Capítulo XV- Mistério Namikaze
Lamento,
Gemido,
Suspiro,
Soluço,
Tudo se foi, do coração arrancado o palpitar horrível, o horrível palpitar...
A moléstia, a náusea, a dor impiedosa cessaram com a febre que me enlouquecia,
Com a febre,
Com a vida que na cabeça minha ardia.
Edgar Allan Poe
DEPOIS DE HORAS PROCURANDO, FOI SASUKE QUEM O ENCONTROU. Ele estava no parque no fim da rua, deitado na grama em uma colina alta em que se via todo o bairro onde moravam. Era outono e fazia um frio cortante, ainda assim ele parecia alheio, fitando o céu com o rosto vazio.
Apenas de pijamas.
Sasuke suspirou com o telefone no ouvido.
— Achei ele. Não, Menma, ele parece bem. Fique aí.
Desligou, ignorando os protestos do outro lado da linha. Isso acontecia frequentemente, desde que Naruto fora retirado de Suna. Acordavam pela manhã e ele havia sumido. Na primeira vez foi um alarde, até o acharem sentado perto de um lago do outro lado da cidade, depois de pegar o ônibus sozinho.
A situação deixava Menma e Karin histéricos.
Sasuke entendia, de verdade. Eles haviam o perdido por anos e Naruto era tudo para aqueles dois. Porém, não deixava de ser irritante e tinha suas dúvidas se a super proteção não fazia mais mal do bem. Naruto sempre acabava perdendo a paciência com eles, Karin acabava chorando e Naruto chorava porque Karin chorava e Menma ficava entre os dois sem saber o que fazer.
E era quando ligava para Sasuke. Porque Sasuke, claro, sempre acabava arrastado no drama dos três.
Por sorte, nunca acontecia nada demais com as escapadas de Naruto e ele quase sempre voltava sozinho, como se nada houvesse acontecido.
(Sasuke não contaria a ninguém, mas estava seriamente pensando em colocar um rastreador nele. Naruto parecia interessado em colocar um brinco como o do irmão, seria uma ótima oportunidade. Madara aprovaria. O que significava que seria ilegal, mas...bem. Uchihas.)
O menino parecia alheio até Sasuke jogar o casaco em cima dele.
— Está frio..
Naruto moveu a cabeça em sua direção, olhos azuis piscando sonolentos. Os cabelos loiros estavam recém cortados por Karin, bem curtos, sem os cachos usuais. Havia um curativo na testa da última briga na escola, que provavelmente deixaria uma cicatriz.
Sasuke não sabia ainda todos os pormenores do incidente, mas Menma havia decidido que seria melhor aceitar a oferta de Tobirama e o ter como tutor em casa do que arriscar mais uma escola por enquanto. Era a terceira em um ano.
— Por que fica sempre dando essas fugas? — Sasuke resmungou, se deitando ao lado dele, que havia voltado a encarar o céu silenciosamente. — São cinco da manhã, Naruto. Podia ter esperado uma hora ou duas. Sakura quer matar Menma por me ligar a essa hora e acordá-la.
— Eu não gosto de ficar preso. — Naruto sussurrou em resposta, o tom de voz ausente, arrancando pedaços de grama com os dedos.
Sasuke suspirou.
— É perigoso andar por aí sozinho.
— Desculpa, Sasuke.
O Uchiha bufou e deu um peteleco na testa do garoto, que gemeu, uma pequena carranca se formando momentaneamente em resposta, enquanto esfregava a testa avermelhada.
— Sem beicinho. E nem parece arrependido. Não faça mais isso, sair sozinho assim.
Naruto assentiu, ainda com as mãos na testa, a protegendo de um novo ataque.
Sasuke tinha certeza de que ele faria de novo. Só esperava não chegar na casa de Menma um dia e descobrir que havia acontecido algo de mais grave com aquelas saídas.
— Mas eu não estou sozinho. — Naruto sussurrou. — Ela vem sempre comigo.
— Ela? — Perguntou, virando a cabeça e vendo o perfil do outro vendo o céu, onde o sol nascia por trás dos prédios.
— Oka-san — Naruto sussurrou, sorrindo suavemente. —Ela cuida de mim.
Sasuke sentiu um arrepio incomodo na espinha, mas ficou em silêncio.
— Do mesmo jeito que a mulher morena cuida de você. — Naruto virou o rosto suave para Sasuke. — De vez em quando eu a vejo do seu lado. Ela parece tanto com você Sasuke, mas tem um sorriso menos carrancudo.
Sasuke congelou no lugar.
— Mulher... morena?
— Uhum. Ela conversa comigo às vezes. — Naruto brincou com uma folha que caia da árvore e o silêncio tomou conta dos dois. — Ela gosta de cantar uma música engraçada.
Será?
Sasuke tentou manter a face casual, já havia se acostumado que Naruto era... especial. E Depois de uma longa conversa com Madara sobre os Namikaze, ele teve ainda mais certeza de que Naruto estava longe de ter psicose.
— Uma música, hum? Assim? — Sasuke assobiou uma melodia.
— Sim! É essa! Conhece?
— É italiana.
Itachi costumava cantar essa música para Sasuke.
Algo que a mãe deles fazia quando era viva.
— Sasuke... — ouviu a voz hesitante.
— Hn?
— Menma ama Karin?
Aquilo surpreendeu Sasuke, que virou a cabeça e encontrou o olhar azul curioso.
Franziu a testa.
— Bom, eu acho que sim. Do jeito estranho deles.
Não duvidava do sentimento dos dois. Afinal, quando Karin ficara grávida e fora ameaçada pelo pai, Menma a tirou de lá, mesmo deixando Naruto para trás. Ele tivera que escolher entre o irmão e o filho, e, por Deus, que Sasuke sabia que aquela tinha sido a decisão mais difícil da vida do amigo. Na mesma semana ele tentara buscar Naruto, mas já tinha o irmão fora do alcance.
O filho de Menma nascera morto, Naruto vivera o inferno com Nagato, e por isso o Uzumaki mais velho nunca se perdoava. Quando Sasuke o encontrou no jornal, depois de anos, há anos Menma e Karin tentavam recuperar Naruto. Sasuke já pesquisava sobre a família Uzumaki, tendo assumido a pesquisa de Kushina que Madara havia colocado em suas mãos. Porém, quanto mais adentrava naquela história, mas horror ele encontrava.
A mãe de Karin morrera quando ela tinha seis anos, os abusos por parte do pai começaram aos sete. Quando Menma e Naruto chegaram à casa, eles tinham respectivamente 15 e 6 anos. Menma já estava acima da idade com qual Nagato teria algum interesse nele, mas isso não o impediu de prostituir o sobrinho em benefício próprio e os abusos físicos das pessoas com as quais Menma era obrigado a se envolver extrapolavam a tortura.
Sasuke vira que o amigo trazia um corte em toda a extensão das costas causado por um deles. Ele havia tatuado as costas, tentando cobrir as cicatrizes, na primeira oportunidade que teve, mas o estrago era extenso demais para não ser notado. Nunca perguntou como foi causado, ele não sabia se queria ter uma resposta.
(Ainda assim, de algumas coisas ele queria. Como os nomes das pessoas que fizeram aquilo com Menma. Ele conseguira alguns, entre um copo e outro, entre um pesadelo e outro em que teve que acordar seu melhor amigo. Sasuke tinha esses nomes e não sentia remorso algum de ter entregado a lista nas mãos de Madara.).
