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Capitulo VIII - Primeira Estrofe

Da noite escura teu choro me acalenta. 

Anjo que tudo vê.

Abra tuas asas, não feche teus olhos.

Iluminar-te-ei com as chamas do pecado.

Mesmo que este não possa te tocar jamais.

NA ESCOLA NAQUELE DIA SÓ SE FALAVA NA MORTE DO GAROTO HYUUGA. Quando a prima entrou, vestida com roupas escuras, os cabelos usualmente soltos presos em um rabo de cavalo, a face abatida, tentaram disfarçar o burburinho, mas era impossível. Impossível principalmente pela forma como tudo aconteceu.

Ele havia sido encontrado no terreno atrás da escola, já nos limites do distrito Hyuuga. Um aluno estava saindo do treino quando os policiais chegaram, após um telefonema anônimo. O aluno, que se chamava Lee, foi quem ajudou os policiais a chegarem ao terreno, e ele teria pesadelos pelo resto da vida com o que viu: O garoto estava preso a uma árvore com uma lança que o atravessava o peito de baixo para cima. Estava nu, a boca costurada, os olhos abertos e à seus pés havia uma bandeja com um coração. Um coração de verdade.

— Para mim o que aconteceu foi um ritual satânico.

Uma menina murmurou enquanto a garota Hyuuga estava no armário com a cabeça baixa e os olhos vermelhos. Era sabido com os primos Hyuugas eram como irmãos, sempre se defendendo dentro da escola, e que ele era o motivo das diversas brigas entre ela e o garoto Namikaze.

— Meu pai é policial, ele disse que arrancaram todos os dentes dele, ainda vivo!

— Isso é horrível.

— Talvez tenha sido um namorado ciumento, todo mundo sabe que ele era gay.

— Com quem ele estava saindo?

— Ele não dizia, mas minha prima o viu uma vez com um cara mais velho saindo de uma boate... Talvez tenha sido passional.

— Ou coisa de família. Sei lá, briga por herança. Os Hyuuga são muito estranhos para mim...

Ficaram mudos quando viram uma cabeça loira entrando pelo corredor em direção a pequena Hyuuga. Todos que estavam no corredor pararam para olhar, esperando alguma briga. O Namikaze podia ser bem baixo para usar isso agora, todos sabiam que ele usava qualquer coisa para esmagar quem se metesse em seu caminho.

— Pode ter sido ele. — Um garoto murmurou. — Afinal, não faz uma semana que eles discutiram.

— Sora! Isso é muito sério.

— Você tem que admitir que ele é bem estranho, ninguém sabe nada dele. Pode muito bem ser um assassino. Eles se odiavam.

O garoto parou em expectativa quando o Namikaze encarou a Hyuuga que se virou para olhá-lo. Eles não falaram nada, apenas se encaravam a uma pouca distância. E para surpresa de todos ele a puxou e a abraçou.

O burburinho aumentou, ninguém entendia nada, ainda mais quando a pequena retribuiu, enrolando os braços magros na cintura do garoto e escondendo a cabeça em seu peito enquanto ele massageava suas costas e recostava o queixo no topo da cabeça dela.

— O que estão fazendo no corredor? O sinal da aula já tocou! Agora mesmo... — O monitor parou de falar quando se deparou com a cena no corredor. Os dois maiores arquimigos da escola abraçados.

Sem se importar com o olhar sobre eles, o Namizake se afastou um pouco da garota que continuava de cabeça baixa. Limpou o rosto dela das lágrimas que ela soltara silenciosamente com um carinho e cuidado, o que fez o burburinho aumentar. Então ele prendeu a mão pequena a sua, lhe beijou a testa e murmurou um "quer sair daqui?". Em resposta ela apenas assentiu cabisbaixa e ambos saíram pelo corredor em direção a saída da escola sem olhar para ninguém.

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Era diferente. Geralmente quando se viam, ou se xingavam ou se agarravam. Tê-lo ao seu lado em silêncio, apenas segurando sua mão enquanto estavam sentados cada um em um balanço lado a lado... Era estranho. A sua outra mão vazia formigava para tocá-lo também.

Ele nada falava. Nada do que os outros falavam, como que tudo ficaria bem ou coisas assim, que não adiantavam de nada. Talvez ele já houvesse passado por coisas assim e soubesse exatamente o que fazer... Talvez. Ele sabia. Sabia o fazer, o que dizer. Respeitar o silêncio e apenas a mandou chorar tudo o que tinha para chorar.

