Capítulo XXIII - Sexta Estrofe
Corpos dançam em volta de ti
Celebrando tua chegada.
Os mortos erguem a cabeça ao ouvir teu nome.
E somente a ti obedecem.
És o príncipe que aguardam, meu Anjo.
UM GRUPO DE ESTUDANTES INDO À ESCOLA LOGO CEDO FOI QUEM VIU PRIMEIRO.
Ibiki recebeu uma ligação e despachou Sakura e mais dois do grupo de Itachi para lá primeiro. Com toda a confusão na madrugada e com Itachi e Kakashi no momento no hospital, ele não tinha muitas opções, mesmo Sakura não sendo uma policial em campo. Sem Itachi ela era a melhor de ver coisas que eles não conseguiriam na cena.
Quando chegou, em uma das praças próximas a biblioteca de Konoha, Ibiki encontrou o pequeno grupo fotografando, o lugar já isolado pela barreira.
O corpo estava preso a estátua da fonte, amarrado com correntes para o deixar de pé. Diante dos muitos ferimentos, nenhum maculava seu rosto, deixando evidente sua identidade. Escrito com sangue na fonte havia uma palavra: Ouça.
— As duas orelhas estão faltando. — Sakura informou. — O envelope estava no bolso dele, já foi lacrado.
Isso explicava a razão de não terem encontrado o envelope com a garota Hyuuga.
— Foi depois do ataque? — Perguntou, por menor que fosse a possibilidade. — Esse é ele mesmo?
— O horário da morte, pela rigidez do corpo, foi provavelmente bem antes do ataque no apartamento dela. Essa é a sexta estrofe, sem dúvidas. E sim, esse é o seu sucessor na delegacia antes de ele se aposentar.
Ibiki suspirou. Isso explicava algumas coisas e trazia mais dúvidas.
Itachi havia lhe explicado a teoria do garoto e agora via como se encaixava ali também.
O antigo delegado nunca ouviu os apelos dos irmãos Uzumaki sobre os abusos.
— Vou ligar para Itachi.
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Kakashi fugiu do quarto assim que teve oportunidade, vestindo suas roupas com dificuldade com o braço imobilizado. Um tiro havia fraturado alguns ossos ali, o outro passou de raspão em seu rosto. O médico disse que havia tido sorte.
Ele não chamava aquilo de sorte ou providência divina.
Como sobreviver a um tiro na cabeça, por exemplo. Quando chamou a emergência, ele achou que a garota não iria sobreviver nos próximos minutos e ainda assim...
Parou na entrada no corredor, vendo a parede de espelhos. Itachi estava no fim do corredor, falando no telefone. Naruto estava de frente a parede, uma mão no vidro, observando a cama lá dentro. Ela estava ligada a fios demais, a cabeça enrolada e máquinas por todo lado. A cama parecia engoli-la, mas ela estava viva.
Kakashi sentiu o peso da falha diminuir, mas não muito. Nada o redimiria por não ter entrado naquele apartamento a tempo.
— A mão dela. — Naruto falou e Kakashi tentou não se assustar. Ele nem mesmo se virou, como sabia que estava ali? — Eles disseram que ela colocou a mão na frente do rosto na hora. A bala fraturou os ossos ali e desviou a trajetória. Entrou do lado do nariz, passou sem atingir nenhuma área vital e parou acima da vertebra, mas sem atingir nada. Não vão poder tirar, mas eles não acham que ela vai ficar tetraplégica. — Ele pausou após a explicação técnica, um dedo traçando o vidro, a voz distante. — Caso... ela acorde.
— Ela vai acordar. — Falou de imediato e se colocou ao lado dele no vidro. — É teimosa como você.
Viu um pequeno sorriso ali, muito breve, ouvindo um pequeno sussurro de 'é sim'.
Kakashi observou a garota, Hinata Hyuuga, lutando para sobreviver. Quando entrou naquele apartamento ela estava com uma faca na mão, agarrada entre os dedos, mesmo enquanto sangrava no tapete. Ela não tinha desistido e ganhou tempo o bastante para que ele pudesse espantar o atacante.
Se ao menos ele tivesse o visto entrar em primeiro lugar.
