar era vago, sem a mínima emoção.

— Essa ilha possui uma enorme força, aqui está o verdadeiro portão para o inferno. — Ace informou, um sorriso presunçoso cresceu em seu rosto. No entanto, o inferno nunca foi o seu principal objetivo. Ele nunca pensou na possibilidade de trazer demônios para esse mundo, mas não quer dizer que a ideia de dominar o outro lado não parecesse vantajosa — ou até mesmo agradável. Ace queria muito mais. O primeiro passo já tinha sido dado: Quais eram os limites dos poderes de um Unchant — vulgo Peregrino.

Assim como acontecera em Riverside City, a isolada e desimportante ilha de Fortuna verá sua queda. Ele guiou a jovem para cidade adentro. Desde o ataque do Salvador os habitantes passavam grande parte do tempo reconstruído a cidade, ainda tinha poucas coisas que necessitavam ser arrumadas. Apesar de terem muito que fazer isso não impedira que as pessoas parassem para olhar as duas figuras que andavam entre eles.

Eles notaram que havia algo muito errado naquelas estranhas figuras.

— Não sei se consigo, Alexander.

— Infelizmente, como Dante não está, teremos que combinar nossa aura para ter uma conexão com alguém que a mesma frequência energética. — explicou didático. Ele não tinha suas memórias, ou as mais relevantes sobre quem era, no entanto, sua sabedoria se elevava acima de qualquer restrição.

Concentrei minha energia seguindo o conselho de Alexander e, quase imediatamente, uma aura se emparelhou com a minha exatamente como Alexander contou. Arquejei atônita e reconhecia, estranhamente, a quem pertencia.

Teoricamente não foi tão difícil — só teoricamente. Nós estávamos na Ilha de Fortuna, a única pessoa que estava perto e que poderia me ajudar era ele.

Nero!, pensei em um estranho êxtase.

“Já sei quem pode me ajudar. E ele está exatamente nessa ilha”.

Minha energia foi revitalizada com aquela constatação.

“Eu te deixaria por hora, mas desejo boa sorte”

Ele deu um lindo sorriso recendendo calma e afeto e deu-me um beijo na testa, pisquei e ele não estava mais lá.

Agora só tinha que Nero, fechei os olhos e focalizei no meu alvo.

Quase que instantaneamente me teletransportei para um estabelecimento que era bastante familiar. A placa de neon vermelho com “Devil May Cry” escrito, era sem duvida o que me deu forças para entrar. Embora eu não precisasse andar — já que em forma astral poderia voar livremente —, caminhei para porta e a atravessei. Não fora uma surpresa encontrar uma réplica mais limpa e organizada de Devil May Cry de Dante. Um forte sentimento de familiaridade encheu meu peito quando vi a figura sentada a minha frente dormindo sobre a mesa de madeira.

 

Ele parecia tão em paz.

 

Cautelosamente cheguei mais perto possível dele. Obviamente, ele não poderia me ver — apenas se eu quiser que veja —, não havia perigo e nenhum motivo real para que fosse tão cautelosa.

A porta foi aberta repentinamente, alertando, não só a mim, quanto o caçador mais jovem que repousava na pacificidade. A garota correu para dentro, instintivamente encolhi meu corpo quando ela me atravessou.

A famosa e inocente Kyrie e o objeto de afeto de Nero.

Como qualquer fã do jogo, ouvi falar tanto desse casal que subiu uma gosto de açúcar ao testemunhar, em primeira mão, a interação deles.

— Nero! — ela chamou afetuosamente mostrando-lhe dois ingressos. — Comprei ingressos para assistir um musical que chegou hoje.

Pensando bem, ela disse musical e se chegou hoje... Então é lá onde estarei — onde Ace estará.

Nero olhou para aqueles dois pedaços de papel indiferentemente.

— Não curto esse tipo de coisa. — respondeu desinteressado.

Ela soltou um suspiro.

— Você anda trabalhando demais, seria bom que tivesse uma folga. Além disso, isso seria como um... Encontro. — a última palavra fora quase sussurrada, o rosto de Kyrie tornou-se vermelho.

Tanto ela quanto Nero se encaravam.

Se soubesse que rolaria esse tipo de diálogo com o clima mais constrangedor, teria esperado mais uns minutos para pôr o plano em prática. Sou um espírito temporariamente e, como tal, só precisaria influenciar para que ambos fossem a esse espetáculo.

De qualquer forma, senti como se tivesse segurando vela.

Fiquei torcendo para que ele aceitasse, usando tudo de mim para incentivar.

— Está bem. — ele respondeu resignado.

Perfeito!

A noite chegara tão rápido quanto se esperava; o céu estava impecavelmente limpo, sem nenhum resquício de nuvens, as estrelas cintilavam e a lua brilhava sombriamente — numa mistura doente de prata e vermelho. Havia muitas pessoas ansiosas para ver o espetáculo que fora trazido para a ilha. Nero achava toda aquela empolgação sem dúvida, era uma perda de tempo; qual era graça de ver cantores de musica clássica ao vivo?

Por sorte ele tinha trazido seus headphones, se não fosse insistência de Kyrie, ele nunca em sã consciência iria a um lugar daqueles. Vendo que o espetáculo começara, ele colocou o headphones e ignorou completamente o show.

Uma figura feminina surgiu; ela usava um vestido negro com detalhe branco e tinha um véu cobrindo seu rosto. Todo mundo se silenciou ao ouvir a doce canção da jovem.

O Devil Bringer brilhou, aquilo, de fato, chamou a atenção de Nero. E mesmo que o volume da música que ouvia fosse alto, ainda pôde escutar os gritos das pessoas. Todo espaço da casa de ópera fora ocupado por demônios de todos os tipos e formas, e quanto mais à canção ecoava mais o lugar enchia. Vendo que a situação saíra do controle, Nero teria que manter Kyrie segura e matar aqueles demônios.

Rapidamente, o caçador segurou firme a mão da namorada puxando-a com ele e com a mão livre empunhava Yamato cortando, com movimentos calculados, qualquer criatura vil que ficava no seu caminho. Ele correu para o palco, quando finalmente chegou a seu objetivo e apontou a espada perigosamente próxima ao pescoço da jovem cantora.

Ele não hesitaria em matá-la, sobretudo, por ser a indutora daquele caos.

E, em um gesto breve e simples, retirou o véu que cobria o rosto da mulher, ele ficou surpreso ao perceber que era uma garota humana — ele acreditava que fosse um demônio em forma de mulher —, o mais assustador era a lágrima solitária que corria em seu rosto pálido.

Suas lágrimas eram de sangue.

Tinha algo muito errado ali.

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