Não soube quanto tempo ficaram assim, naquele parque perto da escola, sentados no balanço se movendo de vez em quando lentamente enquanto ela chorava baixo e ele a segurava. Até que ele se ergueu e a incitou a fazer o mesmo. Sentaram-se em um banco e no momento que ele largou sua mão e saiu, sentiu um vazio imenso retornar. Semelhante ao que sentiu no enterro do primo dias atrás.

Neji sempre foi mais do que um primo: era seu irmão. O único que a havia visto de fato na sua família como ela era, que a respeitava, que ia lhe fazer companhia quando o pai viajava e que segurara sua barra quando a mãe dela morreu. Neji era sua família e ela sentia como se um pedaço seu houvesse sido arrancado de repente.

Diferente do vazio do primo, este novo diminuiu quando Naruto retornou com dois sorvetes, lhe entregando um em silêncio, com um pequeno sorriso de incentivo e se sentando ao seu lado. Não entendia como ele conseguia ser assim, tão diferente, tantas pessoas. Quem ele era de fato? O garoto-problema da escola? O amante? O garoto de língua ferina? Ou aquele ali, o amigo? Quem era Naruto, de fato e realmente?

— Ele me ligou de noite. — Falou rouca, olhando para os próprios pés enquanto o sorvete derretia na sua mão. — Neji me ligou, ele disse que ia se encontrar com o namorado e depois ia passar para me ver e falar sobre minha festa de aniversário. Horas depois ele estava morto.

Eles ficaram em silêncio por um tempo, o vento movendo seus cabelos, o som de riso de crianças ao longe.

— Contou para alguém?

Ela negou devagar.

— Sabe quem era a pessoa? — Ele perguntou recebendo outra negativa. Hinata se sentia tão letárgica até então, que nem pensara ao certo nisso. Mas Neji fora se encontrar com alguém naquela noite, e agora estava morto.

— Neji era meu irmão, para mim ele era...

Ele não falou mais nada. Apenas beijou sua testa. Ela sentiu os lábios gelados de sorvete e resmungou limpando a testa onde ele sujara. E sorriu, coisa que pensou que podia ser impossível depois de tudo. Quando olhou para cima ele estava olhando para frente, para o parque, para as crianças.

— Eu tinha um irmão mais velho. — Ele falou de repente. — O nome dele era Menma. — Ele falou sereno, mas ela notou a testa franzida. Não conseguia ver seus olhos naquele momento com o vento batendo nos cachos loiros e os cobrindo, mas ela nunca ouvira a voz dele naquele tom. Não havia sarcasmo. Era limpo, e era... tão triste. Sabia que ele lhe falava apenas para ajudá-la. Por muito tempo ela quis saber mais dele, mas se sentia intrusa, invadindo uma dor que parecia profunda demais. Ainda assim, seus lábios se moveram formando a pergunta.

— O que aconteceu com ele?

— Ele foi encontrado morto no próprio apartamento com um tiro na cabeça. A polícia disse que foi suicídio. Eu tinha treze anos e morava com ele na época, mas só me encontraram duas semanas depois vagando nas ruas, sem lembrar de nada do tempo que passei desaparecido... Tudo o que eu lembro é da neve...Eu odeio neve.

Ela ficou muda, os olhos muito abertos fitando os próprios pés. Aquilo foi muito mais do que esperava ouvir, e desconfiava que não era nem metade do que ele guardava, e agora ela tinha mais milhões de perguntas. Sobre onde estavam os pais dele, porque ele morava com o irmão, porque ele não lembrava, porque o irmão dele tiraria a própria vida se cuidava dele.

Desistiu ao erguer o rosto e encontrar os olhos nos seus. Azuis, limpos, sem máscaras. Naruto tinha uma certa dor mesclada a inocência. Ele conseguia encarar alguém por horas, como apenas uma criança pequena faria. Ele compartilhava algo extremamente doloroso, apenas para ajudá-la, para dizer que a entendia um pouco. Ele não a olhava com pena, ou comentava sobre sua família, ou fazia perguntas sobre o porquê de viver tão sozinha. Naruto apenas ajudava a suportar. Não tinha como uma pessoa como aquela ser um encrenqueiro, ou um demônio. Não quando ele apenas parecia se defender das pessoas.