. Quando Karin chegou aos onze anos, Nagato perdeu o interesse nela, já era mais velha do que ele desejava, mas ainda assim isso não o impediu de tentar usar a filha também como moeda de favores. Sasuke não entendia o poder que ele tinha sobre a filha e os sobrinhos. Era medo, puro e simples.
Karin, apesar dos longos anos de abuso, não possuía tantas cicatrizes externas como Menma. Com os anos ela havia parado de resistir, coisa que Menma nunca fez. Sasuke se perguntava se ele sabia como.
(Sasuke se perguntava se ele tivesse demorado mais antes de ir embora de lá, quanto mais Menma teria aguentado antes que acabasse morto. Esse pensamento o deixava acordado durante a noite.).
Naruto não era alvo de Nagato durante o tempo que Menma estivera lá. Ele nunca havia o tocado, nem mesmo olhava na direção dele. Talvez por isso, Menma havia achado que podia mantê-lo seguro por um breve período enquanto tirava Karin da casa.
(Sasuke não sabia, mas o ato de Menma ir embora, o paralelo entre Menma e Naruto e Nagato e Kushina foi o que o fez olhar para Naruto de verdade pela primeira vez. E depois disso ele não desviou mais os olhos.).
Uma coisa que Sasuke não entendia, tão pouco, era o porquê que Nagato não perdia o interesse em Naruto como perdera em Karin quando ela cresceu. Ele estava sempre o cercando. Era quase uma obsessão.
— Então... — Naruto falou, quebrando seu raciocínio. — Se Menma gosta da Karin, por que ele a machuca?
A voz saiu em um sussurro, mas Sasuke ouviu. E ficou alarmado.
— Menma machucou Karin?
A testa de Naruto estava franzida, o olhar ansioso: — Ontem quando eu entrei em casa, eu fui procurar por ele, e eles estavam na cama... Eles...
Sasuke captou o que ele queria dizer e se sentou na grama.
— Olhe para mim, Naruto. —Ele obedeceu, os olhos azuis dentro dos seus pareciam confusos. — O que Karin e Menma faziam não era o mesmo que Nagato fazia com você. Eles se gostam, são adultos e tem consentimento e amor entre os dois. Entende o que quero dizer?
Naruto assentiu, após um breve momento de hesitação.
— O que Nagato fez com você, com Karin, o que fizeram com seu irmão, foi algo monstruoso. — Seus olhos escureceram ao pensar nisso. — Não é para ser assim. — Olhou para o garoto, que o fitava atentamente e tentou sorrir. — Um dia você vai encontrar alguém e vai entender. Karin e Menma são esse alguém um para o outro.
— Eu não quero fazer aquilo de novo. — Naruto negou rapidamente.
— Talvez você queira, um dia. E se não, tudo bem também. — Sasuke disse sério e tocou na cabeça loira. — Mas se um belo dia você conhecer uma pessoa com que queira estar dessa forma, que vocês dois queiram estar juntos assim, não pense como algo ruim.
Naruto o olhou em dúvida.
— Com homem ou mulher?
— Com quem quiser. — Deu de ombros. —Acho que isso você vai descobrir com o tempo. Talvez você goste dos dois, talvez de nenhum. Tente não esquentar tanto a cabeça com isso agora.
Naruto assentiu, mesmo confuso com tantas possibilidades.
— Você faz com Sakura?
Sasuke, pego de surpresa com a pergunta repentina, corou levemente. Era algo difícil de conseguir, fazer Sasuke Uchiha corar. Ele se perguntava se era um dom Uzumaki o deixar desconcertado. Ou falar tanto. Já se sentia exausto e não eram nem seis da manhã.
Viu os olhos azuis curiosos, sem malicia alguma. Naruto havia pulado grande parte da infância, seu desenvolvimento era uma bagunça.
— Bem, sim.
— Então você a ama?
— Talvez. — Respondeu sem desviar dos olhos interrogadores. Naruto ergueu uma sobrancelha, a testa franzida em concentração. — Acredito que sim.
Sasuke tentou não suar com a intensidade daqueles olhos grandes e tão parecidos com o irmão.
—Então, nem sempre a gente tem certeza?
— Para algumas pessoas é mais fácil entender, outras o amor vem com o tempo. Você pode fazer isso por amor, ou por se sentir atraído e bem com alguém. Mas quando ama a pessoa, é bem melhor.
Eu espero que nunca ninguém da minha família descubra esse meu discurso. Sasuke ponderou. Shisui não me deixaria viver com isso.
— Como Menma e Karin?
— Por aí. — Disse com um sorriso pequeno ao que o outro assentiu, pensativo.
Naruto voltou a fitar o céu e Sasuke sabia que ele estava ruminando o que havia dito, tentando compreender, fazer algum sentido nas nuances de relações entre as pessoas.
Lhe doía aquilo. A cabeça de Naruto era uma confusão de sentimentos misturados que ele não entendia, sobre como se relacionar com outras pessoas, sobre o que esperar delas. Ele iniciara na vida sexual cedo demais, de forma violenta, sem sentimentos, quando era incapaz de entender tudo aquilo. Nenhuma criança deveria ter que entender sobre isso tão cedo.
— Você ama Menma?
Sasuke quase se engasgou com a saliva, mas se controlou.
— Naruto?
— Karin disse 'só o amor do Sasuke para controlar Menma'. Ela disse. Eu ouvi.
Sasuke tinha certeza de que Karin estava sendo sarcástica, mas vendo a confusão nos olhos azuis, o desespero tentando entender, deu um pequeno suspiro.
— Eu devo amar, para aguentar tanto ele. — Vendo que Naruto ficou ainda mais confuso, Sasuke continuou. — O amor que eu sinto pelo seu irmão, e você não vai repetir isso para ele, é diferente. É parecido com o que sinto pelo meu irmão.
A diferença é que Itachi não dava tanto trabalho. Lidar com Menma fazia Sasuke querer pedir perdão a Itachi pelos últimos anos. Os três Uzumaki lhe davam ansiedade só nesse breve momento em que estava com eles, imaginava como havia sido para Itachi lidando com Sasuke (E Shisui, porque Kurenai ao menos sabia se virar) por todos esses anos.
— Oh. — Naruto piscou lentamente e assentiu devagar. — Certo. Então, você não quer beijar o Menma. Isso é bom, Karin não ia gostar.
Sasuke manteve o rosto o mais sério que conseguia enquanto assentia tão gravemente quanto Naruto.
— Então... — Naruto franziu a sobrancelha. — Você me ama também, certo Sasuke?
A expressão ansiosa fez Sasuke sorrir. Levantou o dedo e Naruto cobriu a testa imediatamente. Sasuke desviou a trajetória e apertou o nariz dele no lugar.
— Certo.
Naruto empurrou sua mão para longe com um muxoxo, mas Sasuke viu que ele sorria suavemente, a ansiedade sumindo.
—Mais do que Menma, e pode contar isso a ele. Você me dá menos trabalho.
Naruto deu uma pequena risada com isso, toda a dúvida e confusão sumindo.
— Mesmo quando tem que vir me buscar a essa hora?
— Seu irmão me ligou chorando porque havia perdido os óculos. Que estavam na cabeça dele.
Deitaram de novo olhando o céu. Logo teriam que ir embora para casa.
Naruto colocou a jaqueta que havia sido jogada antes, o frio já o tomando e se surpreendeu quando Sasuke o puxou para perto, mas logo relaxou.
A mão brincou com seu cabelo curto e ficaram olhando as nuvens no céu alaranjado pelo nascer do dia. Longe das paredes brancas que Naruto sonhava e tinha pesadelos. Do quarto que parecia diminuir e o sufocar.
