Capítulo XX - Quinta Estrofe
Olhai Anjo, olhai!
Olhai onde todos não o podem...
Sufocados em coisas pequenas...
Sufocados em palavras pequenas contra ti.
Olhai meu Anjo, apenas olhai.
ERA UM LUGAR BRANCO.
Ao menos foi o que pensou até notar a névoa: leitosa, espessa brotando do chão. Ouviu o som do piano em uma melodia conhecida e triste, o guiando pelo o que parecia um corredor e então uma porta.
Girou a maçaneta gelada e estava na sala de música do tio. E lá estava ele, no piano, igual ao seu último natal.
— Sasuke.
Seu irmão levantou a cabeça sem deixar de tocar, um breve curvar de lábios em convite. Caminhou até ele, sentindo aquela névoa gelada o puxando em direção contrária, de tão densa. Tudo parecia gelado, sem vida. O chão coberto de lodo e mato, abandonado. O piano tombado.
Sasuke ainda tocava.
Sentou-se ao lado do irmão. Por mais que tentasse, não conseguia reparar em muito além de suas mãos deslizando no teclado sujo de terra. O rosto dele parecia borrado, mostrando apenas sua palidez e lábios rachados.
Mesmo sem conseguir ver seus olhos, ele podia os sentir nele.
— Finalmente veio, Ni-San.
A voz ainda era a mesma. Tão rouca quanto a sua, mas ainda mais viva, com sua eterna veia sarcástica. Sentira tanta falta de voz de Sasuke, era difícil lembrar dela claramente nos últimos tempos.
— Sasuke... — Só conseguiu repetir o nome e erguer a mão para tocá-lo. Por um segundo, pensou que não conseguiria, que ele iria sumir, mas sentiu a pele fria do rosto do outro com os dedos. O som do piano parou e teve sua total atenção, a mão na sua, acomodando-a em seu rosto.
— Me perdoe. — Murmurou. — Me perdoe por não ter chegado a tempo. Me perdoe por não...
— Você sempre se desculpa pelas coisas erradas. — Seu irmão replicou. — Você chora pelas coisas erradas. Por coisas que não tem volta.
A mão agarrou na sua.
— Chore por você. — Itachi o olhou surpreso enquanto o mais novo tombava a cabeça em seu peito, sentado em frente a si, em um gesto que não fazia desde que era muito pequeno. — É tão frio aqui dentro, sempre frio demais.
—Aqui dentro... — olhou ao redor confuso, e imagens dançavam na névoa, escuras e sombrias.
— Dentro de você, Itachi. – O rosto dele o fitou com tristeza, agora claro, sem névoa alguma. — Tudo parecia morto. Até agora.
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— NÃO! NÃO!
Abriu os olhos assustado e foi golpeado no peito. Percebeu que ainda estava abraçado a Naruto, deitado de lado na cama e ele tentava o empurrar desesperado, o esmurrando.
Bastaram segundos para notar os olhos azuis ainda estavam fechados.
— ME SOLTA!
A voz rouca estava aterrorizada. Itachi, ainda grogue, rolou por cima dele para deter seus movimentos, antes que machucasse a si mesmo. Segurou suas mãos contra o colchão, imobilizou suas pernas com facilidade. O peito de Naruto subia desesperado, enquanto ele se debatia.
— Acorde. — Chamou firme. — Volte para mim.
Repetiu pacientemente muitas e muitas vezes, a voz firme suplantando os gritos que perdiam a força, até que os olhos azuis se abriram olhando tudo ao redor, assustados, ainda presos em imagens que ele não sabia quais.
Ouviu batidas na porta antes que ela se abrisse. Olhou por cima do ombro e viu Kurenai e Shisui na porta, o homem com uma arma e olhando ao redor. Itachi riria se não fosse a situação. Ao que parecia, nenhum dos dois estava dormindo antes, e bem podia imaginar porque estavam juntos ao que parecia, no meio da madrugada.
— Eu resolvo.
O primo assentiu e Kurenai o puxou pelo braço lhe lançando um olhar preocupado antes de fechar a porta.
— Naruto. — Voltou o olhar para baixo e viu os azuis se focando aos poucos em si, piscando molemente.
—Não me deixe sozinho com eles. — Ele repetia baixo, as mãos sem parar de lutar de modo fraco, a voz arrastada.
— Não há ninguém. Você está seguro. — Repetiu de forma suave, largando os punhos soltos na cama e tocando uma mão no peito do outro, sentindo o coração disparado. — Eles não estão aqui.
Eles estão mortos. Eu mesmo os matei.
