CAPÍTULO 4
Fazia uma semana desde a “Festa do Sexo” e eu poderia dizer com todas as letras que foi muito pior do que eu imaginava.
Em uma tentativa desesperada de conseguir amigos, acabei ficando sem nenhum ao invés de no mínimo ter uma troca. Junior tem me ignorado todos os dias, ou melhor dizendo, me evitado; Emilly ainda se esforça ao me dar um “olá”, mas seu máximo de iniciativa é este, já que aparentemente não me encaixo no perfil de minion que a “popstar” procurava; Charlie, por sua vez, tem me odiado desde então. Seja por ter desobedecido ele e participado dos jogos de Emilly ou pelo nosso “quase beijo”, que infelizmente acabou significando muito para nós. Tínhamos sim começado a criar sentimentos um pelo outro. E isso tinha que acabar.
Nosso fim, infelizmente, seria como o de qualquer amizade que passa por isso: acabam afastados e sem qualquer tipo de contato. E isso já estava acontecendo, considerando que Lubeck me ignorava e mantinha contato permanente com seus amigos do clube de Boas-vindas desde então. Eu precisava fazer algo, mas ele tinha que me escutar, me perdoar e fingir que nada tinha acontecido entre nós, que tudo era apenas alucinações do álcool, como sempre deveria ter sido.
— Marissa! Estou te chamando, meu amor! — ouço minha mãe gritar, perdendo meus pensamentos de vista para alcançá-la.
— Você não sabe quem encontrei no supermercado ontem! — ela procura por uma resposta em meu rosto, mas com tantos problemas, não pude evitar fazer uma cara de tédio. — A Lilian! Mãe do Bryce, seu melhor amigo, lembra? Ficamos tão felizes, e olha a coincidência, acredita que ele estuda no McKinley?
— Ah, legal. E o que você quer que eu faça? Vire amiga de mais um nerd de óculos? Se for isso, já passei por esta experiência antes em outras escolas e não gostei. — solto uma risada irônica e volto a preparar meu cereal.
— Ele não é… — minha mãe balança a cabeça em discordância e acaba com a frase antes mesmo de terminá-la. — O ponto é, eu e Cooper sentimos a necessidade de marcar um jantar com Lilian e Bryce para relembrarmos os velhos tempos. Hoje às 21:00.
— E tenho que estar aqui?
— Acredito que o amigo é seu, então nada melhor do que recebê-lo. — diz meu pai, terminando de vestir seu terno, já que teria uma entrevista de emprego em um local que Tio Blaine havia arrumado para ele.
— Ele não é meu amigo, ele foi meu amigo, é difícil entender isso? — bufo, logo me levantando e pegando minhas coisas para ir para escola. — Pois, esperem, esperem muito porque eu nunca iria perder meu tempo pra ver um nerd amigo de infância e sua mãe que eu não vejo a quase dez anos!
— Marissa, volte aqui! — diz meu pai, gritando e andando atrás de mim, mas sem sucesso em me alcançar. — Se você não estiver aqui no jantar, te deixo de castigo por um mês inteiro! Ou melhor, por um ano!
— Cooper, não se estresse com ela, é uma adolescente! — minha mãe coça seu próprio rosto, deixando aparente suas rugas. — Sempre que você está aqui é a mesma coisa, parece que jamais vão se dar bem!
— Pelo visto, não iremos mesmo. — saio enquanto bato a porta com força, ainda correndo para que meus pais não me alcançassem.
❣️
O clima no William McKinley não podia parecer mais pesado. As fofocas e brigas da “Festa do Sexo” vinham a tona e a todo momento alguma encrenca diferente estava prestes a começar. Pelo menos neste ponto minha vida estava livre de drama.
Falando em drama, enquanto procurava minha sala pela escola, Junior, Nellie, Maxfield e Emilly andavam pela minha direção, tomando raspadinha e rindo. Imaginei que pudessem estar vindo falar comigo, porém, me surpreendi ao vê-los apenas passando direto e jogando raspadinhas em uma garota baixinha de cabelos pretos e um olhar meigo. Se não me engano, esta menina tinha entrado na escola já fazia alguns dias e desde então apenas mais e mais humilhações aconteciam com ela. Me perguntava como a mesma conseguia aguentar.
Ao chegar próxima ao mural de notícias do colégio, vejo um Treinador Evans feliz, pregando algum tipo de anúncio sobre ele, porém, passo direto sem ao menos procurar saber o que é.
