Capítulo XIV - Tio Madara
Avisos: Discussões sobre abuso sexual e pedofilia.
Que Deus salve minha podre alma.
Edgar Allan Poe
A MENTE HUMANA É EXTRAORDINÁRIA. O mecanismo de memória, ao contrário do que muitos acreditam, não é como um computador com arquivos que podem ser acessados, mas como uma história contada oralmente, com detalhes que podem mudar cada vez que passa por alguém.
Às vezes, repetimos tanto algo para nós mesmos que passa a ser verdade.
Quando lidamos com trauma, principalmente quando crianças, nossa mente tem sua pequena estratégia para nos tornar funcionais. Esquecer é uma delas, modificar os fatores para tornar algo aceitável é outra.
Acontece que para uma criança, a fantasia pode ser mais aceitável do que a realidade traumática.
Pequeno Naruto não sabia como uma mente funcionava, não realmente. Ele só sabia que havia um demônio no corpo do seu tio e aquele demônio é que o machucava. Na cabeça do pequeno Naruto, esse era um fato inquestionável. Como mais explicar o fato de que alguém que deveria cuidar dele, pudesse fazer o que ele fazia?
Como explicar como às vezes ele agia de forma diferente?
O demônio entrava em seu quarto no meio da noite. O demônio ligava aquela câmera, um ponto vermelho piscando em sua luz hipnótica que o jogava em puro terror. O demônio machucava Naruto. O demônio gostava de fazê-lo gritar.
Quando o demônio ia embora, ele deixava uma casca para trás. Uma casca de olhos vazios e indiferentes, que passava por ele como se não visse. Uma casca vazia que às vezes podia ouvir chorando no sofá da sala no meio da madrugada. Não havia bondade na casca vazia, mas não havia o ódio do demônio. Só havia... nada. Um vazio imenso, que por vezes o assustava tanto quanto o demônio fazia.
Naruto caminhava na pontas dos pés, silencioso, vagando entre as duas entidades naquela casa. Fugindo do demônio, passando desapercebido pela casca vazia. Silencioso como um rato, ele vagava. Quando o demônio virava a maçaneta da porta, Naruto se escondia nas cobertas, enquanto rezava para que um anjo viesse o tirar dali, espantar aquele demônio para longe.
(Só bem mais tarde, Naruto iria perceber que não havia demônio algum. Que as duas entidades daquela casa eram um só, e que o monstro da sua infância era humano, um humano que também tinha seus monstros.
Foi quando ele entendeu que humanos podem ser piores do que qualquer monstro que uma mente infantil pode imaginar.).
Um dia a casca vazia veio no seu quarto, não o demônio.
A casca vazia se sentou na sua cama, sem tentar o remover do seu esconderijo como o demônio fazia.
Pequeno Naruto prendeu a respiração, seu coração como as asas de um beija—flor, batendo rapidamente em seu peito, enquanto se encolhia o máximo possível.
— Quando eu vi você e seu irmão, foi como voltar no tempo.
A voz baixa e distante o fez piscar confuso. Ainda assim, permaneceu onde estava, imóvel, imaginando aquele lençol como uma fortaleza. No punho pequeno, Naruto agarrou a pequena cruz que Nawaki havia lhe dado semanas atrás.
— Kushina me olhava assim também, como se eu fosse a coisa mais importante na terra. Mesmo quando ele machucava nós dois, ela me mandava fechar os olhos e fingir que eu estava em outro lugar. Você faz isso também, não faz? — A voz saiu em um sussurro. — Finge que não está aqui?
Naruto não segurou um som confuso. Imediatamente cobriu a boca, se encolhendo mais.
— Ela me amava, mais que tudo. Mesmo quando ele fazia nós dois... ela me segurava quando ele ia embora, ela sempre me pedia desculpas, mesmo quando ela que se machucava mais. Era o dever dela me proteger. Porque se não fosse como ele queria, então era ele e um de nós dois, e quase nunca era ela. — Uma mão tocou suas costas por cima da coberta e Naruto sentiu seus olhos marejando de medo. — Era sempre pior quando era ele e um de nós dois, o outro sempre tinha que assistir. Você acha que Menma teria feito isso também?
As sombras no quarto aumentavam, vazando pelas paredes. Naruto continuava rezando.
O sentiu o puxar para perto, cobertas e tudo.
— Se eu tivesse dito que seria ele fazendo isso com você ou eu, se ele teria feito o que Kushina fez? Ele teria segurado você e chorado quando vomitava depois, como ela fazia comigo? Ele teria pedindo para você fingir que estava em outro lugar, enquanto te tocava? Ela me amava também, como ele ama você. Ela me deixou aqui, como ele deixou você. E sabe o que é estranho? Eu odeio seu pai por ter levado ela, mas não odeio Kushina por ter ido, por ter fugido.
A casca vazia não fez nada tirou as cobertas do seu rosto. Naruto não abriu os olhos.
— Eu a odeio por ter me deixado aqui. Sozinho com oto—san.
Uma mão abriu seu punho apertado, removendo a cruz e a jogando longe no quarto.
— Como Menma te deixou comigo.
(Anos depois, ao revisitar essa conversa, Naruto se fez a mesma pergunta que Nagato, mesmo que nunca fosse admitir a ninguém isso. Menma e Karin o colocavam naquele armário para o proteger de Nagato, mas e se ele colocasse Menma na situação de Kushina?
O que Menma teria feito no lugar de Kushina?)
— Menma não vai voltar, Naruto. Ele nunca vai voltar. Ela nunca voltou.
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Se Itachi não conseguisse se controlar, poderia estar andando de um lado para o outro.
