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Capítulo XI - Complexa Criança

Tornei­-me insano, com longos intervalos de uma horrível sanidade.

Edgar Allan Poe

ITACHI SUBIU AS ESCADAS DEPRESSA, VOLTANDO COM O MATERIAL NECESSÁRIO PARA OS CURATIVOS. Ao retornar à sala, encontrou os outros dois sentados em um dos sofás, encarando o corpo desacordado do lado oposto. O silêncio era estranho, depois de tudo que havia ocorrido momentos antes na cozinha. Era como se a alegria que tivesse encontrado na casa pela manhã houvesse sido apenas uma coisa da sua cabeça.

A luz de fora entrava pelas duas janelas laterais. Ele modificara a casa, removendo as estantes de livros que antes cobriam toda a parede esquerda da sala, as colocando do antigo escritório do pai e trancando-o. Como se assim pudesse fugir das lembranças dos pais. Havia mudado a pintura para uma cor mais clara também, mais impessoal do que o azul favorito da sua mãe.

Os sofás ficavam no meio da sala, um dos poucos móveis aos quais não havia substituído ou se livrado depois que havia retornado. A televisão esquecida na parede por um suporte estava ainda coberta por um lençol. De resto a sala estava quase completamente vazia. O aparelho de som era a única coisa que tornava o lugar menos impessoal, algo que Sasuke havia instalado no lugar anos atrás. Mesmo quando eles haviam ido embora do distrito, seu irmão ocasionalmente visitava a casa, deixando sua marca em toda parte. Itachi, no entanto, não havia pisado lá mais do que duas ou três vezes desde que eles haviam morrido, algo que mudou apenas quando Sasuke foi morto.

Aquela casa havia sido um refúgio para seu irmão mais do que dele. Sasuke sempre havia lidado com luto de forma diferente de Itachi: enquanto Itachi tentava fugir, seu irmão tentava buscar conforto nas lembranças dos pais, se conectar com o que eles haviam deixado para trás. Itachi pensava se talvez estivesse fazendo o que seu irmão havia feito ao se mudar para um lugar do qual tentou tanto fugir.

Ainda assim, Itachi não era muito bom nisso. Mesmo depois de semanas ele era como um fantasma no lugar, era como se ninguém morasse ali. Não havia marcas de copo na mesinha de centro e o piso de madeira, que ele recolocara por estar muito velho, não tinha marcas de sapatos.

Exceto o quarto, que parecia parado no tempo, intacto, como se esperasse alguém voltar, tudo na casa parecia desabitado. O objeto mais pessoal à vista era um porta-retrato pequeno na mesinha do lado de um sofá, como se fosse um sobrevivente esquecido ali, que Itachi ainda não tivera coragem de guardar junto com todos os outros que colocou em uma caixa no escritório.

—Ele não ocupa muito espaço. — Obito comentou de forma repentina, observando o garoto no sofá. — Ele é bem...compacto.

Apesar da tensão, havia uma pontada de diversão na voz do Uchiha mais velho.

— Ele é pequeno. — Shisui concordou e o objeto da observação dele franziu o nariz, algo que nenhum deles percebeu.

Itachi teria, se o comentário não tivesse desencadeado uma estranha reação dentro dele. Um senso de familiaridade que lhe deixou frustrado. Seus olhos estavam no garoto encolhido no sofá e na estranha sensação de reconhecimento ao o ver ali, naquela casa, com dois Uchihas o observando.

Havia uma familiaridade nele, desde o primeiro momento que havia o visto, e não era apenas pela ligação dele com Sasuke.

Na sua cabeça soaram risadas infantis.

Na sua memória, ele viu Sasuke segurando um bebê no sofá, do lado de uma outra criança que fazia palhaçadas para o embrulho, enquanto seu irmão parecia concentrado em não deixar seu cargo cair. Uma mulher ruiva estava sentada no chão, com uma mão embaixo das de Sasuke, o instruindo. No sofá em que estava os primos agora, havia seu tio Madara e um homem loiro de óculos, todos rindo da situação.

O rosto de Sasuke se ergueu do embrulho, se desviando em sua direção, com um brilho orgulhoso.

