La Divina Commedia
A FÍSICA NÃO MENTE quando se tratava de efeitos colaterais ocasionados por má posição e ficar suspensa por sabe-se lá quantos metros não era o que qualificaria como confortável em nenhuma instância. Nesse curto intervalo de um período do tempo e outro estive mais perto de virar uma panqueca em quedas livres que virar alvo de inimigos — o que seria uma sorte um tanto quanto esquisita. Custava um pouco variar?
Para tornar cada minuto da situação ainda mais aterrorizante: havia um punhado de pontos vindos na nossa direção. Além dos hipotéticos demônios, o que deduzi ao conectar os pontos, a paisagem em uma densa noite com nada que não fosse uma película enevoada ao redor não revelava nada da real altura que me aguardava caso o Dante não visse necessidade de me içar e simplesmente me derrubasse.
— Merda, merda. — resmunguei reprimindo a ânsia de me debater.
Tinha duas opções viáveis: apelar pra não ser solta com um tiquinho de charme ou vislumbrar o abismo. Não bastando minha sorte com eventos, conservava resquícios do que chamaria de “pânico de altura” que não colaborava pra mitigar o colapso que ameaçava despontar. Claro que, apesar da experiência desagradável, Dante não me deixaria cair deliberadamente devido ao grande respeito que ele possuía pela vida humana. Ainda assim, queria ter total certeza antes de qualquer coisa — melhor prevenir que remediar. E como uma boa entendedora do gênero, precisava medir ao extremo minhas palavras para não alterar drasticamente o que acontecer daqui em diante. Meu coração acelerava a cada segundo que parecia agonizantemente demorado e à medida que passava mais incomodada ficava. E como era de se esperar, uma onda vertiginosa atingiu-me. A ânsia de vômito crescia e persistentemente me esforçava para impedir que ela viesse, dando profundas e longas inspirações. Ficaria muito constrangedor se passasse mal na frente de Dante, principalmente sendo uma versão mais jovem e completamente idiota — gato, mas estúpido.
Sinceramente adoraria que ele fizesse o favor de me soltar na parte segura e firme em vez de permanecer daquele jeito, comigo mais indefesa que mocinhas em filme de ação mal feito. Talvez ele estivesse pensando nos prós e contras em me salvar, lembrando que depois do encontro com Lady provavelmente estaria meio desconfiado. As gemas azuis fitaram as armas presas no meu calcanhar, estudando-as. Fez o mesmo com as que pendiam no fino lanço azul em meu pulso — uma espécie de pulseira anexada as armas. Naturalmente uma garota armada cair de modo repentino do céu, nem sempre é boa coisa. Claro que não atiraria nele, afinal seria uma tremenda burrice. Seu apoio era a garantia segura que detinha de não morrer — ou de ficar severamente machucada.
— Pelo que vejo a senhorita é barra pesada — ele deu uma leve risada, o tremor fez minha respiração trancar na garganta. — Então o que faz aqui além de cair do céu, gracinha?
— Eu explicaria melhor se me soltasse... De preferência em segurança aí onde você está — completei explícita, mordi o lábio inferior em visível aflição — Vai logo, o sangue está começando a descer para a cabeça!
— Tudo o que quiser.
Com uma sutil, veloz e delicada execução de uma manobra, ele me firmou de pé se certificando que estivesse inteira e não desmaiasse com a mudança de ângulo. Dei um passo e cai, não de propósito, de cara no peito desnudo dele, o que, por si só, acabou com qualquer seriedade que pudesse me respaldar. As vezes, raramente, acreditava na teoria de Dante sobre minha tendência pouco favorecedora de cair nos braços dele — independente da cronologia.
Estaria sendo desonesta de negasse categoricamente que gostei do contato, de inspirar o cheiro dele — uma mistura excêntrica de suor e álcool — e sentir cada fração do seu calor reconfortante como um refúgio.
Fechei os olhos apreciando a proximidade, me embebendo de sua aura fervorosa. Ele não me afastou tampouco agiu como se aquilo gerasse um incômodo, simplesmente me acolheu sem pestanejar como se, em algum canto do seu subconsciente, soubesse que carecia do seu amparo. Na verdade, ousaria acreditar que ele também desejava tanto quanto eu, envolvendo-me com seus braços fortes.