Ele se contentou em encarar a porta da delegacia com intensidade assustadora, recostado no balcão da recepção. A policial que ali trabalhava tratou de o ignorar depois de receber um olhar mortal ao tentar puxar conversa. Os acusados algemados esperando serem fichados tentavam não focar na figura que exalava fúria velada, sentindo institivamente que não queriam chamar atenção para si mesmos.
Itachi era um homem em missão. E um homem bastante furioso.
Ele não se moveu a custo, mesmo quando a porta se abriu, ar quente entrando de forma momentânea, deixando na entrada um homem elegante, que removia seus óculos escuros enquanto caminhava até Itachi com um sorriso carismático.
E mesmo com esse sorriso, os acusados sentiram o mesmo instinto que com o fantasma burguês do balcão, mas ainda pior. Alguém sussurrou 'Madara Uchiha' entre eles, com reverência.
Nos seus 50 anos, usando um terno negro elegante, cabelos grandes presos em um rabo de cavalo, era impossível não ver as semelhanças entre os dois Uchihas. Dos traços aristocráticos as roupas elegantes e aura de perigo.
A diferença, no entanto, é que um deles parecia estar se divertindo com a situação.
A ironia de Madara Uchiha entrando pela porta da frente de uma delegacia, afinal, não passou desapercebida.
— Aqui estou, querido sobrinho. — O homem falou com a voz rouca e divertida, piscando para a policial na recepção que tinha os olhos arregalados, telefone na mão enquanto conversava furiosamente com alguém do outro lado.
Itachi respondeu apenas com um movimento de cabeça, sem nada dizer ao tio, virando as costas e adentrando pela porta de vidro do local para outro corredor com o outro em seu encalço.
Itachi explicou rapidamente a situação, enquanto seguiam para a sala de Ibiki. Madara ouvia em silêncio, a testa franzida e o sorriso apagado à medida que entendia mais da situação. Itachi nunca pedia sua intervenção em nada, desde adolescente. Tão pouco Sasuke, embora ele houvesse necessitado se meter mais na vida do sobrinho mais novo.
Quando ele ouviu o nome dos envolvidos, sua expressão se abriu em surpresa genuína.
— Naruto Namikaze? O pequeno Naruto de Kushina e Minato? Então ele está vivo, e em Konoha... É bom saber disso, apesar das circunstâncias.
Itachi ali findou suas suspeitas.
— Então, você realmente o conhece. Lembra dele.
— Me admira você não lembrar, Itachi. — Madara falou divertido, mascarando sua preocupação em Itachi estar envolvido justamente com aquele garoto. Ele conhecia Itachi, seu sobrinho não se preocupava com alguém à toa. E Itachi estava muito preocupado. — Sasuke e o irmão dele, Menma, disputavam para colocar aquele garotinho no colo como cães por carne. A mãe dele... — Madara sorriu triste ao lembrar da ruiva. — Estava para contratar Sasuke como babá em tempo integral. O pequeno Naruto, no entanto, se agarrava em você sempre que você aparecia. Sasuke ficava furioso.
Itachi franziu o cenho. Até o dia anterior se quer lembrava de algum dia ter conhecido Naruto, como aquilo poderia ser verdade?
— Então, Kyuubi está o ameaçando e você quer pegá—lo. O que quer que eu faça? — Madara perguntou, a expressão grave.
— Nagato Uzumaki. — Quando falou o nome o tio fechou a cara, entendendo tudo. — Ele está vindo buscá-lo.
— Entendo. Não precisa explicar. — Cortou o sobrinho. — Naruto é filho de dois de grandes amigos meus, ele ficará onde eu posso vê-lo.
Completou abrindo a porta da sala de Ibiki sem bater ou se importar com a secretária que olhava o homem espantada. Um dos agentes no balcão se engasgou com o café. Madara sorriu de forma charmosa para eles.
Itachi sabia que os negócios do seu tio eram difíceis de traçar a fonte. Todos sabiam quem Madara era e no que estava envolvido, ninguém tinha provas disso. Era um eterno jogo onde Madara sempre estava um passo à frente.
O que tornava o fato de ele estar ali um atrevimento ainda mais.
— Meu amigo Morino! — Madara falou com um sorriso largo ao entrar e ver o homem careca e de cicatrizes levantar a cabeça dos papéis e olhar de um para outro de forma interrogativa. Pela expressão pouco surpresa, a notícia da recepção já havia se espalhado. — O único homem honesto que eu valorizo!
Os dois se conheciam de longa data.
(Na verdade, Madara já tentara corromper Morino, essa era a verdade. Ele podia valorizar um homem honesto, mesmo que fosse inconveniente.).
— Então veio se entregar, Madara. — O delegado perguntou voltando a olhar seus papéis, os ignorando.
Tinha uma ideia do que se tratava: Mais dor de cabeça. Olhou Itachi pelo canto do olho que entrava e fechava a porta com a expressão fria, se encostando a ela com os braços cruzados.
Então era isso, chamar Madara, ele devia ter se sentido encurralado mesmo. Aquele caso significava muito para ele, Itachi não deixaria uma testemunha por aí solta.
— Tenho que comprar uma bebida para comemorar.
— Não precisa. — Madara se sentou na cadeira de frente de forma elegante. — Que eu lembre, seu gosto para bebidas é estranho.
— Apelou para seu tio, deve estar desesperado mesmo, Itachi. — Falou ainda em voz desinteressada.
— Ora Morino, estamos aqui só para desfazer uma injustiça.
— Você é muito justo afinal... — zombou.
— Ao menos não entrego criancinhas para serem abusadas.
Madara o cortou frio e Ibiki finalmente levantou a cabeça, encontrando o olhar escuro turbulento.