— Nii-san! Eu não o deixei cair. Ele é tão pequeno!

— Não chame meu irmão de pequeno, cabelo de rabo de pato! — A outra criança resmungou. Com seu cabelo de um vermelho muito escuro e rosto quase idêntico ao da mulher que ajudava Sasuke.

— Cala a boca, focinho de raposa. — Sasuke respondeu ao outro, irritado.

— Ei, parem com isso vocês dois!

A bronca de Madara não parecia muito efetivo enquanto ele ria daquela forma.

— Eles brigam sem parar desde que se viram. — A mulher ruiva comentou, divertida. — Cuidado com meu filho, Sasuke. Menma, pare de irritar Sasuke!

— Mas ele chamou o meu otouto de pequeno!

— Mas ele é pequeno ainda. Um dia ele vai crescer.

— Se puxar a mim, mas se puxar a você, querida... — O homem loiro falou coçando a cabeça. A ruiva lhe lançou um olhar mortal e ele ficou com as mãos rendidas. — Desculpe, só comentei.

— Não comente então. — Ela sibilou e Madara riu.

— Agora larga, eu quero segurar ele. — Menma falou, estendendo as mãos.

— Não! Ele gosta de mim.

— Não gosta não!

Com o barulho a criança se mexeu e começou a chorar.

— Olha o que você fez idiota!

— Idiota é você, me dá meu irmãozinho!

Itachi estava lá, perto do sofá agora.

— Dá ele aqui, Otouto. — O outro obedeceu hesitante, e a ruiva que estava pronta para pegar a criança sorriu e assentiu. Itachi pegou a criança nos braços e se sentou ao lado do irmão mais novo. A criança parou de chorar. Itachi puxou os panos que o cobriam e viu olhos azuis o fitando, curiosos demais para um bebê. A mão agarrou seu dedo, forte.

— Ele sorriu para ele!

— Não seja idiota, bebês não sorriem, cara de raposa.

— Mas ele é especial, é meu irmão.

Itachi se desligou da briga dos garotos, um sentado de cada lado seu no sofá e ficou fitando os olhos azuis. Brilhantes, cheios de segredos demais para um bebê.

Como se aquele serzinho soubesse de coisas que mais ninguém sabia.

— Itachi? Ei!

Piscou e saiu do transe estranho. As sombras das lembranças foram sumindo de seus olhos e lá estava o garoto deitado em seu sofá. Ignorou o primo e se sentou ao lado do corpo do outro e pegou suas mãos, limpando o sangue e começando a trabalhar.

Tentou não pensar naquele momento na estranha lembrança. Ele não recordava, até então, de alguém ter estado naquela casa além deles após a morte dos pais.

Madara, ocasionalmente, oferecia suas casas no distrito como abrigo para pessoas que precisavam de um lugar para ficar. As pessoas na sua lembrança, no entanto, não se encaixavam no perfil de pessoas que precisavam desse tipo de favor de Madara, quase sempre criminosos. E Itachi não via Madara oferecendo essa casa em especial, sabendo como Sasuke se sentia sobre ela. Então, como isso havia acontecido? Ele não conseguia recordar bem, mas ele sempre havia sido bom em enterrar certos momentos da sua vida, principalmente se havia coisas mais importantes acontecendo na época.

Itachi lembrava, vagamente, de um casal que visitava a casa de Madara anos atrás. Uma mulher ruiva, um homem loiro, duas crianças. Um deles, um bebê loiro de olhos azuis.

Pausou um momento, olhando o garoto que tratava. Balançou a cabeça.

Quais as chances...?

Se concentrou em seu trabalho, empurrando a ideia para ser analisada depois.

Cuidadosamente limpou os ferimentos, passando o spray para impedir infecções enquanto os enrolava em esparadrapos. Seus dedos circularam de forma quase automática na cicatriz do pulso dele, esbranquiçada na pele pálida. E em um mesmo impulso estranho, a acariciou com o polegar. Sentiu um espasmo na mão com o toque e olhou para o rosto do outro, vendo as pálpebras se movendo de leve.

Péssimo ator. Quase sorriu com isso, não se contendo em beliscar de leve as costas da mão do mentiroso, sabendo que ele não poderia reagir sem se entregar.

