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Eternal Night Festival

UMA CERTEZA INCONTESTÁVEL ao se infiltrar em domínios desconhecidos sem nenhuma base sólida, tirando o risco objetivamente do cálculo, é que viraríamos uma atração pública literal. No instante que cruzamos a área central, a vida que se dispersava alheia e pacífica, se projetou sobre nós como se, além de estranhos — o que ficava óbvio com a discrepância no vestiário —, fôssemos também membros de algum circo itinerário que desembarcou por ali com toda extravagância e pompa. Detestava a ideia de ter pessoas me julgando e, pior ainda, elas agirem tão descaradamente sobre isso como se a noção de que não é educado encarar fixamente alguém não existisse nas regras básicas de etiqueta.

Notei que em meio a essa plateia curiosa e incisiva que nos seguia em comoção, umas mulheres alvoroçadas acenavam para Dante, saltando para chamar a atenção dele, algumas, mais ousadas, atuavam com enamoro e lançavam beijos — um outro nível de fã. Fechei a cara e abracei o braço do meio-demônio com força, o que fez ele arquear uma das sobrancelhas entretido com minha reação, indicando que estávamos juntos, embora não do jeito que gostaria. Sem nenhum sinal de contrariedade por parte dele, resolvi manter a pose e me comportar com mais confiança, engolindo o leve surto de ciúmes.

E, ao avistar uma estátua em homenagem aos patronos da ilha, um monumento construído com tamanho detalhe e primor que dava a impressão que ganharia vida com um simples sopro de ar, a razão me atingiu com truculência e tudo, que outrora seria uma onda de curiosidade em massa — uma espécie de histeria coletiva —, acabou tendo sentido. A população eufórica com a chegada inesperada não se relacionava ao fato de sermos desconhecidos em um “mundo novo”, mas por Dante ser filho de Sparda o que, automaticamente, o tornava uma figura ilustre digna de atenção e regalias. Se, segundo Eryna, Sparda significava tanto para esse povo, qualquer um que evidenciasse possuir uma característica da linhagem dele seria aclamado, não tinha como evitar uma percepção natural.

Convenhamos, não existia ninguém com o cabelo natural branco, quase fugindo para o prata, se não tivesse uma ligação. Também porque os genes de Sparda, em termos de estudos genéticos, eram dominantes.

Comecei a rir baixinho.

— Qual é a graça? — Dante inquiriu intrigado.

— Percebeu que só estão assim por você estar aqui?

— Não seja modesta, doçura. Acho que eles estão apenas impressionados com nós dois.

— Comigo? Sou a pessoa mais comum daqui. — ri da constatação dele e de quão absurda soava pela contexto.

— Veja dessa forma, imagine uma “garota comum” acompanhada de um homem como eu que — ele soltou 'PUFF', como se explicasse um truque — apareceram do nada.

Vendo por esse ângulo não tinha como não concordar com Dante. Em nossa falha tentativa de permanecer incógnitos, não nos atentamos no que nos encobriríamos e, obviamente, não nos enquadrávamos no meio do pessoal nem se fossemos disfarçados com um cachecolzinho.

— Será que devemos perguntar?

Dante inspecionou os arredores.

Rasgando caminho entre um grupo, três crianças se aproximaram com expressões de fascínio e animação que não consegui não retribuir os sorrisos que direcionavam a nós.

— Olá — comecei, me agachando na altura deles. — Podem nos ajudar?

Eles se entreolharam todos agitados e assentiram.

— Nós estamos procurando... — parei ao me dar conta do que iria perguntar.

— O Santo Graal, não é?

Engasguei com a dedução assertiva da menina.

— Ah, sim, claro, exatamente! — exclamei com um sorriso forçado, rapidamente me aprumando e murmurando em um volume que só Dante seria capaz de escutar: — Isso é normal?

— Assim é mais fácil encontrarmos o que queremos e dar o fora.

— O templo fica perto, venha — elas saíram correndo e, como uma grande desocupada, corri atrás com Dante em meu encalço.

