Secrets Between Girls
POR MAIS NERVOSA que estivesse, com todo desgosto fervilhando no estômago e o pânico nublando o juízo, dedicar as horas vagas de tédio em beber assumindo o risco que traria era uma escolha tão péssima e imprudente. Na hora do sufoco não se pesa muito esses detalhes cruciais, nosso cérebro só se foca em recursos para enganar o medo e driblar a crise o que facilita para pender pelo errado e trocar o certo pelo duvidoso. Amaldiçoei essa decisão como a pior de todas em minha curta vida, me arrependi amargamente ao abrir os olhos pela manhã e ser banhada pela luz cegante que se filtrava pela janela e repousava sobre meu corpo consumido pelos danos colaterais da ressaca.
Rolei na cama buscando uma posição confortável que milagrosamente curasse meu mal estar e tirasse o sol matutino de cima de mim. Resmungando a cada novo ângulo que despertava uma nova dor e a náusea que revirava o estômago, pedindo para a misericórdia de alguma entidade superior para expurgar aquelas sensações terríveis de mim. Ao menos o calor não me preocupava tanto devido ao fato de ter dormido somente de toalha e ter ignorado as convenções normais de ter, ao menos, vestido um pijama ou usado alguma camisa de Dante para me cobrir.
Ao lembrar de Dante, rebobinei para os eventos de ontem sentindo toda vergonha se apoderar de mim com descarga total e absoluta: quando nocauteei uns caras, ter encontrado um pessoal bacana e Dante me levando pra casa, mas a fofura de ser declarada namorada foi comprometida pela vergonha de ter vomitado e ter que precisar do auxílio dele em um banho, que seria uma das razões por estar de toalha. Que vergonhosa a ideia dele ter me visto sem nada toda esbagaçada com cara de boba alegre e com o fedor enjoativo de álcool. Realmente queria chegar nessa etapa com ele, mas não nesse contexto estranho e deplorável. Ele fez esse favor sem nenhuma intenção dúbia e foi tão respeitoso impondo que só falaria de determinada coisa quando estivesse sóbria, agora não sabia como iria olhar na cara dele sem o constrangimento e o horror.
Sem muita disposição, com o corpo protestando com o mais lacônico movimento e tudo girando vertiginosamente, peguei uma das camisas pretas de Dante ignorando o fato de estar um caco e decretei a mim mesma a regra de nunca beber até a saciedade. Ceder a impulsos assim só trazia consequências desagradáveis, terei que apelar ao amargor do café.
- Droga. - massageei as têmporas, me censurando por ter sido inconsequente.
Segurei na maçaneta para me dar apoio e relutante segui para o escritório. A dor e a sensibilidade fazia com que todos os sons fossem insuportavelmente aumentados; o bater dos meus pés descalços no assoalho - que rangia a cada passo -, a música que vinha do andar inferior e até mesmo o som da minha respiração que parecia gemidos sôfregos.
O único aspecto positivo no trabalho que tive de arrumar e organizar a agência não fora em vão, ter que encarar o caos com a cabeça porejando me faria agonizar ainda mais. Sem contar que, para minha alegria, Dante não fez sua bagunça usual.
Esfreguei os olhos sonolentos.
Dei uma rápida espreguiçada - que não fora uma boa ideia -, ativando quase que imediatamente a dor para todos os meus membros.
- Bom dia, Dante... - sussurrei rouca e dolorida. Por um momento pensei que não seria respondida, ou sequer ouvida pelo tom extremamente baixo que falara.
- Boa tarde, você quer dizer. - Dante respondeu. Ele estava comodamente sentado com os pés apoiados na mesa e saboreando um sundae de morango e com a colher ainda na boca, me encarou, estudando minha expressão. - Como se sente?
- Como se tivesse sido atropelada por um caminhão. - levei as mãos à cabeça e andei apreensiva de um lado para outro - Acho que posso sobreviver.
