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Capítulo XVI - Teoria

 Dize a minha alma finda se no paraíso verá de novo um dia, e para

sempre, sempre, Lenora e seus encantos imortais!


Edgar Allan Poe

A VIDA DE KARIN, PELO O MAIS LONGE QUE ELA CONSEGUIA LEMBRAR, SEMPRE FOI UM TERRÍVEL PESADELO. Até Menma e Naruto aparecerem, ela nem mesmo sabia que poderia haver algo diferente daquilo. Não que a vida deles dois tenha sido particularmente fácil até eles a conhecerem, e depois tomou um rumo ainda pior, mas ao menos antes disso Menma sabia o que era ter alguém cuidando dele. Ele a ensinou que ela merecia mais.

Para Karin, que nem mesmo lembrava da própria mãe, os primos foram os primeiros a tratá-la como um ser humano, como alguém que poderia ser amada. E Karin os amava totalmente em retorno. Os três eram um time, juntos eles conseguiriam qualquer coisa e quando eles conseguiram recuperar Naru ela pode finalmente, pela primeira vez na vida, respirar em alívio. Mesmo com os Uzumaki ainda em Konoha, ainda em poder, eles poderiam ficar bem. Sasuke os ajudaria, os Uchihas eram toda a proteção que precisavam.

Karin achou que finalmente tudo daria certo, que poderia finalmente ser feliz com seus dois meninos. Ela protegeria os dois, como prometeu no primeiro dia que os viu. Eles ficariam bem.

Então como tudo deu errado daquela forma?

Menma, por quê?

— V.você tem... você tem certeza?

Sua voz soou estranha aos próprios ouvidos, mas a afirmativa do policial não.

Karin, por mais horrível que fosse pensar nisso, havia esperado que o resultado da necrópsia de Menma fosse provar que estavam errados, que ele não havia tirado a própria vida. Mesmo que isso fosse significar que alguém havia o matado, pelo menos isso significaria que ele não...

Ela não conseguia nem terminar o pensamento.

— Uzumaki-san, nós...

Os policiais continuavam falando, mas Karin não os ouvia. Porque Menma estava morto, ninguém sabia onde Naruto estava mesmo depois de uma semana, ela tinha que organizar a cremação agora que o corpo havia sido liberado.

E Menma, Menma realmente...

—... a possibilidade de encontrar um corpo e...

Isso a fez erguer a cabeça de onde estava sentada no sofá da sala da delegacia, abraçando o próprio corpo para não terminar de se partir.

— Corpo?

O policial da esquerda olhou para o colega com um olhar mortal pelo deslize da palavra, um pedido de desculpas em seu rosto pela insensibilidade. Karin não queria um pedido de desculpas.

Ela queria que encontrassem Naruto.

— Não há corpo, ele está vivo. Ele sempre escapa, desde que ele...desde que saiu de Suna. Ele pode ter se perdido e... ele não sabe sobre Menma, Kami, ele não sabe sobre Menma ainda então eu...

— Uma semana é muito tempo para uma criança como seu primo. Temos que trabalhar com a possibilidade de...

— Ele não está morto! — Karin cortou o policial com um grito, seu rosto bonito contorcido. Ela não pensaria em Menma agora, ela não pensaria em como Menma... — Naruto não está morto.

Os dois se entreolharam e Karin sabia aquele olhar. Era como sempre a olhavam, como se não soubesse do que estava falando por ser muito quebrada, como se fosse frágil demais para ouvir a verdade, para aceitar a verdade.

Karin não era frágil, se fosse frágil ela não teria sobrevivido.

Naruto também não era frágil, Naruto era o mais forte entre os três.

Ele está vivo. Ele vai voltar para casa.

O resto da conversa passou em um borrão. Papéis foram assinados, informações sobre as buscas e ligações para organizar a cremação. Ela postergaria o velório o máximo, até Naruto aparecer. Ele iria aparecer. Naruto iria se despedir do irmão. Sasuke disse que ajudaria e Sasuke nunca voltava atrás com o que falava.

Naruto iria aparecer, porque se ele não aparecesse Karin estaria sozinha, porque Menma... Menma...

Sentada no sofá da sala, ignorando o local no chão com a mancha de sangue que não saiu totalmente da madeira, Karin segurou a foto. A última foto deles. Seu olhar passou para o sorriso de Naruto, o olhar raro de tranquilidade de Sasuke e por último ele. O sorriso largo no rosto.

Por que não me disse que estava doendo tanto, Menma? Por que não me disse...

Karin entendia. Ela realmente entendia. Tudo pelo o que ele passou... ela estava lá. Mas ela achou que as coisas estavam melhorando, de verdade. Como ela não conseguiu perceber o nível de dor dele para fazer aquilo?

Quando o telefone tocou, ela quase não o ouviu. O nome de Sasuke piscou na tela e engoliu a vontade de chorar, colocando os óculos de volta na cara. Ela tinha que ser forte agora. Não era hora de se quebrar.

— Sasuke.

— Eu o encontrei.

Karin demorou um segundo para compreender. Seus olhos se arregalaram.

—Ele está...

—Vivo. Ele está vivo, Karin. Apenas com hipotermia e alguns poucos machucados. Vou te passar o endereço do hospital... — Karin já estava na porta antes mesmo de ele terminar a falar, a foto ainda segura na sua mão.

A voz de Sasuke saiu em um sussurro de alívio. —Ele estava no beco perto da sua rua. — Sasuke falou com alguém fora do telefone por um segundo. Provavelmente um dos médicos ou a polícia. — Ele estava voltando para casa.

Karin sentiu as lágrimas escapando, seus olhos encontrando o primeiro táxi na rua.

Naruto voltou para casa.

Ela não havia perdido os dois.

......................................................................

Karin piscou os olhos, deixando as memórias escaparem.

Ela lembrava daquele dia e dos dias que seguiram. De como Naruto havia ficado, do medo que ele fosse odiar Menma, mas a realidade foi ainda pior, porque Naruto, de alguma forma, achava que a culpa da morte de Menma era dele.

E então o medo dele, o medo de tudo. Ele parecia apavorado, mas não conseguia explicar a razão. Sasuke havia passado dias com eles e feito perguntas que Karin nunca entendeu sobre o comportamento de Naruto. Ele estava tentando ajudar e Karin realmente achou que ele conseguiria, que ele alcançaria onde ela não conseguia.

E então Sasuke estava... morto.

Kami, por que estou lembrando disso justo agora? Eu deveria estar trabalhando, mas...

Seu telefone apitou e viu uma mensagem.

Eu estou bem, não precisa pirar.

Suspirou em alívio, apertando o número e esperando tocar. E esperando mais um pouco.

Soltou um som frustrado, seu gato se assustando e pulando da mesa.

Então por que não atende o telefone?

Nos últimos dias, ela se pegou relembrando aqueles terríveis dias com frequência, algo que a deixou inquieta. Para piorar, Naruto não estava atendendo o telefone.