— Será que não poderíamos só ir andando? — resmunguei, parando frente a entrada do majestoso templo com grossas colunas que circundavam cada lado, dando sustentação e elegância a fachada. Em estética se assemelhava a um lugar sagrado vindo direto de um livro fantástico de fantasia. — Uau. Isso é maior que muita mansão.

— Nada mal. — Dante comentou.

— Ah, tem umas coisas que queria discutir com você antes de irmos em frente.

— Dê suas condições.

— Por favor, não faça uma entrada dramática. Sem janelas quebradas, sem atirar em ninguém e sair metendo a espada em todo mundo. — disse enumerando com os dedos o que ele não deveria fazer.

Dante gargalhou, tanto que se curvou com a respiração entrecortada.

— Eu não faço essas coisas.

— Oh, não. — cruzei os braços. — Esqueceu que conheço quase as partes movimentadas da sua vida?

Dante ergueu os braços em falsa rendição.

— Me pegou.

As crianças sorriram e se foram, exceto a menina com os olhos grandes e esverdeados nos encaravam com alegria e expectativa.

— Obrigada pela ajuda.

— Estou feliz que tenha vindo. Mamãe disse que viria. — me virei pra Dante um tanto alarmada.

Retomando o objetivo, subimos as escadarias e um arrepio esquisito atravessou minha espinha. Por um segundo fugaz, tudo me pareceu familiar e vagamente vívido, um déjà vu. Meu coração se encolheu contra o peito em um martelar duro.

— Doçura? — Dante me balançou.

Dei um salto, meus devaneios espatifados.

— Hein? Dante? O que foi?

— Eu que pergunto; o que houve?

— Não sei. Bem, não importa. — sorri.

Dante deu de ombros.

Sem cerimônia, adentramos o local e, logo de início, a enorme extensão atordoou ligeiramente. O grande saguão estava vazio e iluminado pelos ofuscantes raios de sol que entravam pelas aberturas que lembravam janelas, a temperatura quente — não em demasia, mas suportável. O piso era polido e dava para ver nosso reflexo — que bom que não estava de saia —, branco com detalhes em cinza. No centro, tinha uma estátua feminina; ela parecia orar.

Então será essa a famosa Arya Lunier?

A beleza do entalhe nos contorno da enorme estátua impressionava. Ela parecia viva.

Percebi que Dante me encarava, estudando algo no meu rosto.

— Algum problema, Dante? — perguntei, cruzando os braços.

— Não, nada.

Senti uma silenciosa presença, aparecendo por detrás da estátua, um vulto tomou forma para dentro da luz e podemos ver um homem; a pele morena, cabelos castanhos longos, olhos negros por trás de óculos e usava uma túnica.

— Bem vindos ao templo da Luz! — saudou. — Sou Orion, o paladino desse santuário.

— Olá, estamos querendo conversar com o líder ou guardião da ilha, viemos de muito longe para isso. — articulei, esclarecendo a situação.

O homem ficou de costas para nós, olhando para estátua. Se reverenciou a ela.

— Ouvi dizer que forasteiros chegaram à ilha... — ele se virou e ofegou em choque desgarrador.

Cutuquei Dante com o cotovelo, franzindo o cenho:

— Tem alguma coisa no meu dente? — murmurei não querendo deixar uma primeira má impressão. — Ele está me olhando como se tivesse visto algo errado na minha cara.

Dante riu da minha “mirabolante teoria”.

— Se for só isso, tem um alface no seu dente.

— Oh, não! — arregalei os olhos mortificada. — Ei... Eu não comi alface!

Dante abriu um sorriso de escárnio.

Interrompendo o momento, os passos do homem ecoaram enquanto ele se aproximava. Dante se interpôs entre mim e o cara excêntrico.

— Calma aí, parceiro. Você pode muito bem fazer isso da distância em que está. — advertiu.

— Oh, você é filho de Sparda? — o homem indagou, atônito. — Oh, que benção!

Dante e eu nos entreolhamos. Podia até adivinhar no que Dante pensava algo do tipo "O cara deve estar bêbado".

