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Epílogo


Para se ser feliz até um certo ponto é preciso ter sofrido até esse mesmo ponto.

Edgar Allan Poe

Seis anos depois

FOI O CHEIRO DE CAFÉ NO CORREDOR QUE O AVISOU  de quem teria invadido seu novo apartamento em Kiri.

Assim que abriu a porta, seus ouvidos sendo invadidos pelo som de alguma balada italiana vinda do novo sistema estéreo, um gato saltou em sua cabeça e outro passou entre suas pernas, quase o derrubando. Ramen (e ele nunca não iria não achar o nome ridículo), o gato que havia sido de Karin e que era o único residente original da casa, apenas abriu um dos olhos de onde estava dormindo em seu sofá. Ele se sentia idoso demais para lidar com a excentricidade dos mais novos.

Itachi o entendia, ainda mais ao ver que seu apartamento havia sido invadido por plantas também, que não estavam ali essa manhã. Ergueu uma sobrancelha ao ver três malas ocupando sua sala, uma delas aberta com roupas no chão e as camas dos gatos já no canto do corredor. Ramen geralmente ficava com Itachi porque o campus de Naruto não permitia animais, Café ficava no distrito com Madara pelo mesmo motivo. Então esses dois eram novos.

Itachi suspirou, tentando esconder o pequeno sorriso em seu rosto e se manter estoico.

Seguiu a trilha de bagunça até a cozinha e viu Naruto em cima de um banco, tentando alcançar a prateleira mais alta. Ele vestia uma blusa velha e muito grande sua, da universidade, que nem sabia que ele tinha e jeans que havia visto dias melhores.

Era a reclamação e desgosto de Madara. O homem proclamava que Naruto se vestia de forma inapropriada para um Uchiha. Naruto adorava as blusas velhas de Itachi e tinha um gosto duvidoso para roupas novas também. Seu cabelo nunca parecia penteado, e nada no mundo o fizera se livrar do brinco na orelha direita. Acima de tudo, era possível encontrar marcas de tinta em todas as suas roupas, e, muitas vezes, em seu rosto.

Não que Itachi reclamasse. Ele era bonito de qualquer forma. Com roupas, ou sem roupas.

Principalmente sem roupas.

Se colocou atrás dele, silencioso, mesmo sabendo que já havia sido notado.

Naruto ignorava sua presença de propósito, cantando a canção, enquanto saltava perigosamente sobre a cadeira, inclinada em uma perna.

Itachi negou com a cabeça.

Naruto era desastrado. Muito desastrado. Estava sempre quebrando algo, caindo, ou, em muitos casos, derrubando outros no processo. Então Itachi apenas esperou e o aparou bem no momento que a cadeira cedeu e ele iria ao chão. O pegou nos braços, e uma montanha de pacotes de ramen – que ele mantinha lá por Naruto, sabendo que ele viria em algum momento – vieram ao chão, alguns se abrindo e se espalhando por sua antes arrumada e limpa cozinha.

— Itachi! O ramen! Salve o ramen!

A peste falou desesperada, saindo de seus braços, o ignorando para pegar o ramen como se fosse a coisa mais preciosa do mundo para ele.

O que bem podia ser verdade.

Itachi desistiu e ligou a máquina de arroz, antes de se sentar na cadeira da cozinha, servindo-se do café recém feito. O outro continuava a preparar o macarrão instantâneo como se não fosse nada estranho ele estar em Kiri, ter invadido a sua casa nova — arrombado a porta — e ter malas e roupas espalhadas dele por todo canto. E claro, ele ter trazido todas as suas plantas e gatos juntos.

—Você deveria estar na universidade. Em Oto.

Naruto fazia música em Oto há um ano. Foi uma luta para convencer Madara – ou qualquer um – a deixá-lo morar no campus de lá. Ainda assim, ele foi apenas porque Kurenai inventou uma transferência para a polícia de lá, apenas para ficar de olho nele.