— Ela não culpa você.
Kakashi olhou para Naruto, que não o fitava, os olhos fixos na garota. Notou, preocupado, que ele parecia em dor. A testa franzida, a mão de vez em quando tocando a cabeça. O rosto estava extremamente pálido e seus ombros encolhidos.
— Como sabe disso?
Ele deu de ombros, os olhos vagando para um ponto no nada ao lado dele, como costumava fazer.
— Acharam o envelope. — Itachi os interrompeu, se colocando ao lado de Naruto, o celular na mão. — E um corpo. O antigo delegado. E mais um recado.
— Então ela não era a .... — Kakashi pausou, olhando Naruto rapidamente. — Talvez não fosse Kyuubi, mas outra pessoa.
— Era Kyuubi. — Naruto falou com convicção, sem remover os olhos do quarto.
— Não sei se era Kyuubi, mas o padrão de como entrou nos apartamentos foram parecidos. As luzes também falharam, ninguém o viu entrar. — Kakashi falou. — Era definitivamente um homem. Saltou da janela depois de atirar em mim, do segundo andar, para o balcão abaixo antes de descer.
E se fosse Kyuubi, isso explicava como ele entrou no apartamento de Naruto sem ser visto.
— Atlético, da minha altura. Sem nenhuma outra característica visível.
Itachi assentiu. Kakashi já havia dado seu depoimento logo quando foi tratado.
— Ainda assim, por qual razão Kyuubi atacaria ela se não fosse para usá-la contra Naruto? — Kakashi questionou. — Talvez por ter falhado em matá-la ele mudou de ideia?
Itachi negou: — Sakura tem certeza de que ele implantou o corpo antes do ataque. Ele já tinha a estrofe. Não é o padrão dele também. Um tiro na cabeça é uma morte rápida e quase misericordiosa.
Kakashi se incomodou de discutir isso na frente de Naruto, mas ao olhar para ele, ele parecia alheio a conversa.
— Então por que...
— Talvez ela tenha descoberto alguma coisa. — Naruto os interrompeu, a voz baixa, mostrando que estava escutando. — Com o que aconteceu com Neji
— Como assim? — Perguntou confuso.
Naruto não respondeu, passando a mão na testa novamente, os olhos estreitos.
— Dor de cabeça?
O garoto assentiu e Kakashi percebeu os olhos avermelhados. Ele devia estar em mais dor do que havia pensado, para não negar.
— Vem comigo. — Itachi tocou no ombro e Kakashi o viu se encolher um pouco, para depois relaxar. — Vamos cuidar disso.
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O tic tac do relógio no quarto, as paredes brancas, as pessoas passando no corredor em frente a porta.
Para todos, aquilo era um hospital.
Para Naruto, era como entrar em um conserto de rock barulhento.
Tentava a todo custo ignorar os gritos, a sensação sufocante da morte. Todo e qualquer espectro dentro do lugar parecia senti-lo e se direcionar a ele. Por isso nunca ia a hospitais, conseguiam ser piores do que cemitérios.
Como Tobirama aguentava isso?
Por mais que o chão estivesse limpo, ele via o sangue pingando. Por onde olhava, era observado. Alguns tentavam mesmo machucá-lo, mas por sorte nenhum dos que estavam ali pareciam poder fazer isso. Sua cabeça parecia que iria explodir de dor, o barulho estava o enlouquecendo.
Queria seus fones de ouvido ali.
Hinata parecia tentar falar consigo, mas não conseguia distinguir sua voz em meio a todas, por isso saiu de sintonia antes que começasse a convulsionar de dor.
Olhou para o lado e a garota estava ali, sentada na cama com ele, os olhos claros desesperados, a mão ensanguentada, a marca do tiro no rosto. Atrás dela, de pé, estava Neji Hyuuga. Desviou os olhos e massageou a cabeça, tentando focar na enfermeira que preparava uma medicação para aliviar sua dor. Sabia que não faria diferença, mas Itachi não deixaria em paz se não aceitasse.
Dissociou, tentando bloquear o som. Sua mente vagou para longe, os olhos focando na poça de sangue no chão do quarto.