— Não me machuque. — A voz saiu pequena, assustada. — Por favor.
Itachi fechou os olhos com força, com toda a raiva que sentia, tentando controlar-se.
Ouvi-o balbuciar até que ele se calou abruptamente, ficando com o corpo tenso.
Abriu os olhos e viu os azuis confusos, totalmente desperto. Se afastou devagar e os dois fitaram-se com cautela. Naruto demorou algum momento para conseguir total claridade. Quando a conseguiu ele pareceu medir a proximidade dos dois, a testa franzida.
— O que estava fazendo?
Itachi quase riu com o tom desconfiado, se sentando de frente a ele sobre os joelhos na cama. Naruto se afastou mais. Itachi não se incomodou, esperando uma reação mais forte do que essa.
— Te acordando. Você teve um terror noturno.
Itachi falou devagar vendo que o outro estreitava os olhos azuis.
— Podia ter me dado um tapa, não precisava ficar em cima assim.
— Vou lembrar da próxima.
Os olhos azuis se desviaram para o colo após algum tempo, uma expressão cansada tomando seu rosto. Com certeza se lembrando do que havia acontecido antes de dormir. Os ombros ficaram tensos de repente, e então os azuis focaram no computador na mesinha, a face pálida.
— Você...viu?
— Sim. — Itachi suspirou e viu Naruto assentir devagar com sua resposta.
— Quem diria, Kyuubi sabe jogar bem não sabe? — Havia um pequeno sorriso amargo em seu rosto, os olhos ainda vazios. — Acho que ele cansou de matar pessoas próximas, deve ter se tocado que não sobraram muitas...não se mata quem já está morto.
Itachi o olhava sério, sem emoção nenhuma. Ele ainda não havia contado sobre Tobirama e Jiraya, com tudo que havia acontecido no dia anterior.
— Eu devo estar dando algum trabalho.
— Naruto...
— Se for para desenterrar coisas do passado, ele tem bastante material para foder comigo.
— Naruto! —Itachi suspirou. — Não precisa fingir para mim, pensei que havíamos superado isso.
O garoto desviou os olhos e apertou os punhos nos lençóis.
— Eu sei, porra. — disse com raiva.
— Vão esquecer disso em algum momento, sempre esquecem.
— Eu estou me fodendo para eles. — Naruto rosnou. — Eu não preciso que tente me fazer sentir melhor.
— É meu trabalho. Sou psiquiatra.
Para surpresa de Itachi, isso o fez rir. Arqueou a sobrancelha, sem saber que havia falado algo engraçado.
— Você é mesmo estranho, psibláblá. — Naruto balançou a cabeça e então se jogou na cama, olhando o teto. — E essa vida é uma merda.
— É, eu sei.
Naruto virou-lhe as costas e se deitou de lado, ambos absorvendo o silêncio. O garoto não comentou nada quando ele deitou a seu lado para dormirem, ficando apenas levemente tenso e lhe lançando um olhar desconfiado por sobre o ombro.
— Minha cama. — O Uchiha frisou, um tom divertido na voz. — Se quiser vai para a sua.
A única resposta do outro foi voltar a se virar para dormir, encolhido.
Itachi o esperou resvalar para o sono, e só então o trouxe para perto novamente. No mesmo momento sentiu o corpo dele relaxar.
Ele mesmo não dormiu, apenas o observando, o rosto em branco fitando o outro que se agitava durante o sono inquieto. Quem visse de fora, seria impossível definir o que ele pensava naquele momento.
Ele ficou assim até o sol nascer.
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Pela manhã Itachi recebeu uma ligação de Ibiki logo cedo. Os exames vieram do laboratório e o globo ocular havia dado match com Tobirama. Uma entrevista com o pessoal do hospital em que trabalhava lhe deixou saber que o homem não era visto há mais de dois dias. O sangue nos apartamentos, de Tobirama e Jiraya, pareciam ser de mais de uma pessoa. Eles estavam aguardando a análise.
Eles estavam no telefone quando o pacote chegou, dessa vez foi enviado diretamente para a delegacia. Em meio ao caos que estava Konoha depois dos vídeos do dia anterior, Ibiki ficava feliz de passar isso para a equipe de Itachi e lhe ceder mais pessoas para ajudá-lo.
A caixa foi diretamente para Sakura, quando Itachi chegou na delegacia o teste da amostra já havia sido enviado. O envelope com a quinta estrofe estava lá, acompanhado de uma caixa um pouco maior.
Dentro havia uma língua cortada e um bilhete com apenas uma palavra: "Fale."