Quando Naruto acordou já estava em casa, deitado no sofá. Karin estava cantando na cozinha, Menma estava mexendo no computador, sentado no chão e recostado no mesmo sofá, uma mão tocando seu tornozelo. Sasuke estava conversando no telefone por perto.
Naruto fechou os olhos e voltou a dormir.
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Naruto saltou do carro, visivelmente irritado. Com a irritação, ele parecia ter esquecido do que acontecera na delegacia, o que, ao que Itachi imaginara, era a intenção de Madara. O tio não era tão bobo quanto fazia parecer às vezes. Muito pelo contrário. Tudo o que ele fazia tinha um propósito por trás, não era à toa que ele comandava todo o crime dali.
Ele havia distraído Naruto facilmente e, mesmo que ele estivesse parecendo um gato ranzinza agora, pelo menos não estava mais pensando no encontro com Nagato ou aterrorizado pela presença desconhecida de Madara. O homem sabia como se fazer inofensivo, Obito havia aprendido como irritar alguém até a submissão de algum lugar, quando o charme não funcionava.
Saiu seguindo um Naruto emburrado do carro e o viu fazer uma pequena careta de dor quando tocou o chão da garagem subterrânea. Tinha esquecido do tornozelo, e dos pequenos cortes causados pelo vidro no apartamento. Havia tido que suturar um deles e imaginava que deviam estar incomodando depois do que aconteceu na delegacia. Não entendia como ele conseguiria andar, quanto mais correr daquele jeito.
Naruto ainda tentava disfarçar o desconforto quando viu uma mão estendida na sua cara e encontrou o olhar sorridente do patriarca Uchiha.
— Oficialmente, sou Madara Uchiha.
De modo reflexo Naruto colocou as mãos para trás e apenas fez uma reverência de respeito como Sasuke lhe ensinara.
— Naruto Namikaze Uzumaki.
— Ora. —O homem abaixou a mão, analisando o garoto divertido e com cautela. — Isso é uma surpresa.
— Sasuke me falou que vocês também eram descendentes de Japoneses, velhote.
Madara riu enquanto os seguranças na porta olhavam espantados para o moleque que destratava Madara Uchiha. Coisa que nunca viram nem mesmo os sobrinhos fazerem.
Na verdade, para diversão de Madara, as únicas pessoas que já haviam lhe chamado de velhote eram Tsunade e Kushina. Via traços daquela rebeldia atrevida delas na criança que o olhava com seriedade, se colocando mais perto dos eu sobrinho do que percebia para fugir do seu escrutínio.
— E Sasuke falou a verdade, apesar de ele ser o único que respeitava isso. — Itachi ergueu uma sobrancelha ao ouvir isso, mas ignorou a indireta. — Você não lembra de mim. Da última vez que nos falamos você só sabia dizer ramen.
Naruto abriu os olhos surpresos.
— Foi sua primeira palavra. Para horror de seus pais que haviam apostado uma grana alta se você chamaria primeiro to-chan ou ka-chan. — Ele riu ao falar isso e Naruto também sorriu sem perceber. Não lembrava desse traço de seu pai, mas não duvidava que sua mãe faria isso.
Itachi viu a pequena troca, parado encostado no carro. Madara não tentou tocar Naruto, o que imaginara que faria, sendo que o homem tinha mania de sair abraçado e sacudindo os outros. E aquilo o deixou aliviado. Ele subestimava a percepção de Madara às vezes, pelo visto.
— Vamos entrar. — Madara falou, seguindo na frente. Naruto foi atrás mancando um pouco enquanto Itachi se colocava ao seu lado, perto o bastante para ser de assistência se ele precisasse, mas sem oferecer de imediato, sabendo que ele recusaria.
Madara virou de soslaio, observando esse comportamento de forma especulativa. O sobrinho parecia nem mesmo se dar conta do que fazia, mas ele sim, mesmo naquele pouco momento que os vira juntos. Era como se Itachi se movesse em resposta aos movimentos do outro, ação e reação.
Ou um campo gravitacional.
Madara já havia visto algo assim uma vez.
Ele nunca esqueceria da dinâmica entre Kushina e Minato.
Itachi, você nunca facilita as coisas, não é? Pensou com certa diversão, só esperando que isso não acabaria mal.
— Itachi, mostre a Naruto o quarto de hóspedes. Não se preocupe quanto as roupas, temos algumas que podem lhe servir. Depois vemos o resto. Cuide desse pé. — Falou sem olhá-los enquanto ganhava um corredor. — Estarei em meu escritório, quero que apareça lá quando terminar isso.
— Eu...
— Somente ele, querido sobrinho. — Madara virou o rosto com um sorriso para olhar os dois de pé na sala, Naruto olhando para as coisas com uma curiosidade infantil, mal o ouvindo, e Itachi o encarando sem expressão, como sempre. Que par. Pensou com sarcasmo. — Vou falar com ele sozinho. Vocês podem ficar longe um pouco, ninguém vai morrer. — Completou divertido a última parte e Naruto lhe encarou com uma carranca, suas bochechas ficando vermelhas.
— O que quer dizer com isso, hein? Ora seu velhote desgraçado, vai s... — Itachi rapidamente cobriu a boca do mais novo o puxando para trás.
—Sim, Tio Madara. — Falou de forma respeitosa e Madara suspirou balançando a cabeça, ouvindo os resmungos abafados.
Já ganhava o corredor quando ouviu a voz incrédula do sobrinho, em um tom surpreso que raramente ouvia vindo dele: — Você lambeu minha mão?
— Agradeça que não te mordi, psibláblá.
Se permitiu rir, ouvindo uma série de xingamentos, agora direcionados ao sobrinho.
— Tão Kushina. — Sussurrou para o nada, lembrando da amiga ruiva boca suja.
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Naruto parou na porta de madeira escura com a mão pronta para bater. Itachi havia saído há alguns minutos dizendo que retornaria logo. Tinha que admitir que se sentia pouco à vontade sem o outro por ali. Não é que não gostasse de Madara, mas...
Nam, não gosto dele.
Pelo menos Naruto não se sentia ameaçado por ele também. O velhote tinha um jeito estranho de o deixar a vontade, o que poderia ser irônico, considerado quem Madara Uchiha era, o quão perigoso sabia que ele poderia ser. O homem tinha uma aura de morte ao redor dele para provar, algo que só havia visto em pessoas que carregavam muitas mortes nas costas.
Tipo Itachi.
E ainda assim Naruto passou as últimas horas seguindo esse Uchiha como uma criança perdida também. Deveria haver algo naquela família que tinha esse efeito estranho.
Mas é engraçado. Naruto ponderou, ainda olhando a porta. Quando vejo o velhote eu lembro mais de Sasuke do que Itachi me faz lembrar.
Infelizmente na capacidade de entrar debaixo da sua pele também, então é, Naruto não odiava Madara, mas o homem dava nos seus nervos. Não queria ficar sozinho com ele.
Não se sentia à vontade em estar ali sem Itachi por perto.
— Entre de uma vez.
A voz saiu por cima de um pequeno viva-voz que ficava em um aparelho na porta e se assustou. Olhou ao redor com minúcia e viu a câmera.
— Velhote estranho. — Resmungou enquanto entrava de vez.
Ao chegar lá tentou se acostumar à penumbra do lugar.
Madara estava deitado em um sofá vermelho com óculos de leitura, uma pilha de papéis jogadas em seu colo de forma displicente. Ele usava um quimono confortável, o cabelo solto e parecia bem longe do homem elegante de horas atrás.