O nariz pequeno franziu com isso e disfarçou uma risada em uma tossida.

Aquele garoto o fazia reverter a um estado de imaturidade impressionante, algo não muito bom para relação de terapeuta e paciente, ele imaginava.

— Itachi. — A voz incerta chamou sua atenção para longe do rosto adorável na sua mentira. Olhou os primos, que o encaravam. Obito confuso e Shisui preocupado.

— Onde encontrou esse garoto? — Obito perguntou estranhamente sério, fora do normal dele. Devia ser porque Shisui parecia ainda incapaz de falar algo, talvez ainda pensando nas palavras daquela criatura estranha sofá.

— Ele é meu paciente. — Foi o mais seguro a responder. A verdade mais simples, ao menos.

Isso pareceu aliviar Shisui de uma forma imediata.

— Ah, então ele é louco? Então aquilo deve ter sido um surto, ou algo assim, certo?

Sentia o outro estremecer a seu lado a palavra louco. Seria até divertido de ver até onde ele aguentaria fingindo de desmaiado. Com o pouco que vira dele, Itachi sabia que ele estaria ansioso para responder Shisui, ou, mais provável, agredi-lo pela ofensa.

Itachi também se viu franzindo o cenho com a designação, olhando Shisui em reprovação. Ele odiava essa palavra.

— Ele não é louco.

—Sim, sim, você e seus termos técnicos. — O primo revirou os olhos. — Que seja. Mas como ele sabe sobre Kurenai?

Pergunta interessante. Ao qual Itachi não tinha uma resposta.

—Eu não sei. Posso ter mencionado. — Mentiu a última parte, porque ele tinha certeza de que não havia.

Algo em si lhe impeliu a isso, a proteger o garoto. Era uma reação estranha, mas também, nada daquela situação parecia normal.

— Então vocês são...hum...íntimos? Para você ter falado assim, essas coisas para ele. — Shisui comentou, mais para si mesmo, o cenho franzido. E então sua face teve algo de reconhecimento que até seria engraçado se Itachi não pensasse que dali não vinha coisa boa. — O que esse cara é para você, exatamente, Itachi?

A pergunta seguida com um tom preocupado o pegou de surpresa.

— Do que exatamente está querendo saber? — Questionou de forma evasiva e cuidadosa.

—Ele reagiu a você rápido na cozinha, em meio ao surto. — Shisui o olhou, mais impaciente. — Ele me olhou como se fosse me matar, mas ficou totalmente dócil na sua mão! E agora você fica aí, olhando para ele de um modo tão... protetor. Você sabe o que eu estou perguntando!

— Eu realmente não sei do que está falando.

Shisui o fitou de forma que deixava bem claro que ele não acreditava nisso.

Em qualquer outra situação seria engraçado ver o primo lutar assim com as palavras, mas no momento Itachi estava mais preocupado em fugir do escrutínio.

Como explicar algo que ele mesmo não entendia?

— Eu sempre desconfiei que você...hum... gostasse de... você sabe... — Shisui ficou vermelho e coçou a cabeça. — Com o que aconteceu com Kurenai e tudo mais. — Shisui acrescentou, ignorando Obito que comentou baixo 'De pau, pode falar.' Itachi tentou não reagir a isso além de um olhar nada impressionado com o comentário.

Depois de todos esses anos, agora eles começam a discutir minha sexualidade.

Eles estavam alguns anos atrasados.

— Ei! Espera! — Shisui ergueu a mão de forma dramática, provando o quanto estava convivendo demais com Obito e Madara. — Então aquele beijo quando a gente tinha...

— Shisui.

— Não, deixa ele continuar. — Obito interrompeu Itachi, parecendo muito interessado. — Quero saber. Kurenai sabe disso?

— Foi um desafio. — Shisui olhou Obito de modo caustico. — Éramos crianças. Itachi, olha o que você fez.

Não foi Itachi que entrou no assunto, mas preferiu não comentar sobre isso.

Ele se perguntava como aquilo era a sua vida.

— Não seja estúpido, Shisui. — Os interrompeu, tentando voltar ao assunto principal — Ele é meu paciente, só isso.