Madara inventava uma viagem toda semana para Oto, para comprar algum quadro. Itachi, de repente, começava a adorar os restaurantes perto do campus dele, dizia que a comida – que era horrível – era ótima. E Obito dissera que ia lá para ver Naruto mesmo, já que não tinha paciência – ou tato – para criar uma desculpa.

Uchihas eram obcecados, fora o que Tsunade dissera a Jiraya quando ele questionou o estranho fluxo de Uchihas naquela cidade. Naruto tinha 4 deles para lidar o resto da vida. E ele nem mesmo percebia isso, nem o porquê metade da universidade o evitava como o diabo depois que Madara visitara seu dormitório uma vez.

Ele era o único na universidade que não tinha um colega de quarto e ignorava a razão disso.

—Pedi transferência para Kiri.

Itachi que bebia o café, quase o cuspiu. Naruto era louco sobre Oto, a melhor universidade de música do Japão. Ele conseguiu uma audição e passou na segunda tentativa. Pessoas se matavam por Oto. Ele não imaginava a razão de ele fazer algo assim.

Naruto se virou para ele por segundos, o rosto desconfortável, mas a expressão determinada, antes de voltar a atenção para a água que fervia.

Itachi sorriu, entendendo.

—Isso explica as malas na minha sala.

—Não tive tempo de esvaziar seu armário, não sabia onde colocar suas roupas. Joguei no chão perto da porta.

—Naruto!

—Só metade!

Itachi suspirou. Algumas coisas não mudavam.

Não precisava ver o rosto dele para saber que ele estava envergonhado agora.

—Madara sabe disso?

Naruto negou. Aquilo ia ser uma grande surpresa.

Eles namoravam há quase um ano, oficialmente. Foram quase dois anos para conquistar Naruto, mais dois para se convencer que ele estava preparado mentalmente para algo assim. O outro foi para convencer Kurenai, que era a primeira a ameaçar Itachi se achasse que ele estava tratando mal o 'garotinho' dela.

Itachi não gostava nem de lembrar do dia que Kurenai descobrira que ele havia dormido, de fato, com Naruto. Mesmo que eles já tivessem feito isso antes — Naruto não lembrava, claro, o que complicava tudo — ela havia feito uma reunião familiar. Kurenai colocou uma faca na garganta de Itachi e Madara apenas o olhava, como se ele tivesse deflorado alguém, sendo que ele que tanto lhe apoiara sobre conquistar Naruto.

Eram todos loucos. Uchihas eram lunáticos.

Itachi havia se restringido por anos, até ter certeza de que mentalmente Naruto havia alcançado uma idade que poderiam se relacionar. Com a perda de memória, ele temia que mentalmente ele sempre estivesse para trás do seu corpo em alguns aspectos.

Ele realmente não precisava se preocupar. Com tudo que ele passou e com alguns traços do comportamento dele que havia pegado totalmente de Madara, Naruto era um idoso. E isso vinha de Itachi, que era um ancião desde os 8 anos de idade. Eles eram um casal de velhos. Obito e Tsunade apenas não ajudavam em nada fazendo piadas dele o tempo todo por isso. Jiraya nem se falava.

Com Naruto indo para a universidade e Itachi sendo transferido para Kiri há um mês, havia ficado complicado para se verem. Itachi invadia seu dormitório algumas vezes — ninguém tentava impedi-lo — e Naruto, com sua mania de sumir, aparecia do nada em sua casa de madrugada, simplesmente pegando a moto no meio da noite porque queria vê-lo.

Kurenai ficava aterrorizada com esses sumiços dele e culpava Itachi por tudo.

Parece que Naruto havia resolvido tudo, por eles dois.

O que o deixava mais do que feliz.

—Então, você está pedindo para morarmos juntos. Isso é quase um pedido de casamento, Naruto. Vou pensar nisso. — Falou, divertido, querendo provocá-lo.

Escapou de uma cenoura que voou para sua cabeça. Conteve a risada, porque Naruto estava com uma faca na mão.