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Os testes do laboratório foram agilizados, em 4 horas eles tinham o resultado.
Itachi esperou a reação de Naruto cuidadosamente. A parte por lhe mostrar os 'presentes', ele não lhe escondeu nada. Kurenai havia o olhado com reprovação, os outros da equipe não haviam aprovado, mas Itachi estava liderando a operação, era sua escolha.
Era também a vida de Naruto, a família dele.
Itachi sabia que Naruto, que nunca teve controle em nada sobre a própria vida, merecia ter controle ao menos nisso.
Com o rosto ainda mais pálido, a testa franzida e olhos azuis turbulentos, ele ouviu tudo silenciosamente. Itachi ignorou a temperatura do ambiente ainda mais baixa, ou como os olhos dele vagaram para um ponto atrás de Itachi, então para outro na janela.
— Eles não estão mortos.
Itachi não esperou a veemência na afirmação.
—Não os encontraram, mas tem que entender que a possibilidade é alta.
— Eles não estão mortos. — Naruto negou com a cabeça. — Se eles estivessem eu... — Ele pausou e se encolheu no sofá. — Eles estão vivos.
Itachi não sabia o que dizer sobre isso. Ele poderia tentar ajudá-lo sobre a negação, mas não sabia se na situação faria mais mal do que bem.
Os corpos não foram encontrados, mas ninguém escapou de Kyuubi até então.
— O olho, ele é mesmo...?
— De Tobirama. — Itachi confirmou suavemente. Naruto o fitou com olhos largos e parecendo incertos, perdidos. Algo havia mudado nele depois de ontem, pelo menos entre os dois.
— A língua?
— De Jiraya.
Naruto fechou os olhos e se abraçou. O gato saltou no sofá e se enroscou nele, o fazendo soltar o ar devagar, o corpo menos tenso.
Itachi fechou os punhos para não o abraçar.
— Eles estão vivos. — Ele falou novamente. — Eu... eu não sei se é uma coisa boa ou não, considerando o quanto eles podem... — Ele balançou entendendo o pensamento.
Entre estarem sendo torturados e estarem mortos, havia uma situação menos dolorosa.
— Você acha... que tem mais? — Naruto sussurrou, as mãos passando no melo mesclado, o rosto ainda pálido demais. — Como... como o vídeo?
— É uma possibilidade.
Naruto assentiu: — Okay. Eu... Obrigado. — Encarou o olhar curioso de Itachi. — Por ser sincero.
— Eu disse que seria.
Naruto deu de ombros, a expressão limpa e sem acusação ao falar, apenas resignação: — É, e não seria a primeira vez que mentiriam para mim sobre isso também.
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— Agora sabemos o que significava o 'fale'.
Kakashi empurrou o computador para Itachi assim que o homem chegou na sala da sua casa no distrito, onde a equipe estava instalada. Morino disse que nenhum de seus homens pisaria na casa de Madara Uchiha se não fosse para levá-lo para jaula.
O que nunca aconteceria.
Itachi suspirou cansado. Não era nem mesmo meio-dia e já estava exausto.
Pegou o computador e viu várias páginas abertas com a mesma notícia. Tudo sobre a infância de Naruto. O suicídio do pai, o assassinato da mãe. Havia cópias das denúncias de estupro contra Nagato, uma reportagem completa sobre os assassinatos dos dois membros do clã Inuzuka e Fuuma que o violentaram, o resultado do processo e a ida dele a Suna e a morte de Menma. Eram documentados em detalhes, obviamente removida dos artigos policiais que deviam estar sigilosos.
E por último, que ele era a nova vítima do Kyuubi, com detalhes de tudo o que acontecera, desde os presentes macabros, a morte de Karin Uzumaki.
— Meu Deus... — Itachi empurrou o computador na mesa e massageou a testa, removendo os óculos.
— Anko trabalha no jornal de onde saiu a notícia primeiro. Ela conseguiu atrasar, mas não impedir que publicassem. Saiu há uma hora. Ela me contou que alguém enviou para a portaria do prédio do editor todo o dossiê, e que havia um bilhete rabiscado dentro.
— Fale. — Itachi supôs, respirando fundo.
O homem assentiu.
— Vou enviar Sasori e Deidara para pegar os originais, e se os conheço, eles vão conseguir. Sasori está tentando pegar informações, mas ele parece sumir no ar. Sem rastros...
— Sempre tem rastros. — Itachi replicou
— Está sendo uma caça às bruxas. — Kakashi falou, testando as reações do Uchiha, que parecia mais fora de controle do que de costume. — Algumas pessoas estão apontando para ele. Para o garoto. Como o Kyuubi.