— Não é sempre que se ganha um abraço, é uma recompensa bem extravagante.
Saindo da bolha para a vida real, me desvencilhei dele.
— Ah, muito obrigada. — agradeci sem graça. Corajosamente dei meia volta e comecei meu novo trajeto. — Nos vemos por aí quem sabe?
— Ei, doçura, não tão rápido. É perigoso ficar zanzando por aí mesmo toda equipada. — ele pegou meu braço impedindo que escapulisse. Pela sua expressão de contentamento pude perder que meu rosto queimava pelo constrangimento do ocorrido de antes. Não importava a ordem cronológica, porque Dante conseguia ser irresistível em todas... Ou posso estar sendo muito tendenciosa já ele é meu namorado.
O Dante que conheço, o galante de DMC4, amadureceu como um bom vinho da melhor safra em toda sua glória, tão encantador quanto divertido, porém um tanto quanto sutil em seus avanços. Por via de regra suas demais versões adotam quase a mesma característica de abordagem e ter uma noção de quando cortejar ou não, a maioria das vezes era mais um ato de graça que um flerte real. Tive que ser bem engenhosa pra mostrar pra ele que estava com ele e o amava.
No entanto, o Dante mais jovem, no auge da sua rebeldia e natureza sarcástica, não era exatamente o tipo que não demonstra interesse se, de fato, ver algo que lhe atraía. Ele é bem direto e sem tempo a perder com rodeios, bem mais exigente.
— Como eu disse antes, não deveria estar aqui, mas se veio se juntar a festa ao menos poderia me dizer seu nome e me dar o prazer — deu ênfase exagerada na palavra. Estanquei nervosa no lugar, tentando obter um plano para me livrar da situação. — de sua companhia.
— Adoraria, mas infelizmente não posso. — Dante apertou meu braço, sem muita força para não me ferir apenas o suficiente para me manter perto. — Estou muito ocupada... Procurando uma pessoa... Que eu perdi...
A vergonha se apossou de todas as partículas que compõem meu corpo que se reviraram em agonia pela minha falta de raciocínio pra inventar um assunto melhor. Em minha defesa, há poucos minutos estava com a cara enfiada nos peitos dele e nem tive uma pausa para recuperar a compostura antes de dar uma de Houdini para dar uma escapada.
— Não tem problema, eu te ajudo. — se convidou perigosamente próximo. Quase podia experimentar as vibrações e o campo magnético entre nós se intensificar.
— Oh, claro, claro. — sorri sem jeito. — Espera! Não precisa, eu me viro bem sozinha! — me agitei para persuadi-lo.
— Se a pessoa que procura está nesse lugar, é mais fácil achá-lo se tiver companhia. — ele marchou na dianteira e eu o seguinte.
Pensando melhor... Uma ideia cruzou minha mente. Ele propôs me ajudar, então vou aproveitar.
— Oh, já que insiste — o fitei satisfeita.
Dante casualmente se virou justamente quando caminhava para junto dele, quase que esbarrando nele.
— Bem, vamos recomeçar as apresentações, como posso chamá-la? — questionou.
— Diva! — pousei as mãos em seu peito, deliberadamente afastando-o. — Me chame de Diva. Diva... Lockhard.
— Diva, huh? — Ele coçou o queixo, enfatizando seu estado de interesse. — Você disse que está procurando alguém. E quem seria? Seu namorado?
— Por que acha isso? — dei um meio sorriso, convicta. Eu queria demonstrar um pouco de sagacidade para me igualar a seu senso de humor. — Uma garota não pode procurar uma pessoa sem necessariamente ser algo relacionado a namoro? Não me diga que está interessado em mim?
— Me diga se realmente não é — rebateu, sarcástico. Seu semblante adquiriu sutil animação e malícia. — Claro que seria uma pena que fosse comprometida, mas duvido que esse cara seja inteligente suficiente para deixar uma linda e indefesa garota andar sozinha por aí.
Se ele soubesse quem é a pessoa não falaria isso; O Dante do passado ofendendo seu alterego futuro, quem diria não?