Naruto cruzou os braços, parando de trabalhar, os ombros tremendo. Itachi se arrependeu no mesmo instante e se ergueu. Devagar, chegou por trás e abraçou o outro, que se moveu um pouco, mas não se desfez do abraço. Itachi beijou seu cabelo.

—Me desculpe, eu estava brincando.

—Se não quiser que eu fique aqui, só me diga. Eu não deveria ter invadido, eu só fiquei nervoso. — Naruto falou baixo. — Eu posso ficar no apartamento de Hinata e Gaara. Ou voltar para Oto.

Ele sabia que ele estava falando sério. Por isso o virou de frente e o beijou.

Os olhos dele estavam marejados.

A insegurança de Naruto o surpreendia às vezes. Mesmo depois de tanto tempo, era como se ele tivesse medo que as pessoas que ele amasse simplesmente lhe dessem as costas e fossem embora, ou que fossem lhe machucar. Passou os dedos nas bochechas onde se viam as cicatrizes finas e claras que Tobirama fizera. A marca da Kyuubi que Itachi fazia questão de beijar sempre, como se fosse aliviar a dor de quando elas foram causadas.

—Naruto. — Ele falou sério, segurando seu rosto para que ele não fugisse. — Eu quero você aqui. Comigo. Sempre vou querer. Por mim, você estaria morando comigo há muito tempo, mesmo contra Madara e Kurenai. E você sabe disso. E nem morto vou te deixar perto da Hyuuga.

Naruto riu com isso, os olhos recuperando o brilho.

—Não precisa ter ciúmes, ela tem o Gaara, está comportada agora. Ou mais ou menos isso.

Naruto falou com o rosto um pouco incerto na última frase, lembrando de algo. O que Itachi conseguia entender. A relação de Gaara e Hinata era algo realmente confusa para todo mundo.

—Como se ela não mandasse nele. Todos sabem disso.

—Menos ele. — Naruto admitiu, abraçando Itachi com força, o rosto em seu peito, a voz saindo abafada. – E você é um grande cretino.

—Eu sei. — Admitiu, beijando-o na testa, sentindo o cheiro conhecido de Naruto, que já estava infestando a casa.

—E a tranca da sua porta é uma vergonha para um policial. Pensei que Madara havia ensinado você melhor.

—Minha tranca era boa. Ele que ensinou você muito bem.

Naruto gargalhou pelo tom traído de Itachi ao dizer isso.

Madara havia ensinado Naruto. Tudo. Ele fiz questão de fazê-lo aprender a se defender, para nunca, ninguém mais encostar nele de novo sem que ele quisesse. Isso o deixou mais seguro perto das pessoas e todos mais tranquilos. Itachi sabia, que no nível que ele estava agora, ele poderia derrubá-lo.

Madara ficou muito triste quando Naruto não quis trabalhar para o negócio da família, mas escolhera viver de música e vender seus quadros. Foi uma interessante reunião de família, aquela. O homem tinha certeza de que com o fato de todos no distrito respeitarem Naruto, ele seria um ótimo sucessor ou algo assim, como Shisui teria sido.

Itachi nunca riu tanto quanto naquela noite.

—Você que vai contar para ele e Kurenai que estou aqui. E que vou ficar aqui, claro.

Com isso ele virou para fazer o ramen, feliz.

Itachi suspirou. Ele estava tão morto agora.

—E Itachi?

—Hum?

—Acho melhor você se desfazer da sua poltrona, meu piano chega nessa tarde.

— Espaçoso.

...........................................

Era uma antiga pista de patins, velha e caindo aos pedaços. Naruto não quis ajuda financeira de ninguém, nem para comprar o lugar, que era a duas ruas do apartamento, e tão pouco quis ajuda financeira para o reformar.

O que não o impediu de aceitar ajuda para a mão de obra gratuita. E explorá-las também.

Itachi foi o primeiro, sempre que chegava da delegacia a tarde. Depois apareceram Hinata, carregando Gaara a força, porque ninguém conseguia dizer não a Naruto, muito menos a ela. Hanabi, que ainda era um monstrinho, agora um monstrinho adolescente (o que era bem pior) veio de Konoha dias depois passar alguns dias com a irmã. Ela não ajudou em muita coisa, além de mandar em todo mundo que trabalhava.