— Todo mundo aqui te conhece, Dante. Bem que eu avisei.

— Não sabia que era tão famoso assim. — replicou, esfregando o queixo.

— Olha, não queremos incomodar nem nada, mas... — fitei o meio-demônio buscando amparo. — Há uma pessoa com intenções malignas pretende pegar o Santo Graal. Estamos aqui para impedi-lo. Sei que parece loucura e pode achar que somos malucos, mas realmente nós queremos evitar uma catástrofe maior. — respirei fundo torcendo para não ter que elaborar mais a situação.

— Como se chama?

— Meu nome é Diva. — apontei para o Dante. — Esse é o Dante.

Orion focou seus olhos em mim.

— Venham, mostrarei onde está o Santo Graal.

Achei muito estranho o fato de Orion não ter nos perguntado nada. Normalmente quando algum conhecido pede algo a tendência é questionarmos o motivo e se tratando de desconhecidos, a desconfiança é bem maior. É o que qualquer pessoa sensata com mais de dois neurônios faria.

— Acha que devemos seguir? Ele é bem estranho para meu gosto. — murmurei.

— Não, mas não temos escolha. Além disso, todo mundo aqui nesse lugar parece não bater muito bem das ideias.

Assenti em concordância.

Seguimos o homem, passando por um longo corredor até outro salão. Este não era tão extenso quanto o anterior, mas ainda tinha muito espaço aproveitável. Na parede havia um enorme quadro, grande o suficiente para ocupar toda a parede.

Estava pintados uma mulher e um homem ao seu lado.

Com a pressa não reparei muito, porém com um rápido vislumbre, vi que o homem era ninguém menos que Sparda. Mesmo sem ver a diretamente mulher na pintura já sabia que era Arya.

Orion tocou uma alavanca que se camuflava no contorno dos pés da pintura, um mecanismo abridor. Então, moveu lentamente para trás, uma porta deslizou para dentro das dobradiças, revelando um escuro corredor.

Orion acendeu um candelabro e adentrou o corredor, sem perder tempo continuamos atrás. Fora uma longa caminhada até que finalmente encontramos uma luz — luz no fim do túnel? —, e a vimos. Era a coisa mais bonita que eu já tinha visto antes.

Fincada num altar, o Santo Graal envolvido por uma miraculosa luminosidade, a lâmina era um pouco mais fina comparada com Rebellion de Dante, não possuía nenhum arranhão — impressionante, especialmente sabendo que Arya lutou muito com ela —, a bainha era branca e com símbolos dourados.

— Nossa que linda!

Orion ficou parado ao meu lado.

— Tinha que ser, é uma arma angelical.

— Como?

— Assim como existem armas demoníacas, existem também armas angelicais. Mas, são raras e não é qualquer um que pode obtê-las.

— Ouvi dizer que essa espada é abençoada com o sangue de Arya, que a torna mortal.

— Está correto, apenas um toque na lâmina que será o suficiente para ferir mortalmente demônios. Claro, que com filho de Sparda é necessário mais do que isso, no entanto, iria ser bastante doloroso. — Orion explicou, olhando para Dante.

Dante deu um sorriso zombador.

Para uma espada trabalhada na ideia de possuir um potencial destrutivo tão grande, sua localização e o fato de ter nenhuma segurança, me deixou uma impressão peculiar. Andei vagarosamente até o altar, pisando, sem querer em um piso oco que se moveu com o peso, emitindo ruídos de trituração. No rápido intervalo de segundos, tudo que pude conciliar fora a queda brusca e vergonhosa. A altura de um ponto a outro não era grande, no máximo, apenas meu ego e meu traseiro saíram feridos. Examinei o me entorno e avaliei meu cativeiro claustrofóbico.

— Você está bem? — olhei para cima, Dante estava agachado olhando para baixo, para mim, no caso.

— Sim, suja e com o traseiro dolorido, mas ótima! Ajude-me a subir!

Estendi as mãos, Dante fixou as dele em meu pulso e me puxou para cima com facilidade.

— Era uma armadilha, não é? — indaguei diretamente para Orion, ele assentiu.