Se balançou no lugar após fechar a porta, olhando para os lados sem saber o que fazer. Madara o fitava em silêncio e era como ter uma versão mais velha de Sasuke lhe lendo, até mesmo o curvar de lábios que provava que Naruto estava o divertindo.
Era irritante.
Sentiu um arrepio na espinha e viu algo se mover na periferia da sua visão. Se se concentrasse, podia ver Sasuke se movendo no estúdio, olhando ao redor com interesse, tentando ler o que estava nos papéis, como o intrometido que sempre foi.
Menma estava sentado na mesa de Madara, analisando o homem com desconfiança. Naruto tentou não olhar nessa direção e se sentiu começar a suar com o esforço.
— Se sente onde quiser. — O homem falou com um sorriso charmoso, guardando os papéis e sentando-se no estofado vermelho, indicando com um floreio ao redor.
Naruto andou de forma desconfiada até uma poltrona afastada perto da estante, de frente para o outro. No mesmo momento em que se sentou afundou nela, um xingamento saindo de sua boca com o susto.
O homem escondeu uma risada em uma tossida, enquanto o observava tentando se ajeitar com esforço. Quando enfim conseguiu emergir, seus pés mal tocavam o chão.
Naruto olhou para isso irritado. Que diabos de estofado era esse?
— Devia escolher uma que fosse adequada para você e seu... porte. —Madara recebeu um olhar venenoso, enquanto o loirinho puxava os pés para cima, se sentando esparramado em desafio. — Como desejar.
Um silêncio tomou conta do local enquanto os dois se encaravam.
Madara se pegou observando.
Os olhos azuis estavam firmes nos seus e ergueu uma sobrancelha, curioso com o atrevimento. Os olhos azuis, no entanto, pareciam apenas sondá-lo. O garoto nem mesmo parecia piscar. Por um segundo teve a impressão de que os olhos dele brilhavam na escuridão e sentiu uma onda de nostalgia com isso.
Ah, Minato. Parece que seu desejo não se realizou.
O analisou mais enquanto era sondado. Naruto vestia uma roupa antiga de Sasuke, que ainda assim parecia grande nele, mas não tanto quanto a anterior. Os cabelos loiros estavam molhados e não penteados. Mentalmente comparou com o que lembrava dele. Primeiro o bebê que pegara no colo, sorridente. Depois o menino triste que vira de longe no dia do enterro do irmão, ao lado de uma menina ruiva e agarrado na mão de Sasuke.
— Vou ser direto. — falou, se decidindo como abordá-lo. — Você é como Minato?
O garoto o olhou confuso e piscando.
— Minato nunca apertava a mão das pessoas também. E ele tinha um motivo para isso.
A medida em que falava Naruto ia ficando mais pálido, o olhar endurecendo. Viu que ele apertava as mãos nos joelhos, o rosto se tornando frio.
— Não faço ideia do que está falando. — Disse seriamente, começando a bater o pé no chão em um gesto nervoso.
— Você mente mal. Você sabe do que falo. E isso já foi uma resposta para minha pergunta.
Naruto sustentou seu olhar, mas Madara viu algo que ele tentava esconder com afinco: medo.
— Eu era amigo de seu pai, de longa data. Ele e Fugaku estudaram juntos na universidade. Eu era mais velho, mas a inteligência dele era fascinante. — Começou a falar e viu um brilho de interesse mal disfarçado no outro. Colocou os cotovelos nos joelhos, o olhando enquanto falava, fixando nos olhos azuis como os de Minato. Era como segurar o olhar de uma criança e Madara era familiar com isso. — Nos conhecíamos há um ano quando sua mãe apareceu no distrito me procurando. Ela queria minha ajuda para livrar o irmão e ela da família. Foi como ela conheceu seu pai.
Os olhos do garoto se arregalaram, surpreso.
— Ela...Minha mãe? Mas... mas ele me disse...
— Ah sim. — Madara assentiu. — Pelo comentário... dele, eu imaginei que ele nunca soube. Kushina não fugiu, Naruto. Ela foi cortada da família quando ficou muito perigosa. Ela só não acabou morta porque eu a acolhi. A pesquisa que Sasuke usou para ajudar você, foi ela que começou.
O garoto olhou para o chão, pensativo, a testa franzida. Madara se perguntou o quanto Nagato havia culpado Naruto pelo o que aconteceu, o quanto o homem realmente sabia. Naruto havia sofrido na mão dele por algo que nunca teve culpa.
— Quando seu irmão veio, ela decidiu que era perigoso demais ficar. Ela não podia contra a família, mas nunca deixou de tentar derrubar os Uzumaki. Ela teve que fazer uma escolha entre a segurança do filho e...
— Nagato. — Naruto murmurou, um sorriso doloroso no rosto. — E isso não é familiar?
Madara conseguia entender a ironia. O paralelo entre a situação deles era evidente.
E Nagato deveria ver isso também e pensar em como seria sua vida se Kushina tivesse feito o que Menma fez. Ficado em Konoha e lutado por ele um pouco mais.
— Quando eles precisaram de um lugar para ficar, eu os acolhi aqui por um tempo até eles partirem. Quando reapareceram, você era recém-nascido. E por dois anos os acolhi aqui novamente. Mas os dois não ficavam em um mesmo lugar muito tempo. Eram como nômades. — Sorriu com a comparação. — E quando fui ter notícias suas novamente, foi por Sasuke. — Madara se endireitou. Os olhos azuis estavam curiosos agora, bebendo suas palavras. — E veja que engraçado, Naruto. Meus sobrinhos nunca me pediam ajuda. Eles faziam as coisas por eles mesmos, não queriam minha influência no meio. Mas nos dois momentos em que a pediram, foi por você.
Essas palavras fizeram o garoto desviar o olhar novamente, de modo triste.
— Eu descobri que havia algo de diferente em seu pai logo no começo. — falou e recuperou a atenção do outro. — Depois foi apenas fazer uma pesquisa sobre o sobrenome dele, mas tudo eram apenas histórias fantásticas. Os únicos Namikazes que se tinham notícias vivos, eram seu pai e o irmão mais velho dele.
— Tobirama.
— Sim. — Madara franziu a testa. — Pouco contato eu tive com ele, não éramos chegados. Ele era diferente de seu pai. Minato era mais aberto.
— Não é a lembrança que tenho dele. — Naruto murmurou e o homem suspirou.
— Eu lamento por isso. Eu imagino que até ele cairia do galho. Não era uma coisa fácil de lidar. — Naruto se encolheu e mordeu o lábio, hesitando em falar. Madara o poupou. — Minato me contou. Ele mesmo me disse. Não sou uma pessoa cética Naruto, nunca fui. Já vi muitas coisas nessa vida. E bastaram algunmas predições certeiras dele para me convencer. Eu achava que aquilo era um dom maravilhoso.
Naruto riu com ironia e encarou o homem como se ele fosse um louco.
— Mas, claro, — completou. — logo fiquei sabendo que tinha alguns preços a serem pagos.
Naruto ficou em silêncio, olhando para o carpete enquanto o homem se perdia nas lembranças.
— Saber e não poder interferir. — Madara falou mais para si mesmo. — Ser mero telespectador privilegiado. Era isso que ele dizia sempre.
— Quem ele tentou salvar? — Naruto se pegou perguntando baixo.
Não conhecia nada de seu pai, mal se lembrava dele. Apenas sabia o que Tobirama contara, já que Menma também não lhe citava muito. Ele previa a morte, como ele. Ele escrevia essas previsões. Em algum ponto aquilo saiu do controle, e ele não conhecera outra imagem do homem que Madara narrara com carinho, do que alguém preso em um escritório em meio a papéis, escrevendo e escrevendo sem parar, tentando arrancar as cenas que o torturavam da cabeça.