Naruto dizia que era adorável. Itachi achava que ele era meio cego quando as garotas Hyuuga estavam envolvidas. Madara também tinha o mesmo problema.

Obito apareceu depois, Kurenai veio um fim de semana. Jiraya havia se mudado para Kiri assim que soube que Naruto estava lá, apesar de nunca ficar por muito tempo em um lugar só. Tsunade veio dias depois, trazendo saquê.

Tsunade devia a Naruto.

Aconteceu quase um ano depois que ele passou a viver com os Uchiha.

Itachi foi com ele até a clínica, pegar sua papelada que estava lá. Enquanto conversavam no escritório, um homem apareceu, um outro médico. Cabelos negros, olhos maliciosos. Naruto congelou, se encolhendo perto da estante, se escondendo ali. O homem nem mesmo o notou, mas Itachi notou sua reação, ficando na sua frente, bloqueando a visão do homem. Quando ele saiu, Naruto já começava a hiperventilar, não deixava nem que Itachi se aproximasse.

Foram minutos para ele e Tsunade o acalmarem. E então Naruto contou. Do médico em Suna. O homem que o molestava, até que Nagato descobriu e fez o homem ser transferido. E assim, Tsunade descobriu qual era o grande mistério que estava acontecendo ali naquela clínica, e que ela tanto pedira para Itachi investigar. Aquele médico estava molestando pacientes, os torturando.

Ele foi preso meses depois após a investigação ser aberta, Naruto mesmo testemunhou. Eles haviam recebido a notícia que ele havia morrido em uma briga na prisão pouco tempo depois. No refeitório. Garfo na jugular, como Naruto havia previsto anos atrás.

Então, claro que Tsunade viria ajudar.

Com ajuda de todos, em um mês o local estava pronto. Um estúdio. Era simples, como Naruto, e um tanto bagunçado, porque era de Naruto. Paredes cobertas de tinta, cavaletes e telas para todo lado. Um sofá velho, de um vermelho desbotado, um divã — piada de Kurenai — e a poltrona de Itachi, que perdera espaço para o piano de canto de Naruto na sala deles.

Havia um banheiro nos fundos. E claro, tinha a vitrola de Naruto e os vinis na estante, além de livros que ele deixava lá, para quando descansava das pinturas. Ele estudava pela manhã na universidade de Kiri e ia de lá direto para o estúdio, onde passava suas tardes pintando e vendendo os quadros.

Durante os fins de semana, era o único momento em que não podiam encontrá-lo ali, em meio a tinta e cavaletes. Ele tocava em um café nos sábados e domingos à noite. Itachi sempre se sentava na mesma mesa, para ouvi-lo tocar na banda, enquanto lia casos do trabalho.

Por mais que os anos passassem, ele nunca se acostumaria com a aparência de Naruto quando ele tocava. Em como ele parecia livre, como na primeira vez que o vira naquela clínica tocando. E então Naruto erguia os olhos, em meio a fumaça e as luzes mais escuras do palco, a voz da cantora sumia. O baixo, o sax, as pessoas, tudo sumia e para Itachi só havia os dois. Naruto lhe sorria, em toda aquela aura de mistério que fazia parte dele. Os lábios curvados, o cabelo suado caindo por cima dos olhos que mudavam de cor, que pareciam conter todos os segredos que nunca foram revelados. E Itachi sabia que Naruto estava tocando só para ele naquele momento.

E Itachi se sentia, de repente, o cara mais sortudo do universo.

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Todo fim de tarde Itachi ia buscá-lo no estúdio durante a semana, trazendo café e algo das bancas perto da praia, geralmente Takoyaki. Itachi o via pintar enquanto estudava os casos na poltrona velha que tanto sentia saudade em casa, depois iam para casa para fazer o jantar. Naruto tocava piano e conversavam. Muitas vezes acabavam enroscados um no outro no sofá da sala. Naruto dormia e Itachi tinha que levá-lo para a cama dos dois.