— Indefesa? Eu tenho cara de garota indefesa? — inquiri com uma sobrancelha erguida em provocação, ele sorriu em resposta. — Você ter me salvado foi obra do acaso, sei me defender muito bem. Treinei com o melhor mestre de todos!
Ri internamente pela lembrança de Dante atuando como um professor.
Um leve tremor percorreu a enorme torre, o som de deslize de pedras cortou o silêncio assoviando e quebrando-se por entre as paredes daquela estranha construção. O chão pareceu ceder sob nossos pés enquanto a oscilação aumentava, seja lá o que desestabilizava a estrutura parecia bastante poderoso. No segundo seguinte saltei diretamente na direção de Dante, agarrando-o junto a mim. Era óbvio que ele se deixou envolver, já que mesmo sem minha ajuda poderia ter facilmente se salvado.
O miserável não perde nenhuma oportunidade.
Dante se posicionou confortavelmente com a cabeça no meu busto durante o curto instante que durou o voo e suas mãos serpentearam minha cintura. No entanto, tão desenvolto quanto maquiavélico, ele reverteu o rumo da caída, girando o corpo e aterrissando comigo nos braços com o olhar convencido e o típico sorriso triunfante.
— O que foi que disse mesmo?
Saí dos braços dele com os sentidos intoxicados pela atmosfera ao redor. Apesar do meu empenho em mudar o placar e me sobressair sobre as intenções de Dante, nunca dava realmente certo independente de qual versão desafiava.
— Eu te salvei primeiro.
— Vamos contar como um empate.
Dei de ombros, constrangida.
— Então... O que faz por aqui? — tentei soar bem desentendida conforme atravessávamos um corredor.
— Fazendo um serviço de desinfecção — respondeu com bastante graça. — A cidade está precisando.
— Se importa se eu for junto?
— Não é sempre que tenho uma boa companhia.
— Isso é um sim? — saltei vitoriosa, pensando no privilégio de testemunhar em primeira mão o desenvolvimento da história de DMC3. — Prometo ser a melhor companhia de todas, Dante.
— Como você sabe meu nome? — ele inquiriu.
— Você me contou — me apressei em explicar, embora possa ter aparentado nervosismo e não é exatamente um bom sinal.
— Não, eu não contei. — ele me rodeou, examinando de cima a baixo cautelosamente. — A senhorita não é um demônio, saberia se fosse... Mas também não é... — delicadamente pousei meu dedo indicador em seus lábios quando percebi que ele estava prestes a falar mais, isso o calou de imediato. Aproveitei que permaneci no comando da situação e deslizei o indicador dos seus lábios, traçando passagem pelo pescoço e o peito desnudo.
— Vamos manter o mistério, é mais interessante, certo?
— É, você tem um ponto. — gracejou semicerrando os olhos, um sorriso sombrio transpareceu em seu rosto. Aquele sorriso era específico: a excitação de uma batalha.
Em movimentos rápidos e meticulosos, ele conseguiu me girar e enquanto minha mente absorvia seus gestos e tentava entendê-los, jogou meu corpo sobre os ombros e nesses breves segundos de diferença ainda sacou Ebony e Ivory com precisão impressionante. Tudo em perfeita harmonia.
— Até a vista me deu ânimo para lutar — articulou em audácia impetuosa. Com esforço observei o que acontecia de relance, meu limitado campo de visão foi encoberto por um número elevado de demônios. — Isso é como rodízio, quanto mais destrói, em compensação, mais aparecem para dar continuidade ao show. Veja doçura, você esta numa posição privilegiada para contemplar meu espetáculo, espero que seja do seu gosto.
Não podia deixar que ele fizesse todo trabalho sozinho. Glamour e Oblivion dispararam simultaneamente para dar uma extra-auxiliar. No meio de tantos ruídos que cresciam conforme os avanços de mais demônios, houve um que pude notar submergindo entre eles: um lamento. Uma força atrativa que me chamava. Seria o meu Dante? Ayden? Ou outra coisa?
Dante usou um impulso para atirar-me por cima e seguramente finalizar os demais demônios que resistiam. O confronto não demorou nem — precisamente — três minutos até que estivessem aniquilados. Presunçoso, estendeu os braços e me acolheu como se não pesasse nada.