— Então não está transando com ele? — Itachi chispou um olhar irritado para o primo. Não era bom irritar Itachi, mas Shisui era teimoso. A mão de Naruto tremeu na sua. Itachi a apertou levemente, de forma segura, e ela parou.

— Claro que não. Qual a parte de ele ser meu paciente esqueceu? — Suspirou passando a mão livre nos olhos, contando mentalmente. Não havia dormido bem e tudo aquilo estava o fazendo se arrepender disso. — Escuta, vocês podem dar o fora? Já viram que estou bem, agora eu preciso resolver meus problemas.

A voz não deixou margem para questionamentos. Ainda assim Shisui ia insistir, mas Obito se levantou, o rosto sério, algo raro, mas que como todo Uchiha ele sabia fazer bem.

Um Obito sério, de algum modo, era mais assustador do que Madara. Ainda mais com a pontada de intuição que podia ver nos olhos dele ao fitar Itachi.

Shisui podia ter ignorado o que havia acontecido na cozinha, enterrado o assunto. Obito, claramente, não.

— Vamos Shisui, temos coisas a fazer também.

Eles sumiram para o corredor que levava a entrada, ainda discutindo, as vozes ao longe enquanto Itachi voltava seu olhar ao garoto loiro. A porta bateu com estrondo e ele suspirou.

— Pessoas desmaiadas respiram.

O garoto abriu os olhos azuis irritados e puxou a mão da sua, se afastando tanto de si no sofá que poderia se fundir ao estofado.

— Foda-se.

Naruto retrucou, fazendo uma expressão que devia ser assustadora na sua mente, mas para alguém como Itachi, ver aquele bico e olhos azuis crispando raivosos, na verdade era hilário. Até um tanto bonitinho.

Que ótimo, estou achando coisas bonitinhas. Pensou com um suspiro.

— Fingindo de desmaiado para não dar explicações. — Itachi falou com falsa reprovação.

O garoto ficou vermelho, o que deixava sua expressão falsamente amedrontadora ainda mais sem sentido. Com as bochechas infladas, ele virou o rosto com desgosto para o lado, desviando os olhos de Itachi, resolvendo o ignorar. Ou tentar.

Itachi o deu seu momento, pacientemente guardando o material no kit de primeiros socorros que havia colocado na mesinha.

Quando voltou a fitar o problema, a face de irritação dele havia sumido. Os cabelos bagunçados estavam escondendo parte de seus olhos, enquanto ele abraçava os joelhos, sentado no sofá. E mais uma vez aquilo intrigou Itachi, a maneira como as emoções dele mudavam de forma tão repentina, tão complicada para se ler cada uma delas.

Ele tentava ver o que o deixara daquela forma, com aquele humor tão triste, quando o garoto simplesmente entendeu a mão para a mesa do lado do sofá a seu alcance. Pegando uma moldura dali, com a mão levemente trêmula.

Itachi apenas esperou, a face falsamente calma enquanto o garoto trazia a foto para si, a encarando por trás dos cabelos de forma que ele não viu seus olhos. Segundos em silêncio depois, a voz que saiu era estranhamente calma, controlada.

— Esse é seu irmão? — Naruto continuava olhando a foto em que havia Itachi e Sasuke já adultos em um natal. Itachi estava com um sorriso calmo e Sasuke emburrado enquanto segurava de frente para a foto um piano de brinquedo com uma cara de "isso é sério mesmo?" Enquanto ambos estavam vestidos com um suéter escrito "Tio Madara é o cara."

— Você é observador. — Respondeu calmo, esperando as reações do outro. Não sabia o quanto Naruto lembrava da noite anterior, do quanto ele havia lhe dito.

O pequeno ficou calado por algum tempo.

— Vocês eram parecidos. — Ele sussurrou baixinho, como se para si mesmo depois de muito tempo. — Então... é isso...

Itachi notou que um dedo dele passeou pelo vidro do porta-retrato, contornando a face emburrada de Sasuke. Algo rápido transpassou os olhos azuis. Ele não sabia o que era ao certo, mas reconheceu alguns sentimentos.