- Eu já imaginava. - indicou a garrafa térmica sobre a mesa de centro. - Beba um pouco.
Verifiquei o conteúdo e o aroma poderoso do café fresquinho veio direto ao nariz. Peguei um copo, meio relutante, e beberiquei um pouquinho meio desgostosa com o sabor tão forte e característico. Sempre fui do tipo que detestava café, porém, não poderia negar sua eficiência em estimular a recuperação pós bebedeira.
- Quem diria, não é? - brinquei com a descoberta.
- Não sou completamente incompetente na cozinha, ao menos um café sei fazer. - retrucou com um semblante tranquilo e bem humorado. - Ainda prefiro suco de tomate.
- Obrigada. Tanto pelo café quanto por ter cuidado de mim. - soprei o vapor do café, corada. - Desculpa por ter... Que embaraçoso.
- Não tem problema.
Me esparramei no sofá, pondo tudo em perspectiva e clareando as ideias. Ocasionalmente observava Dante em sua natural calmaria, imaginando o que se passava na cabeça dele e sentindo o coração se inflar sempre que recordava do que ele disse. Posso não ser a pessoa mais sensata por conta da bebedeira, mas a conexão é real - tem reciprocidade.
- Você fica bem com minha camisa. - se ajeitou na cadeira, me encarando. - É uma visão que eu poderia me acostumar.
- É bastante confortável. - me espreguiço bastante a vontade, erguendo um pouco o tecido. - Não se importaria, não é?
- Você pode ter tudo de mim que quiser, doçura. - corei com a resposta.
Sai da zona de conforto e caminhei até a escrivaninha vigiada pelo olhar atento do meio-demônio. Sustentei o sorriso dócil e me sentei próxima a ele, cruzando deliberadamente lento minhas pernas, de modo que ele pudesse acompanhar meus movimentos com expectativa.
- Tudo mesmo? - me debrucei de leve na direção dele.
- Está tentando me provocar, doçura?
- E se estiver? Você mesmo disse que posso ter tudo... É como dizem: no amor e na guerra vale tudo. - murmurei sedutoramente. - Estou apenas usando as armas que possuo.
- Certo, mas eu também tenho algumas cartas na manga - ele se aproximou perigosamente de mim, tocando gentilmente minha coxa nua.
A porta abriu com leve estalar que nos alertou de que tínhamos visitas, que acabou interrompendo nosso pequeno "duelo". Afastei-me rapidamente de Dante, ficando em uma distância segura.
- Oh, desculpe se interrompi algo - Trish disse, olhando primeiro para Dante e depois para mim, um sorriso malicioso emergindo após a inspeção. - Parece que não cheguei em bom momento.
- Na verdade, você chegou em boa hora, Trish - o sarcasmo jorrava em sua voz, mas não havia nenhum sinal de raiva ou irritação, apenas frustração com uma dose de cinismo.
- Oh - ela esquadrinhou o espaço com curiosidade. - Vejo que deu um jeito nesse lugar. Está bem melhor. A que devemos essa mudança, não é mesmo?
- Alguém precisa cuidar daqui, não é? - afirmei constrangida.
Dante deu de ombros. Pegou uma revista atirada na mesa, e a folheou calmamente. Notei que no lugar próximo onde à revista fora retirada havia um pacote amarelo pardo.
- O que é isso? - perguntei pegando-o com todo cuidado.
- Não sei, mas é para você.
- Para mim?
Abri o pacote e encontrei um envelope juntamente com um caderno.
Li a carta:
Diva,
Estou lhe enviando esse caderno para que use como um diário. É importante que o utilize para desempenhar o papel de anotações sobre seu desenvolvimento tanto físico quanto psicológico. Além, é claro, relatar sua estadia nessa dimensão.
Com amor,
Eryna.
- Quando isso chegou?
- Hoje de manhã. - Dante informou.