— Esses imbecis não conseguem nem mesmo caçar a pessoa certa.
— Ele é o mais desprotegido. —Ponderou. — Os clãs estão tentando se defender, embora agora não seja apenas Konoha. Eles estão tendo trabalho com toda a imprensa internacional. Kyuubi não apenas expôs a vida do garoto, ela jogou os podres dos clãs, toda a merda no ventilador.
Itachi riu sem humor. Apenas um soltar de ar anasalado, e quando encontrou o olhar do outro, Kakashi notou um brilho perigoso que poucas vezes vira no estoico psiquiatra.
— Ele é do clã Uchiha agora. Se pensam que ele é o mais desprotegido, talvez esteja na hora de mostrar do que nós somos capazes.
E Kakashi apenas confirmou ali o que já desconfiava. Os dois corpos encontrados, o sumiço dos dois homens envolvidos em um dos vídeos em específico. Itachi, o clã Uchiha, estava envolvido de alguma forma.
Não que eu possa o culpar.
E isso o levava a outra observação que vinha fazendo desde que toda aquela operação começou.
— Como eu pensei.
Itachi o olhou esperando uma explicação, já recomposto.
— Seu descontrole. Sua motivação mudou, Itachi. Por anos, desde que conheço você, seu foco foi Kyuubi. Depois do seu irmão isso apenas piorou. — Kakashi se sentou na cadeira de frente para o Uchiha, o avaliando com cautela. — Pegar Kyuubi não é mais sua prioridade, e a razão para pegá-lo não é a vingança, mas para impedir que ele chegue em Naruto. Sua prioridade é ele.
— Eu não estou entendendo você. — Itachi avisou que o outro se calasse com o olhar, mas o Hatake apenas continuou com seu sorriso.
— Ele é do seu clã agora, você disse. Mas algo me diz que não é apenas por ele ser o protegido de Madara agora, mas que ele é o protegido de Madara, por sua causa.
— Kakashi... — avisou novamente, se erguendo e indo para a janela, tentando o ignorar.
— Naruto Namikaze Uzumaki é uma pessoa interessante. Quando se passa por todo o exterior excêntrico e surtado. — Itachi o olhou de forma ainda mais perigosa com isso. — Ele é na verdade bem inteligente. Mais importante, ele é um enigma e você adora enigmas. E ele não tem medo do seu lado mais sombrio ou se importa com você ser emocionalmente constipado. Você age, ele reage. Ele só reage a você, só deixa você se aproximar.
— E onde quer chegar?
Kakashi apenas sorriu, encerrando o assunto.
— Se você não percebeu, o que eu duvido, não sou eu que vou dizer, meu caro Uchiha.
Seja o que fosse que Itachi iria rebater, suas palavras morreram quando a figura loira apareceu no corredor vindo da cozinha. Os olhos azuis sempre cautelosos rodaram a sala até pararem nos dois homens, Itachi de pé perto da janela, e Kakashi sentado em uma poltrona.
Kakashi se surpreendia sempre com as ocasionais faltas de expressão do garoto. Ao contrário das de Itachi, que pareciam um traço familiar, as de Naruto pareciam ser sempre um anúncio de uma tempestade. Os olhos azuis eram turbulentos demais em contraste com sua expressão em branco. Não parecia natural. Não parecia algo dele de verdade.
O garoto caminhou até eles, o ignorando e se sentando no sofá, colocando em silêncio uma caneca de café na mesinha e ficando com a outra que trazia entre suas mãos, sentado espaçoso com as pernas em cima do sofá, como Kakashi já percebera que Itachi odiava.
E deixando espaço evidente para apenas mais uma pessoa sentar-se.
Itachi pegou a xícara na mesinha e ocupou aquele espaço com naturalidade.
O corpo que parecia tenso sobre o olhar de Kakashi, os olhos azuis desconfiados por entre os cabelos cacheados, tudo sumiu naquele momento. Naruto pareceu relaxar, mesmo que houvesse uma distância cautelosa entre os dois. O garoto encarou Itachi em alguma pergunta muda, os olhos estupidamente azuis questionadores.
Kakashi observou ainda, surpreso com o ato, Itachi pegar o computador e o entregar para o garoto que lhe lançou apenas um olhar questionador antes de começar a ler. A expressão curiosa endureceu de imediato. E tudo era silêncio enquanto o outro lia página por página.