— Desculpe, Hinata. — Ele falou de repente, sem quebrar o olhar.

— Desculpar você? — Perguntou confusa.

— Eu apenas... Não quero que tudo se repita... — Ela não entendeu, e ele não fez menção de explicar. Apenas suspirou e voltou a tomar o sorvete enquanto ela fazia o mesmo.

Naruto pensando que talvez pudesse ter salvado Neji, mas não o fez por medo de tudo que desencadeava após. A morte tinha suas regras para pessoas como ele também, e ele aprendera da pior maneira.

Hinata pensando no primo, em Naruto, e na terrível situação de que por mais absurdo que aquilo fosse no momento, ela poderia mesmo estar se apaixonando pelo Namikaze.

Ela estava ferrada.

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O primeiro morrera queimado, perdera os dedos.

O segundo morrera espancado, perdera os órgãos genitais.

O terceiro morrera afogado, perdera os olhos.

O quarto fora enterrado vivo, perdera os pés.

O quinto foi enforcado, perdera a língua.

O sexto teve a cabeça decepada.

O sétimo teve seu coração arrancado.

O oitavo se afogara no próprio sangue, perdera os dentes e os lábios foram suturados.

Exceto a sétima e oitava vítima, até segundo conhecimento, todos os demais haviam recebido cartas e presentes macabros.

A cabeça da sexta vítima nunca fora encontrada, quebrando aí o padrão. Apenas os bilhetes continuavam a ser encontrados junto aos corpos. A caligrafia era idêntica, o papel estava sob análise do último e logo chegaria os resultados, mas para Itachi, parecia um longo poema, onde trechos apenas foram encontrados junto aos corpos.

I

Da noite escura teu choro me acalenta.

Anjo que tudo vê.

Abra tuas asas, não feche teus olhos.

Iluminar —te —ei com as chamas do pecado

Mesmo que este não possa te tocar jamais.

II

E mesmo quando a dor em demasia for,

Meus braços, neles terá teu alento.

Não chorai anjo, não chorai!

Se te quebram o corpo, ou te quebram o espírito...

Mas do fruto não provará jamais.

III

Não te lances ao sangue, mas ao sangue te lançam.

Teu pecado, é quem tu és...

Mas como tão puro podes pecar?

Ver e apenas ver, é tua sina.

Afogar-se na angústia de tantos, sem sossego jamais.

IV

A terra clama por ti se o céu te rejeita.

No ar te sufocas, entre os teus não te cabes.

Quem és tu anjo, se não perfeito?

Queria eu ter poder de caminhar até ti.

Mas não sou digno de pisar onde tu caminhas.

V

Olhai Anjo, olhai!

Olhai onde todos não o podem...

Sufocados em coisas pequenas.

Sufocados em palavras pequenas contra ti.

Olhai meu Anjo, apenas olhai.

VI

Corpos dançam em volta de ti

Celebrando tua chegada.

Os mortos erguem a cabeça ao ouvir teu nome.

E somente a ti obedecem.

És o príncipe que aguardam, meu Anjo.

VII

O puro, o amante e o abnegado.

O sol, a noite e a lua.

Podes sentir Anjo? Eles chamam teu nome.

Eles clamam por ti, em vida e em morte.

Pois és o vento de todas as paragens. És amor, acima de tudo.

VIII

Acordai meu anjo, acordai.

Com os olhos limpos e as mãos sangrentas...

Daqueles que te tocavam, já não o podem fazer...

Dos que viam, não mais podem ver.

E finda as lamurias ao doce som da tua voz.

Acordai Anjo!

Oito versos, oito mortos e algo dizia a Itachi que o poema não fora completado.

Largou as fotos da perícia sob a mesa do escritório que fizera na casa e passou a mão nos cabelos, cansado. Já devia passar da meia-noite e pouco dormira nos dois dias que haviam seguido o assassinato de Neji Hyuuga.

Todo o país estava em polvorosa com a perspectiva de Kyuubi ter retornado. Foram oito mortes em 16 anos. O perfil mudara apenas nas duas últimas, por isso eram elas que intrigavam Itachi no momento. Kyuubi parecia extremamente apegado a rituais, os seguindo metodicamente. Para um serial Killer quebrar um ritual pré-estabelecido era algo extremo. Por exemplo, sua intromissão o fez pegar Sasuke. Mas e Neji Hyuuga? O que o fez quebrar um ritual que parecia ser mais importante do que as próprias vítimas, uma segunda vez? Além de tudo, ele não tinha a idade das demais, era muito jovem.