Não era algo tão incomum e Jiraya havia dito que ele estava bem da última vez que se falaram, mas ela havia recebido uma ligação da seguradora que havia avisado sobre a moto dele ter sido encontrada abandonada. Jiraya havia a assegurado que ele estava bem e ele havia respondido seu texto, mas sem explicações sobre a moto e porque ele não atende o telefone.

Karin não conseguia apenas esperar e dar espaço a ele.

Ela havia dado espaço a Menma e no fim...

Ela tirou os óculos e suspirou, seus olhos cansados pelas horas em frente ao computador preparando o último artigo para a revista.

Eu não sei o que fazer, Menma.

Ela queria Naruto ali com ela, onde podia ficar de olho nele. Não em Konoha, Naruto nunca deveria ter voltado para aquele lugar, mas Karin não podia fazer nada para o convencer a ficar longe de lá.

Talvez se eu...É o que posso fazer.

Seus olhos foram até a parede, para a foto deles juntos, a última foto.

Ela olhou o horário e suspirou. Pegou o celular e ligou, as chaves do carro já na mão.

Ela havia perdido Menma por não estar atenta.

Não faria a mesma coisa com Naruto.

.........................................................................

Naruto jogou o telefone na mesa após responder a mensagem e ficou vendo a luz piscar na penumbra, o nome de Karin na tela por longos minutos, o som da vibração ecoando na madeira.

Virou as costas, deitando na cama.

É melhor assim.

Ele não poderia atender, Karin sempre foi muito boa em arrancar coisas dele e de nenhuma forma ela poderia se quer cogitar o que estava acontecendo na sua vida no momento, o tamanho da bagunça em que estava metido. Sua prima iria surtar e sair de Kusa no meio da madrugada, largar tudo e vir para Konoha. O que apenas a colocaria em perigo, se não com os Uzumaki, com o desgraçado que estava atrás dele.

E Naruto não poderia arriscar Karin.

Abraçou o travesseiro, olhando para a parede. Quando a vibração parou deu um suspiro de alívio. Ignorou o olhar de reprovação de Menma sentado na poltrona.

— Ela só vai se preocupar à toa.

"À toa, otouto?"

Naruto ignorou também o sarcasmo. Resolveu focar em Sasuke, que entrou no quarto.

Ele parecia tão mais sólido agora, não a sombra de dias antes.

Naruto observou os maneirismos dele enquanto rolava os olhos para Menma, que estava agora pendurado no armário. E mais uma vez Naruto notou o quanto Sasuke e Madara eram parecidos. Não exatamente fisicamente, além das características de todo Uchiha, claro. Era algo na postura, embora Madara fosse claramente mais... teatral.

Sasuke sempre foi confiante e um tanto excêntrico. Naruto lembrava de o ver carrancudo lendo um livro de cabeça para baixo na poltrona da casa deles porque 'precisava pensar.' Essa esquisitice o fez se tornar parte da vida deles facilmente, já que Menma e Karin não eram exatamente o exemplo de normalidade.

Madara ganhava na excentricidade. E o pior é que funcionava.

Madara também havia tentado entender a sua maldição, coisa que só Sasuke havia feito até então.

" —Então é um tipo precognição.

— Não exatamente.

Naruto ponderou, deitado na poltrona de lado dessa vez, a cabeça fitando o teto. Madara havia retornado aos seus papéis, mas não havia o mandado sair da sala, então Naruto não saiu.

— O futuro é subjetivo. — Madara se sentou atrás da mesa, passando por Menma que ainda estava sentado lá, dessa vez olhando os papéis com Sasuke, os dois se empurrando para ver. — Isso explica você conseguir interferir. Sim, eu vejo a sua cara, sei o que está pensando. 'Do que adianta?'. Mas veja bem, você disse que viu a morte de Sasuke duas vezes, não acha isso estranho?

— Não lembro da primeira, não era tão próximo dele e não desenhei o que vi.

— E ainda assim você viu sem o tocar. Você já era próximo do Sasuke, só não lembrava.

Naruto franziu o cenho.

— Isso é sobre eu conhecer vocês antes?

— Exatamente. Você adorava Sasuke, Naruto. Andava atrás dele como um patinho pela casa.

Naruto revirou os olhos, ignorando Sasuke que estava o olhando com diversão.

— Onde quer chegar com isso?

— Que você não lembra da primeira, então o que te diz que não viu duas mortes diferentes e por isso viu duas vezes? Que talvez o fato de Sasuke ter se envolvido na vida de vocês tenha de alguma forma mudado a forma como iria morrer e por isso a segunda premonição aconteceu?

Naruto não havia pensado nisso. Porque no fim não adiantava, ele havia o perdido de toda forma.

— Você viu a terceira?

— Perdão?

— A terceira, você a viu?

Negou devagar, se sentindo desconfortável. Ele não havia a visto, nem a da sua mãe ou do seu pai. Foi algo que nunca teve certeza se era uma benção ou não.

— Mas...

—Mas?

— Eu a senti. — Naruto olhou para as mãos, tentando esquecer aquela sensação de anos atrás. — Eu senti quando estava acontecendo. No meio da madrugada eu só...

Naruto lembrava dos gritos, da dor em seu peito. Karin havia o levado correndo ao hospital. No outro dia eles tiveram a notícia.

— Interessante. — Naruto olhou o homem de forma incrédula e ele balançou a cabeça. — Não me entenda mal, não falo como algo bom. Eu falo sobre a estranheza de essas mortes terem o alcançado de forma diferente. Sasuke, Kushina e Menma. Se você mudou o destino de Sasuke duas vezes, o que não diz que o terceiro ocorreu devido a decisão súbita de alguém? E por isso não o viu?

— Você fala isso considerando que eu tenha algum controle, mas já disse que não tenho.

— Talvez. — Madara concordou.

Os dois caíram em silêncio após isso, por um longo tempo.

— Você viu a de Itachi?

Naruto olhou para Madara e notou os ombros tensos. Era tão sútil, mas ele podia notar o quanto a resposta era algo que temia.

— Eu o vi segurando a mão dele na delegacia.

Naruto desviou os olhos dos dele, olhando o teto. Seu rosto esquentou suavemente,

— Não. "

E agora, com essa conversa, ele se pegou novamente pensando nisso. Pensando sobre suas premonições dependerem das decisões de alguém, do futuro ser subjetivo. Sobre como elas sempre mostravam uma morte violenta ou acidente. Naruto nunca viu alguém morrer por velhice ou de uma doença. Ele só via mortes que dependiam da decisão de alguém.

Talvez Madara tivesse alguma razão nisso.

Então, o que isso quer dizer sobre Itachi? E Sobre Sasuke?

Naruto olhou para Sasuke, que notando sua observação o fitou de volta.

Por que Sasuke havia sido diferente? Por que Naruto sentiu a morte dele quando acontecia, mas não antes? Ele teria evitado a morte de Sasuke de verdade e o perdeu pela decisão de alguém?