Algumas noites eles passavam esse tempo fazendo outras atividades. Em outras eles não esperavam chegar em casa para isso. Não com o bendito divã no estúdio sendo tão confortável.

Se as pessoas soubessem o que se passava naquele divã, não se sentariam lá, com certeza. Itachi cansava de lançar olhares divertidos para Naruto quando algum cliente aparecia lá quando ele estava e se sentava no lugar. Naruto ficava sempre encabulado com isso.

Embora ele tivesse certeza de que ele contara a Hinata. A Hyuuga nunca se sentava lá, preferia o chão. E ela era uma presença constante no estúdio. Havia feito um site para divulgar o trabalho de Naruto, e sempre estava lá, tirando fotos dos quadros, opinando, geralmente com Gaara de lado. Era divertido vê-los discutindo por tudo ou confabulando, apesar de Itachi ainda temer o que aqueles três podiam fazer juntos quando colocavam a cabeça em alguma coisa.

E Itachi, apesar dos ciúmes, conseguia entender o sentimento de Hinata. O porquê delas as vezes aparecer lá apenas para sentar-se e ler, apenas para ter certeza de que Naruto estava lá. Até mesmo a tolerava aparecendo no seu apartamento para tomar chá e tocar piano, sempre com Gaara a tiracolo, às vezes com a irmã vinda de Konoha, que não perdia uma oportunidade de visitar Naruto e infernizar Itachi.

E era engraçado para Itachi, porque era fácil entender Hanabi, que ela via Naruto como família, aquele irmão mais velho que Itachi estava tentando roubar a atenção que seria dela, mas Hinata era mais complicado. Mesmo ela tendo Gaara, ele não sabia se Hinata ainda era apaixonada por Naruto. Mas ele sabia que ela o amava.

E ele não poderia a culpar por isso.

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Itachi entrou pela porta do estúdio, com sua sacola parda e equilibrando os cafés naquela tarde. Colocou tudo no chão de cimento e parou para apreciar a paisagem. Naruto estava de costas, usando uma camisa xadrez velha suja de tinta. Seu cabelo, que ele cortara há um mês, já havia crescido, mas não o bastante para cachear, como de costume.

E ele era com certeza uma imagem e tanto no sol do fim de tarde, concentrado daquele jeito, as sobrancelhas franzidas e os olhos azuis tão focados.

Olhou o quadro, curioso, e viu que ele desenhava um homem ruivo, fumando um cigarro no que parecia ser um píer, ou em um barco. O que lhe chamou atenção, era que o homem parecia com Naruto.

—Pensando em pintar o cabelo?

Perguntou divertido e o outro sorriu.

—Foi um sonho. — Naruto falou, a voz pensativa.

Ele tinha muitos sonhos. A primeira vez que ele desenhara Sasuke no piano ao lado de Menma, Itachi havia pensado que ele havia se lembrado de algo, mas não foi o caso. Ele conversara com Tsunade, mas nada havia mudado, ele ainda não lembrava daqueles seis anos. Porém, durante o sono, às vezes as imagens vinham a sua cabeça, como flahsbacks sem sentido algum.

Sasuke era o mais comum, talvez por ele ver tantas imagens dele na mansão, ouvir tanto sobre ele, ao ponto de, segundo ele, se sentir apegado a uma pessoa que para todos os efeitos não lembrava de ter conhecido ou do quão importante ele foi para ele.

Naruto amava Sasuke, mesmo que nunca houvesse realmente o conhecido.

—Ele parece com você.

Naruto parou de pintar. Olhando o quadro, como se não houvesse percebido isso.

—Agora que você falou... — Ele analisou um pouco mais, limpando o pincel e assinando seu nome no canto. – Na verdade, ele parece mais com Menma. E com Karin. Acho que se o filho deles tivesse sobrevivido, seria exatamente assim. Até a cara de presunçoso.