Itachi parecia não perder nenhuma expressão do garoto enquanto ele lia todos aqueles esqueletos arrancados do armário da vida dele. Kakashi o conhecia o bastante para saber que ele estava o analisando.
Ao fim, o garoto apenas fechou o computador, o colocando na mesa. Pensativo ele voltou a bebericar o café, olhando pela janela com a testa franzida. Kakashi sentiu um arrepio, como se uma onda fria repentinamente houvesse entrado pela janela, abaixando a temperatura do lugar.
Minutos se passaram e se Kakashi não conhecesse o policial, podia pensar que ele não estava observando o outro. Ainda assim se surpreendeu quando foi Itachi que quebrou o silêncio.
— E então?
O garoto ficou olhando para a xicara em suas mãos e Kakashi pensou que ele iria ignorá-lo, tamanha fora a demora na resposta. Até a voz rouca e baixa surgir rapidamente diante do olhar atento do Uchiha.
— De certa forma, é pessoal. É quase como se ele estivesse querendo...me ajudar. De uma forma completamente errada.
Itachi franziu o cenho.
— Continue.
— Neji e eu não tínhamos a melhor das relações, ele estava sempre tentando... espalhar histórias. Eu recebi os dentes dele, sua boca foi costurada. Karin... — Naruto abaixou o olhar. — A gravidez de Karin foi o que fez Menma ir embora e de certo modo...eu ficar com Nagato. E então...
— O útero foi removido.
Naruto assentiu.
— Tobirama...Tobirama era quem deveria ficar com a gente, não Nagato. Ele sabia sobre os Uzumaki, ele conhecia minha mãe. Eu sei que não é justo, mas uma parte minha sempre pensou que ele... apenas fingiu que não viu nada.
— E então perdeu o olho. Jiraya?
— Jiraya... — Naruto comentou suavemente. — Quando otou-san morreu, Ka-san decidiu que iriamos ficar com ele. Ainda assim quando ka-san morreu, ele não se manifestou.
— Ele não falou nada. — Itachi concluiu. — E perdeu a língua.
E Kakashi entendeu. Olhou Itachi que sorriu de lado para si com um breve olhar.
Aquele garoto... Ele era mais esperto que havia pensado e Itachi sabia disso, por estava o envolvendo tanto na investigação.
Os vídeos, a matéria. Não era apenas para desestabilizar, Naruto. É para punir quem o feriu.
— São oferendas. Isso é tão...
— Fodido. — Naruto o interrompeu, concluindo. —Kyuubi pensa que está me ajudando. Até sobre me matar... A pessoa que... que eu vi quando Menma... — Os olhos dele se tornaram distantes e tristes. — Parecia pensar que me matar estaria me salvando. Talvez não seja a mesma pessoa, mas se Kyuubi pensa assim... é.
Os dois homens trocaram um olhar. O silêncio perdurou por algum tempo, enquanto Naruto parecia ainda abalado ao falar sobre isso.
Foi Itachi quem o cortou, a voz ainda suave.
— A cabeça. Qual a conexão?
— Eu não tenho certeza. — Naruto confessou. — Desculpe.
— Não se desculpe, chibi. Isso foi impressionante.
Naruto virou a cara para Kakashi, mas notou que ele corou levemente com o elogio.
— A sexta vítima, ao qual a cabeça pertencia, foi quando ocorreu a quebra do padrão. — Itachi prosseguiu. — Por alguma razão, Sasuke não a recebeu ou passou pelo ritual dos nove dias. Há um inquérito, sobre a imagem que recebeu no parque.
— Eu lembro disso. A foto. — Naruto tremeu e se abraçou. — Era de um corpo mutilado.
— E sem cabeça. — Itachi completou e Naruto o olhou com olhos largos, piscando surpreso.
— Então aquele corpo...
Itachi assentiu.
— Era a mesma caligrafia dos envelopes. Quando achou sobre as vítimas, a sexta lhe pareceu familiar de alguma forma?
Naruto franziu o cenho, pensativo: — Ele era... um Senju, certo? Ele foi acusado de envolvimento com alunos. Ele se defendeu dizendo que 'perdeu a cabeça.' Ele não me pareceu familiar. Os únicos Senjus que conheci foram a velha louca e Nawaki.
— Nawaki?
Naruto assentiu: — Ele estudava comigo, quando... quando eu ainda morava com os Uzumaki. — Naruto abaixou o olhar. — Ele era meu melhor amigo, ele tentou me ajudar quando... as coisas começaram. — Naruto sorriu brevemente. — Se ofereceu para fugir comigo, me esconder na casa dele. — O sorriso de Naruto morreu. — Ele morreu um mês depois disso.