Isso queria dizer que Naruto não conseguiria prever algo vindo de uma decisão súbita?

— Por que você não pode me falar apenas quem é ele? — Naruto perguntou em voz baixa. — Quem matou você, Sasuke?

Sasuke pareceu tremer, como uma imagem de televisão ruim. O buraco em seu peito aumentou, o sangue caindo pelo chão. Naruto viu seu rosto se contorcer em tristeza e medo, um grito saindo de sua garganta, um nome que não conseguia ouvir. De novo e de novo.

O frio no quarto aumentou e Naruto sentiu algo em suas mãos, mesmo sabendo que não havia nada lá. Não havia lama, não havia um rio. Ele não estava lá.

Fechou os olhos e respirou fundo, a mão em seu peito.

Quando voltou a abrir os olhos, Sasuke não estava lá.

Naruto virou o rosto na cama, o coração acelerado, ouvindo a voz de Menma o acalmando até finalmente conseguir dormir.

....................................................................

Itachi folheou o álbum que Madara havia o entregue com interesse.

Sua memória daquela época era de dias de estudo, de problemas sobre a mudança e a reação de Madara com isso. Sobre Sasuke e sobre os problemas de Shisui e Kurenai.

Ele não lembrava daquela família, pelo menos não com particular interesse, até agora.

Não era incomum Madara abrigar pessoas, mas vendo ali, uma foto dele segurando um menininho sujo de lama com seu irmão atrás tentando não rir, uma mulher ruiva sentada na grama e a outra criança gargalhando, Itachi se perguntava porque ele era o único que não lembrava de Naruto.

Ele lembrava muito vagamente da criança loira que às vezes aparecia na mansão, lembrava mais de Menma, porque Sasuke raramente convivia com outras crianças.

"— Isso não vale!

— Vale sim!

— Vale nada! Diz a ele Ni-San! Diz a ele que não vale!

Itachi suspirou deitado na grama com um livro na barriga. Estavam nos fundos da casa do tio, onde havia o enorme gramado com poças de água causadas pela forte chuva do dia anterior e uma fonte de pedra se erguia no centro, bem no estilo dramático e excêntrico de Madara.

— Vale porra nenhuma!

— Sasuke! — Itachi repreendeu, se sentando para ver melhor o irmão, que parecia prestes a rolar aos tapas com a outra criança. — Isso não é uma palavra bonita.

O irmão mais novo fez bico e cruzou os braços enquanto o outro menino ria.

— Se fodeu, Sasuke.

—Você também! Onde apreenderam isso?

— Shisui. — Os dois disseram em uníssono, dando de ombros.

Itachi ergueu-se de vez, limpando a calça com as mãos. Ter que ficar de olho naqueles dois, quando deveria estar estudando para os testes de admissão da universidade era um jogo de paciência. Porém, era isso ou ter que aguentar Tsunade e Madara juntos dentro de casa. Deviam estar apostando até a vida deles no momento em algum jogo, ou pior, cantando alguma música dos anos 50 e chorando.

Podia bem suportar esses dois. Eram iguais a Shisui e Kurenai, de qualquer forma.

— Nessas horas, fico até aliviado do mais novo não falar ainda. – Murmurou baixo, mas a crianças de olhos azuis ouviu e virou para ele, irritado.

— Naru fala sim! Ele diz ramen! Ele só não tem o que dizer... por isso está levando um tempo para fazer isso. Quer dizer, ele está preparando um discurso! — Completou emburrado.

Itachi segurou o sorriso com isso, achando a criança particularmente divertida com aquela expressão. O amiguinho de Sasuke era bem temperamental.

Não era comum estar ali quando aquela família vinha visitar. Ultimamente passava mais tempo com Tsunade do que no distrito. Pela familiaridade do seu irmão, no entanto, eles deveriam ser frequentes na mansão. Sasuke não era de se mostrar tão aberto com estranhos.

Ficava feliz por seu irmão poder pelo menos ter alguém da mesma idade para conviver, algo que nunca teve. Apesar daquele ali tem um gênio entanto.

Não que Sasuke seja diferente. Pensou divertido.

— E ele nem precisa falar para ter o que quer.

Sasuke completou e recebeu um sorriso do outro, os dois olhando Itachi com expressão feia. Agora, alguém que se metesse entre aqueles dois. Se matavam, e segundos depois vinha isso.

— Tudo bem, não precisam me olhar assim. — Itachi sorriu divertido. — Agora me digam o motivo da briga.

— Não era briga, era argumentação construtiva.

— Tenho certeza disso, Otouto.

Rebateu fechando o livro de vez. Kurenai devia estar trancada em casa estudando em um momento daqueles e Shisui devia estar por lá, como sempre. No nível de paixão que ele estava, ele até leria toda a revisão dela apenas para ficar por perto.

Não sabia o que seria de Kurenai e Shisui. Pelo menos Kurenai parecia ter superado a atenção extra que sempre havia dado para Itachi em algum ponto, o problema agora era apenas entre aqueles dois. E Itachi iria ficar bem longe disso até que eles se resolvessem. Já tinha problemas o bastante.

Com a admissão na universidade, provavelmente teria que ir embora do distrito Uchiha e temia por Sasuke. Teria que levá-lo junto... Madara não ia gostar nada daquilo, iria brigar com Tsunade de novo, e aquilo ia acabar com os dois bêbados. E isso nunca era bom.

— Naru! Espere!

Os três de viraram ao mesmo tempo e viram a mulher ruiva correndo atrás de uma coisinha loira que vinha em velocidade alarmante para alguém tão pequeno, descendo a colina da varanda e vindo em direção a eles. A risada contagiante fez Itachi sorrir também. A criança mais nova da família realmente era energética.

E então o pequeno se embolou caindo no chão, de cara.

— Naru! — Menma gritou correndo com Sasuke em seu encalço. A mulher já estava lá. Itachi que estava com a respiração presa sem perceber, aliviou-se ao ouvir a risada retornar.

E depois riu ao ver o estado do garotinho.

—Ka-chan, ele está pelado... — Menma reclamou, recuperando o fôlego enquanto a mulher estava de joelhos limpando o outro das folhas nos cabelos. O que não adiantava muito. Ele estava tão cheio de lama por cair direto em uma poça no terreno, que só via os olhos azuis e os dentes brancos.

— Ele não está pelado Menma, está de fralda... Que coisa, o havia trocado agora... — Ela falou removendo a fralda do outro pelas pernas enquanto o menino ainda ria olhando a lama nas mãos. — Agora ele está pelado.

— Ele se machucou? — Sasuke perguntou de joelhos ao lado de Menma, que torcia as mãos preocupado, olhando o irmão.

Itachi conseguia entender o outro garoto, ele havia sido paranoico assim com Sasuke.

Talvez ele ainda fosse.

— Ele está inteiro, meu bem. Ele cai sempre. E nunca chora, o monstrinho.