A brincadeira havia acabado.
— Não fale o que não sabe.
— Eu sei que Nagato Uzumaki é um maldito pedófilo. O clã dele sabe, a polícia sabe. Disso e de que ele está por trás do tráfico e exploração sexual entre Konoha e Suna. Nós dois sabemos o que vai acontecer quando ele colocar as mãos no sobrinho. Tudo o que o impediu de ir atrás dele foi o clã, mas agora o jogam de bandeja em suas mãos.
Morino cruzou as mãos na mesa, atento.
— O conselho não acha isso. — Falou ainda com a mesma voz vazia. — Não há parentes a serem contatados. Naruto é emancipado, o que não deveria acontecer devido a seu histórico. Ele vive sozinho, mudou o sobrenome, e retornou a Konoha, coisa que estava proibido. Foi a solução que eles encontraram... — Ele deu força a palavra eles, para se excluir claramente disso.
— Blerg! — Madara resmungou. — Detalhes, detalhes. Tenho uma solução alternativa, boa para todos. — Sorriu elegantemente.
— Estou ouvindo. — O outro falou seriamente.
— Me dê alguns minutos com seu conselho, os convenço rapidinho a eles aceitarem o novo tutor desse garoto.
— Que seria... — Perguntou, embora desconfiasse da resposta. Madara era atrevido o bastante para isso, e tinha lábia e ameaças o bastante para conseguir o que queria.
— Ora, que pergunta boba, Morino. — Fez um gesto displicente com a mão bufando e sorrindo de forma ladina — Sou eu, claro. Quem melhor que Madara Uchiha?
Morino deu um suspiro sofrido.
(Itachi não sabia se o sorriso que havia visto rapidamente nele ao se virar para pegar o telefone havia sido real ou se havia apenas o imaginado).
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Itachi segurou a pasta com o inquérito do incidente no parque que Morino havia lhe entregue apara analisar, encaminhou o pedido dos resultados dos exames das últimas pistas no laboratório e ligou para Sakura enquanto esperava o tio sair daquela sala. A mulher disse que logo mais à noite falaria com ele em particular sobre os resultados da autópsia.
Não gostou nada do tom dela.
Estava ganhando o corredor para a sala de Morino quando viu Kakashi.
— E o interrogatório?
— Ainda está acontecendo.
— O deixou sozinho com eles? — Questionou levemente alarmado.
— O loiro e o ruivo ficaram por lá.
— Eu os vi a pouco, Kakashi.
Não confiava em Hidan e Kakuzo com Naruto. Aquilo daria algo merda, tinha certeza.
Apertou o passo, voltando pelo corredor em direção a sala de interrogatório com Hatake em seu encalço suspirando resignado enquanto abandonava seu café.
Itachi estava agindo estranho com aquilo tudo, Hatake observou. Tudo o que envolvia o Kyuubi o descontrolava, mas aquilo já estava mudando seu comportamento demais, era estranho. Não devia ser apenas por isso. Se fosse seria ele a estar interrogando a testemunha agora, e não correndo atrás do tio para impedir que ele tivesse a guarda do garoto.
—Vou deve gostar mesmo desse moleque, Itachi. — Falou divertido, ao que foi ignorado.
Itachi só pensava no que estaria acontecendo na sala de interrogatório se aqueles dois sádicos e mercenários soubessem que ninguém os estava vigiando. Seriam capazes de desligar o gravador e fazerem o que quiserem. E a cabeça quente de Naruto não ajudaria em nada, só de ter ele e Hidan no mesmo cômodo era uma bomba relógio.
Infelizmente se descobriu certo ao ver pelo vidro uma cadeira virada. Kakuzo estava sentado no canto da parede na mesma cadeira em que o viu ao sair, de braços cruzados olhando para a cena que desenrolava sem interferir.
Hidan estava com o rosto machucado e sangrando, imobilizando um corpo pequeno no chão que logo Itachi reconheceu. Seu sangue ferveu e chutou a porta da sala a abrindo com violência, Kakashi em seu encalço, agora mais alerta ao ver a situação.
Quando entraram, Kakuzo os olhou parecendo ter saído de um transe. Viu que o albino estava sentado nas pernas do adolescente e segurava suas mãos no chão, a cabeça inclinada perto do rosto do garoto. Kakashi pausou ao notar o estado do policial: Seu supercilio estava cortado, o lábio sangrando e o olho parecia que ficaria roxo. Descabelado, ele parecia furioso e descontrolado, gritando no rosto do garoto.
— Eu vou moer você, seu maldito merdinha!
—Saia de perto dele. Agora! — Itachi falou a última parte em um tom perigoso que fez até Kakashi recuar.
Em segundos o Uchiha estava em cima do homem, pronto para arrancá-lo de perto de Naruto. Naruto, que odiava ser tocado, ainda mais por homens. Que odiava ser imobilizado.
Naruto, que tinha os olhos azuis arregalados e lábios trêmulos, do que Itachi imaginava ser terror.
Antes que Itachi pudesse intervir, no entanto, o garoto ergueu o rosto abruptamente, dando uma cabeçada no policial. O barulho do osso do nariz dele quebrando foi audível na sala, seguida do grito de dor e xingamentos. Mais do que depressa o corpo pequeno escapou, o enxotando de cima dele, chutando as bolas do policial albino no processo.
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Hidan queria esfregar aquela carinha bonita no chão até desfazer aquela expressão de desinteresse. Na verdade, ele já estava no limite da paciência com aquele moleque.