— O irmão da Tsunade. Ela sabe que vocês dois...?
Naruto assentiu.
Itachi tocou seu ombro com um pequeno sorriso: — Não se preocupe, eu vou olhar isso, ver se tem alguma conexão. Você fez muito bem.
Kakashi observou os dois com certa diversão, principalmente ao notar que o garoto corou com o elogio um pouco mais.
— A parte dessa vez, que parece pessoal. — Naruto prosseguiu, obtendo a atenção dos dois homens novamente. — Nas outras era mais uma justiça geral.
— Justiça? — Kakashi questionou confuso.
— Naruto tem uma teoria que o maldito no começo agia como um justiceiro sombrio. Todos que eles mataram estavam envolvidos em algum crime que a justiça deixou escapar.
Kakashi olhou para o garoto, que cruzou os braços, defensivo.
— É só uma teoria. Tem algo sobre os clãs também. Desde a primeira morte, ele estava os escolhendo pelos clãs.
Itachi assentiu. Kakashi já havia ouvido ele falar sobre isso, sobre como não havia uma morte repetida dentro de um mesmo clã.
— Isso não explica a morte de Sasuke e o garoto Hyuuga, eles não eram criminosos. — Itachi testou, e Kakashi não sabia o que ele estava pensando. O garoto franziu a testa. — Nem o possível envolvimento nas mortes na sua família.
— Não, não explica. — O garoto se encolheu um pouco. — A não ser...
Ele parou e franziu mais o cenho, como se ideia tomasse forma. Kakashi prendera a respiração e Itachi o instigou.
— Continue?
— Eles tinham algo em comum. — O garoto o olhou de forma significativa.
— Você. — Itachi concluiu. — E ele mandou aquela imagem nessa época, quando ele mudou. Ele já sabia que queria você. Ele já havia escolhido você. Mas por quê?
E essa era a grande questão.
Kakashi os interrompeu, apesar de estar achando interessante os dois trabalhando assim. Eles faziam um belo par. E Itachi. Itachi estava sondando pistas, na vítima. Em um garoto traumatizado por fatos recentes. Isso era pouco ortodoxo, mas também... Uchihas.
—Procedimentos diferentes, apenas nesses clãs. Sendo que perfis como ele nunca deixam um ritual de lado.
Itachi assentiu: — Prossiga.
— Isso pode significar, que esse tal de Kyuubi está envolvido com um desses clãs. Ele pode até ser de um deles. — Ele olhou para Naruto. — Alguém da sua família.
Itachi franziu o cenho, entendendo onde ele queria chegar: — Você tem alguém em mente.
Kakashi o olhou seriamente, uma expressão óbvia no rosto. Ele não era o único da equipe que desconfiava de Nagato. Principalmente com essa obsessão óbvia do assassino com Naruto. Então havia o ódio por Sasuke e os pais e irmão do garoto, Kakashi não pensava que fosse um absurdo pensar que Nagato estava envolvido.
— Uma das páginas. — Naruto apontou para o computador. — Falou sobre Akihiro Uzumaki. Sobre talvez ser ele. Por quê?
— Você não sabe? — Kakashi perguntou curioso. Naruto negou. — É seu avô, Naruto. O pai de Kushina e Nagato. Ele desapareceu anos atrás, muitos acreditam que ele está escondido depois de acusações sobre ele estar envolvido na morte da sua avó. Ninguém sabe o paradeiro dele.
— Eu não sabia disso. — Naruto piscou, surpreso. — Kami, essa família é mesmo fodida.
Ele falou isso tão sério. Kakashi tentou não rir, apesar da situação.
— Faz sentido não saber. Você devia ter uns dois anos na época, se muito.
— Dois anos? Isso foi quando eu saí do distrito, não foi? — Ele olhou Itachi para confirmação. — Talvez oka-san foi embora por isso, com medo de ele vir atrás da gente.
— Talvez. — Itachi ponderou. — As chances de ele estar ainda no Japão são muito poucas, no entanto. Se estiver vivo.
— Eu espero que ele esteja no inferno. — Naruto falou abruptamente. Os dois o olharam surpreso. Naruto não os fitou ao continuar. — Nagato...é exemplo do ciclo de abuso.
— Você quer dizer que...?
Naruto assentiu.
Os dois policiais se olharam com isso. Itachi não parecia surpreso, o que dizia que provavelmente havia tudo isso no dossiê de Sasuke.
Kakashi se perguntava quanto mais horrível poderia ficar a história dessa família.