— Marissa! — diz o Treinador, correndo atrás de mim com um sorriso encantador no rosto. Era fácil perceber o quanto ele estava feliz. — Você precisa achar o Charlie! Ele veio hoje? Diz que ele veio!
— É… Acabei de chegar… — solto um sorriso e cruzo os braços, voltando a ouvi-lo. — Mas falo com ele sim, só preciso saber o que.
— Meu Deus! Estou tão feliz que até me esqueci de falar! — Treinador Evans gargalha, me puxando até o mural novamente. — Os New Directions estão de volta na área! Você precisa falar com ele para vocês dois participarem! Você vai participar não é?
— Ok, falarei com ele. — digo sorrindo ao ver sua alegria, que realmente contagiava qualquer um que estivesse por perto. — Mas eu não vou participar, eu não canto.
Sim, eu cantava, sempre cantei. Mas sabe aquele segredo que você não contaria nem pra pessoa mais íntima que pudesse existir para você? Esse era o meu. O máximo que poderia cantar era em meu quarto, baixinho e para ninguém escutar, a não ser eu e meu consciente. Poderia até ser considerada afinada, mas apenas para mim, e estar em um Glee Club significava se apresentar para milhares de pessoas, cantar na frente delas e isso é algo que eu jamais faria. Jamais.
Depois de aulas e mais aulas, chatas por se tornarem vazias e solitárias sem a presença de Charlie ao meu lado para me fazer rir e me contar as fofocas mais surpreendentes do William McKinley, era hora de ir para a parte dois de sofrimento diário para uma pessoa solitária: o intervalo. É lá que também pude rever Charlie depois de três aulas inteiras sem vê-lo, e finalmente cumprir aquilo que prometi ao Treinador Evans.
— Charlie! Procurei tanto por você! — digo, limpando a garganta conforme tento alcançá-lo, que tentava de todo jeito se camuflar na multidão de alunos que passava para pegar batatas. — Treinador Evans abriu inscrições para o Glee Club, você viu? Irá participar?
— Ok, obrigado. — diz Charlie, balançando sua cabeça em concordância e saindo, sem dizer nem mais uma palavra.
Agora era oficial. Charlie Lubeck me odiava. Tinha de ter um jeito para fazê-lo me perdoar, tinha de existir. Ou perderia aquele que se tornara o único amigo que tive naquele colégio.
Pensativa e mal com tudo aquilo que acontecia na minha vida em tão pouco tempo, vendo minha vida melhorar e piorar tão rapidamente, sentei-me em uma mesa vazia no refeitório, como era de costume fazer em minhas antigas escolas, e até o presente momento não era necessário, e comecei a observar aqueles que de algum modo se tornaram parte daquele ambiente para mim.
Conforme olhava para a mesa de Emilly, pude notar sua aproximação com Maxfield, onde ambos trocavam olhares constantemente. O que soava estranho, já que ele não era seu namorado e eu poderia dizer com todas as letras de que ele era, caso não soubesse que seu namorado era outro, apesar de não conhecê-lo ainda. Junior, por outro lado, apenas tomava café e observava e ria com um rapaz de cabelos pretos e olhos extremamente claros, o que parecia incomodar Nellie, que dava rápidos olhares irritados para o menino. Será este seu ex-namorado?
Charlie me observava alguns momentos e, por mais que eu disfarçava, o rapaz sempre conseguia minha atenção, já que eu não conseguia parar de olhá-lo para observar se ele estava bem sem mim, e ao que senti, sim, ele estava.
❣️
Ao fim de minha aula, pude ter a comprovação de que o destino realmente não estava ao meu favor. Atrasei o máximo para que pudesse perder qualquer reunião ridícula com meu ex-melhor amigo e fui até uma lanchonete de esquina tomar refrigerante e comer hambúrguer que poderia estar infectado com xixi de rato, já que o lugar era imundo.
Cheguei em casa pronta para ficar de castigo e ouvir gritos do meu pai por ter faltado, e pra ser sincera, já estava até relaxada com a possibilidade. O que eu não esperava era que meu pai fosse ser tão esperto.
— Mari! — diz meu pai, me guiando pelo braço até a sala de jantar com o maior dos sorrisos.
— Pai, o que é isso? Cadê os gritos, castigo, enfim? — digo, o seguindo para a emboscada.
