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Capítulo XXXII - Barganha

Na ética, o mal é uma consequência do bem, assim na realidade da alegria nasce a tristeza.

Ou a lembrança da felicidade passada é a angústia de hoje, ou as agonias que são tem sua origem nos êxtases que poderiam ter sido.

Edgar Allan Poe

HAVIA SE PASSADO UMA SEMANA DESDE A MORTE DE KYUUBI quando Hinata Hyuuga acordou do coma e de um dos sonhos mais estranhos que já teve. E ela tinha experiência com sonhos estranhos para poder falar isso.

A realidade que a esperava também não era menos estranha, com seu pai ao lado da sua cama e parecendo preocupado com ela. Ela não tinha certeza de por quanto tempo isso iria durar, mas ei? Ela iria contar as suas vitórias. E a companhia de Hanabi no seu quarto sendo o adorável monstrinho de sempre compensava a esquisitice do pai delas. Sempre poderia contar com sua irmã para melhorar seu humor:

— Ei, fico feliz que esteja viva, Hina! Mas se você morrer ainda, posso ficar com seus mangás?

Então havia o fato de Naruto estar em algum lugar daquele hospital em como induzido, suas fotos terem sido encontradas como evidência, Gaara ter aparecido do nada no hospital e toda a história que ela andou passeando, de acordo com ele, como um zumbi enquanto estava desacordada.

Vai entender.

Pelo menos o desgraçado encontrou seu fim. Ela não havia falhado de todo em ajudar Naruto, mesmo que não lembrasse dos detalhes. Os detalhes, Naruto lhe contaria quando acordasse, ela tinha certeza. Porque ele iria acordar. Então ele iria rir com ela sobre o fato de ela estar extorquindo seu pai usando a culpa dele por nunca ter lhe dado atenção e ela quase ter acabado morta.

— Quem é ele? — Hanabi sussurrou, perdendo o propósito de tal quando apontou o hashi para Gaara que estava com um computador nas pernas, sentado na poltrona do seu quarto de hospital.

Ele tinha uma percepção incrível de só aparecer quando Hiashi Hyuuga não estava e de alguma forma conseguiu permissão para visita mesmo não sendo família. E ainda lhe trazendo informações sobre o outro ocupante do hospital no momento que lhes interessava, apesar de o acesso à Naruto estar tão restrito.

— Eu pensei que seu namorado fosse o outro com os policiais na porta do quarto? O que tentou usar o nome do otou-san para ver?

Não um de seus momentos mais orgulhosos, mas tudo valia e ela realmente queria ver se Naruto estava bem.

Gaara ficou com as orelhas vermelhas e Hinata segurou uma risada. Para alguém tão apático ele conseguia ser bem adorável.

— Nenhum dos dois são. — Respondeu em um falso sussurro.

Hanabi franziu o nariz, o rosto redondo muito perto do seu, a expressão desconfiada.

Sua irmã era mesmo um monstrinho adorável. E ela não havia deixado de a visitar religiosamente todos os dias para comer sua gelatina e falar mal da família delas.

— Eu suponho que é o melhor. — Ela concluiu. — Otou-san disse que você ia se casar no clã, se não fosse cabeça dura.

Só nos sonhos dele.

— Sorte que minha cabeça é dura. — Cutucou as faixas. — Nem bala penetra.

Gaara a olhou horrorizado e Hanabi cuspiu toda a gelatina em uma risada tão escandalosa que a professora de etiqueta delas ficaria horrorizada.

Quando Hanabi foi embora, tendo sido buscada por um primo delas, Gaara ainda continuou lá por um tempo, os dois passando pelas notícias na internet sobre tudo o que aconteceu nas últimas semanas.

Como tudo que seria secreto em Konoha, todos já sabiam sobre a verdadeira identidade do que fora o mais famoso serial killer da cidade. Porém, pouco se sabia sobre suas motivações. A única pessoa que talvez tivesse essa resposta, ainda estava na cama do hospital, em coma induzido, mas se recuperando rapidamente, de acordo com o que conseguiu arrancar de uma médica loira no outro dia.

Tobirama, o tio de Naruto.

Hinata não conseguia nem imaginar como devia ter sido para ele. Ela sabia do que sentiu ao colocar as peças no lugar, mas o homem não era nada dela. Ele havia matado seu amado primo e ela o odiava. Para Naruto devia ter sido tão pior.

— Os Uzumaki estão arruinados. — Gaara comentou. — Vai ser difícil se erguer disso. E tem os outros clãs que participaram nos vídeos.

— Pelo menos o desgraçado serviu de alguma coisa. — Empurrou o computador, deitando-se na cama. — Eu tive um sonho estranho noite passada.

Gaara, ainda sentado na cama ao seu lado, a olhou de cima com uma sobrancelha erguida.

— Outro?

— Foi aqui no hospital. Tinha uma garotinha chorando ali. — Ela apontou para a porta. — Tentando achar alguém. Ela tinha esses olhos grandes e escuros e tristes e eu perguntei quem ela estava procurando, mas ela não parecia me ver.

Ela não notou a forma que Gaara a olhava, como se lembrasse de algo, os olhos verdes se estreitando.

— E então esse homem apareceu. E era engraçado. — Ela sorriu. — Porque ele meio que me lembra Naruto. Loiro e tudo mais, os olhos também. Umas roupas meio estranhas. Ela conversou com a garotinha e ela se acalmou. A pegou no colo, parecia que ia a levar para algum lugar. — Ela franziu a testa. — Eu fui lá saber para onde. Tem tanta gente ruim nesse mundo, sabe? Vai quê.

Gaara havia fechado o computador, a olhando de forma atenta.

— Quando eu o chamei, ele virou para mim, ele me viu. Quando eu perguntei para onde ele estava a levando, ele disse que para alguém que iria ajudar. Que ele só queria ajudar. E então ficou ainda mais estranho.

— Como?

Ela o olhou nos olhos, a expressão grave: — Ele me disse...que tudo ficaria bem.

Ela parou, lembrando o quanto aquela expressão honesta lhe era familiar.

— Algo mais?

Ela hesitou, mas no fim deu de ombros, falando de forma evasiva.: — Ele me pediu para cuidar de alguém.