— Desculpe, foi um erro não ter te alertado. Pensei que...

— Qual é o seu problema? — Dante agarrou Orion pela túnica.

— Pare Dante! — afastei com muito custo Orion de Dante. — Não foi culpa dele, eu sou culpada. Deveria ter prestado mais atenção.

Dante cruzou os braços.

— Vamos sair.

Fizemos o caminho de volta, encontramos o salão com algumas mulheres. No mesmo ritmo, todas pousaram a mão direita acima do peito e se ajoelharam.

— Senhor, queríamos falar sobre o festival! — uma delas disse.

Eu me esqueci de perguntar a Orion o que estava acontecendo, a cidade parecia decorada demais para ser algo simples. Agora pensando sobre haver um festival, já explicou bastante coisa.

— Festival? — perguntei.

— Ah, vocês chegaram ao melhor momento, hoje celebraremos — Orion sorriu. — Gostaria muito que fosse ao nosso festival das estrelas, Diva.

Quem diria que proteger uma espada teria tantos benefícios.

— Claro, porque não?

×××

Nunca fui muito de ir em festas. Minha diversão primordial vinha da competição de jogos online ou assistir um filme comendo besteira, uma rotina sem graça e comum para pessoas com um grau leve de introversão. Não queria dizer, é claro, que detestava despender minhas horas livres dançando com música alta e conversando com gente que nunca mais veria. Durante minha fase menos reclusa, tinha escapado para boates junto de Lyana para curtir e mexer as cadeiras. Não era exatamente o meu habitat, nem o gênero de canções que escutava com frequência menos ainda com as companhias mais bacanas, servia somente como um entretenimento para acender a juventude em mim como minha melhor amiga brincava.

Dessa vez, com o convite, sentia uma vontade genuína de participar — de ser incluída na festividade — e ver como tudo funciona e o que aquele pessoal poderia mostrar para uma forasteira como eu. Dante, em oposição a minha aceitação sem resistência, não estava tão certo de que deveríamos nos inserir assim. Ele não era contra a festa, por si só Dante possuía a capacidade nata de transformar qualquer situação em algo animado mesmo que fosse a concepção de fim do mundo, e sim com o desvio sem nexo do nosso percurso, o que também me deixou meio ressabiada.

Não precisou de muito esforço e persuasão para replantar a ideia e convencê-lo a ir. Assim que saímos do templo, fomos recebidos por uma verdadeira procissão. Passeamos por toda cidade e conhecemos mais e fundo a historia da ilha. Cada rua que passávamos estava decorada com símbolos coloridos e com desenhos de estrelas e pequenos balões de papel, havia também pequenas e brilhantes pedrinhas emoldurando árvores e as altas paredes.

Em prol da objetividade, a tarde nos familiarizamos com o mapa do lugar e decorei alguns cantos e atalhos para eventuais problemas — o que torcia para não rolar. As mulheres monopolizaram uma parcela produtiva do meu tempo ocioso para mostrar mais do que podiam oferecer e a hospitalidade vibrante. A última vez que vi Dante nesse interim, ele foi “voluntariamente” arrastado para outra área, seus olhos cerúleos nunca me abandonaram ao partir.

— É tão bonito a maneira como vocês orbitam um ao outro. — uma das mulheres cantarolou em um tom sonhador.

— Como um casal apaixonado! — outra concordou mais entusiasmada.

— Dá pra sentir a química, a atração.

Ruborizei com as fãs.

A mulher que se identificou como Saary guiou-me para um casarão com outras garotas atrás de nós, sendo Miira, Kahl e Becca.