— Ele vai ser piloto, corre muito. — Menma completou. — Papai sempre fala isso. Ele vai pilotar motos e carros, vai ser famoso!

— Se continuar desastrado assim, tenho medo disso. Tenho que pegar outra fralda. — Kushina falou com pesar, limpando a lama do outro, ou tentando, com a fralda. Itachi olhava de pé ao lado dela com uma mão no bolso. O menininho de dois anos olhou para cima, o fitando curioso, para então abrir um largo sorriso, estendendo os braços. — Não, Naru! Você vai sujá-lo todo...

— Tudo bem, eu fico com ele. — Falou sem esperar resposta, tomando o outros nos braços após jogar seu livro para o irmão. O menino parecia feliz, levando as mãos ao seu rosto, apertando suas bochechas, deixando ali um rastro de lama.

Menma e Kushina gargalharam com isso, enquanto Sasuke apenas o fitou curioso. Ver o irmão, sempre tão sério com a cara de bobo enquanto o bebê o sujava era muito engraçado.

Itachi só encarava aqueles olhos azuis grandes, enquanto o garotinho puxava seus cabelos. Sasuke tinha razão. Ele não precisava falar para ter o que queria."

Abriu os olhos, franzindo a testa pensativo.

Como eu pude esquecer dele?

Ele estava tão focado nos próprios problemas, que havia esquecido algo tão importante para Sasuke. Infelizmente não havia sido a última vez que havia feito isso, que tentando proteger o irmão, havia o deixado de lado. Ele havia pensado tanto no futuro para Sasuke que deixou o presente passar.

Que esqueceu a criança loira e energética que subia em cima dele sempre que o via.

Seu dedo passeou na cara de Naruto na foto, no enorme sorriso sujo de lama e olhos azuis brilhantes. Tão diferente do garoto quebrado dormindo no quarto ao lado, mas ainda o mesmo olhar carregando inocência. O mesmo talento de ter o que precisava sem precisar falar nada.

Removeu os óculos de leitura e fechou o álbum, notando os papéis que lia anteriormente no chão. Os pegou, os colocando na mesa de estudos de seu antigo quarto na casa de Madara. Estava estudando sobre o processo quando se entregou as lembranças.

Agora, que começava a lembrar daquela época, não conseguia entender como esquecera dele tão facilmente. Lembrava exatamente daquele dia, da lama, da fonte. E lembrara por que aquele fora o último dia que o vira, a família não retornou mais. Logo depois Itachi foi para a cidade com Kurenai e Sasuke. Entraram na universidade, matriculara Sasuke em um colégio com a ajuda de Tsunade. Dois meses depois Shisui batia na porta, atrás de Kurenai.

Sorriu ao lembrar disso. Shisui entrara na universidade de administração. Tudo para conquistar Kurenai. Os quatro moraram juntos até o fim da universidade, e nesse meio tempo Sasuke já cursava jornalismo. No fim, Itachi conseguiu trabalho na polícia e foi morar sozinho, Sasuke quisera ficar no campus dele, e Shisui e Kurenai foram morar juntos.

O que durou sete meses exatamente até dar merda: Ela entrara na polícia com Itachi, Shisui usou seus talentos em administração para trabalhar com Madara, e isso começou a não dar muito certo. No fim Shisui voltou para o distrito Uchiha e Kurenai foi embora de Konoha.

Quando Itachi reencontrou Kurenai, Sasuke estava morto, e ele acordava em um hospital depois de dois meses em que, segundo ela, ficara em estado quase catatônico pelo choque da perda. Fora ela quem cuidara dele nesse meio tempo, e ficou com ela em Ame por todos os anos até retornar.

Foi um longo tempo e jornada, esquecer da família não parecia tão difícil para ele quando pensava nisso, principalmente quando não tinha realmente uma ligação como Sasuke tinha. O que teria acontecido com Naruto, em todo aquele tempo? Podia refazer a trajetória, se tentasse. Entender o que transformara aquela criança feliz que lembrava, no garoto complexo que encontrara naquela sala na clínica.

Suspirou e fechou os olhos: Eles saíram do distrito Uchiha por algum motivo. Pelo o que lera na ficha, Minato cometera suicídio quando Naruto tinha cinco anos, e um ano depois era Kushina que morria em um assalto. Ele e o irmão foram morar com o tio e a prima quando ele tinha seis anos. Menos de dois anos depois o irmão saia da casa do tio com a prima deles, e Naruto ficava lá até os onze anos de idade. Foi quando foi enviado para Suna, um ano depois saia de lá e voltava a morar com o irmão em Konoha... E aí acabava, não sabia de mais nada a partir daí. Sasuke o ajudava a sair de Suna, mas...

Um grito o despertou do devaneio o fazendo se erguer de onde se sentara na cama. Viera do quarto na frente, onde Naruto estava dormindo.

Seus pés se moveram rápidos e saiu do quarto para o corredor.

Outro grito, esse mais desesperado.

— Naruto!

Bateu na porta de frente a sua, mas não tivera resposta. A abriu sem esperar e encontrou o outro sentado na cama, apenas de boxer e uma camisa grande negra, os lençóis espalhados, as mãos no peito enquanto lutava para respirar, o corpo vergando em busca do ar, inutilmente.

Era uma cena muito parecida de muitas da sua infância. Quase vira Sasuke ali, criança, lutando pelo ar na cama em um ataque de asma. Voltou em passos largos para o quarto, deixando a porta aberta. Pegou no banheiro o inalador que haviam providenciado na mesma tarde. Em segundos estava sentado na cama do outro tentando acalmá-lo.

Como resposta Naruto praticamente pulou para longe, caindo da cama embolado nos lençóis, um grito sem ar, ainda mais desesperado, tentando sair de seu peito.

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A mão era quente, na sua fria. E muito grande. Era uma sensação muito boa, e quase não acontecia.

Virou o rosto para cima, tentando acompanhar os passos do homem com suas pernas mais curtas enquanto atravessavam a rua passando para a outra calçada. Viu os cabelos loiros parecidos com os seus, os olhos eram da mesma cor.

Sua oka-san sempre dizia que eram muito parecidos, mas quase não o via para verificar. Ele sempre estava fechado no escritório e não podia entrar. Só de vez em quando ele deixava, se ficasse quietinho sentado desenhando. E ele gostava tanto! Nada o perturbava perto do to-chan. Gostava de se deitar no carpete vermelho e ficar o olhando escrever sem parar... Mas desde "aquele dia" que não podia mais.

To-chan ficou um tempo ainda mais longe depois disso. Oka-san tinha dito que ele precisava cuidar da saúde, e que ele não tentara o machucar por mal. Acreditava nela. Mesmo que Menma tenha ficado muito zangado e ele tenha ficado com um pouquinho de medo, sem entender o que deixara seu pai tão bravo naquele dia. Ele nunca o tinha batido antes, nem em Menma. Na verdade, ele nunca chegava muito perto deles, só o deixava ficar o olhando, o ouvir cantar aquela música engraçada enquanto escrevia.