Hinata ficou feliz que ele não insistiu em saber mais. Era só um sonho estranho.

Por que mais qual razão ela sonharia com uma pessoa que tinha certeza de que nunca conheceu?

'Cuide do meu filho.' Foi o que o homem pediu, antes de sumir naquele corredor levando a criança.

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Quando Gaara saiu do quarto de Hinata, foi com a história na sua cabeça e as palavras daquela noite, sobre como ela poderia ser capaz de projeção astral durante o sono. Gaara começou a entender melhor os sonhos estranhos que ela vinha lhe contando há anos.

Ao passar no quarto ao lado na ala pediátrica ele viu a enfermeira trocando os lençóis de uma cama vazia.

Uma criança havia morrido ali na madrugada passada.

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Hinata se cansou de esperar e ganhou o corredor sozinha na manhã seguinte, determinada a passar pelos policiais e ver Naruto. Eles não iriam a fazer recuar de novo.

Perto da porta dele, ela deu de cara com um homem que lhe era muito familiar, apesar de não ter ideia de onde poderia ter o visto. Ele tinha olheiras e um cabelo longo, óculos de grau de leitura que pareciam tortos e uma xícara de café fumegante. Ela não conseguia distinguir a idade dele, parecia obviamente ser mais velho que ela, mas era difícil saber quanto. Era jovem. E atraente, admitia.

E o mais importante: Estava entrando no quarto de Naruto e não sendo barrado.

— Ei!

Falou, a voz urgente e um pouco desesperada, quase tropeçando no suporte com que arrastava o soro.

O homem a olhou de forma estranha, os olhos escuros se estreitando em reconhecimento. Ele também parecia a medir de cima abaixo e a encontrar em falta. Hinata ergueu o queixo, sabia como lidar com gente que a olhava assim.

— Você não deveria estar fora do quarto. Levou um tiro na cabeça.

Isso a tirou da tirada que iria começar, por ser inesperado.

Ele não parecia preocupado com ela de fato, mas havia um pouquinho de cautela ali.

— Tenho a cabeça dura. — Foi sua resposta estranha. O lábio dele tremeu e Hinata estreitou os olhos dessa vez, o medindo como ele havia feito. — Nos conhecemos?

Ele balançou a cabeça: — Amigos em comum.

Ele olhou para o quarto e Hinata viu, um breve momento, o sorriso dele se abrir de forma suave. Apenas segundos até ele se virar. E aquela imagem... ela sabia que havia visto aquilo.

Provavelmente em algum sonho.

E, de alguma forma, isso lhe deixava triste.

— Eu quero vê-lo. — Sua voz foi firme, mesmo que estivesse suando no lugar quando ele a olhou, a expressão de volta ao ar de julgamento. — Eu juro que escalo a janela se não me deixarem.

O homem ergueu a sobrancelha: — É o décimo andar.

— E?

Os dois se encararam e havia uma tensão clara ali. Hinata...Hinata sentia certa antipatia por ele, mas não sabia a exata razão, e obviamente era mútuo.

Por isso se surpreendeu quando ele sorriu: — Melhor não testar se a cabeça é dura mesmo.

Ele fez sinal para os policiais, os três conversando com as expressões de uma forma engraçada.

Quando ele se virou fez sinal para Hinata o seguir.

Ela podia até não gostar desse cara, mas naquele momento ele era quase a sua pessoa favorita.

Quando ela viu Naruto na cama, viu os ferimentos feitos a faca enquanto as enfermeiras trocavam os curativos em seu rosto, Hinata desejou que pudesse ter lutado mais, ter ido a Naruto primeiro antes de ter ido em Kiri investigar.

Ela desejou ter sido mais esperta.

— Eu sei. — O homem falou, sentado na poltrona ao lado. A xícara de café estava intocada, não era para ele. Era uma oferenda ao garoto na cama, e ela percebia isso agora. — Eu sinto o mesmo.

Os dois não conversaram mais nada até alguém vir a buscar de volta ao quarto.

No outro dia, quando foi visitar de novo, a deixaram entrar.

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Itachi ficou feliz de deixar toda a bagunça após a morte de Kyuubi nas costas de Ibiki para resolver. Tobirama estava morto, os clãs arruinados, Nagato não era mais uma ameaça e ele tinha problemas maiores para se preocupar.

O velório e cremação de Shisui, a situação de Naruto no hospital, que ainda parecia tão frágil, as manobras para ele ficar com o clã Uchiha, onde ninguém poderia tocá-lo, Itachi tinha muito o que se preocupar no momento. Ele não se importava com quem ficaria a glória, ele só estava aliviado de todo aquele pesadelo ter acabado.

Pelo menos, era quase milagrosa a forma como Naruto se recuperou. Um centímetro mais profundo do corte na sua garganta e ele perderia a laringe; um pequeno desvio e ele teria tido a carótida perfurada e não teriam conseguido salvá-lo. Itachi quase o perdeu e ele ficava grato por ele estar aqui, mas não podia deixar de se perguntar a razão de Tobirama ter errado.

Ele estava na distância correta, Naruto estava acuado e não apresentou resistência. Ele lembrava de ver, de estar correndo até eles, sabendo que chegaria tarde demais. Do ângulo do braço do monstro em câmera lenta, do medo ao ver que Naruto estava quase apresentando o pescoço para o abate. E ainda assim, Tobirama havia errado.

Ele sabia que não havia sido arrependimento ou nada do tipo, algo desviou aquele braço.

Ele se perguntava qual dos fantasmas teria interferido.

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Naruto acordou na manhã da segunda semana, duas horas depois de terem o tirado do coma induzido. Itachi estava lá, com Kurenai, quando os olhos azuis se abriram, confusos. O rosto ainda estava com bandagens por conta dos ferimentos profundos nas bochechas. Todo o corpo de Naruto estava repleto deles. Os médicos fizeram o possível, mas as cicatrizes estariam lá, sempre.

O corte da sua garganta era um dos mais evidentes e ele não conseguiria falar com um volume normal por um bom tempo, mas eles esperavam que ele se recuperaria eventualmente sem mais problemas. Ele também havia perdido o baço pela facada que havia recebido, mas só de não haver nenhuma sequela aparente pelo tempo que ficou sem oxigenação após a parada cardiorrespiratória, eles ficariam gratos. Ele teria que tomar cuidado com infecções pelo resto da vida, mas pelo menos seria uma vida longa, se dependesse deles.