Ser exposta a olhares afiados e despida sem qualquer cerimônia desencadeou uma sessão gratuita de paranoias sobre meu aspecto físico, o que não pareceu incomodá-las, pois elas cantavam alegremente ao chegarmos a uma sala com uma enorme banheira no centro, lembrando ligeiramente os onsen sem ser totalmente ao ar livre e sem a atividade vulcânica que aquece a água, ainda assim, dos prós e contras, era agradável de um modo geral. Apesar de serem desconhecidas não me julgavam tampouco me encaravam com perversidade ou desdém, simplesmente atuavam como um grupo de jovens que apreciação a companhia uma da outra o que me permitiu a liberdade de me unir sem restrições. A mistura de fragrâncias que se acentuavam no ar me preencheu com uma sensação de paz e relaxamento, nem me importei com os cuidados extras delas; Miira pegou meus cabelos e molhou com uma delicada bacia de flores lavando-o com sabão de lavanda, aproveitou para fazer massagem em círculos suaves. Aliás, nem tinha reparado que meu cabelo cresceu bastante, batiam em meus ombros agora. Kahl e Becca me ajudavam a lavar, esfregando a esponja em minhas pernas e costas.

— Devemos perfumá-la...? — Becca inquiriu sem completar a frase, contudo, indicando minha zona privada.

— Não! — guinchei envergonhada. — Ninguém tem nada pra ver aqui!

Elas riram da minha reação.

Assim que terminamos, me sequei em uma toalha felpuda. Saary mostrou-me um lindo vestido; roxo com delicados enfeites arroxeados e prateados. Ela deixou-o pendurado para quando estivesse completamente pronta pudesse vesti-lo. As mãos de Saary começaram a tocar e traçar detalhadamente meu cabelo, Miira a ajudou. Tentei cochilar enquanto as mulheres davam um trato na minha aparência de zumbi. Sentir varias mãos passando em meu cabelo era relaxante. Todas se empolgaram, podia ouvir cochichos e risadinhas, enquanto me arrumavam. Após terminarem, elas me entregaram o lindo vestido de tecido leve que se aderiu perfeitamente às curvas do meu corpo.

Chegou a hora!

Respirei fundo, dando passos vacilantes até o espelho de corpo inteiro. Foquei meus olhos no reflexo e paralisei. A mulher que via era completamente diferente do que imaginara. Os olhos grandes e castanhos a pele clara e cremosa, levemente rosada. Meus lábios estavam em um tom de rosa claro e de aspecto saudável. Meu cabelo estava solto e algumas mechas prendiam atrás da cabeça em pequenas tranças. Girei devagar diante do espelho, admirando a visão do espelho.

— Está lindíssima. — disse Kahl.

Lindíssima não era um termo que ouvia levianamente.

— Como uma princesa. — Miira acrescentou, sorrindo.

— Não, como uma santa. — Saary pronunciou, todas assentiram em concordância.

A escuridão da noite tomara o céu, quando — segundo as mulheres estava apresentável —, finalmente sai. As várias luzes cintilantes e multicoloridas iluminavam as ruas. Se somente no dia a decoração estava bonita, agora ficara um novo patamar de beleza. Enquanto caminhava, muitas pessoas me saudavam e alguns apenas me encaravam abismados — já mencionei que odiava ser o centro das atenções?

— Doçura? — ouvi a voz familiar de Dante me chamar. Automaticamente, virei-me e o encontrei parado com uma roupa vermelha que lhe caia muito bem. Até assim Dante estaria de vermelho. Ele usava uma camisa de preta e um casaco vermelho, a calça era de linho também vermelha e os sapatos pretos. Se não o conhecesse, diria que Dante era um homem normal — claro que mais bonito e arrogante.

Aproximei-me dele, fazendo mesura.

— Uau. Nada mal, doçura. Combina com você. — me avaliou com um sorriso charmoso. — Devo dizer que tirei a sorte.

Ruborizei.

— Sério? — perguntei, sorrindo amplamente com a expressão deslumbrada de Dante.

— Com certeza.

Dante me impressionou quando me deu o braço para que caminhássemos como um casal. Nunca esperaria que ele fizesse algo assim em público.

Realmente era arrebatador.

Como era raro algo assim, aproveitei a oportunidade, mas antes queria esclarecer algumas coisas.

— Como conseguiram te convencer a mudar de roupa?

— Disseram que assim iria atrair atenção da mulher certa.

— Achei que seu propósito era sempre parecer descolado. — brinquei querendo contornar o constrangimento.