— Tobirama. — Madara falou. — Eles eram adolescentes quando seu pai previu que ele morreria em um acidente de carro. Ele desligou os cabos da bateria na mesma noite. No outro dia o pai dele, seu avô Naruto, morria em um acidente quando tentava descobrir a razão de o carro não estar funcionando. Já tinha acontecido outras vezes, mas foi a primeira vez que ele percebeu a troca. Que ele percebeu que o azar das pessoas morrerem ao redor deles não era uma maldição. Era sempre que tentavam interferir, tinham que pagar um preço igual. E Minato amava Tobirama tanto quanto os pais quando era jovem.
Naruto abriu bem os olhos. Tobirama nunca havia lhe contado aquilo.
Ele o havia contado outras coisas. Como uma forma de banir as sombras mais perigosas, como se manter são com as coisas que via. Para Tobirama esse aspecto era ainda mais perigoso, uma sombra raramente conseguia tocar em Naruto. Seu tio não tinha a mesma sorte.
—Ele me contou aquilo quando me explicou que não podia interferir em nada. Que o dom, na verdade era uma piada de mal gosto do destino. Por isso ele nunca apertou minha mão.
Naruto assentiu em entendimento.
— E você? Escreve muito? — perguntou sugestivo. Naruto o olhou um pouco temeroso, mas então suspirou e jogou a cabeça para trás olhando o teto. Era tão ruim guardar aquilo, não poder falar afinal. E era a primeira vez em anos que alguém não tratava disso como se ele fosse louco.
— Eu desenho. — Falou baixo. — E herdei o dom de Tobirama também. — Completou hesitante. — Tenho os dois.
— Então você vê a morte, e vê os mortos. — O homem falou pensativo. — Acho que deve ser bem raro, até mesmo na sua família.
— Não sei, não sobrou muita gente para falar sobre isso. — Zombou fracamente.
O homem ignorou isso.
— Imagino quem você tentou salvar. — Eles se encararam, até Naruto sentir seu peito apertar e seus olhos arderem.
Os desviou, tentando esconder a dor que sentia.
— Eu nunca conseguia salvar ninguém. — Falou ao cabo de segundos, soltando tudo o que estava engasgado. — Eu tentava, mas nunca acreditavam em mim. E quando eu morava com Nagato, não podia falar sobre isso sem que... — ele balançou a cabeça, a respiração ficando descompassada. Madara não interferiu. — Apenas uma vez eu tentei salvar alguém. Tobirama não havia me contado ainda sobre no que isso implicava, e eu só queria salvá-lo, não queria perdê-lo. Eu sabia que ele morreria em um acidente de avião, indo para uma conferência. Quanto mais próximo você é de uma pessoa, mas detalhes sabe, mais coisas vê quando a morte se aproxima dele. — Ele protelou e Madara viu ele fitar o teto, os olhos escondidos pelos cabelos. A voz estava baixa, quase um sussurro, como se ele nem estivesse ali. — Na noite anterior, eu fingi que estava tendo um surto, e fiz ele ficar a noite inteira do meu lado. Ele não viajou. O avião caiu, mas ele não morreu.
Madara franziu o cenho. Lembrava desse acidente. Dessa conferência. Quem devia ter viajado e não foi.
— Sasuke. — falou surpreso e viu o outro estremecer. — Mas ele morreu um mês depois disso. — Completou confuso.
Naruto riu fracamente.
— Pois é. A morte protelou, mas eu o perdi de qualquer forma.
O homem absorveu isso, e então pensou um pouco mais.
— Quem? Qual foi o preço que pagou?
Naruto deixou o silêncio morrer entre eles, enquanto esperava sua resposta. Não pensou que ela viria quando ele falou, a voz ainda mais baixa.
— Eu penso nisso bastante, sabe? Em como estaríamos no enterro do Sasuke se eu não tivesse impedido, em como as coisas teriam sido diferentes. Eu amava Sasuke como minha família. Ele era a segunda pessoa em que mais confiava no mundo. Era meu ponto de apoio. Só havia uma pessoa que eu amava tanto quanto ele. — Os olhos azuis finalmente encontraram os seus, e havia dor neles, lágrimas caiam de forma lenta por seu rosto. — Um irmão pelo outro.
Madara tentou entender aquilo, até que conseguiu juntar as informações.
— Menma.
— Dois dias depois ele deu um tiro na própria cabeça. — Naruto completou baixo, o rosto contorcido de dor. E então riu entre as lágrimas. — Irônico, não é? Meu pai matou o pai dele pelo irmão, e eu matei meu irmão por Sasuke. E no fim... — Naruto tombou a cabeça para a frente, a respiração ainda mais descompassada. — No fim eu fiquei sem os dois.
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Itachi bebericava a bebida no bar quando a mulher de cabelos rosados se sentou a seu lado, em jeans velho e uma camiseta branca. Os cabelos presos e o rosto exausto mostravam as noites mal dormidas.
— Parece acabada. — Falou enquanto ela chamava o garçom e pedia uma bebida.
— Calado. — Resmungou. — Eu trabalho sem parar naquela delegacia. Como uma escrava. E ainda em dois hospitais, então não enche.
Um doce como sempre.
— Você gosta de trabalhar. — Contrapôs
— Ajuda a não pensar. — Ela falou de forma cansada. — Você sabe disso.
Sim, ele sabia. Sakura de certo modo era uma das únicas que durante aqueles anos sofreu a morte de Sasuke como ele: se matando de trabalhar e procurando o desgraçado quase de modo obcecado. Ela não o precisava explicar nada.
Ela virou o copo assim que o homem colocou no balcão e pediu outro, depositando esse em sua frente, brincando nele com as unhas pintadas de vermelho enquanto olhava para a bebida. Itachi fazia o mesmo com a dele. Se encontravam ali pois ninguém os conhecia, ou prestava atenção nos dois. Em outras mesas afastadas, amigos conversavam alto. Estavam protegidos. Era um pequeno bar em uma parte afastada de Konoha.
— Era ele. Quero dizer, a cabeça. — Ela falou ao cabo de segundos. — O cara que foi morto antes de Sasuke e que nunca ninguém havia achado a parte do corpo que faltava. Ela foi conservada em formol, muita coisa foi destruída, mas bastaram alguns exames.
Itachi desconfiava disso e apenas suspirou.
— Não faz sentido! — A médica explodiu baixo. — Veja bem. Ele mantinha um padrão. Ele matava, removia uma parte do corpo da vítima, e o dava para a outra vítima em algum momento durante os noves dias que a infernizava. Mas então algo mudou. Sasuke não recebeu nada. Ele simplesmente foi morto.
Itachi ouvia em silêncio, até porque aquele era o raciocínio que o atormentava há anos.
— Então vem esse outro garoto. Ninguém sabe nada, ao que parece, ele não recebeu nenhuma carta, nenhuma ameaça, e então aparece morto, o coração de Sasuke está lá, como um aviso de "voltei."
A mulher apertou o copo com força.
— Um aviso para mim, talvez. — Completou pensativo.
— E então ele começa a mandar partes do corpo para esse garoto agora. Os dentes são do garoto morto, já foi confirmado. A cabeça que havia desaparecido. Ele volta a seu padrão original depois de dois desvios.