— Como sabíamos que chegaria mais tarde hoje, resolvemos avisá-los sobre este imprevisto e com isso marcarmos nosso jantar mais tarde! — ele diz em um tom de voz alto, tentando chamar a atenção das pessoas para sua voz, voltando a cochichar em seguida. — então trate de se comportar, meu amor. Não quero perder a paciência com você!
Ao chegar na sala de jantar, pude avistar meus tios Kurt e Blaine, mamãe e Lilian Hall, que não mudara nada desde a última vez que nos vimos, a quase 10 anos atrás. Ao seu lado, notei a presença de uma cabeça conhecida. Pele escura, cabelo quase raspado e ombros largos, com uma jaqueta peculiar em seu corpo: a jaqueta do time de futebol do colégio.
Junior. Bryce Hall era o Junior, vulgo o deus grego americano, vulgo cara que eu havia beijado e me apaixonado. Eu estava apaixonada pelo meu melhor amigo! Como pude ser tão burra?
Digamos que este foi o pior jantar já visto na história. Durante toda a noite, passei quieta apenas respondendo perguntas da Senhora Hall com balançadas de cabeças, desviando completamente o olhar de Bryce, que provavelmente não estava nem aí, já que passara toda a noite rindo e se gabando de suas conquistas importantes no futebol.
Ao terminar de jantar, retirei-me da sala sem ao menos me despedir, indo diretamente para meu quarto, o que com certeza soou falta de educação para eles, mas não me importava.
Chegando em meu quarto, apenas me fechei lá, ouvindo qualquer rock antigo que estivesse na minha playlist do Spotify, me desligando completamente do mundo a minha volta, quando de repente ouço uma leve batida na porta.
— Tio Kurt, me deixa em paz, por favor. Não quero conversar.
— Então você fala, é? — dizia Bryce, já adentrando no meu quarto sem que eu ao menos o convidasse.
— O que está fazendo aqui? — digo me levantando da cama com a cara mais irritada que eu poderia fazer no momento. Estava em meu limite.
— Porque me evitou no jantar? — ele chega mais próximo de mim, com um olhar interrogativo.
— Porque me evitou a semana toda? — me esquivo da pergunta, querendo evitar dizer que o motivo era “estou apaixonada pelo meu melhor amigo de infância”
— Só retribuí o que fez comigo pelos últimos oito anos, quando passei dias, meses, anos esperando o contato da minha única amiga que tinha mudado de estado e opa, parece que ele nunca veio. — dizia Hall conforme se aproximava de mim, e realmente pude sentir o rancor em suas palavras. Eu significava muito para ele.
— Então você sabia? — indago, tentando agir de maneira dura com o mesmo, que parecia estar achando graça de minha postura.
— Eu não sou burro, Mari boo. — ele era o único que costumava me chamar assim, só isso já foi uma máquina do tempo para mim. — Eu vi sua aparência, seu jeito, você é a mesma que conheci há 14 anos. — o rapaz limpa sua garganta. — Só não achei certo o que fizemos na festa… Estávamos alcoolizados e enfim, não queria retomar uma amizade desta maneira, já que não era nossa melhor condição, por isso quis me afastar, deixar a poeira abaixar e enfim, esperar por um momento como este, que eu saberia que aconteceria em algum momento. Além de que não queria criar nenhuma inimizade com seu… namorado.
— namorado?
— sim, o rapaz que te acompanhou na festa aquele dia.
Tive então de explicar toda a história para o rapaz e, felizmente, tudo se saiu bem. Pude me sentir segura em contar-lhe tudo e saber que, como um amigo de anos, o garoto nunca me julgaria por nada e, apesar de ainda estar ressentida com ele (e o jovem comigo), ainda tínhamos catorze longos anos de história, que não acabariam tão facilmente assim.
Bryce me aconselhou a fazer o que o meu coração mandar e, se este rapaz é importante para mim, deveria seguir meu interior e lutar por ele.
O que eu poderia dizer? Não ajudou. Todo aquele discurso de seguir o coração nunca me ajudara e, ainda que ele tentasse, isto jamais funcionaria, até porque, seus lindos olhos me distraiam toda sua tese, o que provavelmente ele deve ter percebido.
— não se esqueça, às vezes você deve se arriscar para conseguir o que quer, e se isso é realmente importante para você, mesmo que dê errado, você sabe que tentou. — ele diz, pegando meus fones de ouvido, que continuavam tocando as músicas de minha playlist, apesar de nem estar prestando atenção nas canções. — Hm, Rock? Interessante.