Itachi riu e o puxou pelo pulso, o beijando devagar. E então com mais vontade. Naruto partiu os lábios, o permitindo aprofundar o contato. O gosto de café era o mais presente. As mãos dele se prenderam no cós da calça de Itachi, enquanto as de Itachi viajaram, uma para seu cabelo, a outra por suas costas, o puxando para perto.

—Trouxe café. — Sussurrou por entre a boca do outro, sentindo seu sorriso, mesmo de olhos fechados.

—Acha que eu ficaria bem de cabelo vermelho? — Naruto rebateu, passando o nariz por sua bochecha, mordendo sua mandíbula de forma brincalhona.

—Você ficaria bem até com o cabelo da Sakura. E isso é difícil. — Respondeu sério e sentiu a risada de Naruto em seu pescoço, sua mão desceu pelas costas dele devagar. Colocou a boca na orelha do outro e o sentiu se arrepiar quando sussurrou — Embora seu cabelo seja muito bonito assim. Não existem muitos loiros no Japão.

— Os Namikaze tem descendência irlandesa. – Naruto murmurou, beijando seu pescoço devagar, o mordendo. Itachi desceu sua outra mão, colocando as duas nos bolsos traseiros do jeans velho de Naruto e o puxando para perto. Naruto riu com a boca ainda em seu pescoço, o hálito quente fazendo Itachi o apertar ainda mais. — Ou nunca reparou que não tenho exatamente olhos puxados.

— Estou chocado.

Podia imaginar Naruto revirando os olhos.

—Cala a boca e vamos logo para esse divã, idiota.

O barulho na porta fez Naruto se afastar esse recompor tão rápido, que Itachi pensou que Naruto estava se tornando mais Uchiha do que ele mesmo.

Se amaldiçoou por não ter trancado a maldita porta.

Um casal entrou, sorrindo, olhando os quadros, incertos. Naruto os presenteou com um belo e aquecedor sorriso, ignorando Itachi e caminhando até eles charmosamente, como só Madara poderia ter-lhe ensinado. Itachi se sentou na sua poltrona, com um suspirou.

Melhor nem olhar para o divã.

..............

Naruto não precisou virar para saber que Itachi estava logo atrás dele assim que o casal saiu pela porta. A mão longa passou por cima de seu ombro, virando a fechadura.

Virou, a sobrancelha erguida em questionamento.

—Fim do expediente. — Itachi o prendeu contra a porta, uma mão de cada lado da sua cabeça.

—Ainda não são seis.

Escondeu um sorriso, os braços para trás, o rosto virado para cima para poder encará-lo. Itachi sorriu de volta, e, sem remover os olhos dos seus, segurou seu queixo, o polegar brincando com seu lábio. Os outros dedos passaram pela marca branca no pescoço de Naruto.

O viu ficar tenso, e então relaxar. Seus dedos viajaram mais, removendo os botões devagar das casas, passeando pela cicatriz clara em seu peito. O símbolo ao redor de seu umbigo era mais profundo, a pele ao redor era em alto-relevo. Em suas costelas, havia mais, muito mais. Pequenos cortes, profundos, com formas geométricas desconhecidas.

Naruto nunca quis removê-las, por ser doloroso e por ser a única coisa sobre o passado que esquecera. Algo como lembrar a ele, que existiam pessoas ruins ainda. Que coisas ruins ainda podiam acontecer. Que ele deveria viver tudo agora, aproveitar tudo, pois não sabia quando ou se essas coisas ruins podiam acontecer novamente.

E Itachi sempre as beijava, por isso.

Passou os lábios por seu pescoço, com carinho. Sentiu as mãos de Naruto em seu ombro, massageando ali.

—Sou um cliente especial.

—Não sabia que gostava de arte.

A voz saiu baixa, o tom de diversão perceptível. Subiu a boca para sua orelha, mordendo a argola ali. Naruto gemeu baixo. Era seu ponto fraco. Ouviu um xingamento abafado.

— Gosto dessa obra de arte aqui, na minha frente.