Itachi prendeu a respiração ao ver o garoto piscar os olhos molemente, suspirando em um gemido baixo e patético. Kurenai desfez sua cara apática com isso e sorriu para o primo. O loirinho olhou ao redor, confuso, até que seus olhos caíram em Itachi sentado na sua cama, a mão na sua.

Seu rosto pareceu confuso, olhando ao redor atordoado.

—Finalmente acordou, Naruto.

O garoto piscou mais algumas vezes. E então seus olhos azuis ficaram alarmados quando Itachi ergueu a mão para tocar seu rosto. Itachi achou que fosse pelas cicatrizes e recuou.

Até perceber os olhos do outro enchendo de lágrimas, o rosto lívido e assustado, o corpo trêmulo. O monitor cardíaco começou a mostrar seus batimentos acelerados.

—Calma, Naruto. Você está seguro. – Kurenai trocou um olhar preocupado, e abriu a porta, chamando uma enfermeira no corredor.

Naruto puxou a mão que estava na sua, ainda o olhando alarmado.

A respiração dele estava alcançando um ritmo perigoso. Itachi sentiu que tremia também ao notar os olhos dele ficando vazios, como se estivesse prestes a dissociar.

—Naruto! Você está seguro...Se acalme.

Com isso ele retornou, mas a expressão continuava confusa.

—Qu... — Sua voz saiu rouca e tão baixa que era quase inaudível.

Ele tossiu e levou as mãos a garganta enfaixada. A expressão que havia começado a ficar menos aterrorizada, retornou. Kurenai lhe deu a água da cabeceira e ele bebeu, hesitante em aceitar, mas com muita sede para recusar.

—Beba devagar. Não, não tire as faixas.

Ele bebeu toda a água, para então o olhar, os olhos desconfiados passando de Itachi para a mão que havia soltado. O corpo dele estava tenso, como se esperasse um golpe a cada segundo, se encolhendo para longe.

A voz rouca e baixa pelo ferimento, trêmula e incerta, se fez ouvir.

—Quem são vocês?

Itachi paralisou no ato de pegar o copo da mão dele. Kurenai também paralisou.

O garoto começou a ficar mais nervoso com o silêncio chocado dos dois.

Foi Kurenai que agira primeiro, já que Itachi parecia inerte, seus olhos horrorizados.

—Naruto? Não nos reconhece?

O garoto olhou para a Kurenai e então para Itachi. Ele negou com a cabeça rapidamente, seus olhos transtornados para Itachi, que estava perto demais. Ele tentou sair da cama e quando Itachi fez menção de impedi-lo de puxar a agulha do soro e se machucar, ele começou a gritar. Por conta do seu ferimento, a voz saindo arrastada, sufocada.

Como um animal ferido.

—Eu não vou voltar para lá! Por favor. Não deixe ele me levar, moça.

Os olhos suplicantes foram para Kurenai, que vendo a situação piorando por Itachi não o soltar, ainda em choque, o puxou para longe delicadamente.

O garoto se agarrou a ela de imediato, a pessoa que parecia estar querendo o ajudar.

—Shhh, tudo bem querido. Se acalme. Ninguém vai te machucar.

Ela falou suavemente, olhando para Itachi por ajuda.

Itachi não se moveu, os olhos perdidos na figura trêmula que se agarrava a Kurenai como se ela fosse sua única tábua de salvação.

A voz dele tão suplicante, que sentiu seu coração afundar no peito ao ouvir o que ela pedia:

— Eu quero meu irmão. Por favor, eu quero meu irmão. Menma, o nome dele é Menma. Pode trazer ele?

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—É como se os últimos seis anos tivessem sido apagados dele. Estamos fazendo testes neurológicos, há chances que sejam sequelas da desoxigenação. Não havia saído nada nos exames, mas sempre soube que apenas quando ele acordasse teríamos certeza. Desculpe, Itachi.

Itachi olhava pela janela do corredor do hospital. Parecida com a janela onde beijara Naruto, semanas atrás.

Sakura estava na sua frente, tendo assumido o caso de Naruto desde o começo. Tsunade havia ficado no quarto, fazendo mais testes. Kurenai, que parecia acalmar Naruto facilmente, havia ficado com ele a seu pedido.

Itachi não conseguia nem entrar naquele quarto. Não quando Naruto não conseguia o olhar nos olhos sem tremer, entrar em pânico se ele, sem perceber, tentasse tocá-lo. Havia tanta desconfiança, como na primeira vez que o viu, mas pior. Pior porque ali, Naruto estava em carne-viva, sem mecanismos de defesa. Ele era selvagem, como um animal acuado. Eles haviam removido rapidamente os enfermeiros homens de sua rotação quando ele atacou um deles que tentou trocar suas bandagens.

Ele não atacou Itachi, talvez por confiar em Kurenai, mas ele sempre olhava as saídas quando Itachi chegava pelo menos na porta. Como se ele fosse fazer algo contra ele no momento que baixasse a guarda.

Por fim, Itachi achou melhor não entrar mais no quarto. Pelos dois.

— Qual a última coisa de que ele lembra? — Perguntou, de modo ausente.

— De Suna. De quando ele tentou suicídio. É a última lembrança dele.

Itachi fechou os olhos em dor. Era bem pior do que pensava e explicava muito.

—Então, ele não lembra de Sasuke?

Ela negou, o olhar triste.

Era o Naruto antes de Sasuke, o Naruto antes do seu irmão o ajudar a juntar os pedaços. Ele estava vendo o Naruto em seu pior momento, o Naruto que Sasuke viu.

Itachi nunca havia percebido a dimensão da cura que seu irmão fez em Naruto até aquele momento.

—Ele lembra de todos os traumas com Nagato de forma vivida. De tudo o que passou em Suna, como se fosse ontem. Por isso está agindo assim. Sasuke o ajudou muito a passar por tudo isso quando ele saiu de Suna, mas agora, tudo isso nunca aconteceu para ele, Sasuke não aconteceu, ele ainda está perdido. Você tem que entender.