Só notou que era chamado quando sentiu um toque suave em seu rosto e encontrou Itachi inclinado para si. Se concentrou em sua voz, e no mesmo momento todo aquele barulho diminuiu, se tornando apenas um zumbido.
A enfermeira não estava mais lá. Hinata e Neji estava no quarto ainda, no mesmo lugar de antes. Ela o olhava com olhos grandes e claros preocupados.
— Você pode entrar daqui a pouco para vê-la, mas só por alguns minutos. — Itachi falou o olhando de forma triste.
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Itachi observou Naruto sentado ao lado da cama da garota, Kakashi ao seu lado parecia mais inquieto do que era de seu costume. Podia sentir a culpa vindo dele, mesmo que não falasse nada.
Não sabia o que o homem poderia ter feito de diferente. Ele estava acampado de frente ao apartamento dela a madrugada inteira. Quando a luz do prédio fora cortada, ele entrou de imediato.
A encontrara caída na sala, tudo estava revirado, coisas quebradas. E ele ainda estava lá dentro. Kakashi tinha certeza de que era um homem. Os dois trocaram tiros, Kakashi foi jogado contra a parede e caiu, dando tempo para que o outro fugisse.
Não entendia por que fora deixado vivo, mas desconfiava que Kyuubi pensava que a garota estivesse já morta. E ela quase estava. Talvez nem mesmo escapasse.
— Ele agiu de forma descuidada. — Itachi comentou, em voz baixa.— Como se houvesse decidido matá-la de última hora. Naruto pode ter razão.
A pergunta era como e o que ela poderia saber.
— Ele não a torturou. Apenas atirou na sua cabeça. Os machucados dela vieram da luta.
— Então, o que acha que aconteceu? — Kakashi questionou. — Pode nem ter sido Kyuubi,
Itachi franziu o cenho, mas não discordou de imediato.
Por alguma razão ele parecia confiar na convicção de Naruto, mesmo que não fizesse sentido.
— De qualquer forma, não importa quem era ele, ele atirou naquela garotinha.
Naruto, que os ouvia mesmo dali, olhou Hinata de soslaio com isso e a viu fazer uma carranca. Poderia ter rido, se não fosse a situação.
— Você vai sobreviver. — Naruto sussurrou. — Tem que passar na cara do seu pai quem é que manda.
Viu a garota sorrir e sentiu algo suave.
Ela tentava segurar sua mão, frustrada. Quase podia a ouvir bufando.
Fitou o corpo sobre a cama. Pegou a mão que não estava com o curativo da garota que parecia dormir, a cabeça enrolada em uma faixa branca, outros curativos no rosto. Havia fios e aparelhos em todo lugar, em um bip continuou e agourento.
Ao seu lado, a viu olhar para si mesma.
— Eu sinto muito, Hinata.
Ela o olhou tristemente, e então conseguiu ouvir sua voz, baixa, quase distante.
"Naruto."
A olhou, ela falava, mas ele só ouvia algumas palavras distantes. Ela não estava morta, o que tornava aquilo ainda mais complicado, uma ligação quase tênue.
"Ela descobriu algo." Agora era a voz de Neji, bem mais clara. O olhou, os olhos azuis arregalados. Era estranho ouvir a voz dele, apesar da boca estar...daquele jeito.
"Ela descobriu algo. Ela descobriu quem..."
O corpo de Neji tremeu e ele não parecia conseguir falar, olhos se arregalando, sangue escorrendo entre as costuras.
— Quem ele é? A identidade de Kyuubi?
Neji pareceu tentar falar, mas seu corpo tremeu ainda mais, olhos ficando brancos.
Era como com Sasuke, com Karin, com Menma. Nenhum deles conseguia falar, e quando tentavam...
Olhou para Hinata. Ela fitava o primo, que havia quase desaparecido com olhos arregalados. Porém ela... não. Ela parecia...
— Você não é como eles. — Naruto sussurrou, a testa franzida. — Você não...Hinata. quem te atacou?
Naruto perguntou, o coração acelerado. Ela abriu a boca, mas não havia som. A viu franzir a testa, colocando a mão na garganta, mas ela não desapareceu.