Lembrava de antes, de como o pai o tratava antes, com tanto carinho, sempre o carregando e o ouvindo. Queria seu to-chan de volta.

O homem abaixou os olhos azuis cansados por trás dos óculos de armação escura. Olheiras escuras estavam abaixo desses olhos., o rosto magro, o cabelo recém cortado e a barba por fazer. Naruto queria fazer esse cansaço passar. Talvez pudesse colocar to-chan para tirar um cochilo?

Encontrou olhos azuis curiosos nele e um sorriso adornou o rosto infantil ao ser fitado, as bochechas ficando um pouco vermelhas. To-chan sorriu.

— Não está com medo de mim? — Ele perguntou com a voz grave, voltando a expressão cansada. Naruto negou com a cabeça. Haviam parado na porta de casa e o menino lhe abraçou a cintura ainda olhando para cima, sorrindo ainda mais ao ter o cabelo afagado.

Fazia tanto tempo que seu to-chan não lhe fazia carinho assim, que mesmo já sendo um menino grande, ergueu os braços em expectativa.

Seu to-chan sorriu suavemente e o puxou para seus braços. Ele veio docilmente, abraçando seu tronco com as pernas e descansando a cabeça em seu ombro, feliz. To-chan ali com uma mão nas costas e com a outra abriu a porta.

Naruto se sentiu sonolento, seus olhos azuis semicerrados observando a penumbra, a luz entrando pelas frestas das janelas de madeira fechadas. To-chan continuou acariciando os cabelos macios e soltou um suspiro contente, o abraçando com mais força.

Seguiram pelo corredor escuro e entraram no escritório. Foi colocado no sofá de estofado vermelho que tanto sentia falta.

Em segundos já estava cochilando, apenas com um leve sussurro em seu ouvido, seguido da melodia da música dele.

— Eu te amo, Naruto.

— Te amo, to-chan.

Naruto acordou aos poucos, com uma sensação estranha. O ar gelado e pesado. Seu coração batia acelerado em seu pequeno peito e se encolheu, olhos azuis se abrindo. Havia alguém o fitando, uma das sombras, o rosto deformado acima do seu.

Naruto não conseguia se mover, seu corpo paralisado em terror. A sombra continuava o olhando, a boca se movendo rapidamente em palavras que não conseguia entender.

Naruto tentou falar, chamar to-chan. Mas não conseguia.

Fechou os olhos com força.

E foi quando ouviu to-chan.

— Não posso fazer isso. — Um sussurro desesperado.

Naruto olhou de canto dos olhos e o viu no chão, papéis revirados ao redor, escrevendo e escrevendo. Ele pegou um papel e o fitou, o rosto banhado em lágrimas, antes de o rasgar e colocar as mãos na cabeça.

— Naruto...não, Naruto não.

To-chan olhou em sua direção e Naruto queria que ele viesse até ele, que espantasse a sombra, que ajudasse Naruto a sair daquele terror.

Alguém bateu na porta.

Naruto olhou a sombra, agora havia mais outra. Três delas, o fitando de cima, falando e falando. Gemeu baixo, sentindo as lágrimas escorrerem de terror.

Naruto ouviu vozes exaltadas, mas essas conseguia entender. Seu to-chan estava chorando.

— "...Não posso fazer isso..."

— "Você não tem opção. Sabe o que vai acontecer."

— "A culpa não é dele! A culpa é nossa, apenas nossa..." — pancada, um gemido estrangulado.

— "Eu nunca menti para você antes, menti? "

— "Não...nunca."

— "Vai ser o melhor a ser feito. Por todos."

Sangue escorreu por seu rosto, vindo de uma das sombras. Naruto gemeu alto e as vozes se calaram.

Ouviu sons abafados. As sombras sumiram.

— Naruto?

— To-chan. – Naruto soluçou. — To-chan, tem sangue, to-chan.

Passos se aproximaram e se encolheu até reconhecer o cheiro do to-chan. Foi abraçado no sofá e ele lhe acariciou os cabelos. Era estranho, mas não era ruim.

— Vai ficar tudo bem. Não tem sangue, vê? Não é nada.

— To-chan? — chamou indeciso. Não havia sangue de verdade, mas To-chan estava chorando.

— Me perdoe, me perdoe, me perdoe...

— To-chan... — falou baixo. Estava se sentindo sufocado no aperto.

Lembrou do dia que o pai lhe machucara. Sentiu as mãos dele em seu pescoço, como naquele dia. Segurou seus pulsos, mas eles não se moveram. Estava doendo. Ouviu o soluço mais forte e sentiu o peso aumentar. Ele estava em cima dele, o empurrando contra o sofá. Reconhecia aquela sensação. Era como um ataque de asma, a sensação de desespero por ar. Estava sufocando, não conseguia respirar. Sua cabeça doía muito, e não conseguia entender.

E de repente o aperto sumiu. Tossiu rápido e forte por ar, o sentindo explodir, a garganta doendo e tremendo. 

— Me desculpe. — O pai chorava mais alto, lhe abraçando. — Eu não posso.

Tentou falar, mas não conseguia. Sabia que a garganta devia estar machucada. Apenas conseguia chorar, confuso e assustado.

— Respire Naruto. Respire. To-chan está aqui. Vai ficar tudo bem.

— Minato. Termine. —Naruto agarrou-se ao pai no escuro, aterrorizado com o que estava acontecendo. Sua cabeça escondida no peito dele, sem saber o que fazer, sem querer olhar e descobrir quem estava falando no quarto.

Quem estava fazendo as sombras gritarem assim.

— Não. — Ouviu o rosnado do pai, o sentindo vibrar em seu peito. — Há outro jeito.

— Não há! Faça!

— Não. — Sentiu um beijo na sua testa. E então um sussurro em seu ouvido. — Me desculpe, espero que me perdoe um dia.

— Minato!

— Não importa o que aconteça, eu vou ficar com você até o fim, Naruto. — Ouviu a voz calma do pai, e em um puxão eles foram separados. Caiu no chão com a brusquidão.

E então um barulho estranho. Se encolheu no sofá.

— Minato!

Ele falou algo baixo que não entendeu.

E o que ouviu a seguir foi um estampido ensurdecedor, seguido de um grito desesperado.

Mergulhou em sangue.

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Acordou com um grito, sufocado. Pela luz que saia pela porta do banheiro viu seu corpo coberto de sangue. Naruto se esfregou em desespero.

Não conseguia respirar.

Aquilo não havia sido um sonho. Tinha detalhes demais. Era...uma lembrança. Apertou as mãos nos cabelos.

Não consigo respirar, não consigo respirar, não consigo respirar TO-CHAN.

Ele não lembrava daquele momento com o pai. Até onde ia sua memória, ele nunca tinha o abraçado depois que se trancou em si mesmo, lhe dito que lhe amava. O último dia de vida dele era um apagão em sua mente. Só lembrava de acordar com Menma lhe abraçando, coberto de sangue e o corpo quase irreconhecível pelo tiro na cabeça ao seu lado.