— Nem tanto o padrão original. — Itachi corrigiu ao lembrar dos resultados dos testes que pegara com Kakashi há poucas horas atrás. O inquérito da foto no parque também lhe dava uma ideia. Naruto não era uma escolha aleatória, era a mesma letra atrás daquela foto. O desgraçado estava de olho nele há anos. — A nona vítima. — falou e a mulher lhe olhou parando de falar, o fitando com a sobrancelha erguida. — Já ouviu falar da lenda da Kyuubi?
— O youkai raposa. A cada 100 anos nasce-lhe uma cauda, até alcançar as nove e se tornar onisciente, o mais poderoso. — Ela falou citando a lenda japonesa.
— Youkais raposas, kitsunes, são poderosos por serem espertos, podem se camuflar, pregar peças. Os bons ajudam as pessoas, são mensageiros de Inari. Os maus são enganadores e cruéis. Ele se auto intitula Kyuubi. Ele usa o número nove em tudo. Nove dias, nove cartas, nove presentes. Um poema, nove estrofes. Nove. E agora, a nona vítima. É especial.
— Nove estrofes?
— É apenas uma teoria. Nas primeiras vítimas, sempre que ele deixava um de seus presentes e cartas, havia trechos de poetas conhecidos, aleatórios, que apenas faziam sentido até que você via o estado dos corpos depois. Lembra do Shimura?
Sakura puxou pela memória pelo o que lera dos altos durante aqueles quase cinco anos.
— Ele fora enterrado vivo, certo?
— Sim. Todas as cartas que ele recebera tinham alguma menção a isso. Covas, trechos sobre poetas obscuros. Foi a primeira vez que notamos esse padrão. Mas o último poema, o que era encontrado com os corpos, ninguém sabe quem o escreveu. Não há registros, por isso, achamos que é criação dele. E novamente há um padrão.
— Que tipo de padrão? — perguntou atenta.
— Veja por Shimura, novamente: A terra clama por ti se o céu te rejeita. No ar te sufocas, entre os teus não te cabes... não sou digno de pisar onde tu caminhas. São alguns trechos.
Ela arregalou os olhos entendendo.
— Você captou. Novamente, é uma menção a morte. A terra, sufocar, não ser digno de pisar. Ele foi enterrado vivo, os pés foram decepados. Entende agora? Era algo óbvio, mas por um tempo se escapou.
— Até você assumir. — Ela completou. Itachi apenas bebeu sem responder a isso. — Mas, não me disse o que isso tem a ver com agora.
— Tem tudo a ver. Ele não recebeu nenhum poema de poeta nenhum. Com os dentes de Neji havia um bilhete, como em todos os outros casos, exceto os últimos dois. Mas nesse bilhete, havia a primeiro estrofe que foi deixando com o corpo da primeira vítima. — Ele ergueu um dedo. — Primeiro dia. — Ergueu um segundo. — Segundo dia, a cabeça na geladeira, outro bilhete, e era...
— A segunda estrofe. — Ela deduziu. Itachi apenas assentiu baixando a mão sem encará-la. — Então você acha que ele vai deixar uma estrofe a cada dia... Faz sentido, mas são nove dias o padrão, e só temos oito estrofes. Você acha que se ele seguir o padrão então, no nono dia ele terá que fazer a estrofe nove.
— E o poema estará terminado. — Itachi completou. Sakura sempre era rápida. Ele entendia porque conquistara Sasuke. — Por mim ele não chegará a tanto, claro. Antes disso quero ter certeza de mandá-lo para o inferno.
— Que ele escreva poemas para o diabo. — Ela resmungou em resposta. Itachi bebeu e a mulher o seguiu.
— Mas não explica a mudança em duas delas. — Ela refutou. — Foi como se ele não houvesse planejado. Agido por impulso.
— Talvez.
— Pode ter sido outra pessoa. —Ela falou pensativa e Itachi franziu a testa. Com Deidara era a segunda pessoa que falava isso.
— Os poemas são os mesmos. O laboratório analisou, é a mesma letra, a mesma pessoa.
Ela se manteve em silêncio. Eles estavam frustrados, e Itachi de novo tinha a sensação de que algo lhe escapava a frente dos olhos.
— Como ele é?
— Quem? — perguntou após a fala repentina da mulher a seu lado, depois de minutos de silêncio.
— O garoto, o que recebeu a ameaça.
Itachi escondeu um sorriso bebendo, mas a mulher percebeu curiosa.
— É... peculiar. E estranhamente, era meu paciente.
Ela arregalou os olhos verdes.
— Pode ter algo aí então, ele pode estar fazendo isso para te atingir de novo.
Ele não respondeu. Já tinha pensado nisso, mas sua relação com Naruto não era forte o bastante para isso. Afinal, ele havia o visto apenas duas vezes quando ele recebera a carta.
E depois do inquérito da foto ele teve certeza disso.
— Não acho que seja o caso. Há algo que aconteceu anos atrás que sugere que ele estava de olho nele há muito tempo. E mal conheço Naruto Namizake.
Ao falar o nome a mulher de cabelo rosa parou com a bebida a caminho da boca. Já ouvira aquele nome, anos atrás.
— Naruto Namikaze. Naruto Namikaze Uzumaki? — Repetiu baixo, e então socou a mesa, derrubando a bebida e recebendo uma expressão assustadora de Itachi, que ignorou. — Sasuke! Sasuke vivia me falando desse garoto!
Isso pegou Itachi de surpresa. Ao que parecia, só ele não havia ouvido falar de Naruto antes.
— Ele ia me levar para conhecê-lo, tínhamos um jantar na casa dele e do amigo chato dele. — Ela fechou a cara parecendo chateada, fazendo um beicinho, mas logo riu. — Menma, ele era um dos sujeitos mais bonitos que já vi, mais bonito até do que seu irmão, mas ele era insuportável. Barulhento, espaçoso. Estavam sempre na cola um do outro no último ano, se bicando por tudo. Ele era fotógrafo, trabalhavam no mesmo jornal e tinha uma namorada linda e temperamental. Karin, ela trabalhava em uma revista de alguma coisa. Agora eu lembro. Eram primos. Karin Uzumaki. Menma Uzumaki. E o irmão dele que nunca conheci, Naruto Uzumaki.
Itachi tentou não se mostrar surpreso com toda essa vida do irmão que não sabia. E então lembrou, que nesses últimos anos de Sasuke, em que aquilo tudo parecia ter acontecido, eles mal se viam. Estava absorto no caso da Kyuubi, obcecado. Negligenciou a família, pareciam estranhos um para outro. E no dia que Sasuke o buscou, brigaram feio, disseram coisas horríveis um para o outro. A última coisa que ele lhe deixara foram mensagens, aquelas mensagens que Itachi não respondera. Ignorara as ligações do irmão, pela primeira vez na vida, deixando de ser seu guarda costas, e vejam no que deu. Ele não estava lá por Sasuke.
— Ele falava muito dele. — Sakura ainda falava a seu lado, com um sorriso pequeno. — Sasuke sempre foi meio durão, mas ele sorria sempre que citava Naruto, meio escondido, mas sorria. Comprava CDs e livros para ele, e café. — Ela riu. — Ele viciou a criança em café também. E então ele marcou o jantar, mas nunca aconteceu. — Ela completou triste. — Como... — Ela encarou Itachi que ainda olhava o balcão de modo vazio. — Como ele é?
— Ou você gosta dele, ou odeia ele. — Itachi falou passando os dedos no copo. — É rebelde, malcriado, boca suja. Cheio de problemas. Mas ao mesmo tempo... é como uma criança pequena e curiosa. Não desvia o olhar quando olha você, é assustador isso.