Peguei o pequeno caderno com capa de veludo azul - como os olhos de Dante -, admirando os suaves desenhos de flores que o emolduravam. Poderia estreia-lo hoje de uma vez pra me ocupar enquanto atravessava os estágios da ressaca. Subi para o quarto, peguei a primeira caneta que encontrei e escrevi;
"Querido diário... Jeito bobo de iniciar"
Essa é a primeira vez que escrevo em um diário desde os meus dezesseis anos... Mas Eryna explicou na carta que seria conveniente que eu contasse minha experiência nesse mundo nessas folhas.
Não sabia o que poderia ser escrito. Esfreguei os dedos na caneta.
Tenho que por minha mente para trabalhar. Eu devia escrever desde o início;
Seria quando cheguei a esse mundo? Quando conheci Dante?
Não!
Eu tinha uma vida antes disso tudo me acontecer.
"Acho que é melhor começar pelo verdadeiro início
Em primeiro lugar: Sou Ivy Valentine, dezoito anos - falta poucos meses pra completar dezenove. Quando olham para mim veem apenas uma garota comum viciada em jogos. Aquele tipo de pessoa que prefere estar jogando a lidar com a monótona realidade... Se levar em confirmação que minha realidade é uma que acreditava ser fictícia.
Vou pelo clichê de mocinhas de livros: fisicamente sou considerada aceitável dentro dos meus próprios padrões. Tenho cabelos castanhos tão curtos quanto possível, meus olhos também são castanhos um pouco mais escuros. Eu tinha uma vida normal e pacata como qualquer garota da minha idade. Até que tudo mudou...
Eu, literalmente, mergulhei no mundo de um jogo. Era isso que acreditava pelo menos. Tudo nesse mundo é real, mesmo parecendo um completo absurdo.
Não, quase insano!
Nunca me foi explicado com clareza como isso é possível. Aliás, havia muitas coisas que ainda precisava saber.
Ah, não posso me esquecer de Dante. Ele é famoso no meu mundo por ser o protagonista do jogo Devil May Cry. Bem, ele me encontrou e ajudou quando cheguei a esse novo mundo. Adaptei-me rapidamente com seu apoio e proteção. Sobre ele? Dante é um mestiço, filho da humana Eva e o Lendário Cavaleiro Negro Sparda. Seu trabalho chega a ser muito mais importante que qualquer outro. Afinal ser um Devil Hunter não é fácil, e também não é para qualquer um.
Não vou dizer que ele é perfeito... E definitivamente não é!
Além de viver comendo pizza, não se preocupa com a limpeza da agência, sem contar os péssimos modos e mesmo cheio de dívidas, ele se dá ao luxo de recusar trabalho quanto este não o interessa. Dá pra acreditar?
Não contive o riso.
Minha relação com ele posso considerar estável. Dante não é do tipo romântico, sabe?
Isso não impediu que caísse de amores por ele. A princípio, como toda fã eu era fascinada por ele - principalmente por ser o personagem mais incrível dos jogos - apenas uma simples e inocente admiração (Ele era minha definição de namorado perfeito, juntamente com Ezio Auditore). Ao passar do tempo e de tantos desafios acabei perdidamente apaixonada por ele. Dizem que em situações difíceis é que se descobrem essas coisas, e tenho que concordar. Embora Dante seja indiferente a nossa afinidade, eu e ele somos a definição de alma gêmea. E ligados por um cordão prateado. Irônico, não?
Parei. Olhei para a última linha que escrevi e mordisquei a tampa da caneta. Tinha tanta coisa para escrever, porém sem devido tempo para fazer.
Acho que estou enrolando demais.
Minha chegada a esse mundo não foi muito agradável. Digamos que ser atacada por um demônio e praticamente cair do céu não é uma concepção muito boa, certo?
Desde que cheguei atrai atenção de uma pessoa - pode ter mais e que não esteja sabendo - em particular que cobiça minhas habilidades.