— Você não é como os outros. — Sussurrou. — De alguma forma... você é diferente.
Seja o que for que afetava os demais fantasmas, não a afetava.
— Foi Kyuubi quem te atacou, certo?
Ela assentiu, o rosto sério.
Neji, ao lado deles, tremeu um pouco, mas ficou silencioso.
— E você descobriu quem é ele.
Ela afirmou.
— Mas não consegue me dizer. — Ela o olhou frustrada. — Mas pode me ajudar a descobrir.
Ela assentiu. Olhos claros fitaram ao redor. Naruto arregalou os olhos azuis quando o rosto dela se iluminou com uma ideia. As mãos pálidas tentaram formar uma palavra. Sinais.
Naruto prendeu a respiração quando notou que ela tentava formar um nome, mas falhou de forma miserável. Ela tentou outra palavra, mas também não conseguiu.
— Tem algo protegendo a identidade dele de vocês. — Naruto concluiu. — Vamos achar outra forma, se acalme.
Ela bufou, mas então assentiu, formando outra palavra: '... o cartão de memória.'
Olhou para ela. Hinata continuava falando, mas não ouvia som.
Franziu a testa, voltando a suas mãos.
— Você tem as informações em algum lugar? — Perguntou e ela assentiu — Em um cartão de memória.
Ela assentiu novamente.
— Onde está? Ele pegou?
'Cópia.'
— Onde está o original?
'Kiri. Shukaku. Gaara.'
— Preciso mais do que isso para achá-lo. — Naruto suspirou, tentando pensar.
'...Guiar...você...Só...você....hacker...ilegal.'
Naruto suspirou, entendendo a implicação daquilo.
Não podia pedir ajuda da polícia, sem complicar o garoto e talvez perdê-lo.
— Tenho que ir sozinho.
Ela assentiu, o olhando angustiada.
Naruto pensou em negar, olhando Itachi no vidro.
Por outro lado... se eu ficar distante dele, talvez...
"Eu acredito em livre-arbítrio. Nada é escrito em pedra. Que sentido teria tudo se fosse assim?"
Naruto fechou o punho. Ele poderia ter esperanças de salvar Itachi. Se ele pegasse Kyuubi, se ele...Se talvez, de alguma forma... Um plano se desenhou em sua mente.
Eu tenho que me afastar dele.
—Como vou convencê-lo? Gaara?
Nessa hora, Hinata sorriu de forma perversa e Naruto suspirou sabendo que aquilo não era um bom sinal.
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Itachi estava no corredor, recostado, enquanto falava rapidamente com Sasori ao telefone. Ele e Deidara estavam na cena do crime no apartamento Hyuuga, e qual não fora a surpresa ao descobrir que o IP de onde viera a invasão de seu computador e do Cyber havia vindo do computador da garota. Infelizmente, todo o acesso ao conteúdo havia sido destruído de alguma forma que Sasori explicou e não entendeu.
Só então lembrou que Naruto havia lhe dito que uma amiga havia lhe ensinado a invadir o sistema de polícia. Então havia sido ela. Checara a ficha, a Hyuuga era a ovelha negra da família, já havia sido fichada, estudava em um colégio para jovens problemáticos, o mesmo de Naruto. Por mais que fosse desagradável, não conseguia não pensar que entendia a razão de eles serem tão próximos.
O fato era que aquilo podia explicar outras coisas.
Naruto tinha razão.
Havia a possibilidade de ela ter descoberto algo sobre os vídeos que ele publicara ao invadir o sistema do cyber, ou alguma outra informação importante e por isso Kyuubi tentou a silenciar.
Uma garota do médio passou na nossa frente. Pensou, um pouco frustrado. Então pensou em Naruto. Dois adolescentes do médio descobriram mais desse caso do que vários detetives por anos.
Desligou o celular e viu Naruto saindo do quarto, pensativo. Estava preocupado com ele, e esperava, que pela sanidade dele, a menina ficasse viva. Apenas quando disse que ela estava em coma ele acordara do torpor que em que ficara.