Naquele momento mesmo ele o olhava com o mais puro desprezo e o albino queria moê—lo devagar e sadicamente. Durante aquelas duas horas que se passaram, por diversas vezes ele se imaginou pulando aquela mesa e agarrando aquele pescoço. Teria feito, se não fosse o maldito do Kakuzo o segurando.
Kakuzo continuava perguntando e perguntando coisas para o garoto, dando voltas, tentando ver alguma discrepância. Eles não estavam chegando em lugar algum com o merdinha e Hidan já havia ultrapassado seu limite de paciência uma hora atrás.
— Agora chega, seu desgraçado filho da puta! — Gritou, se erguendo da cadeira e a derrubando. O menino o olhou indiferente para seu arroubo, enquanto Kakuzo apenas dava um suspiro. — Vai falar toda a merda que sabe ou vai passar a noite inteira aqui!
— Não tenho ninguém em casa me esperando mesmo. — O garoto cruzou os braços. E então sorriu com deboche. — Então agora vocês me deixariam ficar aqui. Interessante, das últimas vezes tinham bastante pressa de me deixar em casa.
— Você é muito rancoroso, Chibi. Aquilo foram apenas ordens de cima, sabe.
Kakuzo comentou. Lembrava do loirinho. Ele devia ter uns dez anos quando o viu entrar pela porta da delegacia correndo pela primeira vez, ensopado e pedindo para falar com o delegado. Cinco horas depois estavam o levando para a casa do tio arrastado, enquanto ele gritava e os xingava até a quinta geração.
— Eu que devia estar irritado, você me mordeu forte da última vez. E seu irmão já me deu um soco na cara.
— Isso explica você parecer um projeto de Frank Stein. — O garoto sorriu docemente e Kakuzo ergueu uma sobrancelha em resposta.
Realmente rancoroso.
— Ora seu...
— O que foi, cara pálida? — Os olhos azuis encararam os avermelhados do albino com um sorriso de provocação. — Vai defender o namoradinho agora? Eu sempre desconfiei de vocês dois sabe, deve estar tão apressado assim porque quer foder com ele dentro da viatura.
O albino bateu na mesa de metal com força, fazendo—a tremer. O café caiu e derramou sob a superfície prateada, escorrendo para o chão.
— Filho da puta! Meu café! — Naruto xingou, o olhando de forma ameaçadora.
— Que eu saiba... — Hidan sorriu de lado, encarando o moleque enquanto sussurrava para que apenas ele ouvisse. — Você que foi muito bem fodido durante anos. — A expressão de Naruto se transformou, os olhos azuis faiscaram e ele encarou o homem com o rosto frio, as mãos trêmulas. Hidan sorriu com a primeira reação de descontrole que conseguia. — E aquele seu irmão. Ele era bem mais bonito que você, me pergunto quantas pessoas seu tio deixou foderem ele. Eu deveria ter aproveitado enquanto ele es—
Antes que fosse possível terminar a frase, o garoto havia pulando por cima da mesa e derrubado— o no chão, socando—o forte. O albino tentou se livrar, mas ele parecia ter uma força desproporcional ao tamanho naquele momento de raiva. Recebeu mais golpes enquanto Kakuzo apenas olhava divertido, esperando o momento de interferir. O sangue já manchava sua vista quando conseguiu tirar a criança de sua cintura, onde estava sentado. O prendeu no chão, o imobilizando se sentando em suas pernas e segurando seus braços no chão.
—ME LARGA! — O garoto gritou histericamente. Os olhos azuis estavam transtornados, o cabelo loiro caia bagunçado no rosto enquanto ele mexia a cabeça de um lado para o outro, forçando o corpo, tentando se livrar do peso sobre si. — EU VOU TE MATAR, SEU FILHO DA PUTA!
Hidan riu alto, o rosto machucado, contorcido com um estranho prazer pela situação, por finalmente ter alguma reação daquele maldito moleque. Se ele soubesse que usar o irmão causaria isso teria feito bem antes.
Kakuzo suspirou, balançando a cabeça.
— Vai fazer o quê? — Hidan gargalhou, se aproximando o rosto do outro de forma perigosa. — Eu sei que ama ficar por baixo! Seu irmão parecia mais arisco. Ele tinha cara que tinha de ser fodido com força para mostrar quem manda, não é Kakuzo?
— Não me meta nisso. — O outro resmungou.
O garoto gritou e tentou o morder. Hidan xingou, afastando o braço para longe.
— Me fale Naruto, como vai me matar? — Zombou. — Não consegue se defender. É um fracote.
Sua risada parou quando de forma abrupta o vidro da sala fez um som ensurdecedor, como se tremesse abaixo de uma forte pancada.
— Mas que merda? Quem está aí?
Kakuzo abriu a porta e negou a cabeça. Não havia ninguém do outro lado.
O garoto paralisou abaixo do seu corpo. Hidan olhou para baixo e encontrou o rosto dele calmo, os olhos azuis o encarando com uma intensidade estranha, o prendendo no lugar. O corpo do albino tremeu, um frio percorrendo sua espinha e se espalhando pela sala. Sentiu uma vontade absurda e anormal de se afastar daquela criança, mas não conseguia.
Ele, que não tinha medo de nada, considerado louco dentro do departamento, o mais cruel. Ele que amava de fato matar, que apertava o gatilho com prazer. Naquele momento sentiu algo parecido com medo. Havia algo de completamente anormal naqueles olhos, de errado.
O garotou abruptamente riu. E foi a coisa mais estranha que os homens ouviram. Como se segundos antes ele não estivesse desesperado, uma risada baixa borbulhou de sua garganta, ecoando no cômodo fechado.