Ah, tenho que revelar esse detalhe... Eu não sou uma garota completamente normal como mencionei antes. Quando vim a esse mundo, também me encontrei com um fantasma camarada chamado Alexander que me acompanhou durante a jornada, me treinou e me aconselhou. Sendo um dos suportes principais da minha saga nessa dimensão. Graças a isso, me foi revelado que sou a reencarnação de uma famosa Peregrina... Existem outros nomes para identificá-los, mas o ponto é que... Eles tem minha capacidade única de viajar entre dimensões - que consequentemente me torna a chave para algo que nem faço ideia e me põe no topo da lista dos mais procurados - isso engloba poder-me teleportar. Isso soa como algo que posso usar quando quiser...
Pode parecer legal, mas não sei como utilizar essa habilidade em particular. Se conseguisse teria usado para voltar para casa... Se bem que estou em dúvida nisso, não estou certa em querer voltar.
Meu objetivo até mesmo agora era voltar ao meu mundo original. Contudo ainda tinha aquelas vozinhas da consciência que me questionavam sobre as mudanças nas minhas escolhas e que consequência elas teriam no futuro. Sinceramente, não estou com nenhuma pressa de voltar. E em minha busca, encontrei muitas pessoas que me ajudaram a conhecer mais sobre mim mesma: Alexander - meu guardião e tutor -, Eryna, sua irmã Maya e outros.
Em meio a essa bagunça; cheguei a ir ao Inferno para salvar a alma de Dante, morri - sem aquilo de morrer, ser reanimado e voltar à vida e dizer como é a estranha experiência de quase entrar na luz do fim do túnel, simplesmente "entrei na luz" quando minha Ponte do Coração foi rompida - e fui para o céu onde ganhei poderes temporários de Anjo.
Só de relembrar meus olhos doem como o inferno.
Passei rapidamente a mão pelos meus olhos, então piquei repetidas vezes.
Eu me pergunto como me meto nessas situações... Eu devo ser um ímã para o perigo.
As coisas mudaram e eu mudei com elas.
Sei lá, uma hora tinha que tomar vergonha na cara e ter as rédeas de minha vida em minhas próprias mãos. Já me disseram que experiências ruins nos faz crescer e ver tudo de outra forma, sendo essa a lei do universo. Precisamos aprender a sobreviver a cada dia.
Escrevi tanto que poderia fazer um livro! Ainda tenho muito que escrever, mas ficara assim por hora...
Fechei o pequeno caderno, e sabendo que Dante não iria se dar ao trabalho de procurar e ler, deixei o meu diário na última gaveta do armário. Devidamente vestida e arrumada, desci cuidadosamente observando cada degrau e me preparando mentalmente para enfrentar quaisquer provocações e comentários impertinentes vindos tanto de Dante quanto de Trish. Embora soubesse claramente que seria inevitável. Não que eu me preocupasse, mas ainda era embaraçoso. Encontrei os dois comendo uma apetitosa pizza. A visão poderia considerar uma cena tipicamente normal em um dia comum para ambos - como aquela do Devil Mar Cry 4. Para meu alívio nenhum deles voltou à atenção para mim, de modo que não me senti incomoda e muito menos constrangida.
- O que acha de desfrutar uma tarde só de garotas, Diva? - Trish perguntou repentinamente, balançando as chaves do carro, um meio sorriso enfeitava seu belo rosto.
- Claro - respondi distraída.
×××
Trish muito provavelmente brilharia como modelo, as passarelas seriam seu palco onde os holofotes e as câmeras se focalizariam somente em sua presença marcante e beleza deslumbrante. Andar com ela se equiparava a acompanhar uma estrela que iluminava aquilo que se cruzava em seu caminho o que tornava uma tarefa árdua não reparar nos trejeitos e no ar confiante que exalava feito uma fragrância própria - provei uma parcela dessa aura encantadora demoníaca dela.