—Eu entendo.

Kami, ele deve estar tão assustado.

Naruto tinha doze anos quando saiu de Suna, quando tentou se matar para fugir daquele lugar. E agora ele acordava com um corpo que não reconhecia, pessoas que nunca viu na vida agindo de forma tão pessoal e todas que ele conhecia, que ele amava, não estavam ali.

E ele nem sabia ainda que elas nunca voltariam.

Itachi não estava ansioso por essa parte da conversa.

—Talvez seja reversível. — Ela falou suavemente. — Talvez não seja sequela física, mas mental. Os traumas que ele sofreu com Kyuubi foram consideráveis, Itachi. A teoria é que essa seja o mecanismo de defesa dele. Nós não sabemos ao certo o que se passou naquele barco, sobre tudo o que ele passou.

—Talvez seja melhor assim. —Itachi a interrompeu, o rosto derrotado. — Ele esquecer que essa noite existiu, talvez seja melhor assim. Ao menos isso.

Sakura acenou, um pequeno sorriso que não alcançava seus olhos no rosto.

—Jiraya está vindo. Ele vai se acalmar ao ver um rosto conhecido.

— Kurenai pode os ajudar a se comunicar em razão da... — Itachi deixou as palavras morrerem, os dois se olhando em desconforto. Naruto não iria reagir bem ao ver o que fizeram com o padrinho.

— Alguém vai ter que contar sobre Menma e Karin. Naruto está perguntando por eles todo o tempo, mas ninguém teve coragem de contar para ele sobre o que aconteceu. Achamos melhor se Jiraya estiver com ele.

Itachi suspirou, passando a mão no rosto.

—Isso vai...

— Ser horrível, eu sei. Ele está chamando pelos dois desde que acordou.

Itachi olhou para fora, fixamente.

—Vá descansar, Itachi. — Sakura tocou seu ombro.

Olhos verdes preocupados nos seus, sem as olheiras usuais. Os dois não haviam falado ainda sobre o que aconteceu no porto, sobre Sasuke. Havia pelo menos 15 pessoas lá, mas ninguém queria ser o primeiro a perguntar.

Ninguém sabia o que falar.

Talvez eles nunca falassem sobre isso e talvez fosse melhor assim, mas ficava feliz de ver que ela parecia, de alguma forma, mais leve do que antes.

—Tome um banho, coma algo. Quando voltar, talvez tenhamos boas notícias. Tsunade-sama disse que seu tio está te esperando lá embaixo.

Itachi assentiu, sem reclamar.

Ele não queria ver os olhos vazios de Naruto agora.

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Madara dirigiu em silêncio até o distrito. Apenas quando chegaram na garagem e o sobrinho fez menção de sair do carro, ele falou algo.

—Não foi apenas a memória, você sabe.

Itachi o olhou, confuso. Ainda aéreo, por tudo que estava acontecendo.

Quando ele achou que tudo terminaria bem...

—Não entendo.

—Você sabe, sobre toda a herança dele? Além daquilo que vimos no porto?

O homem o encarou seriamente. Assentiu, tirando a mão da maçaneta que abria e olhando para frente no carro.

—Eu estava o observando pelo vidro, ele com Tsunade e Kurenai. — Madara continuou, pensativo. — Ele pegava na mão delas, sem problemas.

—Ele não tem medo de mulheres.

—Não é disso que falo. — O homem fez um floreio. Então suspirou, acrescentando. —Namikazes não seguram sua mão, sem acabar tendo uma visão sobre sua morte.

Itachi prendeu a respiração, entendendo.

—O dom dele sumiu.

—É o que parece. — O homem falou, e então encarou o sobrinho. — Me diga, Itachi. Ele nunca previu sua morte?

Itachi prendeu as mãos em punhos, e então as liberou, com sua respiração.

—Sim, ele me mostrou. — Isso despertou a curiosidade do tio, que franziu a testa. — Eu iria morrer naquele píer. O tiro de Tobirama acertaria meu coração, e eu não conseguiria sair do container ferido, me afogando. Por isso usei o colete. Eu havia prometido a Naruto que por tudo, não iria morrer naquela noite.

O silêncio perdurou por um tempo.

—Você está vivo.

—Obviamente. — E então Madara o olhou de forma analítica. — O que?

—Ele não lhe contou tudo. Tecnicamente, alguém deveria ter morrido, se você está vivo. Quando um Namikaze impede a morte de alguém, outra pessoa para com aquele tenha um sentimento tão intenso quanto, morre no lugar. É um preço a pagar.

Itachi arregalou os olhos. E então balançou a cabeça.

—Ele não impediu, fui eu.

—Ele mostrou para você, ele impediu. Mas ninguém morreu.

—Talvez... — Itachi pensou. — Talvez não houvesse ninguém para morrer. Naruto sempre disse que as pessoas que ele amava estavam todas mortas. E eu quero acreditar que ele me amava.

—Então ele deveria estar morto. — Itachi o olhou chocado. — É uma simples questão. Se amamos tanto alguém, como amamos a nós mesmos...faríamos sacrifícios por eles. Como Shisui me meteu na frente daquela bala por Kurenai.

Itachi fechou os olhos.

Ele não queria que aquilo fizesse sentido, mas fazia.

—Ele quase morreu.

—Mas ele está vivo. E sem memória. E sem o dom, talvez.

Itachi assentiu.

—Você acha que esse foi o preço? Não a vida dele, mas apenas seis anos de memórias e o dom dele, que era mais uma maldição.

— Talvez não apenas isso. — Madara ponderou. — Não sabemos o que mais pode estar envolvido. Mas Itachi, não são apenas seis anos de memória. O amor que ele sentia por você. Que ele sentia por Sasuke. Pela garota Hyuuga. Tudo o que ele viveu, aprendeu, evoluiu. A pessoa que ele se transformou. Foi um preço alto, porque aquele Naruto realmente morreu e não vai voltar.

Itachi aceitou isso, em silêncio. Ele pensou e repensou. Nos olhos vazios de Naruto, no medo infantil dele. Tudo aquilo. Tudo o que ele pensava que seria demais para lidar, nem se comparava a se Naruto houvesse mesmo morrido.