— Meu café esfriou. Merda. — Naruto interrompeu a troca de olhar dos dois de forma abrupta.
Kakashi não resistiu e deu uma pequena risada. O garoto tinha uma carranca um tanto ridícula na cara, olhando a xícara.
Itachi balançou a cabeça.
— Kakashi. Chame os outros. Ligue para eles. — E voltou-se para o loiro que olhava o café desolado. — E traga mais café.
— E comida de gato. — Naruto apontou para o gato que dormia na mesa da cozinha.
— Não sou seu empregado, chibi.
O garoto sorriu falsamente, olhos azuis largos e inocentes: — Por favor, Hatake-san.
Kakashi revirou os olhos, mas obedeceu.
Aquilo fora a coisa mais estranha que já tinha visto.
Eles se merecem.
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— Preciso que me passe o nome e endereço de pessoas que estejam de algum modo envolvidas com você nos últimos meses. Não podemos desconsiderar que ele pode usar mais alguém para lhe atingir.
Naruto pareceu ponderar isso, mas logo assentiu.
— Eu não me envolvo com muita gente além da família, e considerando...— Ele pausou, a expressão perdida. — Jiraya... ele é difícil de encontrar, sempre viajando. E Tobirama é respeitado em Kiri, pelo trabalho no hospital, ele é um sobrevivente. Eu pensei que eles estariam seguros. Eu deveria ter... avisado aos dois. Se ao menos eu...
— Naruto, não foi sua culpa.
O garoto desviou o rosto, mas pela expressão dele Itachi sabia que ele não acreditava nisso.
—Tem a velha louca, não sei se conta. — Naruto o interrompeu antes que pudesse retornar ao problema. Itachi suspirou com a mudança de assunto, mas assentiu.
— Vou assegurar que Tsunade vai ficar segura. Alguém mais?
Naruto iria negar, mas parou com um gesto, a boca um pouco entreaberta. E curiosamente, pareceu constrangido.
— Hinata Hyuuga.
E se calou. Itachi arqueou uma sobrancelha.
Para ele ficar tão constrangido assim... O pensamento foi completamente incomodo, os ciúmes o surpreendendo com a intensidade do desagrado que o tomou.
— Sua namorada? Foi irresponsável não dizer sobre ela antes — Sua voz saiu cortante, até para ele. — Seria a primeira pessoa a quem o Kyuubi iria usar para atingi-lo.
— Ela não é minha namorada... — Ele cortou rápido. —Obviamente.
Itachi não deu muito crédito, porque ele estava corado. Ela podia não ser namorada, mas obviamente ela era alguma coisa.
— Não é da sua conta também.
— Claro que é, toda sua vida é da minha conta.
Naruto o fitou aturdido e Itachi acrescentou rapidamente.
— A partir do momento que me dispus a ajudá-lo.
O outro virou o rosto, mas não comentou mais nada. E no fundo, Itachi também não queria saber de detalhe nenhum daquilo. Iria apenas mandar Kakashi colocar alguém para ficar de olho na garota.
— Alguém mais que deveria saber?
— A não ser que ele queira profanar túmulos, não. Ele não se meteria com você.
O garoto pareceu não notar o que tinha dito por último. Ou no que isso implicava.
Naruto disse aquilo tão naturalmente, sem perceber, apenas voltando a fitar a janela e devanear do jeito dele. Logo após falar que considerava Itachi alguém próximo o bastante para entrar naquela lista.
Quando Kakashi voltou para sala, colocou o café na mesinha e se sentou de volta na poltrona, esperando os outros chegarem. Escondeu um sorriso ao notar que os pés do garoto, que antes estiveram cautelosamente distantes, agora estavam, sem que eles aparentemente percebessem, aninhados debaixo dos joelhos de Itachi.
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Hinata suportara por todo o dia ouvir as piadas, sussurros pelos corredores, comentários maldosos. Se toda Konoha estava em polvorosa com a divulgação explícita de um estupro envolvendo três poderosos clãs, a escola parecia estar vendo tudo aquilo como o assunto do ano.
A morte de Neji Hyuuga e teorias conspiratórias foram esquecidas. Agora todos sabiam que Naruto era um Uzumaki, membro de um dos três clãs mais poderosos de Konoha. E agora todos sabiam que ele havia sido violentado quando criança, estavam lendo a vida dele exposta em cada página da internet.
Ela realmente tentou ignorar os comentários e se preocupar apenas com Naruto, que não atendia o celular desde que ela lhe avisara sobre a publicação do vídeo.