— Isso é Alanis Morissette! — digo conforme o vejo sair, colocando o fone em meus ouvidos para ouvir. Naquele momento, meus pensamentos pareciam ter se clareado ao ouvir a música e o conselho de Bryce. Tudo tinha se completado. — Me arriscar? É isso!
❣️
Ao chegar no auditório, concentrei-me no que Bryce me disse e, com isso pude pensar que estava me arriscando da maneira correta.
Me juntar ao Glee Club com certeza mataria toda e qualquer chance de me tornar popular no colégio, mas isso me aproximaria de Charlie e, com isso, talvez o garoto pudesse me perdoar.
Esperei minha vez ansiosamente. Era a primeira vez que cantaria em público e não sabia nem se teria uma boa voz para poder entrar para a equipe, mas estava segura de que daria meu máximo para isso. Bryce combinara de ver minha audição depois do treino e apoiar-me, por isso, esperei-o ao máximo, porém, sem sucesso em vê-lo. Chegando minha vez, fui interrogada por um rapaz loiro, de óculos redondos e um rosto bem-parecido ao de Diretor Schuester. Ao seu lado, pude encontrar Charlie, Treinador Evans e uma garota de cabelos curtos pretos, olhos castanhos e um sorriso encantador, que coincidentemente era agarota que havia sido atingida por raspadinha no dia anterior.
— Olá. Meu nome é Cameron Schuester, sou o líder do clube. — ele diz, limpando a garganta e voltando-se para mim. — Estes são meus colegas de clube Charlie Lubeck e Eliss West, juntamente ao meu coordenador Sam Evans.
— Olá, Cameron. — digo um tanto quanto aflita.
— Apresente-se e diga o que irá cantar por gentileza. — ele diz com uma prancheta em mãos.
— Sou Marissa Von-Anderson e estarei cantando “You Oughta Know” da Alanis Morissette.
Conforme comecei a cantar com o medo tomando conta de mim. Não conseguiria fazer isto. Não poderia, mas precisava.
Tentei arrancar toda força de mim para conseguir atingir as notas certas pelo menos no refrão, onde finalmente pude ver Charlie dar o menor dos sorrisos, que rapidamente foi recolhido, mas já me animou o suficiente para continuar. Ao virar minha vista para o lado, pude ver Bryce curtindo a música, batendo palmas e gritando por mim, o que deu energia suficiente para que eu pudesse continuar toda a música.
Eu estava me saindo bem, estava conseguindo cantar e sem errar as notas, estava me arriscando e me saindo bem com isto!
Tirei tudo de mim para finalizar em grande estilo e, ao terminar minha apresentação, pude ver Eliss, Treinador Evans e Bryce de pé, aplaudindo, o que me deixou tanto envergonhada quanto orgulhosa de mim mesma.
— É… — dizia Cameron conforme terminava de fazer anotações em seu caderno com um olhar nada agradável. — Uma combinação de uma voz ríspida e aguda, teve algumas falhas no começo, pelo visto não tem nenhum treino em sua voz. Mas foi ok, dá para cantar no fundo, enquanto estou fazendo voz principal. Parabéns você está dentro do New Directions!
— Cameron! — dizia Treinador Evans, o alertando sobre sua fala um tanto quanto agressiva.
Minha alegria em ter conseguido entrar foi tantaque apenas olhei para Bryce, que dava pulos de felicidade e olhava para mim, se mostrando orgulhoso com um dos sorrisos mais lindos que pude ver. De outro, vi Charlie dando sua primeira demonstração de carinho depois de nossa “briga”, com o rapaz apenas batendo palmas e sorrindo para mim.
Fui correndo ao encontro de Bryce, para agradecê-lo e abraçá-lo, mas fui surpreendida com a presença de Emilly no momento.
— Amor, o que você está fazendo aqui no esgoto do McKinley? Sabe que isso pode atingir na sua reputação, não é? — ela diz, rindo e indo abraçá-lo, que mesmo sem graça por suas palavras na frente de todos, a abraça e dá um beijo em sua boca, na minha frente.
Então o namorado de Emilly Hernandez todo esse tempo era Bryce? E a vida novamente pregando uma peça em mim, apaixonada por um rapaz comprometido. Parece que as coisas vão esquentar, Titans!
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