Aquela morte o intrigava, parecia mais um recado, um anuncio de retorno. Uma exibição de poder. Para quem? Itachi? A polícia? E por que ele ficara cinco anos parado e só agora retornava? Não era comum para assassinos como aqueles ficar tanto tempo parados, sem matar, sem sua caçada. Ainda assim ele ficara. Primeiro por oito anos, até Itachi pegar o caso, e depois por mais cinco anos, depois de assassinar Sasuke.

Itachi se irritou e olhou para a janela, onde a chuva batia na vidraça. Sempre quando ele pensava que estava bem perto, parecia que Kyuubi estava à frente. Estava deixando algo passar, e isso era extremamente irritante.

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Estava deslizando os dedos com agilidade pelo piano quando sentiu os olhos azuis sobre si. Abriu um pequeno sorriso e olhou de soslaio encontrando a figura quase etérea no umbral da porta, meio escondida pelo corredor o olhando com um misto de receio e curiosidade. Ele era mesmo completamente diferente de Menma. Conhecera os dois quando eram crianças ainda, mas claro que o loirinho não lembraria, não tinha nem três anos de idade na época. Ele mesmo não lembrava bem deles, até rever Menma quando havia o procurado pedindo ajuda.

— Você gosta? — Perguntou calmo, sem virar-se e segurou a vontade de rir quando o menino se assustou com a voz repentina, o corpo pequeno saltando, ponderando em fugir ou não.

Apesar de tão diferente de Menma, havia algo nele que o lembrava do irmão mais velho. Era aquele sentimento estranho que ele tinha apenas com poucos, especificamente apenas com sua família: O sentimento de proteção.

Talvez esse fosse o dom dos irmãos. As pessoas que os conheciam tendiam a querer ajudá-los. No começo havia tentado se convencer que havia entrado naquela história mais para conseguir provas contra o tio dos garotos, que vinha pesquisando há um bom tempo, mas sabia que isso não era verdade.

Aquele maldito pedófilo não iria ver nem o que o atingiu quando terminasse com ele, acordo ou não. Por enquanto ele deixaria as coisas se acalmarem por ter conseguido tirar Naruto daquela situação, mas não deixaria aquele monstro sair livre depois do que ele havia feito com Menma, Karin e Naruto.

Naruto, principalmente, batia em uma corda em seu coração de forma ainda mais forte. Talvez porque ele parecia tão inocente, mesmo para alguém da sua idade, mesmo depois de tudo pelo o que passara na curta vida que tivera até agora.

— Não precisa ter medo. — Falou com um leve tom de zombaria, testando. Tentou não sorrir quando funcionou. Ele realmente era parecido demais com Menma, era fácil provocar aqueles dois.

O garoto fez um bico e se aproximou, ainda timidamente. Haviam se conhecido oficialmente há apenas uma semana, já que a criança não lembrava dele, e o reencontro havia sido de um jeito bem dramático. Desde então vinha todos os dias na casa de Menma e Karin. Assim como Jiraya e o tio paterno. Tentavam cercá-lo de todos os lados com cuidado e proteção, mas exceto Menma, ninguém arrancava nenhuma reação dele que não fosse se encolher quando o tocavam.

Era a primeira vez que o garoto se aproximava dele. Da última vez que se falaram, ele havia dito que ele iria morrer.

Um ótimo começo não?

— E então? — Falou, sentindo o outro atrás de si. — Quer aprender?

O menino murmurou um sim baixinho.

— Senta aí. — Comandou em seu típico jeito autoritário, mas o garoto não se intimidou, o que o surpreendeu.

Viu a figura miúda sentar-se a seu lado no banco e o olhar de soslaio por entre os cachos que cobriam os olhos muito azuis. Ele usava uma camisa de mangas frouxa azul e calças bege. Até na maneira de se vestir ele e Menma eram diferentes demais, na verdade fazia-o lembrar dele e do irmão, sempre opostos.

Notou os pulsos enfaixados e lembrou do que Menma falara. Ele havia tentado se matar no sanatório, e foi a deixa para conseguirem tirá-lo de lá e o arrancarem da guarda do tio. Bom, arrancar não foi bem o feito. O homem o entregara, alegando que ter "um sobrinho suicida sujava sua imagem". A verdade era que o clã o obrigara a renunciar à guarda do garoto, quando as coisas ameaçaram se complicar para cima deles.