— E pra você não pareço legal o suficiente?

Arregalei os olhos.

Voltamos para multidão como se nada tivesse acontecido. Eu ainda estava vermelha quando uma das garotas me puxou para fazer um ritual.

Primeiro tive que escolher entre um balãozinho e um barquinho para realizar um pedido. O ritual era feito da seguinte forma; se preferir o balão para fazer o pedido significava que a pessoa que amavam estava longe — ou ainda não apareceu — e o barco era para se a pessoa que amasse estivesse perto. Então escreveria um desejo, o nome da pessoa e usaria uma flor. Bem simples, porém somente as jovens solteiras podiam fazer. Algo para conseguir encontrar sua alma gêmea.

Estávamos na beira do lago. Segurava delicadamente meu barco, pousei na água que tremulou com o contato em seguida depositei o papel com o desejo e o nome do homem que amava juntamente com uma rosa vermelha que combinava com Dante. Algumas garotas estavam com os balões, embora a grande maioria fosse de barcos. Olhei Dante por cima dos ombros dando um sorriso. Soltamos simultaneamente os barcos e os balões.

Fiquei assistindo meu barquinho desaparecer na imensidão do mar e reparando melhor na rosa pude ver que estranhamente um lado estava azul, bem como a peguei tinha certeza que era totalmente vermelha. Por que ela estava com um lado azul?

Balancei a cabeça, afastando qualquer pensamento negativo da minha mente. Hoje finalmente teria paz, mesmo que fosse curta.

Dante me recebeu de braços abertos — figurativamente.

O festival estava bastante animado. Tive todo cuidado para não ingerir bebidas alcoólicas. Não queria ficar bêbada — eu tenho pouca tolerância a álcool, o que me faz ficar facilmente bêbada.

— O que pediu? — Dante sussurrou, próximo ao meu ouvido.

Arrepiei-me.

— Se contar não vai se realizar.

— Acredita mesmo nisso?

— Você não? — retruquei aguardando uma resposta do meio-demônio que fez um gesto sutil de não se importar muito com essas peculiaridades. — Dante, eu...

Antes que a sentença se soltasse das amarras e verbalizada em totalidade, uma algazarra de crianças, audivel e explosivamente empolgadas, cortou o assunto. Tinha projetado o segundo para confessar o que escondia e, por ironia, a cacofonia me salvou. Os pequenos corriam e gritavam em uma animação contagiante com a possibilidade de ver os fogos.

O primeiro jato explodiu na escuridão, iluminando-o parcialmente.

Apreciei a visão dos fogos de artifício rasgando gradativamente no céu, formando desenhos luminosos. Instintivamente, dispersa, segurei a mão de Dante e ele a apertou de volta como fizera algumas outras vezes antes.

Um arrepio percorreu minha espinha com um presságio esquisito que me ocorreu.

Ignorei a estranha situação.

Fazia um bom tempo que não comia nada. Podem me culpar por não ter nenhum pudor ao se tratar de comida, mas para alguém faminto nada valia mais que encher a barriga e as iguarias tradicionais da ilha impressionavam pela beleza e o aroma apetitoso.

— Isso é muito bom. — me virei para oferecer um prato ao Dante e arquejei ao vislumbrar, por um instante, a silhueta de Sparda.

Chacoalhei a cabeça para me orientar.

Chegara a hora da dança tradicional, fomos envolvidos por vários casais. Eu nem sabia como seria a dança então entrei em pânico. Pacientemente, as mulheres deram algumas dicas e me ajudaram com a coreografia, não era muito complexo e pude aprender rapidamente.

Nos primeiros passos, não era permitido tocar no parceiro apenas manter contato visual. Segundo eles, era uma forma de sedução e interpretação das emoções — algo como ver nos olhos a alma de seu consorte. Dante conduzia bem a dança, o que me fez pensar que ele deveria ter ensaiado ou algo assim. Ri internamente com a imagem de Dante ensaiando.

Em uma determinada parte da dança, Dante me pegou pela cintura e me rodopiou no ar.