Itachi sorriu de canto, queria ver até onde o garoto iria. As reações de Naruto nunca eram o que esperava. No momento que viu o olhar do garoto sob a face da fotografia, ele teve certeza que sim, Naruto conhecera Sasuke. Mesmo que não pudesse saber de tudo o que havia no olhar de Naruto, algo ali não podia ser escondido: amor.

Apesar de ser tão bom em esconder sentimentos, para Itachi, acostumado a perceber tanto das pessoas, Naruto ainda era claro em muitas coisas do que sentia. Estava tudo nos olhos dele. Talvez por isso Itachi estivesse se pegando com a mania de olhar tanto para eles.

— Ele parecia mais com nossa mãe. — Itachi arguiu, lendo a maneira como o menino olhava para a foto. A expressão suavizada, sem os vincos de raiva que lhe pareciam comuns. — Embora o temperamento com certeza foi do nosso pai. Mandão, teimoso, seletivo.

Viu o lábio do outro subir levemente enquanto ele falava, como se lembrasse de algo que confirmasse isso. Itachi esperou. Esperou que ele falasse que conhecia Sasuke.

O viu a boca, mas hesitar, por um instante. Itachi notou que ele apertou a moldura muito forte. Então novamente aqueles olhos azuis estavam o encarando como uma criança pequena, testando sua confiança, buscando algo dentro dele, vasculhando. E naquele momento as chances daquele garoto estar o enganando de algum modo usando a memória de Sasuke lhe pareceram pequenas. Aqueles olhos eram grandes e infantis demais, cheios de receios, como uma criança tentando ver se podia confiar em um adulto que lhe estendia a mão para atravessar uma rua.

Havia, no entanto, algo que o diferenciava de uma criança: trincas. Milhares de trincas.

Os olhos de Naruto mudavam demais, ele havia notado durante aquele breve tempo com ele, como se a cor azul tivesse vários tons. Um forte cobalto para a raiva, um azul claro e límpido quando ele ria de verdade, um mais escuro quando ele usava o cinismo, como se manchassem, não fossem puros.

E havia aquelas trincas.

Naruto não confiava de todo nele ainda, essa observação se confirmou quando ele desviou o olhar do seu e parou o aperto na moldura. Quando voltou a encontrar os olhos de Itachi eles já não diziam nada, estavam indiferentes e o porta-retrato já estava na mesinha novamente.

Itachi segurou um suspiro. A situação não seria fácil, para variar. Claro que Naruto não confiava de todo nele, em ninguém. Só de ele ter parado de se encolher no sofá já era alguma coisa.

— Ele tocava piano. — Itachi continuou. — Na verdade, quando o vi tocando no dia que nos encontramos, você tocava a música favorita dele. São parecidos em algumas coisas.

Viu novamente os lábios cheios do outro pelo perfil se retorcerem em um pequeno sorriso, como se essa afirmação o agradasse em demasia. Queria muito ver os olhos de Naruto naquele momento, testar sua teoria das cores dele quando sorria. Mesmo que uma voz em sua cabeça avisasse que aquele tipo de vontade não condizia em nada com uma relação médico-paciente.

Ele não conseguia ser indiferente a Naruto. Isso era fato. Talvez ninguém conseguisse. Ele era complexo demais para isso.

O que lembrava.

—Vai me explicar sobre o que aconteceu na cozinha?

O sorriso do outro sumiu no mesmo instante, e os ombros ficaram tensos. Itachi esperou com paciência, até que a voz saiu em um tom falsamente monótono.

— Um surto. Coisas de pessoas loucas, acho que você sabe bem, não é? Sou um louco afinal. — Ele fez um gesto de descaso e novamente aquele olhar azul manchado de ironia.

— Shisui é um idiota às vezes. — Itachi suspirou, sabendo de onde ele tirava aquilo.

— É mesmo, você deve usar os termos politicamente corretos. — Naruto rebateu. — Quem sabe esquizofrênico, ou psicótico. O que diz minha ficha? — Ele fez um gesto com as mãos espalmadas, ainda com os joelhos encolhidos contra o peito. Apesar de sorrir, os olhos dele estavam vazios. — Espere, deixe adivinhar. Garoto que ouve vozes, tem alucinações de fantasmas. Suicida. — Mordeu o lábio cheio, parando de rir e acrescentou baixo, olhando Itachi de soslaio. — Que diz ver a morte das pessoas quando toca nelas, como um filme que fica se repetindo, e se repetindo...