Naruto puxou seu cabelo da nuca para trás de forma repentina, o afastando.

Os olhos azuis o fitaram, com as pupilas dilatadas, um sorrindo se abrindo nos lábios.

—Ela é toda sua então.

............

A noite os encontrou deitados no chão, olhando o teto onde Naruto havia pintado o porto de Uzushio há alguns dias. Para ele, não o píer onde Kyuubi o torturara e quase o matara, mas o lugar onde sempre lembraria do tempo que fora feliz com sua família, mesmo que tenha sido pouco. Era uma pintura perfeita. Com uma balsa entre as ondas e o sol de fim de tarde a iluminando. Havia pessoas esperando no píer, indistintas.

Naruto estava na balsa. E agora que notava, lá estava o ruivo de novo, dessa vez ao seu lado.

—Devo ficar com ciúmes desse ruivo?

Naruto bufou, a cabeça em seu braço, brincando com uma de suas mãos entre as suas, também olhando a pintura.

—Estou fodendo você, não o quadro.

—Delicado, como sempre. Ai! Isso doeu.

—Que bom. Foi a intenção, psibláblá estúpido.

Itachi ficou tenso ao ouvir Naruto o chamar assim, ele nunca o havia chamado assim desde que acordara sem memória no hospital. Ao virar o rosto, ele parecia tranquilo, o rosto sereno, olhando o teto.

—Minha mãe me contava uma história. — Naruto sussurrou, uma mão erguida, desenhando no ar o contorno do afresco acima. — Ela sempre dizia que morrer seria assim, uma travessia. Simples como respirar. O balseiro, seria o responsável por guiar essa travessia, e as levaria, para o paraíso ou para o inferno, qualquer que fosse o merecedor de um ou de outro. Como o barqueiro Caronte, mas ela me dizia que o balseiro, às vezes, era a própria morte. Será que é verdade, Itachi?

Naruto se virou, deitando-se sobre seu peito, o queixo repousando nos braços cruzados, o rosto curioso no seu. Itachi o admirou, os cabelos loiros grudados na testa, os lábios ainda inchados pelo o que andaram fazendo, os olhos azuis curiosos e inteligentes. Misteriosos.

Passeou as mãos por suas costas com carinho.

—Talvez seja. Talvez não. E só quero saber daqui há muito, muito tempo.

Naruto o analisou por alguns segundos, então seus lábios inchados se transformaram em seu sorriso torto para o lado direito, os olhos suaves nos seus.

— Hum...Setenta ou oitenta anos. De preferência. — Itachi levantou um pouco a cabeça e beijou o seu nariz, sem aguentar. Apesar do assunto mórbido, Naruto estava adorável daquele jeito. Não entendia como ele conseguia passar de devasso a inocente assim. O sorriso dele aumentou, os dentes brancos a mostra, o rosto para o lado. — Promete? Que vai morrer velhinho, muito velhinho?

Itachi sabia que não podia prometer isso, mas não fora outra vez que ele prometera a Naruto que não morreria e acabou cumprindo? Ele tentaria, com certeza.

Itachi prendeu o mindinho no do outro que o olhava solene. Naruto sorriu, voltando a encostar o queixo nos braços, o encarando, os olhos sem mais nenhuma névoa os cobrindo, além da do sono.

—Eu te amo, psibláblá. — Naruto sussurrou, como se contasse um segredo precioso, os olhos ficando sonolentos, mas sem desviar dos seus por nenhum instante. — Meu psibláblá.

— E eu também te amo. — Respondeu no mesmo tom, acariciando os cabelos revoltos com carinho. — Meu Naruto.

Para Itachi seriam oitenta anos muito bem vividos.

Ele nunca mais despertou de um pesadelo às 3:30.