Naruto levantou o olhar, o vendo finalmente no corredor vazio. Haviam praticamente esvaziado o andar. O pai da menina finalmente parecera lembrar que ela era sua filha. Kakashi não saia de perto do quarto dela, parecia ter desenvolvido alguma obsessão por mantê-la segura. Ele sempre foi ruim em aceitar algo que acreditava ser uma falha.
Já devia ser mais de onze da manhã, mas o tempo estava completamente nublado, fazendo quase como se parecesse noite pela janela de vidro. Naruto seguiu em sua direção com as mãos nos bolsos, uma calça e camisa escura, a blusa de capuz abaixada. O rosto parecia tão cansado quanto o seu, e Itachi se pegou observando-o com cuidado.
Franziu a testa, lembrando do beijo e tudo o que havia acontecido na madrugada. Eles não haviam tido tempo, obviamente, de conversar sobre aqui novamente, não com tudo que havia acontecido a seguir.
Desviou os olhos para a janela, guardando o celular no bolso. O outro se colocou ao seu lado no vidro largo olhando para fora, pensativo. Sua testa estava franzida em desconforto e a tez pálida.
— Sua dor de cabeça não passou? — Perguntou preocupado. — Mesmo com o medicamento?
— Não vai funcionar. — O outro deu de ombros. — Hospitais são terríveis, muitas pessoas simplesmente são abandonadas aqui para morrer. Eles gritam sem parar. Enquanto eu continuar aqui, vai doer.
Isso o deixou desconcertado. Seu lado racional, seu lado profissional tinha ideia de que aquilo era um traço da personalidade esquizoide do outro, mas mesmo assim, não parava de pensar no que acontecera no banheiro, na maneira como ele fora tão desesperado ao lhe mandar ligar para Kakashi. Em como ele sabia sobre a garota antes de todos eles, sobre a razão de ela ter se tornando um alvo.
Pegou o outro lhe observando com um sorriso de lado.
— Psibláblás, céticos. — Naruto falou de forma cínica, os cotovelos encostados no parapeito da janela, dando as costas para fora e o olhando de lado. — Sasuke sempre me disse que você era esse tipo de chato. — Ele fechou os olhos e suspirou. — Ele era mais como o tio de vocês.
— Madara? — Itachi falou interessado. — Ele...
— Ele sabe. Ele conheceu meu pai e meu tio. — Naruto deu de ombros, já relaxado para contar tudo a ele, já que começara. Olhou para a parede branca e começou — Meu pai conseguia ver a morte das pessoas ao lhes tocar a mão. Não importava se tivesse perto ou longe de acontecer. Quando as escrevia ele conseguia saber exatamente o que aconteceria. A visão nele era clara. Era bem mais forte nele do que em mim. — Pausou, dando de ombros. — Pelo menos foi o que me falaram.
Ele não olhou para Itachi, não queria ver sua expressão.
Não importa se ele não acredita.
— Por ser tão forte. se não escrevesse ele ficava vendo pedaços, todo o tempo. E com o tempo, foi ficando pior. Ele não precisava tocar nelas, bastava cruzar os olhos, podia até mesmo mostrar as pessoas como elas morreriam se não se policiasse, apenas as olhando nos olhos. Ele tentou fazer algo com eles, nunca soube o quê. Meu tio chegou na hora. Ele teve que usar óculos desde então.
Naruto pensava em como seu pai havia sofrido ao ponto de tentar arrancar a própria visão.
— Se ele conhecesse bem a pessoa, se houvesse algum tipo de ligação com elas, era bem mais intenso. E não poderia interferir, se o fizesse, outra pessoa morreria no lugar. Se fosse próximo da pessoa, seria alguém próximo as si que gostasse na mesma intensidade, se não fosse próximo, seria alguém próximo da pessoa que salvou. Então, ele só conseguia assistir, acabou pirando, tentou me matar. No fim se matou.
— Naruto... — A voz Itachi era suave. Fechou os olhos e o ignorou.
— Meu tio vê os mortos. Pode até mesmo tocar neles, diferente de mim, que só os vejo... Na maioria das vezes. — Naruto ficou pensativo. — O que acho bem melhor. Ver e ouvir já é o bastante. Sou como otou-san também, com algumas diferenças. Não sou tão bom quanto ele era. — Deu de ombros. — Embora ele esteja evoluindo ainda. Eu vi a morte de Neji sem o tocar, acredito que pela ligação dele com Kyuubi. Não entendo bem a razão.