E se aquilo fora uma lembrança...havia alguém lá com eles. E seu pai tentou... seu to-chan tentou...

"Respire. Respire." A voz lhe alcançou suave.

— Menma...

Sua cabeça doía tanto...estava sufocando. Não conseguia ver nexo nas imagens em sua cabeça. Nem mesmo ouvira as batidas na porta, preso naquela tentativa falha de puxar o ar. Só notou que não estava sozinho quando uma mão tocou em suas costas suadas. Seu grito não saiu, pois não tinha ar. Se afastou em um pulo, caindo da cama e levando os lençóis junto.

De repente, enquanto se arrastava no chão, entrelaçado nos lençóis, fora seguro contra um peito e voltou a se debater.

— Shh...vai ficar tudo bem. Você está seguro, eu prometo que está seguro.

Parou de lutar quando ouviu a voz, juntamente com um cheiro tão parecido com outro que antes lhe acalmava. Porém, ainda não vinha o maldito ar. Estava ficando tonto. Era doloroso. Uma mão foi para suas costas, o erguendo do chão e o sentando. Um corpo estava atrás do seu, o apoiando enquanto o único som era o chiado continuou do seu afogamento.

Algo foi colocado em sua boca.

— É o inalador, vai ajudar. Respire.

Obedeceu com dificuldade. Repetiu ao comando da voz, suas costas no peito que lhe apoiava, as mãos em desespero segurando as que lhe ofereciam o fim da sua agonia. Do mesmo modo que em tantas noites Menma, Karin, sua mãe e até mesmo Sasuke já haviam feito durante um ataque daqueles.

Diante da cena familiar, foi se acalmando, suas vias aéreas descongestionando e o ar entrando com alívio.

Itachi ouvia o barulho desesperado por ar diminuir. O corpo inteiro tremia recostado no seu. Fora uma cena tão familiar que era assustadora. Massageou o peito do outro que estava entre suas pernas no chão, ele recostado na cama, e o corpo pequeno contra o seu. A respiração se normalizando enquanto sentia o suor que lhe pingava.

— Vai ficar tudo bem. — Falou suavemente na nuca do outro, o vendo deitar a cabeça contra seu ombro, exausto. — Você está seguro.

Após alguns minutos, sentiu a mão pequena o empurrar e o soltou, desenroscando as pernas. Naruto se afastou dele, os dois ainda no chão. Pela luz que vinha do banheiro, o viu abraçando os próprios joelhos, recostando as costas na cama.

Itachi se moveu o mais vagarosamente possível, observando os olhos azuis alertas em seus movimentos. Cruzou as pernas sentado no chão, seus cabelos soltos caindo por seus ombros. O espaço entre os dois era pequeno, mas Itachi se controlou ao sentir um estranho ímpeto de o tornar ainda menor. Ele queria abraçar Naruto, como momentos atrás. O consolar como estava fazendo, como ele havia permitido-o fazer. Sentia uma perda quando ele se afastou, seus braços o seguindo de forma automática.

Itachi pausou com esse pensamento, sua testa franzida. Ele nunca foi fã de demonstrações de carinho ou de invadir espaço pessoal das pessoas. Ele não sabia se gostava das implicações dessa reação com Naruto, de como queria o manter nos braços, em como sentia a distância entre eles de forma tão visceral.

Fechou os olhos e respirou, controlando seu coração com o que havia acontecido, os gritos de Naruto, o terror dele ainda em sua mente. Não era hora de pensar sobre estar se apegando demais a Naruto.

— Teve um pesadelo?

Naruto se encolheu, seu rosto virando de lado suavemente, fitando algo na parede que só ele poderia ver. Itachi notou que lágrimas ainda sujavam o rosto pálido. Ele teve que apertar os punhos para não erguer os braços entre eles e tocar seu rosto, limpar as lágrimas.

Sentiu seu peito pesado ao perceber o que isso implicava novamente.

Definitivamente, nada bom.

— Isso é um sim, ou um não?

Naruto virou os olhos azuis em sua direção, o encarando, até os desviar.

Itachi aguardou com paciência.

— Eu acho que...não foi um pesadelo. — Um sussurro.

— Estou ouvindo.

O sentiu respirar fundo.

— Eu tenho apagões. Com certeza tem na minha ficha.

— Sim.

— Eu tive o primeiro com cinco anos. O último com treze. Alguns são de horas. O último foi de uma semana. E eu... — a voz soou angustiada e viu as mãos nos cabelos. — Não lembro de nada! Como se tivesse ido dormir e acordado em outro lugar...Eu nunca lembro de nada! Mas...

— Você lembrou de algo?

— Eu...acho que sim. — A voz saiu incerta. Era estranho. Quando Naruto agia daquele modo, parecendo inseguro, frágil. Era totalmente diferente.

E era uma prova que ele confiava em Itachi o bastante para mostrar esse lado seu.

— Pode contar?

Ele ficou em silêncio por um longo tempo. Até a voz soar ainda mais baixa.

— Acho que lembrei...do dia em que meu pai morreu.

Naruto se ergueu do chão, voltando a deitar na cama.

E lhe virando as costas.

— Não quer falar sobre isso?

— Não. — A resposta foi abafada.

Itachi suspirou e quando se ergueu seu pulso foi segurado com força. Naruto não disse nada, mas Itachi notou pela reação do rosto dele que ele mesmo estava confuso por ter feito isso, ter reagido assim.

Naruto o largou devagar, afundando a cara no travesseiro. Itachi ficou encarando o corpo meio encolhido na cama, sentindo ainda a sensação da mão gelada em seu pulso. Seus olhos vagaram para a nuca loira, aos ombros que eram relativamente largos, agora que notava, a constituição do outro não era magra. Começou a descer os olhos e novamente se xingou internamente ao ver que seus olhos estavam o traindo.

Atrair-se por aquele garoto seria a maior burrice da sua vida.

Ergueu-se, saindo do quarto depressa, perturbado pelos pensamentos absurdos. Só o que faltava agora, ter que proteger Naruto dele também. Se refugiou em seu quarto. Voltou a afundar nos papéis para se acalmar.

Nada seria tão fácil assim. Relia os versos deixados com as vítimas quando ouviu um barulho de batidas na porta. Ficou olhando para ela e a viu abrir, sem que desse permissão a pessoa do outro lado de entrar em seu quarto as duas da madrugada.

Já sabia quem era antes mesmo de ver a cabeça loira.

Naruto o ficou encarando com a porta ainda aberta, parecia não saber o que dizer.

Itachi suspirou, observando o rosto ainda pálido, o corpo tenso vestido em uma das camisas de Shisui, olhos azuis o fitando em uma pergunta muda.

Sim, definitivamente não seria nada fácil.

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Naruto continuou com a mão na maçaneta, observando.