—Pode não ser o Naruto que conheci, pode ser que ele nunca vá ser, mas é Naruto. Ele está vivo. — Itachi falou, sorrindo. Madara o olhou curioso. — E enquanto ele estiver vivo, eu posso fazê-lo me amar de novo.

— Bem... — Madara o olhou de forma crítica. — No momento, mentalmente, ele não tem condições para isso. Seja quase um adulto fisicamente, mentalmente ele é bem mais jovem. Você é meu sobrinho, mas ele vai ser minha responsabilidade, se depender de mim. Não esqueça disso, Itachi. Será anos até que chegue no ponto em que estavam. E você vai ter que esperar.

Itachi aceitou o aviso pelo o que ele era.

— Eu vou ter paciência e esperar o tempo que for. Tenho tempo e paciência. Vou fazê-lo me amar de novo.

—Você parece bem autoconfiante. — Madara sorriu, sarcástico.

Itachi riu, alto, finalmente leve.

—Eu sou um Uchiha, Madara. Nós sempre conseguimos o que queremos.

Seu tio o olhou divertido: —Touché.

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Dizer que foi difícil, no entanto, seria amenizar as coisas.

Naruto passou quase um mês no hospital, com medo das pessoas, tendo ataques de pânico ou de fúria. Dormia quando sedado, só comia quando Kurenai ou Jiraya apareciam, era quando se sentia seguro.

De alguma forma, ele projetara a figura que seria Karin nela, e por um longo tempo, ela e Jiraya eram os únicos com quem ele conversava, ou que o tiravam do estado quase catatônico que ele ficara ao descobrir a morte de Menma e Karin.

Itachi tinha que admitir também, com um gosto amargo na boca, que Hinata Hyuuga havia ajudado. Ela havia insistido e eles tinham tão poucas opções, que Itachi havia permitido que ela visitasse quando o estado dele ficou menos instável. A princípio, Naruto não parecia saber o que fazer com ela, com alguém que parecia tão a vontade com ele, mas que ele nunca havia visto na vida.

A garota não parecia ligar e Itachi percebeu que para alguém tão atrevida ela poderia ser incrivelmente gentil. Talvez fosse por isso que Naruto gostasse tanto dela, claramente ela possuía tantas máscaras quanto ele.

Ela trouxe a irmã em uma das visitas, com permissão de Tsunade, apesar de Itachi não achar que seria uma boa ideia. Crianças podiam não ter muito tato. E Hanabi Hyuuga realmente não tinha tato algum, perguntando sobre as marcas na bochecha de Naruto no primeiro minuto dentro do quarto, agarrada na mão da irmã com a cara redonda incrivelmente séria.

Naruto pareceu surpreso, mas nada além disso. Seus dedos tocaram as marcas onde as bandagens haviam sido removidas, os pontos já retirados. A pele parecia vermelha e Sakura havia mais de uma vez reclamado de ele coçar o local.

— Alguém me machucou. — Naruto respondeu à garota, depois de olhar brevemente em direção a Kurenai, sentada na cadeira ao seu lado. Itachi estava perto da parede com Tsunade. Naruto raramente olhava em direção aos dois, ainda desconfiado da presença de Itachi. — Mas eu não lembro.

Hanabi assentiu, cruzando os braços e largando a mão da irmã: — A pessoa está morta?

— Hanabi! — Hinata sibilou, mas Naruto já estava assentindo, olhos azuis um pouco tristes.

— Isso é bom, certo? Se morreu, não vai te machucar de novo. — Naruto arregalou os olhos, ainda mais sem jeito, olhando ao redor por ajuda. — Posso comer sua gelatina?

Itachi sentiu seu lábio tremer. Era como ver uma versão do antigo Naruto na garota, franco, direto e sem tato.

Os dois, claro, ficaram amigos.

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Gaara não sabia o que estava fazendo ali.

Ele não era família e nem um animal de terapia como a irmã de Hinata, mas de alguma forma ele havia sido arrastado para o quarto do garoto Namikaze.

Algo sobre testar todas as pessoas possíveis que ele havia conhecido. Gaara só esperava que Hinata não tivesse sido específica em como eles se conheceram, porque seria um problema.

Tentou ignorar os policiais, para o bem do seu coração, e entrou junto com a garota Hyuuga. Hanabi já estava lá, sentada na cama do garoto, pendurada no braço dele enquanto o observava desenhar algo com a expressão crítica.

Gaara nunca havia visto uma garota de dez anos tão brutal na vida, mas pelo rosto concentrado do garoto, ele não parecia se importar.

— Naruto, eu trouxe um amigo.

Ele imediatamente ergueu o rosto, tenso e alarmado. Ao lado dele a garotinha olhou de um para o outro e estreitou os olhos para Gaara, como um bom cão de guarda territorialista.

Olhos azuis arregalados o fitaram, o medindo. Foram até a mulher morena que lia na poltrona ao lado e até a janela de vidro, como se soubesse que havia pessoas ali.

Quando ele retornou para Gaara, pensou que era um pouco hilário ver uma expressão tão parecida nos dois na cama, apesar de ele estar menos agressivo que a menina.

— Olá. — Falou de forma desconfortável. — Sou Gaara.

Ele não respondeu, fitando seu cabelo e então mirando seu rosto, uma expressão engraçada se formando.

Quando ele falou, a voz legitimamente confusa e inocente, Gaara lembrou porque tinha sentido antipatia por ele ao o conhecer.

— Por que você raspa as sobrancelhas?

— Eu sei, né?! Eu perguntei isso! — Hanabi exclamou.

Naruto ficou com o rosto vermelho e o olhou com receio, o caderno de desenhos de frente ao peito.

A mulher fez um som de risada, disfarçando em uma tossida. Gaara também ficou vermelho e cruzou os braços, na defensiva.

— Ele já nasceu assim. — Hinata mentiu com o rosto sério. — Vamos desenhar uma para ele, para o deixar feliz.

Gaara o olhou incrédulo. Ele podia estar ou não apaixonado, mas tudo tinha um limite.

Naruto oferece um marcador para ela timidamente e Gaara não podia fugir.

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— Eles estão se dando bem. — Tsunade comentou do outro lado do vidro, vendo Naruto parecer mais relaxado enquanto os outros dois adolescentes lhe explicavam alguma coisa.