— Tem razão, não vou te matar, Hidan. — O garoto falou suavemente. — Não vou precisar lidar com isso. Mas você vai morrer, e logo. — Hidan tentou desviar os olhos, mas não conseguiu. Uma mão pequena estava agarrada em seu braço, gelada. — Até o fim do ano vai acontecer. Você vai estar chegando em casa. Ele vai te pegar em um desses becos sujos, os mesmos que você conhece tão bem. Seis facadas. Uma na garganta, de misericórdia. Vai agonizar no próprio sangue por minutos, que vão parecer horas inteiras, no meio do lixo, no lugar de onde nunca devia ter saído.
A medida que a voz suave lhe narrava isso, era como se a cena passasse perante seus olhos em flashes. Quando o garoto se calou, a expressão em um sorriso predatório, Hidan estava trêmulo, seu coração acelerado e suando profusamente.
—QUE INFERNO FOI ISSO?
— Pensei que reconhecesse a morte, Hidan. — O garoto questionou, a expressão inocente. — Afinal, você carrega muitas nas costas. Eles estão ao seu lado todo o tempo, gritando, presos a você, torcendo por sua vez, que logo vai chegar.
Hidan arregalou os olhos, e então seu rosto machucado se contorceu de raiva. Gritou na face do outro, perto o bastante para sentir seu hálito.
— Eu vou moer você, seu maldito merdinha!
—Saia de perto dele. Agora!
Hidan não teve tempo de se virar e ver quem estava falando, quem havia entrado na sala. A cabeça de Naruto foi para frente de encontro a sua de forma dolorosa, quebrando seu nariz em um som agourento. Em meio a dor o soltou, a mão se desconectando do seu braço. O frio desapareceu e finalmente conseguiu respirar melhor, apesar da dor.
Isso até receber um chute no meio das pernas e todo seu ar sumir novamente.
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Itachi olhou a cena que se passou de forma rápida. A cabeçada, a maneira como Naruto escapou da imobilização. Os olhos azuis encontraram os seus por segundos e viu algo de acusação ali.
— Você não devia ter feito eu vir a esse lugar. — As palavras foram duras, mas Itachi captou o tremor quando ele cortou na última palavra, os olhos azuis marejando de raiva e medo.
Antes que alguém conseguisse segurá-lo, ele havia corrido pela porta que deixara aberta e ganhado o corredor.
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Virou o corredor, ainda correndo, os olhos marejados de forma estúpida. Ignorou Menma, que estava gritando algo. A imagem do vidro se repetindo na sua mente, na forma como seu irmão, furioso, conseguiu tocar em algo depois de todos esses anos.
Menma sempre vinha em seu socorro.
E ele sempre precisava, porque Naruto era fraco. Mesmo depois de tudo ele não conseguia se defender sozinho, escapar sozinho. Ele continuava sendo a criança escondida debaixo de um lençol rezando para alguém vir o salvar, dentro de um armário esperando alguém vir abrir a porta.
Patético.
Menma continuava o chamando, alarmado, sua voz se retorcendo em pura estática. As luzes no corredor piscando. E Naruto deveria saber que esse nível de desespero não deveria ser apenas pelo o que havia acabado de acontecer.
Que Menma estava lhe avisando de um perigo bem pior por perto.
Estava há alguns metros, limpando o rosto com a manga da camisa de Itachi que ainda usava, quando bateu em alguém e caiu no chão sentado.
— Merda! — Xingou alto. — Que o diabo o carregue!
— Você ficou com a boca ainda mais suja.
A voz o fez paralisar. Sua respiração congelou em sua garganta.
Não. Não não.
Levantou vagarosamente a cabeça, olhos azuis arregalados em terror.
Ele estava ali, gigante, acima de Naruto. O rosto pálido que parecia um pouco com as fotos da sua mãe, ainda mais com os cabelos vermelhos presos daquela forma. Com a roupa social alinhada e os óculos, nada havia mudado. Principalmente os olhos cinzentos que o encaravam de forma indecifrável, o prendendo no lugar como um inseto para ser empalhado.
Naruto sentiu sua pele formigar, um medo irracional o dominar e o deixar imóvel. Seus punhos se fecharam, de forma irracional, na pequena cruz que carregava no pescoço. A mesma cruz de Nawaki de todos aqueles anos.
— Nagato. — Sussurrou, a voz trêmula.
— Naruto. Então, finalmente parou de fugir e voltou para Konoha.
A voz era suave, sempre suave. Mesmo em fúria, sempre era suave.
Para Naruto, era como se ele estivesse gritando, uivando em sua cabeça, roubando qualquer coerência. Sua respiração acelerou, de repente lembrando-se da última vez que vira aquele homem. Foi na clínica. Minutos antes de tentar se matar.
Alguém, me ajude.
Mergulhou na lembrança de anos atrás. No peso em cima de si, na dor o transpassando. Em todo aquele sangue. Gemidos, mordidas, lambidas. Asco. Todas as cenas, de todos os anos, retornando, misturando. Era um pesadelo ali, a sua frente.
Alguém, eu preciso de alguém—
Acordou quando o homem estendeu a mão, tentando o tocar. A estapeou com um grito histérico e praticamente se arrastou para longe, se erguendo, tentando fugir mesmo com as pernas trêmulas. Lutou contra o instinto de ficar parado, de obedecer. De tentar não provocar o demônio.
Todos esses anos, e continuava um fraco. Não conseguia nem o olhar sem parecer uma criancinha assustada.
(Naruto, percebeu naquele momento, que ele nunca havia ido embora daquela casa. Não realmente. Ele ainda estava lá, com seu demônio. Ele nunca foi resgatado. Ele havia cansado de esperar pelo tal anjo. Havia deixado de rezar faz muito tempo.