Naruto encarou Itachi que o olhava com aquela expressão.
Sorriu, sem humor.
— Cético.
— Naruto... — Itachi suspirou, e para sua surpresa, Naruto tapou sua boca com a mão, muito próximo.
Não que estivesse reclamando, mas aquilo era muito inesperado. Naruto estava estranho, e sua cabeça praticamente gritava para ficar atento, mas era muito difícil com o outro tão...perto. O fazendo se curvar com um puxão suave.
Por um instante viu algo brilhar nos olhos azuis. Uma melancolia saudosa. As mãos de Naruto ainda estavam o calando, então deslizaram por seu rosto. Prendeu a respiração, sentindo os dedos gelados e um pouco trêmulos contornando suas bochechas, sua têmpora, seus olhos, e então voltando a seus lábios, devagar. Os olhos azuis sempre com aquele brilho estranho.
Então ele parou, ainda olhando para cima, para seu rosto sem reação, fixamente. E Itachi queria mais que tudo saber o que ele pensava. Segurou suas mãos, que tremeram um pouco com o contato, mas se mantiveram firmes.
— Você acha que sou quebrado? — A questão saiu em um sussurro. — Eu sou. Seu irmão foi quem ajudou a colocar os destroços no lugar. — Itachi não sabia o que dizer sobre isso e Naruto não o deixava falar, a mão menor apertou a sua. — O que pensa quando vê isso? Esses pedaços tortos colocados no lugar?
"Quer me consertar?" Essa era a questão não dita, algo a que ele não permitiu que respondesse ontem, não tiveram tempo.
Itachi virou o rosto. Ele queria consertá-lo? Como psiquiatra, ajudar Naruto havia sido seu trabalho. Ele não via isso como consertá-lo, no entanto. Ele queria que Naruto ficasse bem, mas que continuasse sendo Naruto.
Itachi também era quebrado, afinal. Ele esteve um pouco morto por anos.
Até agora.
— Eu quero manter você. — Respondeu ao cabo de alguns instantes. — Comigo.
Naruto sorriu um pouco, seus olhos atentos suavizando. Parecia ter sido a coisa certa a se dizer.
— Sasuke me disse... — Naruto sussurrou sem desviar os olhos dos seus, agora com um brilho curioso. — Ele me disse que estou apaixonado por você.
Isso o pegou de surpresa, e apertou os pulsos de Naruto, quase sem respirar.
— E você está? — Perguntou também baixo.
— Não sei. — Naruto franziu a testa. — Nunca me senti assim antes. — Itachi conseguia perceber a confusão genuína. Era como se ele não conseguisse compreender sentimentos em totalidade. Havia percebido isso durante a primeira sessão. Naruto parara seu desenvolvimento afetivo, provavelmente, quando começara a ser abusado. — E você?
A pergunta o pegou de surpresa, novamente, como Naruto conseguia fazer tão bem.
Ele estava tão perto.
— Você disse que eu era o mais importante. Você me olha dessa forma. Você gosta de mim, certo? — Naruto voltou a perguntar, o olhando curioso. — Por isso fica tão nervoso?
Não respondeu com palavras. Se aproximou devagar, testando, sem largar os olhos do outro. Tentou ignorar as mãos que Naruto deixara cair apertadas em seus antebraços quando as soltara. Ele ficou muito tenso, mas logo relaxou.
Ele está tentando. Percebeu. Ele ainda tem receio de ser tocado, mas está tentando.
Segurou-lhe o rosto, se inclinando e beijou sua testa, seu rosto, devagar, testando as reações, dando espaço. Beijou a ponta do nariz pequeno, queixo, e só então testou os lábios devagar.
Era como beijar um boneco, sem reação a princípio. Com um leve arfar ele finalmente se moveu, as unhas cravaram em seu braço. Primeiro foi um contato leve, como se memorizasse os lábios do outro com os seus suavemente, passando os polegares nas bochechas frias. Sentiu a respiração rápida contra a sua.