Ele seguia as mãos dos dois ainda, principalmente do garoto, e estava sentado longe deles, como se não tivesse certeza se poderia realmente se aproximar. Naruto ainda não parecia saber o que fazer sobre o menino ruivo, mas ele realmente parecia mais relaxado perto das irmãs Hyuuga do que dos adultos. A menorzinha parecia bem territorialista com ele, o que era um pouco adorável.

Naruto tem um jeito de conquistar garotas Hyuuga. Itachi pensou com divertimento, tentando abafar o descontentamento (ciúmes) ao perceber que demoraria muito para que ele se sentisse à vontade assim com Itachi.

Itachi, lembrando de como Naruto era, vendo traços do antigo Naruto naqueles olhos ali, na atenção e perspicácia com que ouvia os dois. Também lembrando que a garota Hyuuga foi quem descobriu a identidade de Kyuubi e, que aquele garoto ruivo, provavelmente foi o tal comparsa, ele se sentiu um pouco incerto se isso era uma coisa boa.

Aqueles três como amigos seria uma terrível dor de cabeça.

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Ao longo daquele mês, a polícia tentou tirar dele o que aconteceu naquela noite, sobre o que Tobirama lhe contou. Kurenai foi a responsável por fazer as perguntas, não permitindo que os outros se aproximassem e o deixasse mais nervoso ainda. Porém, não havia nada a ser dito. Nada sobre os segredos da Kyuubi, quem teria sido seu parceiro e suas motivações. Aquilo estava, talvez, para sempre, perdido dentro da cabeça dele.

Foi doloroso, o mais doloroso de tudo, lhe contar o que havia acontecido. Sobre a morte de Menma e Karin, sobre Tobirama e Kyuubi. Muito foi amenizado, muito não se pôde amenizar. E ver a expressão de Naruto ao descobrir quem havia machucado Jiraya, quem havia feito aquelas marcas no seu corpo, quem havia matado as pessoas que mais amava, foi algo que Itachi nunca esqueceria.

Era como se Naruto tivesse os perdendo novamente e não havia nada que eles pudessem fazer para ajudar.

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Ele não lembrava de Sasuke. Sakura, durante suas rondas, colocou como seu objetivo lhe contar tudo sobre ele. Fotos deles juntos, livros que eles trocaram, vídeos que havia encontrado no computador dele com os dois tocando juntos.

Naruto não falou nada com ela quando isso acontecia, a olhando, a analisando, os olhos em Kurenai na porta, inseguro sobre o que fazer. Depois da terceira visita de Sakura, ele começou a perguntar mais. Então a perguntar à Kurenai mais histórias sobre Sasuke, principalmente quando Jiraya trouxe uma foto de Naruto ainda muito criança nos braços do garoto Uchiha, antes da família se mudar do distrito.

Naruto havia olhado a foto e então olhado para Itachi na porta, que fingia que lia alguma coisa, provavelmente notando as semelhanças entre os dois. Itachi havia fingindo que não percebera o escrutínio.

Mais tarde, ele lhe trouxe um MP3, com Sasuke tocando piano. Naruto o olhara desconfiado todo o caminho que ele fizera até a cama, intercalando olhares com Kurenai, pronto para atacá-lo a qualquer movimento em falso. Ele não falou nada, e nem mesmo aceitou o presente, o ignorando. Itachi tentou não se abater com isso.

Kurenai contou, que quando ele foi embora, Naruto estava ouvindo as músicas e pela primeira vez no hospital, ele dormiu sem precisar ser sedado.

Itachi considerava isso uma vitória.

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Quando Naruto saiu do hospital, Madara tinha a sua guarda. Algo que ele não quisera se desfazer, mesmo por Jiraya. No entanto, o homem tivera que se mudar temporariamente para o distrito, já que era o único rosto que Naruto conhecia e o único homem que ele deixava chegar perto sem que tentasse fugir ou atacar. Obito passou por um momento e tanto, quando esquecido da situação, tentou abraçar o garoto.

Os arranhões no rosto dele ficaram por semanas.

Obito apenas coçou a cabeça e riu enquanto levava uma bronca de Madara e Kurenai tentava acalmar Naruto, que parecia esperar uma retaliação pelo ataque.

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Meses se passaram e aos poucos Konoha ia esquecendo sobre o que aconteceu.

Ninguém tinha coragem de ir até o distrito para importunar Naruto, perguntando sobre sua experiência. Madara tratou de cuidar bem disso.

E Itachi...Itachi, com paciência, chegava até Naruto. Todos eles chegavam. Primeiro Kurenai, no hospital e depois, ele a seguia como um filhotinho sempre que ela estava por perto, nas primeiras semanas no distrito. Itachi sentia ao mesmo tempo alívio e ciúmes, porque era para ela que Naruto sempre corria.

Kurenai adquirira um instinto de proteção tão forte quanto o que ela tinha por Itachi, Shisui e Sasuke. Ou ainda pior. Se ela pensasse que Itachi podia importunar, ou deixar Naruto nervoso, ela mesmo tratava de ameaçá-lo do melhor jeito Uchiha.

Itachi se perguntava se ele funcionava como uma terapia para ela. Com Naruto, ela podia tirar sua mente sobre o que havia acontecido com Shisui. Ela podia se convencer que não poderia se deixar derrotar pelo desespero e culpa, porque alguém precisava dela. De uma forma ou de outra, enquanto fosse bom para os dois, Itachi não via problema.

E Naruto sempre parecia tão feliz quando a via que não tinha como Itachi ficar chateado, mesmo que quisesse que aquela reação se estendesse para ele também.

Naruto também se acostumou a Madara mais rapidamente do que Itachi pensou possível.

Como ele não lembrava de Sasuke, ele também não lembrava que sabia tocar piano.

Madara lhe apresentou a sala de música como barganha, ao notar o interesse dele nas músicas de Sasuke. Kurenai e ele passaram a lhe tutorear no piano e foi como relembrar, um instinto. Eles passavam horas em silêncio, apenas o ouvindo tocar.