Naruto nem mesmo acreditava mais em Deus.)
— O que... — Sussurrou pateticamente. — Inferno faz aqui... — Sua voz saiu ridiculamente trêmula a seus ouvidos. Não conseguia encará-lo.
(Ele não acreditava mais em Deus, mas ainda segurava a cruz de Nawaki.
Ele ainda continuava esperando.).
—Vim busca-lo.
O homem falou com simplicidade e os olhos azuis voltaram a se erguer, grandes e assustados.
Nagato, por sua vez, viu o fantasma da irmã na sua frente, com as cores de Minato Namizake, e odiou aquela imagem um pouco mais do que havia em todos aqueles anos. E sentiu um impulso ainda maior de o levar de volta de onde ele nunca deveria ter saído. Um sussurro febril em sua mente, vendo os olhos da sua irmã o fitando, grandes e tristes. Kushina, hora de voltar para casa.
— Pro inferno que vou para qualquer lugar com você, seu desgraçado! — O grito o pegou de surpresa, a imagem se quebrando.
O pavor parecia ter sumido dos olhos de Kus— de Naruto. Havia apenas ódio ali, uma fúria quase homicida quando se aproximou dele. Sentiu o ar ao redor gelar enquanto o garoto recuava, um passo de cada vez, até bater na parede, ficando encurralado.
— Você não tem mais ninguém, Naruto. — Respondeu, o tom ainda sereno. — Só tem a mim agora.
— Isso não é verdade.
A voz cortante fez Nagato desviar o olhar do sobrinho e encarar o homem que havia aparecido no corredor, vindo rapidamente até eles e se postando entre os dois antes que pudesse reagir. Foi com estranheza e raiva que viu o garoto se esconder nas costas do desconhecido, o usando como escudo contra Nagato.
— Se afaste dele. — A voz era fria e ameaçadora, enquanto o encarava com falsa calma.
Eram da mesma altura e estrutura, mas havia algo no desconhecido que o fazia parecer mais perigoso a seus olhos.
E logo captou o que era.
— Uchiha.
Cuspiu o nome. Aquele homem na sua frente lhe lembrava Madara e o moleque arrogante que roubou o Naruto de Nagato anos atrás. O jornalistazinho que já estava agora no quinto dos infernos, dançando, se a vida fosse justa, com o diabo.
— Não dê mais um passo. — O Uchiha falou no mesmo tom quando se mexeu. — Ou não vai saber o que o atropelou.
— Ele é meu sobrinho. — Olhou Naruto que estava quase colado as costas do homem. Só então reparou que as mãos pálidas do garoto estavam agarradas a blusa do outro. — Não tem o porquê se meter. Vocês estão sempre se metendo. Afaste—se dele agora garoto, ou eu passo por cima de você.
— Quero vê—lo tentar.
Virou o rosto rapidamente para o lado em direção a nova voz e encontrou olhos escuros afiados e conhecidos. O homem vinha em sua direção de forma calma, com um sorriso falso no rosto.
Madara Uchiha. Pensou furioso. Aquilo complicava as coisas mais ainda. O que há com Uchihas e interesse na minha família?
— Nagato Uzumaki. — O outro falou o nome com desgosto, se postando em sua frente com uma mão no bolso e a outra segurando a jaqueta do terno jogada nos ombros em uma pose relaxada. — Ouvi você ameaçar meu sobrinho, espero estar enganado.
— Então é seu sobrinho. Reconheci o atrevimento e a ignorância de com quem se mete, igual ao outro. Se não tomar cuidado — Completou com um sorriso. — Esse também vai terminar servindo de isca aos peixes ou perdendo o coração por aí.
Ouviu um rosnado forte e um soco tomou a lateral de seu rosto, o jogando no chão.
Não havia sido Madara, que ainda o olhava do mesmo jeito e pose, e sim o outro Uchiha, que o mirava com fúria e vinha para cima dele novamente, até ser parado pelo tio.
— Chega, Itachi. Eu cuido disso. — Madara ordenou apertando o braço do sobrinho. — Cuide do garoto.
Foi então que Itachi esqueceu um pouco a fúria e a vontade de espancar aquele homem e voltou seus olhos para Naruto. Ele estava recostado na parede, de cabeça baixa, as mãos segurando pingente do colar com força. Poderia ver as pernas trêmulas, ele não ficaria em pé sozinho por muito tempo.
Desvencilhou—se do aperto do tio com um balançar de braços e foi até ele, devagar, o chamando baixinho.
— Naruto?
Os olhos azuis não o encararam, mas após alguns segundos ele balançou a cabeça.
— Vamos sair daqui. — Tocou no ombro trêmulo e ele se encolheu.
Controlou sua respiração, se movendo pacientemente. Tocou seu ombro novamente com cuidado, o deixando ali até que ele relaxou. Lhe ofereceu a mão e ele a aceitou apenas com uma leve hesitação, largando o pingente, a mão gelada tocando seus dedos.
— Leve-o para meu carro. — Madara lhe entregou a chave quando ele passou por ele sem remover o olhar do Uzumaki, que não desviava o olhar do sobrinho. — Eu vou cuidar do nosso problema aqui.
Itachi nada disse. Apenas puxou Naruto de leve pela mão, sentindo a palma menor e gelada na sua, o agarrando com força inesperada, como se estivesse segurando uma tábua de salvação.
Enquanto o levava pelo corredor, Naruto permanecia de cabeça baixa, os passos rápidos os guiando para fora daquele lugar. Para fora de seu inferno, longe do seu demônio.
(Finalmente para fora daquela casa).
Nenhum dos homens se ateve para as luzes que piscavam ou como a área estava gelada.
