#6 A Negociação Com Ciganos {Revisado}
No dia seguinte, estava deitado olhando para o alto, encarando as belas pinturas do teto do meu quarto. Há muito tempo tem essas ilustrações de estrelas, flores e corações. Eu não estava acreditando que Cristian havia feito aquilo comigo. Me pedir em casamento no exato momento que meu pai chegou no salão durante a recepção… Foi golpe baixo!
Me levantei e fui até a varanda. O sol estava nascendo e eu não tinha conseguido dormir ainda. Queria pensar em um jeito de revidar seu ataque surpresa na noite passada, atacá-lo à altura da indecência que fez comigo. Sempre achei que um pedido de noivado entre integrantes da corte deveria ser planejado. O pedido oficial teria de ser feito em particular e o não-oficial em público, para todos acreditarem que foi um pedido verdadeiro. Mas Cristian burlou essa conduta e fez do jeito que achou certo, de um jeito que ele sabia que eu não poderia negar; não por querê-lo, mas pelo meu pai, pelo público.
Alguém bate na minha porta e me viro. Pude ver os sorrisos nos rostos de Rita, Nena e Frida. Elas com certeza já sabem do pedido de noivado imprevisível e querem saber dos “detalhes” que ninguém sabe.
— Antes que comecem, não tenho detalhes a dar sobre o ocorrido de ontem. Mas lhes garanto que só aceitei por compromisso com meu povo e pretendo fazer ele pagar. — Me virei indo novamente para a varanda. Elas perceberam que eu não estava bem e trabalharam em silêncio.
Na hora do almoço, desci as escadas e fui na direção da mesa de refeições, onde Cristian e meu pai estavam me esperando para começar o banquete. Nos cumprimentamos e eu sentei. Iniciamos o desjejum em silêncio, mas claro que Cristian não ficaria quieto por muito tempo.
— E então, futura esposa, dormiu bem? — Ele me encarava com um olhar astuto, cheio de vontade de me irritar e me fazer perder a cabeça próximo do meu pai. Ele com certeza já percebeu que tenho duas personalidades: uma quando meu pai está perto e outra quando ele está longe.
— Dormi muito bem, obrigada por perguntar. — Não quis saber como ele dormiu.
Sabia que, sem dúvidas, Clarice havia lhe feito companhia após a recepção. Clarice já foi pega pela mãe com um guarda do castelo. Guarda esse que eu tinha uma paixão escondida, mas ela tinha consciência disso.
Terminei de comer e já estava pronta para me levantar, porém meu pai me interrompeu com uma tosse forçada. Ele tinha algo sério e importante para falar.
— Seleste, vou precisar de você no meu escritório agora mesmo.
— Como queira. — Ele se levantou e foi na direção de seu escritório, no andar de cima do castelo. Fui logo atrás me perguntando qual foi meu erro dessa vez.
Já havia feito os relatórios que ele pedira sobre a economia do nosso país e fiz a recepção da noite anterior ser perfeita, incluindo aceitar um pedido de noivado que não estava em meus planos.
Chegamos no gabinete real e estavam lá o primeiro ministro e o secretário de estado. O primeiro ministro tem a função de garantir que as leis, ordens e desejos do rei sejam realizados conforme sua vontade. Já o secretário de estado é aquele que verifica se esses estão sendo cumpridos da maneira correta.
Se os dois estão ali é porque meu pai tem uma nova ordem ou um novo desejo para ser executado. Só espero que seja produtivo para o povo e não só para ele.
— Chamei vocês aqui porque o Chefe da Guarda me comunicou de uma invasão na Floresta Veras. — Os dois se entreolharam, pareciam surpresos e nervosos. Meu pai deveria ter começado dizendo se são rebeldes ou apenas seres sem terras próprias.
— Quem são e o que querem? — perguntei me sentando em uma cadeira e cruzando as pernas. Minha mãe sempre me dizia que cruzar as pernas dá a mulher um ar de autoridade maior.
— São ciganos, mas o que querem ainda vamos descobrir. Uma carruagem já está sendo preparada para nos levar até Veras e lá iremos negociar para que deixem nossas terras e vão para o lugar deles.
Meu pai estava sendo duro. Nem mesmo sabia se os ciganos possuíam terras próprias ou se foram expulsos de seu reino, então não podia falar desse jeito a respeito de alguém que não conhece.
— Eu acho que deveríamos mandar logo os guardas expulsá-los. Sempre é a mesma coisa, majestade: estão sem terras para morar e querem ocupar um pouco do nosso reino com a promessa de não fazer rebeldias durante sua estadia. Mas sempre acabam fazendo!