A voz dele morreu, em silêncio enquanto Itachi ainda o olhava sem demonstrar nada. Aquilo pareceu ser a reação errada, pela irritação clara em cada parte do corpo de Naruto.

— Eu classificaria como louco. — Naruto acrescentou, se abraçando mais.

Itachi ignorou a tentativa de o fazer reagir.

— Então foi isso que quis dizer com a morte iminente de Shisui? — Itachi perguntou ao cabo de segundos. O garoto estremeceu e o encarou um pouco atônico, mas ele bufou ao encontrar os olhos de Itachi. — Como funciona isso?

Não, ele não acredita. Naruto pensava, tentando ignorar que estava um pouco decepcionado por isso.

O jogo do psiquiatra que entende o paciente, pede para a alucinação sair da sala e falar a sós. Quantas vezes não passara por aquilo? Por um momento ele realmente pensou que Itachi pudesse acreditar nele.

Suspirou e deixou o queixo no joelho, cansado.

No fim eram todos iguais. Só queria entender o porquê de Sasuke pedir para ele confiar naquele homem que nem se quer acreditava nele. Que, podia ver em seus olhos, acreditava que ele fosse louco. Certo que agora sabia que ele era o irmão de Sasuke, mas não seria apenas por isso, certo?

Mesmo que não conseguisse vê-lo naquele momento, o cheiro de Sasuke estava ali, a presença, como se estivesse ao lado do outro. Quase podia sentir a caricia dele em seus cabelos. Aquilo era torturante. Afinal, Sasuke estava morto por causa dele. Como todos que se aproximavam dele.

— Você devia me odiar. — Balbuciou afundando mais o rosto nos joelhos.

A mão em seus cabelos mexeu em seus fios. Foi quando notou que estava real demais. Abriu os olhos assustado, e viu que era a mão de Itachi ali. Arfou e se encolheu, mas ao contrário do seu normal, não a tirou com um safanão. Era... tão parecido com Sasuke.

— Então você acha que pode ver a morte das pessoas? — O Uchiha questionou, removendo a mão de seu cabelo devagar. Não o encarou, não queria ver aqueles olhos escuros que lhe lembravam Sasuke, achando que ele era louco. — Você pode ver minha morte?

— Não.

Respondeu no automático e quase se bateu por isso.

Era como se não segurasse a língua perto do outro.

Dane-se, ele pensa que sou louco mesmo.

— Por que não?

— Não sei. Você está carregado dela em todos os lados, talvez... — Falou como se para si mesmo, porque aquilo o intrigava.

Não era como Hinata e Menma, que pareciam bloquear qualquer visão dele quando estavam perto. Afinal, ele vira a morte de Shisui. Era diferente. Quando tocara na mão de Itachi a primeira vez ele teve uma sensação ruim, um pressentimento. Que Itachi não deveria estar ali. Vozes lhe gritando, que ele não deveria voltar para Konoha. Não havia sido uma visão, apenas uma sensação. Agora ele se perguntava se aquilo havia sido Sasuke. Aquela sombra indistinta que havia visto antes só podia ser ele. Se ele sempre esteve perto de Itachi, só podia imaginar a dor que Itachi deveria sentir sobre Sasuke para o transformar em uma sombra como aquela.

A minha presença ajudou. Pensou, intrigado. De alguma forma, ele está ficando mais claro. Por que será? Isso explica eu nunca ter o visto antes, ele está preso ao Itachi. Ou estava.

Naruto nunca se entregou muito ao que podia fazer, ignorando quando  Tobirama se ofereceu para o ajudar tantas vezes. Ele não queria ter nada com aquela maldição, ele sabia apenas o bastante para evitar certas coisas. Vendo o que havia acontecido com Sasuke ele repensava essa decisão, o quanto podia ter o ajudado antes se percebesse o que estava acontecendo.

Estou desviando do assunto. Olhou Itachi, que esperava pacientemente sua resposta. A mão dele, quando toco nela...