Ela nem mesmo conseguira assistir toda aquela merda de vídeo, e vomitara tudo o que tinha para vomitar. Se aquilo era apenas a ponta do iceberg, ela não sabia se queria saber mais do que aquilo. Só queria encontrá-lo.
Claro, ela não teve tanto autocontrole por muito tempo.
Quando um dos imbecis sem cérebro daquele maldito colégio veio fazer uma piada para ela, como se ela fosse ficar feliz sobre a situação porque 'odiava o Namikaze', não pensou duas vezes, e apenas ouviu o barulho dos ossos do nariz quebrando quando a bandeja de metal que segurava do refeitório teve o impacto no rosto do adolescente.
— Alguém quer comentar mais alguma coisa comigo?
Perguntou calma olhando ao redor, a bandeja ainda na mão enquanto todos a olhavam.
Do outro lado do refeitório, enquanto jogava a bandeja com barulho no chão, pegava sua mochila e saia ignorando o burburinho, ela encontrou um par de olhos que não a olhava com surpresa ou julgamento. A única pessoa que durante o dia pareceu tão enojada quanto ela. E quando Iruka Umino lhe deu um aceno de leve em apoio, ela acenou de volta antes de ir para casa.
Ela iria descobrir quem havia feito aquilo com Naruto. E não ia deixar barato.
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Quando era criança, o sonho de Sasori era ter uma fábrica de brinquedos. Ele era realmente bom em construir brinquedos. Infelizmente ele era melhor em invadir sistemas bancários e manejar uma arma de fogo.
Era nisso que ele tentava pensar enquanto tentava achar onde começava o novelo daquele nó completo que aquele assassino (ele preferia chamar de desafio interessante) havia deixado para trás.
Ele não tinha ideia de quem era Kyuubi. Homem ou mulher, velho ou jovem. Ele só sabia que era a mente mais complexa e desafiante que já encontrara em seus 30 anos de vida.
— Quanto tempo vai demorar nisso?
— Cala a boca, Deidara.
O loiro bufou, enquanto olhava para fora a rua. Não entendia que merda o outro fazia naquele computador, se já havia vasculhado todos do lugar por horas e não encontrado nada. O lugar era agitado, e ninguém havia ajudado muito em indicar pessoas suspeitas, já que todo mundo que andava por lá eram tão estranhos que parecia piada ter que decidir que era mais suspeito.
Olhou por cima do ombro e viu as imagens de câmeras do computador, erguendo a sobrancelha.
— Pensei que não houvesse câmeras aqui.
— São das ruas perto. — O ruivo respondeu seco.
— Hn...invadindo o sistema de segurança de trânsito, mau menino.
— Interessante.
O ruivo encarou a tela com uma expressão de poucos amigos, que fez o outro lhe olhar animado, pensando que finalmente havia chegado a hora de alguma ação. Ficar perto de Sasori parecia castigo.
— O que foi?
— Alguém invadiu meu computador.
Deidara quase caiu da cadeira com o susto.
— Isso é meio impossível, você é meio que o senhor-ninguém-me-derruba-em-invadir-sistemas e essa baboseira toda.
— Alguém invadiu meu computador, o sistema de segurança das ruas, e está controlando todos os computadores do cyber.
— Quem diabos pode fazer isso?
Sasori esticou os dedos e olhou seriamente para a tela e então sorriu de lado.
— Vamos descobrir.
Deidara revirou os olhos. E essa era a maneira de Sasori dizer que a coisa tinha ficado séria.
— Podíamos só explodir esse lugar todo.
— Cala a boca, Deidara.
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Seis, sete, oito e nove.
Quatro dias e tudo terminaria.
Nove, oito, sete e seis.
Quatro dias, e o ciclo se encerraria.
E vai terminar como tudo começou, exatamente com a razão de tudo ter começado. De Kyuubi existir.
Sorriu para a escuridão. O cheiro de sangue não lhe incomodava. Sempre esteve presente demais para o incomodar agora.
Acendeu a lanterna. Iluminando na parede os painéis que cobriam tudo, os desenhos macabros que já lhe eram tão familiares.
Quatro dias.
Seis, sete, oito.
E nove.
Notas finais
Muita gente me perguntando sobre as mudanças. Foi como eu disse, alguns desfechos podem mudar. Serve para mais emoção em quem já leu, vocês não terão certeza do que vai mudar (sim, estou rindo. malignamente). Tudo o que tenho a dizer é: meus lábios estão selados.
E parem de soltar spoilers para quem não leu ainda nos comentários, por favor. Tira a emoção da coisa.
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