Até que tinha sido uma excelente ideia passear com ela.
Havia infinidades de lojas com os mais variados produtos e mal podia ver tudo com devida atenção sem me perder nas cores e formas distintas. Devia ter adivinhado que quando Trish disse sobre uma tarde de garotas, se referia exatamente a compras e uns agrados. Não vou dizer que achava ruim, até por que seria uma ótima distração. No entanto, eu passei grande parte do meu tempo com Dante, apesar de também estar cercada de outras pessoas, era muito diferente obter um pouco de estrogênio. Nunca até agora fiquei realmente em companhia de outra mulher que não fosse necessariamente alguém que ou precisava da minha ajuda ou vice versa. Em outras palavras, o fato de aproveitar um tempo com tranquilidade sem me preocupar e ainda com Trish era novo para mim e bastante empolgante.
Desfrutamos de uma tarde agradável e calma, passeando pelas lojas e comendo besteiras. Aprendi muitas coisas sobre Trish que o jogo não mostrava: sua atitude suave e atenta, gravando bem o que parecia gostar. Na história, ela era o demônio criado a imagem de Eva e parceira de Dante, mas, acima dessas definições rasas, também se portava como uma mulher comum e agradável.
Trish escovou os longos cabelos dourados para trás, atraindo admiradores que paravam para vê-la passar. Alguns ficavam na respeitosa contemplação e outros assoviavam, o que rendeu disparos elétricos de sobreaviso para os ousados engraçadinhos. E os poucos corajosos que tomavam iniciativa para flertar, mal conseguiam pronunciar uma frase coerente.
Paramos para tomar um milk-shake, que era uma boa forma de aliviar o calor.
- Então, Diva, podemos ter uma conversa privativa - Trish começou categórica, a encarei com as sobrancelhas erguidas.
- Como assim? - indaguei desconcertada.
- Sobre você e Dante. - ela lançou um olhar sério que fez meu coração saltar
Engasguei com o shake, tossindo para limpar minha garganta.
- Sobre mim e Dante? - repeti tentando assimilar aonde ela queria chegar com esse assunto.
- Soube de umas informações como já deve imaginar.
- Eu sei, você e a Lady ajudaram a encontrar os documento necessários para compor parte do quebra cabeça. Agradeço, a propósito.
- Não sei o que vai fazer com esse conhecimento, nem quais são os planos que tem com o Dante, mas tome cuidado. - arregalei os olhos com o alerta. - Talvez seja só uma impressão, uma teoria maluca... Se realmente alguém apagou a história sobre quem é, sobre o povo ligado a você e até sobre a morte dos Lockhards, muito provavelmente irá atrás de você.
Resfoleguei.
- Dante fará de tudo para te proteger, disso tenho certeza... - houve uma pausa. - Só... Saibam bem quem é o real inimigo. Por alguma razão, sinto que estamos na ponta do iceberg.
- Não se preocupe, vamos por um ponto final nisso. O primeiro passo é tentar buscar o Santo Graal...
- Tem uma coisa... Você está apaixonada por Dante, não é? - perguntou sem rodeios, desviei meu olhar para um casal que estava algumas mesas à nossa frente.
Me encolhi no assento.
- Eu sei que não é dá minha conta - ela pegou delicadamente meu queixo, forçando-me a encará-la. - Mas não acha arriscado criar laços que algum dia terá que ser rompidos quando você retornar... Quanto mais se afeiçoar a esse mundo, mais difícil se tornará sua partida, entende?
As palavras de Trish ficaram presas na minha garganta como chumbo, e embora não me negasse com todas as minhas forças, a verdade sempre apareceria para jogar um balde de água gelada em cima de mim. Não podia fugir da realidade, em algum momento eu teria que voltar a meu mundo, a minha vida sem Dante. Só de cogitar a ideia meu coração se quebrava em vários pedacinhos, e lágrimas brotavam em meus olhos.