Naruto, de forma curiosa, pegou na mão de Itachi, ignorando a expressão surpresa do outro com o gesto. Era grande, macia, dedos longos, calorosa. Diferente da sua fria. Quando ele a tocava, ele via várias coisas em sua cabeça, confusas. Lhe dava dor de cabeça de tão desfocadas e rápidas. O zumbido começava, baixo.

E não era nada como acontecia com as outras pessoas.

A soltou, mesmo que sentisse falta do calor. Ele era igual a Sasuke até nisso.

"Senti sua falta." A voz abrupta de Sasuke o fez tensionar, observando-o surgir na sua visão periférica. Tão tênue que ele nem mesmo parecia estar lá. "Vocês estão se dando bem."

Naruto fez uma expressão de desagrado e ouviu uma risada conhecida perto do seu ouvido. Escolheu o ignorar depois disso e focar no Uchiha vivo.

— Eu não entendo. Você já matou muitas pessoas, Itachi?

O Uchiha pensou que o outro estava brincado. Fora pego de surpresa quando ele tocou sua mão em um gesto despreocupado. Ele, que até pouco tempo se encolhera com um simples afago.

A mão era pequena, os dedos calejados pelos instrumentos. A pele tinha uma maciez estranha na palma e era fria demais. Quase como um cadáver. Ouviu o suspiro do outro ao lhe largar, a testa enrugada enquanto ele levava uma mão na lateral da cabeça como se um som lhe incomodasse.

Estava absorto no gesto quando ele perguntara aquilo. Assim. Como se perguntasse sobre o clima.

E finalmente a face cuidadosamente trabalhada se abriu incrédula.

— Como?

O garoto virou a face de lado em curiosidade. Outro gesto infantil.

Então o rosto sério se quebrou em um sorriso traquina e Itachi percebeu que havia sido uma piada. E ele havia perguntado de modo tão sério.

Ele vai me enlouquecer. Hora de transferir o paciente.

— Estava zoando com você, psibláblá. — Itachi o encarou, nada impressionado. — Mas pela sua cara, já imagino a resposta.

Itachi ergueu uma sobrancelha incrédulo, o outro continuava sorrindo, parecendo terrivelmente satisfeito consigo mesmo.

— Devia ver sua cara, não é o único bom para ler os outros, eu já disse.

— Tenho certeza que não. — Itachi resmungou. — Mas no que isso influencia esse seu...dom?

O garoto voltou a encará-lo, sério novamente. Sua face se endureceu e ele saiu da sua posição, com a cabeça baixa, testando encostar os pés no chão.

— Pode parar. Não precisa fingir que acredita para eu confiar em você. Detesto esses joguinhos. — A voz dele subiu um pouco e ele se ergueu. — Estou com fome.

E como se para pontuar isso, sua barriga roncou.

Ele cortou o assunto, ignorando completamente a pergunta de Itachi. Coisa que Itachi odiava que fizessem.

O garoto simplesmente desceu do sofá e seguiu mancando para a cozinha. Aquele garoto estava na casa de um desconhecido e agia como se fosse o dono.

Seguiu-o, se sentindo intrigado. Itachi estava acostumado a ter seu espaço. Apesar de Shisui e Obito tentarem desrespeitar isso às vezes. O ver ali, do umbral da porta da cozinha, circular por ela abrindo a geladeira, pegando xícaras e se servindo como se não fosse nada, como se fosse normal, tirando suas coisas do lugar, Itachi se pegou repentinamente surpreso por não estar irritado, apenas confuso.

Como aquilo havia acontecido?

— Que droga, não tem ramen nessa casa. — Ele resmungou, abrindo os armários com dificuldade por seu pé e por ser muito baixinho. — Só come mato, por isso essa cara de nada. Não tem chocolate e seus grão de café são ruins... Você é mesmo chato.

Irritante. Resmungão. Espaçoso. Complicado.

Itachi suspirou, passando os dedos no cabelo enquanto o outro continuava mexendo nas suas coisas e resmungando.

Tão Sasuke que doía.

— Você é bem abusado, sabia? — Falou, tendo a atenção do outro que virou para ele com um sorriso sarcástico.