Sakura o ouvia falando fazendo uma imagem mental do garoto, e ao mesmo tempo abrindo um pouco a boca. Itachi não falava muito. E tinha algo de diferente em como ele falava do garoto. A boca dela se abriu em um pequeno "o" que ele não percebeu.
— Ele se faz de durão. Bateu no Hidan, quebrou o nariz dele com uma cabeçada. Mas ao mesmo tempo é frágil demais, vulnerável. Em carne-viva. É difícil saber o que ele está pensando todo o tempo, ele muda demais, as atitudes dele mudam demais. E nunca se sabe se ele planeja ou faz por impulso. É teimoso. — Itachi franziu os lábios em um quase sorriso. — Muito teimoso. Uma mula. E não tem respeito, nem mesmo por Madara. Cabeça quente também. Se pisarem em seu calo ele solta uma linguagem de porto, mas tem algo de calmo e bom nele. Ingênuo até. Como se tudo fossem máscaras, e ele só se escondesse para não se machucar e espantar todo mundo da pessoa que ele é. Não funcionou. Se até Sasuke ele conquistou.
— E você também. — Sakura falou com um sorriso largo na face cansada. E riu alto quando Itachi a olhou confuso. Era tão raro ter algum sentimento na cara dele, era até engraçado.
— Não sei do que está falando. — Ele completou reassumindo o rosto frio.
Sakura negou com a cabeça e suspirou voltando a bebida.
— Você sabe sim. Mas já conheço de Uchihas o bastante para saber que vai morrer negando.
Itachi não respondeu. E para a amiga, não precisava.
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Itachi seguiu o som do piano no fim de tarde. Estava preocupado por deixar Naruto e o tio sozinhos por tanto tempo, mas se surpreendeu ao chegar no umbral da sala de música e ver aquela cena. Ele não entrava ali há anos. A última vez havia sido no último natal que passaram no distrito Uchiha, que passara com Sasuke. Estava absorto pelo caso de Kyuubi na época, e quase perdera a comemoração. Madara obrigara Sasuke a tocar músicas natalinas ocidentais no piano e Shisui tivera prazer em gravar para irritar o primo mais novo.
A cena ali era bem diferente da de muitos anos atrás. Madara estava sentado em um dos sofás da sala, um braço jogado no encosto, olhando para o piano com um sorriso de canto, de uma forma verdadeiramente relaxada. Obito estava sentado no chão, a cabeça recostada no mesmo sofá, olhando para a janela de forma pensativa, outra coisa rara: Obito pensativo.
O som do piano verberava no cômodo em uma canção intricada que Itachi lembrava que Sasuke amava tocar. Quase podia vê-lo ali, sentado naquele piano, o rosto concentrado, os olhos fechados.
Mas não era ele ali. Era Naruto. E pela primeira vez desde que o conheceu percebeu que, com todas as semelhanças que havia visto em primeira vista entre Naruto e Sasuke, a verdade é que eles eram completamente diferentes.
(E ele sentiu um estranho alívio com isso, algo que nem mesmo conseguia explicar.).
Os cabelos loiros estavam caídos pelos lados, recebendo toda a benção do sol que vinha pela janela alta na sala, que cobria o ar com partículas de poeira brilhantes, por todo o tempo que aquele lugar permanecera fechado. Eram dele as mãos que deslizavam rápidas no teclado, os pés que trabalhavam nos pedais. Ficou hipnotizado, mesmo quando os homens perceberam sua presença, ele não desviou os olhos da figura que comandava o piano. Dos olhos azuis que se abriam, como se uma voz o comandasse em aviso e se viraram para o encarar na porta. Estavam um pouco inchados, como se tivesse chorado. E quase se surpreendeu como aquilo o afetou, imediatamente lembrando do que Sakura falara.
Naruto não parou de tocar, a música continuou soando para o final majestoso, enquanto seus olhos encararam de Itachi para aquela figura etérea a seu lado na porta. Viu o sorriso de Sasuke enquanto caminhava até Naruto, devagar. Era quase uma luz tênue, sorriu de canto quando essa luz se pôs a seu lado no banco, as mãos seguindo nas teclas no final, a parte favorita dos dois.
Os ouvidos dos demais não captaram ao certo a mudança na música, não perceberam as outras mãos que trabalhavam no som, o fazendo mais fiel e intenso. Apenas Itachi percebeu uma mudança na luz estranha, ela brilhou mais forte perto de Naruto, os olhos azuis saíram dos seus e ele o viu sorrir durante todo o restante da música. Um sorriso pequeno, de verdade, até que o som chegou a seu final, ecoando as últimas notas no silêncio.
Os quatro ficaram mudos por segundos, até que Madara bateu palmas, seguido de Obito.
— O prazer de uma boa música. — Madara falou encarando a figura pequena que apenas resmungou algo e ficou levemente encabulado, colocando as mãos no colo.
Itachi entrou na sala, captando algo diferente no ar, sem saber ao certo. Ainda assim sorriu de leve.
— Demorou, psibláblá. — Naruto resmungou, se virando no banco e os olhos caindo no container térmico que o homem trazia. — Isso é ramen?
— E café árabe. — Falou de forma curiosa, indo cumprimentar Obito enquanto os olhos brilhantes e azuis o seguiam, de olho no embrulho que trazia. — Como sabia?
Naruto coçou a cabeça: — Pressentimento.
A risada de Sasuke ecoou zombeteira na cabeça de Naruto e ele se segurou para não o xingar.
Madara riu balançando a cabeça e para surpresa de Itachi, Naruto e ele trocaram um olhar cúmplice com isso. Bom, aquilo era muito estranho. Muito mesmo. Mas muito muito mesmo.
— Só falta trazer chocolate e flores. — Obito zombou ainda sentado no mesmo lugar provocando o loirinho que virou os olhos azuis em fendas para ele.
— Não entendi você, pervertido. — Completou com uma voz de ameaça e o homem riu alto.
— Que Itachi está lhe cortejando, minha cara criança.
Itachi dessa vez que mandou um olhar ameaçador para o primo, que o ignorou completamente.
— Não fale besteiras, Obito.
— Isso é impossível para ele. E olha quem encontrei perdida no portão, Madara.
Os olhos de todos caíram nas figuras paradas no umbral da porta, onde Shisui olhava de forma zombeteira para Obito, e ao seu lado, uma linda mulher morena de vestido negro curto solto e cabelos negros cacheados longos, passeava os olhos pela sala, sorrindo para a família.
— Kurenai! — Obito saltou de onde estava sentado e em segundos estava abraçando a mulher a tirando do chão. — Minha filhinha ingrata, que aparece e não avisa. — Ele completou em falso ultraje e a mulher tentou empurrá-lo, rindo.
— Me solta, Obito!
— Você me chamava de oto-san! — Ele reclamou a colocando no chão e a firmando. Ela era baixa, o corpo esguio e atlético.
— Eu tinha onze anos! — Ela lhe deu um soco leve na barriga para ele parar de sacudi-la
— Sinto falta de quando você tinha onze anos e tinha respeito. — Ele falou acariciando o lugar onde fora atingido.
— Ela me bateu mais forte. — Shisui reclamou.
— Você me beijou. — Ela rebateu encarando o Uchiha de cabelos cacheados que a olhava de forma chateada, os dois parados ainda na porta se encarando.
— E.eu não te via há anos! — Ele se defendeu. — E sou seu marido!
— Ex-marido. E ainda me fez passar vergonha na frente dos seguranças na porta. Merecia ter apanhado mais.
— Nada mudou. — Obito zombou e os outros tiveram que concordar mentalmente.