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Naruto não acreditava em Deus, pelo menos não os que as pessoas falavam, não o misericordioso. O Deus que Nawaki, vindo de uma família católica, lhe ensinou que existia. O Deus que não salvou Nawaki, o Deus que não salvou sua família.
Não, Naruto acreditava no mal e acreditava na morte, porque a morte era o que todo Namikaze carregava com ele e o mal era o que conhecia desde criança.
Naquele momento, no entanto, ele se pegava pensado, um mero pensamento vago e distante. Pensando em Itachi Uchiha, que havia decidido um dia que salvaria pessoas.
Naruto pensava em uma criança, muitos anos depois, debaixo de um lençol, pedindo para alguém lhe salvar.
Naruto não havia nem mesmo nascido quando Itachi fez a decisão que colocaria os dois no caminho um do outro, que havia colocado os dois no corredor daquela delegacia naquele dia.
Talvez, Naruto pensou, se Deus existisse, ele havia realizado seu pedido antes mesmo que tivesse o feito, antes mesmo que precisasse. Quando um garotinho no distrito Uchiha decidiu que o irmão e ele não seriam mais uma vítima do seu nome.
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Nagato ainda absorvia a visão de seu sobrinho aceitando a mão de alguém, algo que nunca havia visto desde Menma. Naruto havia se deixado tocar por alguém. Havia segurando a mão daquele sujeito, confiado nele. Havia o seguido.
— Vou ser direto. Pode ouvir ai do chão mesmo se quiser. — Nagato olhou o Uchiha em fúria velada, segurando queixo machucado. — Eu queria pisar em você como um verme por ter falado de Sasuke, mas não vale a pena sujar meu sapato italiano com o grande merdinha que você é.
Se ergueu devagar, medindo o perigo que o homem exalava.
— Se foi o tempo que eu temia pessoas como você Uchiha.
— Olha só. — Madara sorriu. — Um pseudo criminoso, que se esconde por trás do dinheiro da família, abrindo as asinhas. Você acha que controla algo, Uzumaki? Você só se sustenta em cima das minhas pilastras. Eu derrubo você quando quiser. E seu clã sabe disso. Ou acha que aquela ordem de você sair de perto de seu sobrinho foi pela mídia realmente, Nagato? — Madara o olhou curioso. — Não me diga que é tão burro.
— Você... — Estreitou os olhos, perdendo o controle da sua fúria.
— Eu. Sempre eu. Bastou uma conversinha séria com aquelas múmias Uzumaki e pronto. Meu sobrinho não precisava saber disso. Eu fiz por Kushina e Minato. Como um pedido de desculpas por tanta negligência como eu tive. — Falou a última palavra com um suspiro. — Não pense que com a idade eu estou perdendo poder. Isso é o que está arruinando muitos de vocês, que acham que conhecem um mundo que eu criei e sou absoluto. Eu posso esmaga-lo. E não há trato de clã que me impeça se meter—se no meu caminho ou com os meus.
— Isso não é seu assunto, Uchiha. — Cortou sério, encarando o homem com o rosto já recomposto. — Essa criança é meu sobrinho, filho da minha irmã.
— Você lembra disso agora então? — Madara falou com falsa surpresa. — Eu podia jurar que tinha esquecido. Quando estava o estuprando não lembrou disso. Quando o jogou em um sanatório, também não. — Nagato fechou a cara, a expressão fria. — Esse menino não é nada seu. Esqueça que ele existe, não manche mais a memória da mulher que Kushina foi. Estou avisando em nome dela apenas, que amou você um dia.
Nagato deixou uma risada borbulhar em sua garganta. O ato repentino interrompeu Madara, que franziu o cenho.
— Me amou? Foi isso que ela te disse, Uchiha?
— É isso que eu sei. — Madara completou. — Meu ponto, no entanto, não é esse. Se se aproximar desse garoto, ou de qualquer dos meus, eu vou destruir você, queimar a sua casa, extinguir sua descendência, e salgar até o chão para não nascer nada no lugar que profanou com sua presença. Eu vou procurar você até no inferno e vou achar, e você vai rezar por uma morte rápida, que não vai acontecer.
A voz era baixa e perigosa. Nagato o encarava impassível. A única prova de suas emoções era as mãos trêmulas.
— Não tente agir como um homem bom, Uchiha. Você, que tem uma lista de mortos maior que ninguém. Você é tão monstro ou mais.
— Eu matei. Eu torturei. Não apresentei piedade. Mas no meu mundo, — Madara falou sério. — Você cuida dos seus. Você vai ao inferno e volta por eles. — Completou então com um sorriso fechado. — Naruto é meu sobrinho agora. Ele ficará comigo. E não adianta apelar garotão, que dessa vez nem a polícia vai cobrir suas costas. — Ele virou acenando com a mão com o terno.
— Isso não terminou. — Ameaçou agourento.
— Sugiro para seu bem que sim. — Madara falou divertido caminhando pelo corredor. — E fique feliz que não mandei arrancar seu pênis fora, ainda estou pensando nisso.
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— Entra. — Itachi pediu com suavidade, abrindo a porta e vendo o loirinho deslizando para o banco de trás do carro, se encolhendo perto da janela abraçando os joelhos.
Sabia que ele estava chorando apenas por ver o brilho nas bochechas. Era silencioso, apenas um tremor de ombros. Os olhos cobertos pelos cachos loiros enquanto ele apertava os joelhos com as mãos com força, deixando marcas na pele. Percebeu que ele tentava controlar a respiração em golfadas abafadas.