— Mereço uma recompensa pelo ato heroico? — a voz dele soou convencida.
— Não extrapole, querido.
— O importante é tentar.
Devidamente firmada no chão, marchei vigilante e Dante ficou em meu encalço. Eu já tinha jogado esse Devil May Cry e lembro-me dele como sendo um dos mais difíceis que jogara, porém fazia um bom tempo. Nem sabia em qual localidade exata estávamos então o jeito é ficar o máximo que podia com Dante para não me perder. O fluxo anormal de energia dentro da torre era muito confuso, além dos seres cheios de fome interminável havia outras distintas. Talvez se me concentrar possa identificar precisamente as pessoas que também estão nesse lugar e assim possa encontrar Ayden e o meu Dante.
Avançamos pelos corredores composto por pedras de aspecto suave e polido iluminados pela luz provinda das chamas que intercalavam em intervalos de candelabros e se estendiam por estreitas e longas escadarias. Meus passos ficaram confiantes a medida que adentrávamos os vastos e desertos salões. Uma voz feminina ecoou, inicialmente baixa e sem muita clareza e logo pôde ouvir o cântico: semelhante a uma oração. A figura de costas prosseguiu ignorando nossa presença. Ela usava roupas finas que consistiam em um vestido branco e a túnica.
— Abandone todas as esperanças aqueles que aqui entrarem — aclamou inalterada e graciosa. A figura que arrastava o vestido elegantemente pelo chão virou-se ligeiramente desfazendo sua postura de oração, e nesse momento cerrei os punhos.
Ela ostentava o meu rosto, um reflexo distorcido, dissimulado e caçador.
Ela abriu um sorriso maternal.
— O que vai ser, doçura? Me dará a honra — Dante fez um gesto elegante e educado como se estivesse me pedindo licença para agir — ou deseja resolver você mesma? — Dante perguntou divertido.
— Deixe que eu mesma resolvo.
Ela rasgou o vestido revelando as roupas iguais as minhas. Suas armas também eram as mesmas. Habilmente mirei nela e ela imitou minha ação. Senti como se estivesse de frente a um espelho, e sinceramente era péssimo — uma piada de mal gosto.
— Rei tremendo em majestade, que salvais só por piedade, me salvai, fonte de graça. — rezou altiva, sem se dar ao luxo de errar uma nota sequer. Houve algumas perceptíveis mudanças no cântico.
Irritantemente, ela continuou.
Aquilo era o hino Dies Irae? Onde ela acha que está? Na Divina Comédia?
Pressionei meus pés no chão gerando firmeza antes de partir para a primeira investida, só precisou impulsionar-me e meus músculos dos membros inferiores se prepararam para correr. A velocidade deu desenvoltura para que pudesse dar um chute eficaz, porém ela evitou meu ataque imitando-o. A colisão das nossas pernas fora dolorosa, mas suportável. Recuei para analisar o que poderia ser feito, afinal qualquer golpe direto ela irá repetir. Atirei com Promise em contrapartida com a cópia; as balas se chocaram e ricochetearam-se. Limpei rapidamente o suor que escorria pela minha testa, ficar naquilo é sem dúvida muito cansativo. Demorou muito para concluir: Eu poderia improvisar.
— Dante, preciso de uma mãozinha — pedi enérgica.
— Para você até duas — brincou, pondo-se perto de mim.
— Enquanto distraio-a, você ataca. — E sem esperar uma resposta, avancei e como era de se imaginar a figura fez o mesmo. Preparei-me para acertar-lhe um soco, ela impediu segurando meu punho e vendo nessa brecha uma oportunidade para pegá-la desprevenida: imobilizei-a pegando sua mão livre e impelindo seu corpo fortemente contra o chão. O choque fez pedaços de concreto e poeira voarem. Ainda em posição de ataque, apontei Promise e Conquest nela, impaciente. Então retrocedi e fiz sinal para Dante poder acabar com isso de uma vez. Ele repousou o pé no abdômen dela, deixando-a imóvel. Só foi necessário um tiro para que ela sucumbisse, ao menos era o que parecia.