— Consegue mexer as mãos?

Perguntou apontando o curativo.

O garoto assentiu rápido, sem olhá-lo, o cabelo balançando. Deixou um pequeno sorriso surgir e então começaram a aula. Por meia hora o ensinou e percebeu que o menino era alguma espécie de gênio, como ele mesmo. Tinha que perguntar a Menma porque ele era tão burro depois.

Horas havia se passando sem que notassem, e agora o menino lhe dava mais abertura e até sorria algumas vezes. Entendeu naquele instante porque todos eram fascinados por ele. O sorriso da criança quebrava qualquer um, até mesmo ele.

— Você tem talento, Naruto. — Falou sério e o viu corar e sorrir de lado.

— Você vai continuar me ensinando? — Ele perguntou incerto, o olhando com os grandes olhos azuis, o encarando de frente, sem desviar um instante. Com o tempo, notaria que isso era uma característica intrínseca do menino.

— Se quiser. — Deu de ombros aparentando indiferença, mas sorrindo por dentro em vitória. Então o sorriso do loirinho morreu um pouco e ele suspirou. — Eu já disse que vou.

— Não é isso... — O menino balançou a cabeça. — Você não está zangado? Não acha que sou louco também? Pelo o que eu disse antes... —olhou o garoto, se fazendo de desentendido e o menino bateu o pé no chão em um ritmo nervoso, desviando os olhos dele, e sussurrou. — Que você ia morrer...

— Ah, isso. — Deu de ombros e voltou a tocar. — Mais cedo ou mais tarde acontece.

O menino arregalou os olhos e o fitou chocado, e era cada vez mais difícil conter uma gargalhada.

— E não acho que seja louco, Naruto.

— Meu tio disse que eu sou um monstro. — O menino falou baixo.

— Seu tio é que é um monstro. — Interrompeu duramente. — Um doente.

Viu o garoto estremecer e os dois ficaram em silêncio por um tempo.

— As pessoas tendem a ter medo do que não entendem, só isso.

— Você não tem medo? — Ele perguntou curioso. — Não quer saber o que eu vi?

— Prefiro não. E não tenho medo, moleque abusado.

O menino se espantou com as palavras até ver o sorriso dele e relaxar.

— Eu não lembro do que vi também. — O menino murmurou. — Se eu não desenhar, eu esqueço.

Tocou no ombro do pequeno e ele se encolheu todo. O largou com um suspiro e viu o olhar um pouco apagado do loirinho. Não era difícil imaginar o tipo de coisa que ele teria passado para ficar daquela forma. Se aquele homem tinha estuprado e torturado a própria filha, não era difícil imaginar o que ele teria feito com Naruto, estando sozinho com ele por anos.

Menma conseguia superar o abuso físico que havia passado colocando para fora, ele não guardava nada para si. Karin era do mesmo jeito, passando para sua arte toda a dor que havia passado nas mãos do pai, mas com Naruto era mais diferente. O homem implantara nele uma culpa irreal. O incomodava ver a maneira como o menino parecia pensar não ser merecedor de nada, de nenhum carinho.

Viu o loirinho ainda encolhido com os olhos perdidos e vazios e suspirou de forma triste.

De repente o garotinho gemeu e colocou as mãos nos ouvidos.

Naruto se viu assaltado pelas vozes que o perturbavam quando Menma não estava por perto para pará-las. Era sempre pior quando passava muito tempo com Menma e ele saia, as vozes pareciam mais insistentes e irritadas.

O pequeno de repente sentiu o ouvido ser abafado e o zumbido ser substituído por um som calmante de piano. Abriu os olhos que fechara e notou que grandes fones de ouvido haviam sido colocados na sua cabeça. Olhou confuso para cima e viu o sorriso quase imperceptível daquele homem estranho, melhor amigo de seu irmão.

— Acho que pode ajudar você com os sons. Pode usar quando eles te incomodarem. É seu. — O homem falou, soltando seus pulsos que havia segurado, para os retirar com força de seus ouvidos antes de colocar os fones. O rosto do loirinho suavizou e o olhou agradecido de forma tímida.

— Obrigado. Você é...legal.

— Não conte para ninguém.