Era estranho, curioso de ver, como alguém como Madara, conseguia o acalmar assim. Itachi não tinha certeza quem Naruto projetava em Madara, qual presença ele lhe lembrava, mas ele não parecia se importar com a presença do patriarca e por vezes os dois apenas sentavam juntos e liam em companhia um do outro. Ele parecia acostumado a ficar assim com alguém, apenas na presença, em silêncio. Itachi se perguntava quem era essa pessoa.

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Itachi foi um homem paciente.

Naruto não falava com ele ou com Obito no primeiro mês na mansão. Sempre que Itachi chegava perto dele, ele procurava Kurenai com os olhos pelo cômodo, em busca de segurança.

Todo dia, Itachi se sentava na poltrona ao lado dele na biblioteca. Naruto levantava o olhar, procurava Kurenai, e então voltava a ler, os ombros tensos, os olhos desconfiados em Itachi disfarçadamente enquanto o homem lia com falsa tranquilidade.

Depois de duas semanas, ele não procurava mais Kurenai, mas tão pouco abria a boca. Na terceira semana, quando Itachi chegou na biblioteca, havia um copo extra de café o esperando, e Naruto parou de ficar o olhando a cada minuto com desconfiança. No outro dia, ele trouxe para Naruto o conjunto de pintura com telas. Madara reservou um quarto vago como um estúdio. Quando ele chegou em casa dois dias depois, à noite, uma tela estava o esperando na poltrona que lia. Kurenai, do sofá, lhe sorriu.

Era uma pintura de Itachi, lendo, os óculos de leitura e uma expressão serena.

Itachi sorriu por horas naquela noite, mesmo que Naruto não tivesse aberto a boca todo tempo.

No segundo mês, Itachi notou a mudança, aos poucos. Naruto passava a ficar por perto quando estava em casa, mesmo que nunca falasse muito com ele ainda. Madara dizia que ele lhe esperava quando ele demorava, ficava impaciente. Logo ele começava a perguntar a Kurenai quando ele não aparecia. E uma noite, quando ele se sentara em sua poltrona para ler, Naruto lhe encarara, os azuis sem conter mais a curiosidade ao perguntar o que ele estava lendo.

Eles passaram a conversar toda noite a partir de então.

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As irmãs Hyuuga e a companhia delas conseguiram permissão de Madara para visitar o distrito. Itachi não sabia quando ou como essa conversa aconteceu, ou mesmo como elas conseguiam fugir até ali, para visitar a casa de um criminoso de forma tão regular. E aquele garoto não morava em Kiri?

Madara apenas parecia terrivelmente divertido com os dois adolescentes, comentando o quanto eles lhe lembravam ele na adolescência. O que sem dúvidas não era um bom sinal.

Itachi só esperava que ele não tentasse recrutar ninguém, Hanabi Hyuuga sem dúvidas aceitaria.

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Era um Naruto diferente. Muito diferente.

Ele não era ácido, mas triste. Itachi sentia falta do sarcasmo dele, daquele lado que via aflorar tão raramente quando ele ficava relaxado. Ele parecia com medo da reação das pessoas, pensar que se continuasse dócil e calado eles o manteriam por perto.

A boca dele continuava suja, pelo pouco que notou quando o via falando sozinho ao tropeçar em algum móvel ou se empolgar com alguma coisa, mas ele parecia evitar na frente deles falar qualquer coisa que pudesse os irritar.

Ele podia ser muito violento, quando ficava transtornado. E ao mesmo tempo, era tão curioso quanto o outro Naruto, mas muito mais inocente. E genial, absolutamente genial, com aquela pontada excêntrica que havia conhecido tão bem. Madara o tutoreava e era claro muito orgulhoso dos resultados, apesar de ele estar longe de ser um estudante convencional.

Ele não era metódico como Sasuke e Itachi, mas tinha um hiperfoco que se trabalhado poderia funcionar ao seu favor. Era curioso ver aquele lado dele, ver como ele havia chegado ao adolescente que fez o que a polícia não conseguiu por anos, que foi desvendar a identidade de Kyuubi.

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Com alguns meses, era com Itachi com quem Naruto começou a se sentir à vontade para mostrar seu lado menos dócil, a boca suja trabalhando quando ele se irritava, o sarcasmo retornando sempre que Itachi o subestimava.

Com o tempo, era para Itachi que ele corria quando tinha algum pesadelo. Mesmo que ele não tivesse mais nenhuma visão, visse mais nenhum fantasma, pesadelos sobre Suna e Nagato o atormentavam. Ninguém podia se aproximar dele nesses momentos sem correr o risco de ser machucado ou machucá-lo. E um dia, ele simplesmente abriu a porta do quarto de Itachi, o rosto lívido, e se deitara ao seu lado sem dizer nada, encolhendo-se contra ele. Itachi às vezes se perguntava se ele estava ao menos de todo acordado naquele momento, se havia um reflexo de uma memória daqueles dias na mansão meses atrás. Ao acordar, Naruto pareceu tão sem graça, mas isso não o impediu de fazer de novo.

Ninguém falou nada sobre o arranjamento dos dois.

A partir desse dia, Itachi passou a dormir na mansão todas as noites, mesmo que ainda mantivesse sua casa no distrito. E se Itachi tivesse que viajar para resolver algum problema da corporação, Naruto dormia na sua cama ainda assim.

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Em sete meses, Itachi se deu conta que amava aquele Naruto mais ainda do que amara o antigo. O jeito como ele confortava Kurenai quando ela lhe contava sobre Shisui. Como ele ouvia Madara de forma atenta, o seguindo pela casa enquanto seu tio relembrava o passado.

A forma como ele tinha todos na palma da mão e não percebia isso.

Como ele lhe sorria, como se ele fosse a coisa mais incrível do mundo, sempre que Itachi ia se sentar na poltrona ao seu lado para ler. Como ele parecia desacreditado que eles realmente quisessem o ouvir, que não queriam nada em troca, que não iriam embora por ele ser tão quebrado.

É você que é incrível. Itachi queria dizer. Olha até onde você chegou, com tudo contra você.

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Itachi não tinha certeza de quando começaram os rumores no distrito, quando as pessoas começaram a chamar Naruto de Uchiha. Quando ele deixou de ser um forasteiro para eles.