Para minha surpresa, ela tentou fincar as unhas no pé de Dante e ele facilmente desviou. Assim que conseguiu se levantar, a criatura seguiu prontamente na minha direção. Coloquei-me na defensiva, determinada. Desferi uma sequência de chutes e ela imitou, nem uma bala ultrapassou a linha invisível que existia tanto do meu lado quanto do dela. Nossas particulares semelhanças terminaram por aí: ela sacou uma espada meramente parecida com Blood. Todos os golpes de katana que infringia, pude retardar defendendo-me com as gêmeas das mãos, usando-as como escudo. O que sabia sobre essas armas era que seu material é extremamente resistente, isto é, seu poder para evitar ataques violentos eram bastante eficazes. Tirei proveito de um momento de distração, pisei na lâmina e a afundei no piso. De alguma forma, em meio aquela vantagem da minha parte, ela agarrou minha mão e arremessou-me a um recém-invocado portal. Foram os minutos mais tortuosamente lentos, Dante atirou na figura, retalhando-a, esta caiu na poça de sangue que formara ali. Ele correu o mais rápido que seus pés permitiam para me alcançar, porém nada adiantou.
Minha visão foi tomada pela familiar escuridão. Forcei meus olhos a ver através dela, aos poucos, o breu deu lugar a suave luminosidade. O mundo girava ao meu redor enquanto minha mente tentava acompanhar as novas imagens processadas da localidade; um corredor — maior que os anteriores — que aparentemente não tinha fim. Chacoalhei a cabeça afastando a vertigem enjoativa. Senti uma fina queimação na palma da minha mão direita, nela encontrava-se um corte que logo se curou. Seguindo minha intuição, cuidadosamente apertei o passo. Deveria encontrar um local aberto para me situar, pois com marcação fechada é quase impossível saber com clareza onde estava. Concentrada, puxei fortemente ar para meus pulmões e soltei de uma única vez num suspiro demorado.
Uma sensação de perigo tomou meus sentidos, entorpecendo-os. Não havia som nenhum, exceto os da minha respiração e dos ruídos que produzia. Encarei o caminho que se estendia atrás de mim, obrigando meus olhos a ver mais adiante. Algo me dizia que estavam se aproximando, uma pessoa... Não, duas pessoas. E uma delas apresentava poder e postura inimaginável, perfeito e indiferente. Deve ser minha imaginação pregando uma peça. Girei meu corpo para recomeçar a percorrer o interminável corredor, mas uma voz grossa e indignada soou e virei de repente.
— O que uma mera humana esta fazendo em Temen-ni-Gru...
— Ela não é humana, posso sentir o poder que ela emana que vai muito além de que um ser humano é capaz. — a segunda voz ressoou penetrante e fria, como um punhal de gelo. Diante da afirmação o estranho homem me encarou, incisivo. Não pude reconhecê-lo de imediato, mas vendo-o melhor minha mente proferiu um nome: Arkham, pai da Lady. Apesar da óbvia tensão pulsante na atmosfera, ele não despertou nenhum sentimento em mim, seja medo ou repulsa. Para todos os efeitos sua presença é indolente para mim e não apresentava nenhum real perigo, contudo o segundo sim deixava meus sentidos alvoroçados e atentos.
Esforçando-me para ver o que estava nas sombras, tentei não respirar. Fiquei alerta caso tenha que me defender de eventuais ataques furtivos.
Algo se moveu.
O grito de susto ficou paralisado na garganta. Meus músculos se contraíram pelo pânico crescente enquanto a figura andava em minha direção. Era como se a própria escuridão estivesse tomando forma, uma imagem humana — de um jovem. O intrigante sem dúvida era a aura: controlada e indefinida. O par de gemas azuis me analisou, no entanto, muito diferente do modo que Dante fizera o olhar dele buscava por evidência; estudando superficialmente as habilidades existentes. Eram olhos de um guerreiro impetuoso considerando um adversário. Eu foquei minha atenção nele: os olhos azuis opacos, os cabelos impecavelmente arrumados para trás e o sobretudo azul. Seus traços de disciplina e rigorosidade.
Sua mão preparada para sacar Yamato.
— Vergil — murmurei para mim mesma de modo que ninguém pudesse escutar.
Retiro que disse: Definitivamente essa é A Divina Comédia.
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