A voz do outro foi tão desgostosa que o menino riu, dessa vez mais alto. E a risada era bonita demais para o mais velho não sorrir também.

E foi quando o flash os surpreendeu e abriram os olhos, piscando assustados, para encontrar Menma na porta com uma câmera na mão e um olhar de falsa tristeza.

— Então me trocou por esse idiota, Naruto?

O loirinho riu segurando os fones da cabeça e abrindo o sorriso mais animado que fazia quando via o irmão mais velho.

— Ele é legal.

— Mais do que eu? — falou com um muxoxo, cruzando os braços.

— Ele toca piano. — O menino rebateu.

— Desculpe por não ser culto. —Rebateu com sarcasmo.

— Não é mesmo. — O outro homem falou, se divertindo com o ciúme do amigo.

— Nem vem querer roubar meu irmão, seu bastardo. — Menma apontou com os olhos estreitos. — Você já tem três que andam atrás de você como sombras. Deixe o meu otouto.

— Eu nunca tive um otouto. É uma boa ideia. O que acha, Naruto? — provocou.

O loirinho assentiu de forma tímida e Menma gritou indignado, escandaloso como sempre.

— Não sorria para esse idiota assim!

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Naruto abriu os olhos com a lembrança ainda viva em sua mente. Se ergueu da cama. Lá fora a chuva caia forte e isso o deixava inquieto. Saiu do quarto em direção a cozinha. Jiraya havia ido embora há algumas horas com um rosto preocupado de deixá-lo depois do surto. Tinha certeza de que em poucos dias ou Karin ou Tobirama bateriam em sua porta para vigiá-lo.

Tobirama tudo bem. Ele não desgostava do irmão mais velho de Minato. Ele era silencioso e era o único que tinha realmente ciência do estigma da morte que Naruto carregava, afinal, ele, assim como ele, era um Namikaze também, mesmo que não tivesse exatamente isso que ele tinha. Tobirama tinha algo mais sútil.

Karin era diferente. Ela era um pouco, sufocante demais. Essa era a palavra que lhe vinha à mente. Não havia como ter passado pelo o que ela havia passado na infância nas mãos do pai sem uma sequela. A de Menma, havia sido o lado violento e desconfiado, a de Naruto era a introversão a qualquer contato, a de Karin era a necessidade de chamar atenção e demonstrar carinho excessivo. A seu modo, os três haviam sido "construídos" pela mesma pessoa. A diferença era que Karin era filha, para ela havia sido bem pior, afinal ela fora abusada pela pessoa em que supostamente deveria mais confiar no mundo.

Naruto tremeu levemente e se odiou por isso. Odiava o poder que a simples lembrança de Nagato causava nele. Poucas coisas lhe colocavam medo, afinal, ele conseguia ver pessoas mortas. Ele via a morte acontecer a seus olhos sempre que se tornava próximo de alguém ou mesmo tocava algum desconhecido. Desde criança não dormia uma noite inteira de sono sem ser despertado por pesadelos de pessoas gritando e morrendo, de ter aquela sensação sufocante ao redor de sua cama. Se ele continuasse a ter medo, já teria terminado o intento de se matar.

Nagato lhe dava medo, e odiava isso. A simples menção de seu nome o fazia se sentir novamente com oito anos de idade. Lhe lembrava lugares escuros, ser trancado no armário. Lhe lembrava de ouvir os gritos de Menma quando ele apanhava, dos machucados de Karin e do olhar vazio que ela tinha às vezes, depois de uma das noites de festa. De como era se sentir um lixo. Ele tinha medo de Nagato, porque alguém que conseguia estuprar e torturar uma criança era alguém a se temer, que poderia fazer qualquer coisa. Os mortos não podiam lhe fazer mal, mas seu tio poderia.

Fechou os punhos e encostou a cabeça na geladeira fria, sentindo o pânico voltar a lhe dominar. Respirava com dificuldade, a mão no peito, os zumbidos nos ouvidos. Não podia fraquejar agora. Voltara a Konoha por um motivo. Ele queria acabar com o clã Uzumaki, ele queria acabar com Nagato. Precisava ser forte para isso.

E foi nesse momento que o barulho lhe chamou atenção. Ouviu o som de algo se quebrando e paralisou. De repente as luzes se apagaram e xingou alto. Agora sim começava a tremer. O escuro nunca era um bom lugar para se estar.