— Então, vai dizer o que ia falar antes?

Pigarreio.

— Acredita que esqueci?

Dante não se convenceu muito com a resposta, contudo, não questionou a veracidade. Ele puxou com delicadeza minha mão e bruscamente de encontro a ele.

— As coisas são melhores assim, corpo a copo, não acha?

Não respondi, somente concordei com ele.

Não dissemos nada enquanto a suave musica fluía entre nós, apenas seguíamos o balanço um do outro. De repente, senti uma pontada no peito, como se algo terrivelmente ruim estivesse prestes a acontecer.

— Isso me lembra dos filmes do meu mundo. — recordei, rindo. — Geralmente terminavam com... — contive o que ia expor por vergonha. Soava bastante absurdo para a ocasião.

— Continue. Terminava como? — Dante se inclinou levemente pra mim, encurtando a distância que afastava nossos rostos, ficando perigosamente perto. Jurei, por um momento crucial, que ele me beijaria.

— Espero não estar interrompendo. — Orion surgiu, não sei de onde, e sorriu.

Me aprumei, tensa.

Isso foi um... Quase?

— A propósito, não pude deixar de escutar o que mencionaram. — Orion andou a passadas lentas e solenes pelo piso laminado. — A senhorita veio de outro mundo?

Assenti.

— Como a senhorita veio para este?

— Pior é que nem faço ideia. Estou tentando buscar respostas pra resolver esse enigma e retornar pra minha casa.

— Oh, nesse caso... Esse é um encontro predestinado. — Orion fechou os olhos como se tivesse sido acometido por um conhecimento superior. — Talvez não seja uma informação completa, mas há um meio da senhorita regressar ao seu mundo.

Dante arqueou uma das sobrancelhas.

— De verdade?

— Aqui temos um portal antigo, criado há muito tempo pela Arya. — entoou com sabedoria e segurança de um entendedor, o que combinava com a atmosfera de autoridade que dele exalava. — Ele está desativado, no entanto. Podemos reativá-lo se a senhorita quiser testar.

Meu coração caiu no estômago. Minha intenção, desde que fui jogada nesse mundo, era retornar para casa e cumprir a sina de “protagonista” que deve ir a sua dimensão original como tem que ser. No entanto, aquela altura, me habituei a nova realidade e abrir um leque de outras opções, tendo a chance de voltar, soava surreal. Tinha uma vida antes de ser raptada, uma família para recuperar e a normalidade para me estabilizar, não teria a constante impressão de ter um alvo na cabeça e um falso irmão disposto a me escravizar para obter o que deseja — embora não soubesse sua motivação real.

Por que... Estava tão decepcionada?

Dispensei pensamentos agourentos que enchiam minha cabeça com mais questões absurdas e me dignei a sorrir, não algo superficial e forçado, dispus da melhor veia artística para expressar um sorriso convincente e satisfeito para busca ter chegado ao fim.

— Venha, senhorita.

Acompanhei Orion com o coração galopando selvagemente contra o peito e o pânico rastejando por entre meus músculos enrijecidos. O local, um pátio amplo com o chão de pedras brancas nos quais, nas fissuras, vertia água pura e cristalina, havia um arco voltado para baixo igual uma meia lua sustentado por dos pilares finos de mármore claro encobertos por plantes que se agarraram a estrutura e cresceram em círculos. O paladino fechou os olhos e proferiu uma sentença em uma língua desconhecida, porém agradável ao ouvido pelo quão musical escoava.

Uma rajada brusca evidenciou uma anormalidade. Orion lançou algo ao portal que vibrou e reviveu do estado de petrificação.

— Como sinal de agradecimento, eis o portal para Atheria.

Franzi o cenho, mas não questionei.