Não! Tem que ter uma forma de não ter que deixar esse mundo e ter contato com a minha família.
- Eu... - solucei alto.
- Não fique assim querida, minha intenção não foi te magoar. Queria provar o quanto você gosta dele. - Trish enxugou as lágrimas que escorriam pelas minhas bochechas. - Pelo jeito é mais do que esperava. Ele sabe?
Assenti.
- Já dormiu com ele? - pisquei espantada, fora um espécie de quebra total de tensão. Nem sabia o que devia fazer: se chorava ou ria. Por via das dúvidas fiz as duas coisas.
- Não, não por enquanto.
- Pelo visto as coisas estão bem sérias. - Trish fez sinal para que chegasse mais perto, e quando estava perto suficiente para sentir sua respiração bater em meu rosto - Dante deve gostar de você também, mas nunca vai admitir então tenha paciência com ele.
- Sério?
- Sim. Dante é um completo idiota e as vezes um pouco tapado, mas não é insensível - Trish tomou o resto do shake. Acho que estou no caminho certo, cedo ou tarde Dante vai retribuir meus sentimentos. E espero que seja mais cedo. Esperar nunca foi meu forte.
- Vamos?
- Claro.
Passamos por uma loja que vendiam lindos vestidos, pelos mostradores fiquei maravilhada com cada um deles. Trish me fez vestir cada um deles e ver quais ficariam melhores em mim para que comprasse. Optei por um vestido azul claro de linho com detalhes escuros. Depois nos aproximamos de um cabeleireiro e pude ouvir mulheres conversando e dando risadas. Num impulso, entramos pela porta de vidro. Uma mulher morena com um sorriso simpático veio até nós.
- Querem mudar o penteado?
Em um gesto involuntário, toquei minhas curtas madeixas afagando-as gentilmente.
- Não dá para fazer muita coisa com meus cabelos...
- Podemos pintar e dar alguns retoques.
- Pintar?
Ponderei por alguns segundos, e dei meu veredicto:
- Vermelho.
- Como?
- Eu quero pintar de vermelho.
A respeito da minha escolha, tinha razões para escolher justamente essa cor; sempre quis ficar ruiva e... Acho que ficaria bem em mim. Já que se tornou a cor mais vistosa na minha concepção, e levando em consideração que eu ficava envergonhada com uma facilidade monstruosa.
A mulher me guiou até a cadeira e começou o processo de pintura, lavagem e secagem. Demorou um pouco, porém a expectativa pela mudança fez cada minuto valer a pena. Trish ficou sentada esperando por mim, ela preferiu que ninguém mexesse nos seus longos cabelos dourados pálido. Vendo-a daquele ângulo ficaram mais evidentes as diferenças entre ela e Eva. Evidente que a semelhança era incontestável. Desde os longos cabelos loiros a pele lívida. Em beleza e fascínio, elas eram idênticas. Mas enquanto Eva emanava pureza, amor materno e aura angelical. Trish possuía espírito forte e fogo, e traços sutis de malícia em si. Faces completamente opostas da mesma moeda.
- Está feito! - a cabeleireira anunciou.
Encarei minha nova imagem no espelho; não mudará muita coisa e mesmo o tom avermelhado dava destaque a minha aparência sem graça. Eles estavam mais brilhantes e levemente bagunçados dando um aspecto... Selvagem.
- Espero que ele goste.
- Ele?
- O homem que você quer agradar.
Corei.
- Não é bem...
- Dante vai gostar com toda certeza. - Trish cortou.
Vendo pelo espelho como meu rosto estava - tão rubro que parecia que todo sangue subia para cabeça -, a cabeleireira e Trish deram risadinhas cúmplices.
Dizem quando não se pode com eles o melhor é juntar-se a ele?
Sem jeito, comecei a rir do meu próprio constrangimento.
Saímos do salão.