Claro que fazem, as condições que os dão são sempre piores das que o restante do reino. O primeiro ministro, por já ter feito coisas absurdas, sempre acaba recorrendo a soluções mais drásticas e fáceis para nós. mas não é assim que se resolve uma invasão.
— Eu já acho que deveríamos ouvi-los antes de qualquer coisa. Não sabemos o que fazem aqui, se pretendem ficar ou só estão de passagem. Apoio a decisão de ir lá tentar negociar.
Os dois me encararam como se eu estivesse delirando. Seria um risco ao meu pai e a mim, pois pode ser uma invasão de reinos distantes, mas eu não deixaria os ciganos serem mandados embora sem o direito de falar.
— Então está decidido! Nós vamos ainda hoje. Se preparem, estarei esperando vocês no portão principal. — Ele se levantou e nós fizemos o mesmo, nos cumprimentando e saindo.
Fui direto ao meus aposentos e me preparei para aquilo. Coloquei um vestido marrom leve que me permite ter movimento e isso seria essencial se encontrasse pessoas desconhecidas.
Chegamos lá e fomos recebidos por um homem que suponho ser o chefes deles. Ele veste poucas roupas e eu me pergunto o porquê, mas logo encontro a resposta quando vejo suas cabanas que são feitas de tecidos e roupas costuradas.
De longe pude ver crianças correndo e brincando na lama. Eles estavam apenas com roupas de baixo e mesmo assim riam e não se importavam com esse detalhe.
As mulheres usavam vestidos marrom com vermelho. As cores eram as mesma, porém os modelos eram diferentes. Elas tinham um olhar intimidador como uma mãe leoa que tenta proteger seus filhotes e não as culpo, devem estar imaginando que viemos mandá-los embora daqui.
— Rei Rodolfo está requisitando a presença do líder — o secretário de estado falou, mesmo sabendo que o líder estava em sua frente.
— Venham comigo! — Nós o seguimos cautelosamente e guardas do palácio vinham logo atrás. Pude notar cinco cabanas feitas de costuras e várias mulheres sentadas no chão.
— Vocês sabem que estão invadindo nossas terras? — perguntei com a voz rígida, para que meu pai não iniciasse uma guerra ali mesmo. Sabia o quão bravo meu pai ficava com invasões, pois foi assim que seus pais morreram.
— Sim, nós sabemos. Mas temos informações valiosas que queremos trocar com sua majestade em troca da permissão para que possamos ocupar essas terras como cidadãos legais.
Meu pai parecia pensativo. Eu queria que ele me deixasse escolher a decisão correta, pois estava óbvio que as informações eram realmente valiosas para serem usadas como moeda de troca por alguns metros de terras.
Os ciganos tinham consciência de que o rei poderia dar as terras e logo depois tomá-las de volta, mas com certeza devem ter um plano B ou confiam demais no meu pai.
— Eu aceitarei dependendo do valor das informações que vocês tem para mim. — O cigano apoiou as mãos na mesa entre nós e encarou os olhos do meu pai com o rosto próximo ao dele.
— Eu não sou idiota, Vossa Majestade. Quero um documento assinado pelo próprio monarca de que essas terras podem ser habitadas por ciganos.
Ali estava a minha resposta. Eles haviam pensado pensado em tudo, porém meu pai é o rei absoluto, até poderia desfazer documentos, mas deixaria o povo revoltado.
— Faremos! — falei quebrando o silêncio que havia crescido entre nós. Todos olharam para mim e eu continuei falando: — Se é o que querem, é o que terão. Mas vocês garantem que as informações são de grande valor?
— Sim! Muitos queriam ela de nós, por isso fugimos. — Meu pai me olhou como se procurasse a resposta em meu rosto, mas não seria ali que ele iria encontrar.
Esperamos algumas horas até o ministro trazer do castelo o documento pronto para ser assinado. Após a assinatura, o cigano observou cada detalhe do papel e sorriu.
— Ótimo! Agora as informações… O rei de Goston Hermes pretende invadir Islerin com seu exército. Ele está furioso pela princesa está noiva do rei Cristian e não de seu filho Asten.
Aquelas informações realmente valeram a pena. Sabíamos agora que estávamos sofrendo uma ameaça de guerra e que a qualquer momento podíamos ser invadidos. Precisávamos nos preparar e o cigano, após as informações, nos apresentou um mapa que mostrava os territórios de Goston. Eles iriam chegar de barco. Iam ter poucos soldados, pois seu reino tem apenas cinco barcos grandes que não devem caber nem quinhentos homens.
Podíamos contra-atacar e tínhamos chances de vencer, porém teríamos uma grande destruição no reino...
Só eu estou ansiosa pela vingança de Seleste?
O que será que os Ciganos querem?
Deixem seu voto e seu comentário, isso me motiva. Beijos.
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