Kurenai o levou para caminhar com ela fora da mansão como terapia, sabendo que ninguém tentaria lhe fazer mal com ela de guarda. Para surpresa de todos, que acharam que Naruto ficaria calado e se escondendo atrás dela o tempo todo, ele ficou particularmente amigo do jardineiro da praça, um homem de 80 anos. E então com a senhora da padaria em que foram, assim como as duas crianças dela. Ela lhe deu as costas por um minuto e o encontrou conversando com uma mulher estranha, pelo menos cinco gatos o rodeando, dois em seu colo, perguntando a ela sobre algo que nem Kurenai conseguia entender, de tão empolgado.

Naquela semana eles estavam recebendo pão de graça, todos os dias apareciam flores na porta, alguém lhe deu um filhote de gato que eles tiveram que engolir em casa – o bichano era tão espaçoso quanto o dono — e Naruto ficara particularmente feliz em prender na parede os desenhos que os filhos da Dona da padaria mandavam por Obito para ele.

As caminhadas se tornaram rotina.

Naruto nunca teve nenhum problema com ninguém, todos o respeitavam, por ser agora um Uchiha, mas também por ser um sobrevivente, como todos que viviam ali eram.

E Itachi passou a entender o porquê de todos aqueles idosos no prédio de Naruto gostarem tanto dele. Como não gostar de alguém que lhes dava tanta genuína atenção?

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— Não é assim que se faz! Kurenai!

— Ah é? — Itachi ouviu a voz divertida de Kurenai. — E como é então?

— Itachi! Kurenai está praticando bullying com meu gato!

— Ei!

Ao cabo de um ano que se passara, ao que parecia, tudo havia se acalmado.

—Você conseguiu.

Madara falou, com um sorriso sarcástico.

Naruto, de onde estava brincando com os gatos no chão, discutindo com Kurenai e xingando Obito muito baixo, levantou os olhos para Itachi e sorriu, o rosto vermelho ao se ver observado.

Um sorriso pequeno, que faria seu coração sempre e sempre saltar acelerado.

Eles não poderiam ficar juntos, não ainda, Naruto não estava pronto para algo assim. Talvez em anos, Itachi tinha tempo. Eles dois tinham.

E o vendo agora ele sabia que seria só isso: uma questão de tempo.

— Ele ama você.

— Ele ama todos nós.

Madara rolou os olhos, rodando o vinho na taça enquanto chutava a bola do gato de volta. Era algo tão caseiro, os ver assim. Juntos e fazendo algo tão trivial.

—Ele ama mais você.

Madara nunca havia visto em Itachi um sorriso como o que ele dera naquele momento.

—Touché.

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— Você tem certeza de que quer fazer isso? — O balseiro perguntou, olhos tão parecidos com os de Menma o olhando com atenção. — Não vai poder voltar atrás. Quando morrer não vai se encontrar com sua família, vai ficar comigo, como seu pai.

— Eu sei.

O garoto olhou para o porto, para os pontos ali. Eles continuavam o olhando, mas não havia julgamento algum nos olhos deles, apenas entendimento. Talvez isso tornasse a decisão dele mais difícil, imaginava.

— Eles sabem que os amo. — Olhos muito azuis e honestos o fitaram. Com uma clareza e camaradagem as quais nunca ninguém o fitou antes. Um ser tão pequeno diante de todo o universo o fitar assim era divertido, se não refrescante. — E eles me amam, não importa o que eu decida.

O balseiro sorriu com isso, para aquele garoto que não temia a morte, que conversava com ela como se fossem velhos amigos. Anos atrás, na linhagem dele, foi alguém assim que fez com que desse aqueles dons para sua família.

Era curioso como a história terminava onde tudo começou.

— Não vai ter os dons até que nos encontremos novamente. — Avisou, tocando nos ombros daquela poeira no universo, mas que tinha uma determinação que lhe lembrava a razão da explosão que gerou tudo aquilo. Que lhe lembrava porque alguns deles eram temidos por dobrarem o próprio destino. — E não vai lembrar disso até quando esse momento acontecer. Não vai lembrar de nada depois do nosso primeiro encontro. Vai esquecer de todos eles, vai esquecer da razão de o porquê voltou. Dele.

O garoto assentiu e então abriu um sorriso, largo, as mãos tocando as suas, os olhos brilhando em cores dançando, como as cores que presenciou na explosão que criou o universo.

— Eles vão me contar sobre Sasuke, o quanto ele foi importante. — O garoto olhou para o porto e o ponto ali sorriu. — E Itachi...ele vai me fazer amá-lo de novo. Ele é esse tipo de idiota.

O olhou com atenção, o olhar sendo sustentado por aquela bactéria tão peculiar, que havia impressionado até a morte.

Algumas vezes, aquele trabalho tinha suas surpresas prazerosas.

— Pois bem, meu pequeno Namikaze. Nos vemos em alguns anos.

O garoto sorriu ainda mais largo e apontou o dedo em sua direção: —Não tão cedo!

Muitas surpresas, realmente.

—Que assim seja.

Mais uma vez ele ergueu a mão, deixando o dedo mindinho a mostra e o olhando em expectativa.

E a morte se encontrou um pouco mais enamorada.

Ele teria tempo com sua bactéria favorita quando chegasse o momento.

Poderia esperar por isso. Tempo era o que não lhe faltava.


Notas finais

Sim, Minato está pagando sua dívida com a morte. E sim, é como vocês estão pensando. Minato é um mensageiro da morte, um shinigami. E Naruto, eventualmente, vai se tornar um também quando morrer.

A morte não está apaixonada por Naruto, só para esclarecer. Mas ficou bem apegada à sua bactéria favorita (spn referências), porque Naruto é esse tipo de criatura.

Como podem ver, quem leu pela primeira vez, a explicação sobre a barganha ficou mais clara. A razão de ele esquecer tudo foi em razão ao seu primeiro encontro com a morte E serviu como parte do preço que pagou para retornar, que foi perder tudo o que evoluiu. De certa forma, aquele Naruto está morto, porque ele não é mais o mesmo. Mas tem a chance de se tornar ainda melhor.

Naruto e Itachi ficarão bem. Ele é realmente persistente. Uchihas.

p.s: Madara quer totalmente recrutar Gaara e Hinata. 

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