Permiti que o resto do caminho fosse ao comando de Trish. Um arrepio percorreu minha espinha quando percebi onde exatamente estávamos indo. As vitrines cheias de roupas íntimas que pareciam ter saído de algum catálogo da Victoria's Secret. O céu estava ficando escuro apesar de não passar das quatro da tarde. Dentro da loja, a temperatura era quente e reparando no entorno que estava excentricamente decorado com todo charme com destaques de rosa, vermelho e branco.
Trish vasculhou cada uma das muitas peças existentes e expostas. Ela jogou algumas em cima de mim. Os pequenos lingeries não cobriam muita coisa, entre ficar nua e usar isso dava na mesmo. Eu só a seguia para todo lugar que ia.
- Por que exatamente estamos aqui? - perguntei, enquanto ela pegava um sutiã de oncinha.
- Ora, precisamos renovar nisso também. - respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
- Precisamos?
- Aham, principalmente você.
- Eu até entendo que preciso ter roupas novas, mas... Cinta liga? - mostrei um lingerie preto que ela jogou em mim.
Olhar para aquilo não está me fazendo pensar com clareza. Como se minha mente operasse no automático, e parte disso venha a ter pensamentos nada bonitos sobre o tipo de ocasião para usá-los.
- Hmm, digamos que precisamos compensar o acréscimo das dividas de Dante.
- Então pretende me usar como recompensa?
- Mais ou menos isso - Trish riu da minha expressão estupefata.
- Legal saber que sou uma moeda de troca. - ironizei meio absorta em graça.
- Nunca pensaria em você como uma moeda de troca, e sim como... - ela refletiu - Um apoio e incentivo. Estou tentando facilitar as coisas para você. Apenas siga meus conselhos, sim?
Por algum motivo desconhecido sinto que não posso confiar nas palavras dela. Imediatamente compreendi a razão de tamanha desconfiança, e ficaram ainda mais evidentes, principalmente vendo a montanha de lingerie que ela comprou só para mim, e detalhe elas eram dos mais variados tons de vermelho - quanto meu rosto agora -, o que individualizava cada uma eram o modelo e os pequenos enfeites. Naquele momento desejei nunca ter ido às compras com ela.
Fomos pegas de surpresa com a chuva. E para piorar não tínhamos como sair sem nos molhar e as inúmeras sacolas que carregávamos. Era uma boa oportunidade para mostrar de perto minhas habilidades para Trish e nos teleportar. Peguei as mãos dela e concentrei em Devil May Cry. Para uma primeira tentativa que não fosse com Dante, de modo algum, fora tão bem sucedidos quanto almejava, por que em vez de termos nos teleportado exatamente para dentro da agencia estávamos a poucas quadras de frente a ele.
Tivemos que correr para fugir da chuva.
Esgotada e encharcada, entrei no escritório e vi que estava vazio.
- Dante? - chamei.
Trish depositou as sacolas perto do sofá maior e vasculhou os cômodos enquanto me secava com a toalha que achara no banheiro. Afundei-me no acento acolchoado e fique parada, agradecendo mentalmente por estar sentada em algo tão macio - minhas pernas estavam me matando.
- Ele deve estar em missão. - constatou. - Ainda temos esse lugar só para nós, podemos assistir a um filme.
Fui até a mesa e Trish me entregou a rosa e um bilhete com as seguintes inscrições;
“Precisei sair para “tirar o lixo”, então não me espere e não se preocupe”.
Dante.
Sorri pelo gesto de consideração dele, olhei para rosa e inspirei profundamente sentindo a doce e delicada fragrância dela.
- Claro, contanto que seja um de terror decente.
Usamos o resto da noite para comermos pizza e assistir dois filmes interessantes, mesmo não estivesse realmente prestando atenção nele. Pensava em onde Dante poderia estar não que me preocupasse já que ele sabia - bem demais até - se cuidar, acho que fiquei muito dependente da companhia dele.
Antes de final do segundo filme, acabei caindo no sono.
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