— Não... — Chamou baixo, respirando rápido. Já começava a hiperventilar, lembrando de armários escuros e trancados, de gritos e de sangue.

"Shhh..." A voz do irmão o alcançou e sentiu o seu perfume conhecido a seu lado, como sempre sentia quando precisava dele. "Você não está preso no armário, Naru. Respire devagar. Respire para mim, otouto."

O efeito foi calmante e imediato. Novamente ele estava ali a seu lado. Se ergueu devagar, só no instante notando que havia escorregado para o chão com as costas na geladeira.

"Vai ficar tudo bem Naru. Estou aqui."

Apalpou os objetos no escuro. O zumbido havia sumido, agora só havia a voz de Menma, como se ele houvesse sintonizado e removido os demais ruídos.

Caminhou pelo corredor, apalpando as paredes em busca da sala. Precisava achar uma lanterna, a luz parecia ter faltado em todo o prédio. Pisou em algo molhado e viu a janela batendo com o vento, encharcando tudo. Xingou e correu a tentar fechá-la.

Um som o fez paralisar com as mãos no parapeito. Menma surgiu rapidamente ao seu lado, gritando para que corresse, tentando agarrar seu braço e o puxar em vão.

Antes que conseguisse se virar, sentiu mãos gelados lhe abraçando por trás. Reprimiu um grito surpreso e reagiu com uma cotovelada que acertou algo com um barulho de algo quebrando. Foi solto, mas ao tentar correr escorregou na poça que se formava e caiu. Sua cabeça bateu com força no chão e tudo começou a girar. Sentiu um peso sobre suas pernas no chão e desferiu um soco cego, mas seu pulso foi preso em uma mão. Levantou o joelho tentando se desfazer do peso sobre si, mas o agressor não se moveu. Usou a mão livre na tentativa de acertar onde achou que seria o rosto do seu agressor e ouviu um gemido rouco de dor. Torceu a mão que lhe segurava e ergueu o quadril impulsionando o peso para cima na tentativa de sair da imobilização.

Como resposta uma mão foi ao seu rosto e bateu sua cabeça no chão. Seja quem fosse, não era um garoto do ensino médio. A mão era grande demais, cobrindo todo seu rosto facilmente, os movimentos eram de alguém que sabia exatamente o que estava fazendo. Duas vezes sua cabeça foi ao chão duro e sentiu que iria desmaiar a qualquer instante.

"Não se entregue!" A voz de Menma, que não havia parado de gritar, surgiu perto do seu rosto.

Desculpe, Menma.

Foi fechando os olhos devagar e sentiu um hálito em seu rosto. Um cheiro forte de café e algo mais... que... Sua cabeça estava confusa. Ainda mais ao sentir um carinho leve no rosto, contrastando com toda a violência de segundos atrás. Antes de cair no escuro uma voz conhecida lhe invadiu a cabeça, quente em seu ouvido.

—Não se preocupe anjo, tudo vai acabar logo.

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Naruto acordou com uma terrível dor de cabeça e por um momento pensou que tudo poderia ter sido um pesadelo. Abriu os olhos devagar para a luz do sol que vinha da janela e viu que o dia já estava adiantado. Estava deitado no sofá. Sentou-se depressa, quase caindo pela pressão ortostática e foi apenas quando olhou ao redor que viu que não fora um pesadelo.

A janela da sala, assim como a porta, estava aberta. O chão estava encharcado e havia sinais de luta por todo o lugar. Ainda olhava ao redor quando notou a caixa em cima da mesa da sala. Não era muito grande, vermelha com um laço em cima, e ao lado havia um envelope.

Pegava a caixa quando o telefone tocou, quase o fazendo derrubá-la. Levantou-se trôpego e atendeu automaticamente.

— Namikaze... — Sussurrou, segurando o telefone no ouvido com o ombro enquanto desfazia o laço da caixa.

Do outro lado ouviu apenas a respiração serena de alguém.

— Quem fala? — Perguntou já irritado, sua cabeça latejando.

Ouviu um som de suspiro. Ia desligar no ato quando tirou a tampa e paralisou com o que viu dentro da caixa. A pessoa do outro lado fez um barulho que parecia com um estalar de língua e uma risada abafada, e então o telefone ficou mudo, mas não percebeu em primeiro tempo.

Tudo o que percebia eram os dentes, ao que pareciam, humanos, dentro daquela caixa.

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