Nunca fui crente do estudo das estrelas e sua interferência no comportamento humano. Em teoria, no entanto, o conceito apresentava uma composição interessante sobre o destino e, também, dos sentimentos em uma única tela para tecê-los juntos. Agora enxergava a fantasia se desdobrar ante a mim com todas as emoções prestes a emergir com a potência de um detonador em ação; havia tantas coisas que desejava pôr pra fora e a coragem que reuni durante o festival se dissolvia em frustração incapacitante. Sabia que essa seria a derradeira oportunidade de contar a verdade do que guardei durante esse período e como ele tinha atuado muito mais que um guardião, me salvando não somente do Ace, mas da minha insegurança e dos medos.

Esperava que a maquiagem fosse resistente para suportar as lágrimas sem borrar.

Sob uma luz diferente, o encanto que permeava o ar com uma fragrância floral, admirei Dante, memorizando cada minúscula forma, desenho, sombras e cores que representavam sua essência e hipnótica compleição. No final do ato, restaria unicamente lembranças e nelas desejava que o meio-demônio vivesse intocável pelo tempo.

Sorrateiramente, munida de valentia, segurei as mãos de Dante, gravando em mim a textura de sua pele e o perfume inebriante que vinha dele. Não queria mais lamentar sem fazer essa noite valer a pena, por uma última vez.

— Não dá pra acreditar que vou voltar pra casa, de volta a vida normal.

— É, pelo visto vamos ter que deixar o encontro para uma próxima vez, quem sabe? — gracejou, arrancando um riso meu.

— Do jeito que sou desastrada pode ser que a espera não seja tão longa.

— Nesse caso, o certo não é dizer ‘adios’ e sim um 'hasta luego'. — Dante me mirou com um semblante tão tranquilo e divertido que a ânsia de chorar cresceu.

— Acho que sim. Vou ficar te devendo essa.

— Não se preocupe, costumo ser bem gentil com meus devedores.

Sorri.

— Tente não dar de cara com estranhos suspeitos.

— Sei me defender um pouco agora, esqueceu?

Dante riu.

— Estava me acostumando com sua presença. — seu tom de voz mudou para um mais sério, oposto ao de antes. — Se cuide, doçura. — em um impulso selvagem, o abracei e ele me retribuiu.

— Até mais, Dante. — acenei ao me desvencilhar dele.

Tomei a frente dominada por uma miríade de emoções que se antagonizavam. Queria retroceder, parar no meio do caminho e me revigorar com uma coragem selvagem que serviria como propulsão para negar o retorno em segurança ao meu lar. Contudo, não permiti que esse lado menos sensato  se fizesse presente e substituísse meu objetivo primordial com uma necessidade sentimental, por mais que o adeus estivesse me corroendo por dentro — precisava suportar a duras penas.

Parei, no meio do percurso, fitando Dante que sorria encorajadoramente para prosseguir. Ele tinha lutado com todo tipo de desafio para me manter a salvo e não teria como retribui-lo como gostaria, sequer com o nosso trato bobo. Não havia resquícios de decepção em sua fisionomia tranquila e afável, somente um brilho promissor naqueles penetrantes olhos azuis. As lágrimas escorreram e não as impedi de seguir livremente pelas maçãs do meu rosto, apenas me conformei em erguer minimamente a mão como um gesto desajeitado e sôfrego de despedida que o meio-demônio prontamente retribuiu. Retomei meu trajeto, rogando internamente para que a dor sumisse antes que desistisse, antes que meu coração se despedaçasse pela partida.

Por que deveria chorar?

Estou indo pra casa como desejei desde o início, não tem razão nenhuma para chorar, não é?

Então por que raios não consigo parar?

Em um segundo tudo mudou, um som estrondoso transformou a quietude solene em um tormento cacofônico que me paralisou, confundiu meus sentidos e senso de área, em uma reviravolta louca. Estava de pé e, no instante seguinte, caída no chão com o corpo de Dante quase me cobrindo como se fosse um escudo humano para evitar que o ricocheteio do ar quente e escombros recaísse sobre mim. Confusa com o acontecimento, mexi a cabeça em direção ao portal e não o encontrei, ali tinha unicamente um monte de ruínas que facilmente se assemelharia a um cenário desolado de um pós ataque apocalíptico.

Ace emergiu imponente, feito um pomposo predador, se encaminhando lentamente até nós.

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