Notas finais

Primeiramente, muito obrigada para quem acompanhou Névoa! Tanto a primeira publicação quando essa nova edição. Eu amei cada comentário e teoria de vocês e acredito que finalmente estou satisfeita com a história. Para quem não sabe, Bruma vai ser incorporada aqui, então ainda haverá alguns extras. Não é uma continuação, são coisas que se passaram antes de Névoa começar ou nesse período de seis anos entre o capítulo final e epílogo. Como, por exemplo, quando Sasuke ajudou Menma a salvar Naruto, o último Natal de Sasuke, a relação dos Uchihas e Naruto, mais sobre Minato e etc. Não serão muitos, mas sabem o que esperar.

Já comecei a repostagem dela no Ink e vou começar a retirá-la do rascunho nas outras plataformas, tão logo tenha tempo.

Obs: De onde veio o termo psibláblá? É a forma como chamo psicólogos e psiquiatras desde que li um livro muito anos atrás, de Ted Dekker, onde um dos personagens usava esse apelido. Ficou em mim e nunca mais saiu. É o mesmo livro onde o personagem fazia a alusão da luta do homem entre o bem e o mal, uma luta que todos os personagens de Névoa travavam. O nome do livro é three. E as frases no início dos capítulos? É para fazer vocês irem ler Edgar Allan Poe, para quem já não o conhece ou leu algo dele. E para quem reparou, toda citação tem um significado sobre o capítulo.

Só mais uma coisa, quando escrevi Névoa pela primeira vez, deixei um recado sobre ela e vou reproduzi-lo aqui, porque ainda acho importante:

"A ideia inicial de Névoa era uma fanfiction curta, no máximo 20 capítulos, se chegasse a tanto. A ideia cresceu mais do que eu durante o decorrer do enredo. Eu não havia nem pensado em casais. A relação de Naruto e Itachi seria algo fraterno. Hinata seria um personagem que morreria no começo. Gaara não estaria nem na história, e mais um monte de detalhes que fui mudando, compondo, dando forma. Névoa não é uma história muito feliz, isso é bem perceptível: Um garotinho sendo molestado pelo tio, com todas as pessoas que ele ama tiradas dele, tendo que entender coisas como morte e sexo quando não entende nem a si mesmo ainda. Ela trata de temas fortes, como pedofilia, tortura e suicídio.

E, apesar de tudo, tem um fim feliz. Um fim esperançoso. E não é à toa. E eu quis mesmo escrever isso, essa notas, para dizer algo que a maioria de vocês já sabe, tendo experimentado ou não, que a vida nunca é feliz de todos, que a felicidade são pequenos momentos, e por isso a gente tem que os aproveitar o máximo. Muita coisa ruim pode acabar acontecendo no caminho. Perdemos pessoas, pelo tempo, pelas circunstâncias ou pela morte mesmo. Algumas pessoas no machucam, fisicamente ou psicologicamente, os dois. Às vezes começamos a perder a fé que algo de bom pode acontecer.

E eis aqui uma verdade que aprendi: Nada fica difícil para sempre. Ninguém é feliz ou triste o tempo todo. Os momentos difíceis, por mais complicados que sejam, vão embora. As pessoas vão embora e outras chegam. A gente chora, perde, mas também ganha e sorri quando nem mesmo percebe que a mudança está vindo. E nessas horas, você precisa ser forte como uma represa para passar pelos momentos difíceis, mas também suave para aceitar as pessoas que chegam.

Eu desejo força a vocês para enfrentar seus "Kyuubis" e "Nagatos". Não desistir. Algo que Naruto, nem o de névoa, nem esse personagem adorável que Kishimoto nos deu fez, e nos deixou uma mensagem que vai além de algo infantil, sobre fé e determinação. Então, não deixe que nada os derrube. Todos podemos enfrentar nossos demônios, de carne e osso ou não.

É isso.

Espero que tenham gostado do final. Agradeço todos os comentários, a paciência. Muitos comentários que recebi, salvaram meu dia quando me sentia meio para baixo, e esquecia sobre essa lição. Desejo toda a felicidade do mundo para vocês.

Aproveitem a vida. E quando "Caronte" vier buscar vocês, de preferência quando estiverem velhinhos, vocês possam dizer a ele que viveram tudo o que tinham para viver."



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