Kurenai iria continuar a discussão quando seus olhos caíram na figura pequena a encarando sentada no banco do piano. Os olhos azuis muito abertos a viam como se a reconhecesse, e quando ela os viu, sustentaram seu olhar de forma curiosa.
Vendo a atenção da mulher ser tomada, Shisui olhou também e se surpreendeu em ver alguém tocando no piano de Sasuke em primeiro lugar, sendo que Madara não gostava nem que alguém entrasse naquela sala. E ainda mais ao ver a figura que encontrara no dia anterior na casa do primo.
— O que ele faz aqui?
Perguntou confuso.
— Ele é da família agora. — Madara falou com simplicidade e os olhos azuis desviaram de Kurenai para o homem, surpreso. Itachi notou um leve rubor em seu rosto e sorriu.
— Isso poupa o trabalho de Itachi. — Obito zombou com falsa seriedade e Shisui reprimiu um sorriso com isso enquanto Kurenai ficava confusa. Naruto olhou o homem de forma perigosa, e Itachi apenas suspirou pela infantilidade.
Kurenai então voltou a analisar a figura mais de perto, curiosa. Não entendia o que estava acontecendo. Viera para ali em vista que Itachi não lhe dava notícias, estava preocupada com ele. Foi até o amigo e ele a recebeu com um abraço forte.
— Você não disse que viria. — Ele reclamou a olhando quando se separaram.
— Surpresa!
Itachi assentiu com um sorriso de canto. Naruto olhava a troca, sentindo algo estranho que não entendia bem. Ele nunca entendia o que estava sentindo. Foi uma pontada leve no peito e franziu a testa confuso. O olhar da mulher morena recaiu sobre ele novamente, depois que ela cumprimentou Madara.
Naruto tinha um flash dela na cabeça, era estranho. Lembrava algo da visão que tivera de Shisui. Tinha o rosto dela, e então gritos, e chuva e tiro. E o nome Kurenai que era sussurrado, ou gritado em meio a dor de alguém. E Shisui morto.
Era tão confuso. Geralmente ele não conseguia lembrar mais de uma visão, a não ser que se tornasse próximo da pessoa. Como aconteceu com Sasuke. Às vezes ele podia mostrar essa visão para a pessoa também ao invés de desenhá-la. Quando descobriu isso foi sem querer, durante uma briga com um garoto na escola. Simplesmente tocara no rosto do sujeito e ele gritou com as cenas. Disseram que ele ficou no hospital por semanas, então ele só usava aquilo para se defender.
Tobirama lhe falara que era um dom apenas dele, e quando entrou na escola em Konoha e foi perturbado, não teve problema em usar aquilo contra quem queria lhe ferir. Nem todo mundo estava, como ele, acostumado com aquelas cenas sangrentas.
A exceção fora Neji. Ele vira a morte de Neji sem tocar nele, sem estar nem perto dele. Não entendia o porquê daquilo. Tinha que perguntar a Tobirama.
Mudou o foco quando a mulher caminhou até ele com um sorriso pequeno, o analisando curiosamente. Ela parou em sua frente e lhe estendeu a mão delicada.
— Sou Kurenai Uchiha, prazer.
Ele olhou a mão, mas não a apertou. Se inclinou de forma respeitosa e para se desculpar pela desfeita aparente sorriu e disse o nome completo.
— Sou Naruto. Naruto Namikaze Uzumaki.
O nome surpreendeu a mulher que estancou, os olhos escuros muito abertos.
— Naruto Namikaze? — Ela virou para Madara por sobre o ombro. — Aquele Naruto?
Madara assentiu sorrindo e Itachi suspirou. Parece que era apenas ele que não lembrava de Naruto, afinal. Em vista que ao ouvir o nome até Shisui olhou assombrado da porta para Madara, que novamente assentiu.
— Quando eu vi você, tinha dois anos de idade! — A mulher disse ainda surpresa e com um sorriso leve. — Você era uma criança linda. E ficou ainda mais bonito, pelo jeito.
Naruto corou com isso e brincou com as mãos no colo recebendo uma risada zombeteira de Obito e Shisui. Até Itachi ficou com vontade de rir, mas segurou-se.
— Obrigado. — Ele sorriu sem graça e mais uma vez Itachi notou algo peculiar. Viu a mulher sentar-se ao lado de Naruto e ele não se afastou, apenas estremeceu de leve e a mediu um pouco desconfiado.
— Ei! Tira o olho moleque. — Shisui falou em falsa seriedade.
— O ignore, Naruto. — Kurenai rebateu com uma piscada de olho para Naruto, que respondeu com um sorriso confuso.
Kurenai o observou com afinco. Ele tinha lindos olhos azuis, um tanto inocentes demais, que a encaravam sem hesitar. Tinha algo no rosto dele, nas curvas suaves que lhe lembravam a expressão de Sasuke quando eram crianças. Apesar de o rosto ser totalmente diferente. Os olhos dele eram grandes e expressivos, a boca era maior e mais carnuda, e ele tinha um brinco na orelha direita, além daqueles cabelos que pareciam um ninho de passarinho de tão bagunçados que estavam.
— Você que estava tocando? — Perguntou de forma suave e o loirinho assentiu sério. — Você toca muito bem. Eu sei um pouco, a gente pode tentar juntos. Quem sabe o bobo do Shisui não fica calado para escutar.
O loirinho sorriu e assentiu.
— Se for para eles calarem a boca. — Sua voz saiu tão séria.
Kurenai ouviu a risada de Madara com a resposta. O garoto já tinha o conquistado, pelo jeito. Madara parecia muito à vontade.
— Eu não sou nenhuma artista. — Confessou em falso pesar. — Mas sei Comptine d'Un Autre Été. Conhece?
Naruto assentiu rapidamente.
Os demais se sentaram pela sala. Era uma cena estranha, Kurenai imaginava. Três criminosos, dois policiais. Cinco Uchihas, a família conhecida por impiedade, por pouco expressão de sentimentos. Por não ter fidelidade para ninguém além da família. E lá estava Madara sorrindo de forma relaxada, de olhos fechados. Obito e Shisui calados sentados no chão, e Itachi. Itachi que ela vira destruído por anos, sem nada expressar de verdadeiro e bom. Com apenas um objetivo em mente. Itachi estava discretamente sorrindo, os olhos seguiam os movimentos daquele garoto de forma calma, como ela não via há anos, desde que eram crianças.
Ela não sabia quem era aquele menino ao certo, o que ele fizera, mas ali estava ele, com cinco Uchihas rendidos a ele, o ouvindo tocar.
Seguiu, o acompanhando. Quando se virou para lhe fitar ele sorria olhando o teclado, de forma suave. O som parecia mais intenso, e em uma ilusão de ótica estranha ela via a luz mais forte sobre ele.
Sua respiração ficou presa em sua garganta, porque por segundos viu Sasuke ali, ao lado dele. Foram apenas segundos, mas por aquele momento ela olhou para Itachi sem parar de tocar e o viu com a testa franzida.
Eles haviam visto a mesma coisa, mas preferiram achar que era mera ilusão. Assim como o cheiro que estava em todo lugar, aquela impressão que Itachi havia tido quando entrara naquela sala. Era o perfume de Sasuke ali, inundando tudo ao redor.
Impregnado em tudo.
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Notas finais:
Comptine d'Un Autre Été: https: //youtu.be/2W_G3xmSGfo
A canção de ninar que Mikoto canta (Dormi dormi bel bambin, por emhuisken) : https://youtu.be/Y3rifRlrxGU
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