Itachi deslizou para seu lado, se sentando e dando o devido espaço para o outro. Inspirou e expirou profundamente, controlando—se depois da explosão e de tudo o que acontecera, a tensão aos poucos sumindo de seu corpo.
— Você não vai com ele. — Falou, cortando o silêncio. — Eu sei o que está pensando, Naruto.
— Virou adivinho? — O sarcasmo saiu falho com o tom trêmulo e a voa abafada,
— Não vai ser como as outras vezes. Você não vai ser mandado de volta para ele. Vai ficar comigo.
— Como? — O rosto se levantou um pouco confuso e Itachi pode ver os olhos azuis melancólicos e marejados. Em um impulso estendeu a mão para tocá-lo, mas o viu se encolher mais contra a lateral do carro e abaixou a mão para o banco.
— Meu tio Madara, aquele sujeito de agora a pouco, ele conhecia seus pais. — Isso captou a atenção do garoto. — Na verdade, eu também. E Sasuke, logo quando você nasceu. Seus pais levaram você para a gente te ver. Eu não lembro bem, não sei o porquê, mas devia ser por isso que Sasuke era amigo do seu irmão. Eu lembro dos dois discutindo por tudo.
Naruto assentiu com um pequeno sorriso a menção disso. O sorriso morreu em segundos.
— Eu não lembro disso. — A voz ainda estava falha, mas ao menos mais firme.
— Você era muito jovem. Deve ter acontecido algumas vezes, Madara parecia ser amigo de seus pais. E agora, ele ficou responsável por ficar com você. E eu também, claro.
Naruto olhou para frente, pensativo. Itachi queria saber o que ele estava pensando mais do que tudo no momento.
— Eu preferia ficar sozinho. Mas se é isso ou...— Ele deixou a frase morrer, mas Itachi sabia de quem ele falava, havia visto o terror no rosto dele naquele corredor.
— Até o fim das investigações. De qualquer forma, não podemos deixar você sozinho, de agora em diante está sob proteção policial.
O loirinho riu limpando as lágrimas e se sentando direito.
— Isso soa irônico. Eu lembro que Menma me falou que o tio do Sasuke era... anti-polícia.
— Esse é um termo interessante. — Itachi concordou com um pequeno sorriso. — E é verdade. Mas eu sou policial.
— E Psibláblá. — Naruto completou de forma ausente. Itachi sentiu seu sorriso aumentar com isso. Já estava se acostumando com o apelido bobo.
Naruto vagou os olhos pela janela, os olhos ansiosos, mordendo o lábio. Ele pareceu hesitar, mas no fim se virou para Itachi, a expressão nervosa: — Eu lembro que falei... umas coisas naquela noite... então...eu...
Itachi sabia exatamente onde ele queria chegar. A noite da febre. O colapso de Naruto, quando ele falou sobre os abusos.
— Eu sei. Era seu tio, não era?
Naruto assentiu, se encolhendo um pouco. Itachi tentou não sorrir com a confiança que ele demonstrava ter em Itachi ao falar isso, mesmo que ele não o olhasse no momento.
— Contaram a você sobre Suna, sobre a razão de me mandarem para lá?
— Sim. — Respondeu suavemente.
Naruto voltou a assentir, a mão dele brincando com o banco do carro, e então ele não falou mais nada.
— Eu vou mesmo proteger você, Naruto. Eu quero fazer isso, e não vou deixar machucarem mais você. E isso não é por Sasuke apenas. Eu promet...
— Não prometa nada! — O menino tapou os ouvidos — Itachi. — A voz foi dura, um pouco cansada. — Temos um trato.
— Eu sei que sim. E isso não é uma cláusula.
Naruto suspirou e então o olhou de frente, os olhos azuis perdidos pareciam querer falar algo. Ele estava ali, encolhido, o rosto pálido, pequeno demais. E novamente veio a Itachi a vontade de tocar nele, mas teve receio de vê—lo se encolher mais, se afastar. Logo ele, que não tinha medo de quase nada, encontrou mais um ali.
Para sua surpresa foi Naruto que segurou sua mão e a apertou de leve, rapidamente. E antes que pudessem falar mais alguma coisa a porta do carro foi aberta.
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— Então meninos, vamos para casa do tio Madara! — Madara falou sorridente, virando para trás e olhando a figura loira pequena que estava encolhida na janela, o olhando de forma desconfiada.
Ele era uma cópia exata dos amigos, uma mistura exata. Um lindo menino, na verdade. Os olhos o analisavam com receio, e Madara sentiu o sobrinho o fuzilar com os olhos, mentalmente gritando para ele ter cuidado no que falar.
Naruto era uma bomba relógio, um campo minado.
Eram aquelas palavras que definiriam tudo.
— Vejam só, Naruto. — Falou com um sorriso. — A última em que vi você, tinha merda na sua fralda!
Naruto arregalou os olhos e então ficou vermelho, sua expressão indignada. Se ele fosse um gato, Itachi tinha certeza de que seus pelos estariam eriçados.
Itachi suspirou.
— Você cresceu! — Madara continuou animado, colocando os óculos escuros e saindo dali com o carro. — Nem tanto, na verdade. Minato tinha razão. — Completou pensativo. — Ficou pequeno como sua mãe.
— Não me chame de baixinho, seu velhote estranho!
O loirinho xingou e cruzou os braços, ficando amuado e furioso enquanto o Uchiha mais velho gargalhava alto e ligava o rádio.
Eles discutiam pelo caminho, com o loirinho soltando um vocabulário que competia com certeza com Hidan de forma acirrada em palavras não educadas.
Itachi balançou a cabeça e sorriu de lado.
Se aquilo definiria tudo, ele teria muita dor de cabeça pela frente.
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