Olá leitores❤
Sintam-se muito bem vindos a essa pequena história!
Espero que gostem =)

Ao olhar o rosto refletido no pequeno espelho do meu quarto demoro um pouco para me reconhecer. Estou diferente nesse vestido festivo, combinado a uma maquiagem bastante exagerada. Contudo, continua aqui a mesma garota desajeitada que se esconde atrás das lentes grandes de seus óculos de grau.

Pensei em desistir de ir nessa festa mais de mil vezes, porém meus amigos nunca iam me perdoar. Ou ao menos me entender.

Eles não sabiam da minha paixão platônica pelo colega de sala que durante toda a vida escolar me viu apenas como a "nerd" que sentava perto da turma do fundão e passava cola na hora das provas. Faz exatamente quinze dias que meu (ex) "crush" assumiu um relacionamento sério com Babi; a legítima patricinha dos colégios de filme americano, exceto que seu cabelo é ruivo e não loiro.

Meu coração se cortou ao vê-lo subir no banco da praça em frente a loja de tintas do meu pai no último sábado e gritar que era o homem mais feliz do mundo por ela ter lhe dado uma chance . Eu sabia que não tinha a menor possibilidade de Henrique Alves me enxergar algum dia e por isso mantive meus sentimentos como um segredo de estado. Tinha certeza que ele lembraria de mim apenas como a garota esquisita que era boa com exatas. Mas havia ainda a esperança dele me olhar ao menos como amiga. Algo que Babi nunca vai permitir.

Hoje eu quero apenas esquecer de tudo. Quero sentir a energia da música e simplesmente me deixar levar. Resta-me a difícil  tarefa de colocar esse pensamento em prática.

-Malu! Julie e Ben estão aqui. - ouço minha mãe gritar.

Sei que chegou a hora. Minha melhor amiga e seu namorado serão meus guarda-costas durante o temido baile de formatura do ensino médio.

Saio do quarto e já me deparo com eles a minha espera de pé, prontos para sair, mamãe ainda insiste para que eles aceitem um suco ou alguns biscoitos mas rapidamente já estamos no carro. Ben é maior de idade, habilitado e não bebe; geralmente tem que levar todo mundo em casa no final das festas.

-Animada Malu?- Ju pergunta eufórica.

-Claro!- Tento soar convincente.

- Ouvi dizer que o Dj é ótimo!-Ben comenta.

Então seguimos falando sobre música e o talento do tal Dj até que chegamos ao salão, bastante lotado por sinal.

Entramos.

Fico imediatamente tensa.

Muita gente. Muito álcool. O ar denso tomado pelo cheiro característico do cigarro misturado a alguma outra coisa. Não fazia ideia de que essas festas eram tão "pesadas".

Estava pronta para sair correndo quando Julie me arrastou junto com ela e Ben para nossa rodinha de amigos. Como era de se esperar todos acompanhados. Sinto um novo impulso de que é o momento certo para correr dali.

Porém resolvo cumprimentar a galera primeiro. É enquanto faço isso que meus olhos param em alguém diferente. Alguém que parece tão perdido quanto eu. "Malu esse é o Daniel, primo do Carlos"-não identifico a dona da voz . Por um instante tenho a impressão de ter esquecido até quem é Carlos, mas logo lembro do menino moreno que estudou comigo desde o primário e está namorando a Carol, que também faz parte da turma desde a época que ainda gostava de mamadeiras.

O garoto olha para mim e sinto minhas bochechas queimando, deveria dizer meu nome; mas diante do par de olhos azuis que me encaram é praticamente impossível lembrar de qualquer coisa. É no mínimo estranho o efeito que ele tem sobre mim.

Sem dúvidas trata-se de algo que eu nunca senti antes. Todos se calaram, creio que esperam que eu diga algo. Porém para mim o tempo deu uma pequena pausa. Preciso compreeder o que está acontecendo comigo .

- Malu é meio tímida quando se trata de desconhecidos, não leve a mal Daniel.- Carol diz em tom brincalhão e eu dirijo um sorriso fraco a eles.

-É um prazer conhecê-la Malu!

-O prazer é todo meu!-então trocamos um aperto de mão.

Será que existe amor a primeira vista?! Tenho fortes motivos para acreditar que o cupido me presenteou com uma dessas flechas raras. O toque entre nossas mãos é demasiadamente curto, mas é suficiente para uma corrente de eletricidade provocar um arrepio suave por todo meu corpo.

****************
Não demora muito para o pessoal se dispersar. Quando estou sentada sozinha em um dos bancos dispostos nas laterais do salão, observando Julie e Ben dançando de uma forma terrivelmente engraçada, noto que alguém se aproxima.

Daniel senta-se bem ao meu lado.

-Quer um refri? Eu acabei pedindo dois ao barman, porque imaginei que talvez você estivesse com sede.

Ele se preocupou comigo. Isso é um fato real. A razão disso? Minha cabeça sussurra: "ele é só um rapaz gentil!" e meu coração grita: "ele gostou de você!".

Lucidez e sentimento estão em guerra dentro de mim quando resolvo aceitar o copo que ele me estende.

-Gosta de música?-ele tenta iniciar uma conversa casual.

-Sim. E você?

-Também gosto; apesar de ser uma completa negação tanto cantando quanto dançando.

Não posso evitar o riso que me escapa. Para me desculpar digo:

- Devo admitir que somos dois então!

A partir daí falamos sobre muitas coisas aleatórias. Dentre as quais ele me conta que adora a cor branca,por que ela "guarda" em si todas as outras; que sua comida favorita é lasanha, mas a única coisa que não come é pedra por medo de quebrar os dentes; que, assim como eu, prefere o verão ao inverno; podia passar semanas inteiras só na Netflix sem se entediar e curte bastante futebol americano.

Eu em contrapartida lhe digo que amo tudo que é verde, pois o meio ambiente é quase a paixão da minha vida; que doces são meu ponto fraco quando se trata de artigos comestíveis ; e que prefiro mergulhar no mundo dos livros do que assistir séries e filmes on-line.

Acabamos nem notando a hora passar. Minha vontade imediata de sumir dali até foi esquecida. O fato de Henrique e Babi estarem lá ostentando sua felicidade não havia me afetado nem um pouco. Eu consegui superar, agora enxergo nitidamente o quão fantasioso e infantil era o "amor" que eu nutria por ele.

A "culpa" disso era inteiramente e sem dúvida alguma do rapaz tagarela sentado ao meu lado.

Era preocupante e mágico o efeito que  Daniel tinha sobre mim. Algo completamente novo. Minha vida toda valeu a pena só para poder sentir o que sinto agora.

Como se lesse meus pensamentos ele se levanta e pede que eu o acompanhe. Saímos do salão, ele segura minha mão e me guia até uma árvore de flores rosas e perfumadas que se encontra próxima a entrada.

Lá ele apoia suas costas e envolve os braços em torno da minha cintura.

- Você acredita em amor a primeira vista?- questiona sério e confuso.

Com plena certeza de que estou sonhando e sem ao menos parar para refletir respondo:

- Até essa noite eu tinha praticamente certeza que isso era impossível. Parece que o destino me pregou uma bela peça.

-Acho que eu levei minha vida inteira apenas para sentir isso!-ele afirma antes de selar nossos lábios.