— Não sei disso. Só sei que deixa a droga do café em uma prateleira muito alta. — Ele rebateu, tentando alcançar o os grãos sem sucesso.

Itachi esqueceu a irritação e teve vontade de rir. As roupas frouxas, os cabelos caindo nos olhos. E o tamanho diminuto. Aquele garoto era ridículo. Tão ridículo que era um pouco adorável, como ver um filhote tropeçando no próprio rabo.

Foi silencioso por trás dele e pegou os grãos, tentando ignorar o caos na sua cozinha. O garoto se assustou com a proximidade. Em um reflexo de pânico ele se virou e empurrou Itachi, fazendo os grãos caírem, abrindo a caixa e sujando o chão.

— Olha o que você fez! — Naruto acusou, apontando para a bagunça com a face desolada.

Ora, mas ele que me empurrou!

Itachi pensou em argumentar, mas a cara triste de Naruto olhando os grãos no chão era muito engraçada. Ele parecia até ter esquecido do que acontecera antes do café cair.

— Você ama mesmo café. — Observou, sem obter resposta. O loirinho continuou balbuciando coisas como "meu café" "maldito corvo" "quero meu café" "sem ramen e sem café agora" "psibláblá, meu café."

Itachi segurou a risada, porque a cena era, odiava admitir, muito bonitinha. Ele parecia uma criança que tinha quebrado um brinquedo. O garoto só parou com a lamentação olhando para os grãos no chão quando ele falou que tinha mais e ia fazer o maldito café dele.

O rosto se iluminou no mesmo instante, mesmo que ele tenha voltado a emburrar quando Itachi o obrigou a ficar sentado enquanto ele fazia o café dos dois. Não queria que ele terminasse de destruir sua cozinha.

Enquanto preparava a água e moía os grãos na máquina, seus olhos foram de esguelha para o outro sentado brincando com uma xícara na mesa, pensativo e olhando para fora pela janela. Era tão estranho, para Itachi. Era como se aquela cena fosse certa. A bagunça, ele fazendo o café, e o outro sentado, vestindo suas roupas. E o sentimento que o intrigava de querer entender aquela figura estranha só aumentava.

Itachi não percebera que, nem por um momento no dia, se lembrara do porquê de estar em Konoha. Estivera absorto demais no mistério que era aquele garoto, que mudava de face a toda hora, para lembrar disso.

Naruto parecia arisco, rebelde, parecia triste, parecia infantil. Parecia perigoso, parecia que precisa ser protegido.

O que ele é, de verdade?

Alguém que tinha sido aparentemente abusado demais para confiar nas pessoas, e ainda assim estava ali, na sua cozinha, pensativo.

Era agradável pensar nisso. E era estranho a sensação boa que lhe causava.

Mas faltava algo.

Limpou as mãos e caminhou de volta a sala. O outro parecia não ter percebido quando saiu, apenas olhando de forma pensativa para fora. Ligou o sistema de som e o som do piano invadiu a casa, como se sempre estivesse estado ali.

Quando voltou prosseguiu com o processo, apenas olhando de relance para o outro, e os lábios novamente tinham se curvado em um sorriso leve na face pensativa, enquanto os dedos mexiam na mesa. E pelo perfil, viu os olhos claros.

Era isso que faltava na cena.

Não deu atenção ao fato de que não ouvia música em casa há cinco anos, desde que perdera Sasuke.

Naruto olhava para a luz que vinha da rua pelo vidro, o sol batendo, fazendo as partículas de poeira mínimas dançarem ao som da música. E naquele momento, com o som tocando, ele viu Sasuke por trás da luz. Não tão claro, mas ele estava lá de pé, quase não se via sua mancha vermelha no peito naquele momento. Olhando para Naruto, olhando para o irmão e sorrindo de lado.

O cheiro dele estava ainda mais forte, misturado com o do café que ele tanto lhe ensinara a gostar.

E naquele momento, sem perceber ele sorriu, um de seus sorrisos sinceros, sem máscaras.

Nem lhe veio à mente, que desde que conhecera Itachi, eles vinham cada vez mais sem que ele percebesse. Como se fossem certos estarem ali.

Como se fosse certo ele estar ali.

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