Itachi estava sentado em uma poltrona no canto do quarto com papéis na mão e óculos de leitura no rosto, cabelos soltos caindo sobre seus ombros. Ele parecia bem diferente do que o vira até agora. As sobrancelhas negras se ergueram em curiosidade e quase engoliu em seco.

Não sabia o que fazia ali também. Só estava com medo de voltar a dormir, e isso nunca admitiria. Vivera muito tempo aguentando os pesadelos sozinho, não devia estar se sentindo assim. O problema era que... Itachi o acalmava. Sentia falta daquilo, e só percebia agora que tinha.

Talvez por isso gostasse tanto da companhia de Hinata, pelo mesmo motivo. A diferença era que Hinata apagava sua mente, era como entrar em uma sala a prova de sons. Quando ela lhe abraçava os sons sumiam, as imagens não o alcançavam, todo o peso ia embora. Era como estar drogado.

Itachi era diferente. Os sons ainda estavam lá. Só estava distraído demais quase todo o tempo. A voz dele o acalmava, mas sem a sensação de ter perdido seus sentidos como com Hinata. Era... melhor.

Balançou a cabeça, espantando esse pensamento.

Deveria dar meia volta agora. Mordeu a bochecha e franziu a testa desviando, os olhos azuis para o lado.

— Eu...

— Quer me ajudar no caso? Parece ser esperto quando quer. — O outro falou mostrando os papéis. Naruto abriu bem os olhos azuis o encarando, e então escondeu o sorriso mínimo, fechando a porta.

— Não tenho nada mais para fazer. — Resmungou, praticamente arrancando as folhas da mão de Itachi e se sentando sem cerimônia na cadeira de frente a mesinha que tinha ali.

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— Ei, psibláblá.

Itachi levantou os olhos dos papéis, ajeitando os óculos para fitar o outro. Naruto estava sentado na cadeira de modo esparramado, os pés em cima da mesa enquanto lia uma das pastas, pesquisava no laptop que Itachi lhe dera quando pedira e fazendo anotações que deixaram Itachi levemente curioso.

Não respondeu ao outro que jogou a pasta na mesa e esticou os braços. Eram quatro da manhã, e se surpreendera com o fato de Naruto ter ficado em silêncio todo aquele tempo.

— Sempre mostra os dados para todas as vítimas desse pirado? — A voz estava levemente curiosa.

Naruto deitou na sua cama sem cerimônia, levando a pasta consigo a deixando aberta na barriga enquanto o olhava, os braços cruzados atrás da cabeça, as pernas cruzadas. Totalmente à vontade.

— Não. — respondeu, voltando a olhar os papéis a sua frente. — Eu só tive contato com duas delas, e estavam muito perturbadas para lerem qualquer coisa. — disse sugestivo

— Ao contrário de mim. — Naruto sorriu. — Que estou muito relaxado para quem tem um maluco querendo me esquartejar ou algo assim.

— Isso é um ponto. — Itachi virou a página. — Embora aí não tenha nada que não tenha sido divulgado nos jornais. O departamento de Konoha adora passar informações para a imprensa. — Completou.

— Não duvido. — Naruto falou olhando a pasta. — Então as fotos com sangue devem estar nessa pasta aí com você, que quis me poupar de cenas forte. — Ele riu e Itachi não respondeu. — Eu não tenho problemas com cenas fortes.

— Não é o que lembro da sua reação com a cabeça na sua geladeira.

Naruto franziu o nariz, provavelmente lembrando do que havia acontecido.

— Foi a surpresa. — Itachi o olhou por cima dos óculos e Naruto fechou a cara, — E ainda assim você pensou que eu poderia ser o Kyuubi e ter colocado a cabeça lá ou algo assim. — Naruto falou de modo casual. — Como muitos ficaram pensando no seu departamento. O pobre garotinho perturbado que foi estuprado pelo tio e jogado em um manicômio depois de arrebentar a cabeça de um filho-da-puta pervertido e jogar o outro da janela. Aposto que seria um prato cheio para os psiblablás, olharem a minha cabeça fodida.

Itachi voltou a olhar o outro que dizia tudo aquilo de forma relaxada, e tentou não se mostrar surpreso. Ppara quem não conseguia falar do assunto, expor aquilo assim do nada...Ergueu uma sobrancelha.

— Esse é outro ponto. — Concordou. — Agora você me deixou curioso, Naruto.

— Eu sempre deixo. — Naruto abaixou a pasta que escondia sua cara e o encarou com um sorriso de lado. — É meu dom. Me torna mais atraente.

Itachi ergueu ainda mais as sobrancelhas com isso. Naruto estava flertando?

Notou os olhos azuis se arregalando levemente e desviando, as bochechas corando.

E ele nem mesmo percebeu o que estava fazendo. Sorriu suavemente com a falta de jeito do outro ao perceber o que havia feito.

Resolveu não prolongar o desconforto dele.

— Antes de responder, tenha em visto que é importante que diga a verdade. — Naruto voltou a olhá-lo seriamente. — É sobre o motivo que o levou a Suna.

Naruto se sentou na cama sem olhá-lo, colocando os pés no chão.

— Você quer saber se os matei. —Falou com a voz quieta e séria. — No que isso importa agora?

— Tem alguém querendo matar você, todas as possibilidades têm que ser trabalhadas. Nada impede que alguém esteja se passando pelo Kyuubi, embora seja improvável, não é impossível, e que esteja envolvido nessa história. Kyuubi parece conhecer muito sobre você, e pode ser alguém do seu passado. Então tudo nele é importante. Esses homens podem ter filhos ou...

— Entendi. — Naruto o cortou com um gesto de mão. E se virou para ele com seriedade. — É provável que os matei.

Essa não foi a resposta que esperava.

— Eu acordei com um taco na mão e o cara com o crânio arrebentado no chão. O outro estava no pátio numa poça de sangue, a janela aberta, morreu horas depois. A porta estava trancada, meu tio havia trancado por fora. — Isso surpreendeu Itachi que não escondeu. — Ele fez isso uma outra vez. — Naruto brincou com os desenhos do lençol, desviando os olhos de Itachi. —Ele ficou realmente zangado por uma coisa que eu fiz, então me deixou preso com dois desgraçados. Esses dois...não eram os mesmos da primeira vez. Mas eles já tinham machucado Menma antes.

Itachi soltou o ar devagar.

— Seu irmão...

— Nagato...odiava Menma. Mais do que eu até. Ele sempre colocava os piores na direção dele. Se Menma não tivesse ido quando foi, mesmo que não foi por isso que ele foi... eu acho que ele não teria sobrevivido por muito tempo. Eles sempre o machucavam demais. — Naruto se encolheu. — Ele... lutava, sempre. Esses dois... eles odiavam Menma. Meu irmão sabia como tornar as coisas difíceis. Eu acho que eles queriam mais se vingar de Menma do que qualquer coisa, mandar a gravação. Nagato sempre os deixava gravar. Ele gostava de gravar as coisas.