— Não feche os olhos. — Sussurrou a milímetros de boca. — Veja que sou eu com você.
O outro assentiu, os olhos que haviam começado a desfocar, retornando.
Itachi o beijou, primeiro um selo, depois aprofundando o beijo. O garoto se ergueu na ponta dos pés quando agarrou a nuca loira, devagar, o puxando para ainda mais perto. Ele tremia, os dedos o apertando com força, mas não fugiu. Em algum momento o corpo dele relaxou e deixou os olhos tombarem, os fechando. Itachi fez o mesmo, sorrindo por entre o beijo.
As mãos largaram seus antebraços e as sentiu abraçando sua cintura, levemente. Levou os dedos de uma mão ao rosto frio e pequeno, acariciando-o, a outra descendo pela coluna, devagar. Só então sentiu a mão em seu peito, fazendo pressão leve para que o soltasse.
Soltou-o com alguns selos e suspirou, olhando a expressão levemente atordoada, os olhos azuis piscando molemente. Puxo-o levemente para um abraço, beijando sua testa.
Por um momento os braços de Naruto ficaram inertes. Tranquilizou-se quando o outro não fugiu de seu abraço, e o retribuiu um tanto apertado. Beijou sua cabeça, deixando o queixo ali e não controlou um sorriso. Depois de tudo que acontecera na noite, toda aquela confusão, aquilo era a melhor coisa que havia acontecido.
Ficou ali, acariciando as costas do outro de leve, em círculos de forma protetora. As mãos de Naruto o apertaram mais, mesmo que ele estivesse tão calado.
— Acho que isso responde. — Falou baixo para o Naruto e viu um movimento de cabeça em seu peito, que deveria ser um sim, seguido de um resmungo.
— Itachi, Ibiki está querendo falar com você, o recado de 'ouça' se concretizou e o fato que a polícia encobria as coisas dos clãs saiu na impren...Oh, me desculpe. — Itachi virou a cabeça e encarou com raiva Kakashi que vinha no corredor, encabulado com a cena que atrapalhara.
— Mande-o esperar.
Naruto o empurrou e teve que soltá-lo com um suspiro frustrado.
— Pode ir. — Naruto murmurou sem fitá-lo, se afastando e olhando pela janela.
— Ele está insuportável. Manchar a reputação da polícia é um caos diante da situação e...
— Ok, Hatake! — Falou encarando o outro com frieza que engoliu em seco. — Volto logo. — Falou para o perfil do outro, incerto, e o viu assentir.
Suspirou e saiu pelo corredor no encalço do outro que sumiu de sua vista mais que depressa. Já virara quando ouviu a voz.
— Itachi! — Virou e viu Naruto o encarando, o rosto sério. — Sasuke tinha razão.
— Que eu sou cético? — Perguntou se fingindo de confuso, mesmo que soubesse do que o outro falava. Naruto se voltou para a janela, parecendo encabulado.
— Não cretino, a outra coisa.
Itachi sorriu.
— Tudo bem. Eu volto logo. Não saia daqui. — Disse se virando com pouca vontade, um sentimento ruim lhe tomando. E com isso não ouviu a voz murmurada e triste.
— Desculpe, Itachi.
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Itachi estava impaciente.
A situação não era nada boa. Várias fichas e inquéritos sigilosos haviam ido para na internet, incluindo as transações de conta do antigo delegado na época, o que incluía bastante dinheiro vindo dos Uzumaki.
A polícia estava manchada e o delegado, que não ouviu os apelos de Naruto, havia sido torturado mais do que qualquer vítima até então, antes de perder as orelhas.
Quando se livrara de Ibiki, tentou achar Naruto no corredor, mas não o viu. Só quando pegou seu celular para ligar para ele, o coração apertado, viu que sua carteira não estava ali. Nem as chaves do carro. Arregalou os olhos, e ao correr os olhos pelo corredor, ali, na janela onde o beijara, estava a carteira no parapeito.
Antes mesmo que a abrisse já sabia que todo seu dinheiro havia sumido. Ele a havia tirado de si durante o beijo. Por isso ele estava tão estranho.
Por isso ele o beijara.
Naruto havia fugido.
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