Naruto virou o rosto, a expressão distante. Itachi queria o pedir para parar, mas não se moveu.

—Ele disse que eu era mais dócil, eles acharam que eu ia deixá-los fazerem o que quisessem. Mas eu não tinha mais porcaria nenhuma a perder naquele ponto. – Ele pausou e sussurrou a última parte, mais para si mesmo, mas Itachi ouviu mesmo assim. — Não acreditava mais que Menma viesse me buscar.

Itachi soltou as folhas de vez sem saber o que fazer naquele momento. Ele queria ir até Naruto. Ele nem mesmo parecia vê-lo no quarto agora.

— Eu acho que tive um apagão naquela noite. — Ele pareceu pensativo. — Eu lembro de eles entrando no quarto. Lembro do barulho da porta sendo trancada, de Nagato a fechando. Do cheiro de bebida, talvez estivessem drogados também, eu...não sei. — Ele pegou a pasta na cama e ficou a olhando enquanto falava. — Eu pensei em não reagir novamente, assim acabava rápido. Eu não era masoquista, eu não gostava de sentir dor. E Nagato já tinha me machucado muito naquele dia. Eles não facilitaram para isso, no entanto...Eles queriam que aquilo...durasse. Os fiz parar.

Ele parou e Itachi percebeu que apesar da falsa tranquilidade ele apertava a pasta com força demais.

— Você só tinha onze anos, era pequeno, e eles eram dois... — argumentou tentando entender.

— E estavam bêbados, drogados, e eu surtei. Eu odeio Nagato, mas de uma coisa ele sempre esteve certo, eu sou um monstro. Como um demônio. — A voz dele ficou baixa.

— Você não é.

Naruto riu.

— Não estou reclamando disso. O taco estava perto, e tudo ficou em branco. Eles nem chegaram a me violentar realmente e estavam mortos. E não me arrependo.

Naruto o olhou diretamente, os olhos vazios.

— Surpreso? — Ele sorriu torto, sem vida alguma.

— Você estava se defendendo. — respondeu com o mesmo rosto vazio do outro.

O sorriso do outro morreu e ele resmungou algo.

— Não preciso que justifique meus atos.

— Eu não estou. — Itachi resolveu mudar de assunto. — Alguma opinião sobre o que leu?

Naruto pareceu feliz em mudar o foco da conversa.

— Ele escolhe vítimas dos clãs. Todos homens, entre 26 e 18 anos. Ele matou um de cada clã de Konoha, exceto os Uzumaki.

— Esperamos que continue assim. — Itachi falou com um sorriso, incentivando a falar.

Tinha razão, Naruto realmente podia ser bem perceptivo.

— Ele tocou o terror neles por nove dias antes de sequestrá-los e matá-los, e sumindo com alguma parte do corpo, que servia para apavorar o próximo.

Itachi afirmou tentando não sorrir com a cara concentrada do outro, lendo as notas que escrevera.

— Exceto... — incentivou.

— Os dois últimos. — Naruto parou ao falar isso. — Sasuke e Neji. — Naruto ficou pensativo.

— E o que eles tinham em comum?

— Não muito. Eram como opostos. Famílias influentes, mas por motivos diferentes. Os Hyuugas são em sua maioria dotados em medicina. Quase a família toda é médica. 

 Exceto Hinata. Ela é dotada para o crime. Aquela maldita pervertida é esperta como o diabo.  Pensou divertido.

— E? — Itachi perguntou vendo o outro olhar o chão com um pequeno sorriso.

— Os Uchihas adoram um negócio ilícito. Os dois eram bonitos, mas de idades muito diferentes, estilos de vida diferentes. Sasuke era jovem e famoso, Neji era problemático e abandonado pela família. Neji também foi a primeira vítima com menos de 21 anos.

— Não há muito em comum em nenhum deles. — Itachi explicou, chegando ao ponto.

— Há algumas coisas. — Naruto sorriu de modo sarcástico, feliz por ver o outro levemente surpreso. — Aposto que vou surpreender você.

— Estou ouvindo.

Naruto se deitou na cama novamente cruzando os pés e olhando Itachi na mesma posição relaxada do início, um sorriso no rosto.

—Kiba Inuzuka, um ano antes de sua morte teve uma passagem na polícia. Ele tinha a mania de sair queimando mendigos por aí. Kankuro Sabaku No, tem uma acusação de estupro nas costas. Keito Masato, teve um amigo preso com acusação de espancar a namorada e matá-la. Keito foi testemunha para inocentá-lo, dizendo que havia visto tudo, e que não foi ele.

— Onde viu isso? — perguntou alerta

Naruto apontou o laptop.

— Está na ficha deles. A pasta estava codificada, o que me deixou bem curioso.

— Codificada... — Itachi murmurou. — Você invadiu arquivos da polícia codificados?

— Invadir é uma palavra muito forte...

— Naruto...

— Uma amiga minha é boa com essas coisas, me ensinou uma coisinha aqui e outra acolá...

— Ela te ensinou a invadir os dados da polícia?

— Não fica com essa cara, psibláblá, nunca invadimos contas do banco. Tínhamos coisa melhores para fazer na vida — Naruto sorriu. — Sério que nunca se ligaram nisso?

Nunca me passaram esses dados. Pensou sombrio. Malditos, protegendo as famílias ricas, filhos da puta, o que mais esconderam?

— Quer dizer, se todos seguem essa linha... O tal de Kiba queimava pessoas e virou churrasco, Kankuro estuprou uma garota, e cortaram o mal pela raiz, se me entende. Keito fechou os olhos, então os perdeu... Parece um tipo de justiceiro sombrio.

— Sasuke não fez nada de errado.

Naruto desmanchou o sorriso pretensioso e se sentou.

— Não, não fez. Nem acho que Neji tenha feito.

— Como sabe isso?

— Porque ele estudava comigo. 

 E eu transo com a prima dele.

— Você conhecia Neji Hyuuga? E Sasuke.

Naruto abriu bem os olhos pensando nisso.

— Eles dois conheciam você, e foram mortos de forma diferente.

— E o que isso quer dizer? — perguntou curioso.

— Não sabemos ainda. — Itachi voltou a olhar para Naruto, com outros olhos. — Você tem um ponto interessante. Então acha que até Sasuke, ele matava como um justiceiro maluco?

Naruto deu de ombros.

— Eu não vi a ficha de todos, mas é algo a se pensar. Além disso, tem outra coisa, pela descrição do estado dos corpos e os bilhetes, ele mata baseado nas estrofes de uma música.

Isso chamou a atenção de Itachi.

— Música?

— É.

— Por que acha que isso é uma música Naruto? Parece mais um poema.

— Não acho que pareça. E eu pensei que soubesse disso, eu reconheci desde o primeiro verso que o desgraçado mandou com os dentes. — Naruto fechou a pasta, voltando a se deitar na cama com um bocejo. — É uma música. Eu a conheço bem. Meu pai a cantava para mim.


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