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𝕮𝖆𝖕𝖎́𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖑𝖑

𝐄𝐃𝐈𝐅𝐈́𝐂𝐈𝐎 𝐋𝐎𝐓𝐔𝐒

𝐃𝐔𝐀𝐒 𝐒𝐄𝐌𝐀𝐍𝐀𝐒 𝐀𝐍𝐓𝐄𝐒

     𝕮elina acendeu as luzes do apartamento ainda que não precisasse, era um hábito recém adquirido e curioso, considerando que ela não podia enxergar nem mesmo as sombras. Tinha começado desde que a vizinha do lado tinha batido à sua porta, a uma semana atrás, exigindo saber como ela podia se mover no escuro e se ela tinha algum segredo escondido dentro do cubículo, que ela carinhosamente chamava de casa, mas que não reconhecia da mesma forma. Celina apenas riu murmurando um pedido de desculpas arrastado porque estava bêbada demais para inventar um motivo decente.

      Não era segredo que fosse cega, mas também não era algo que ela gostava de sair falando com outras pessoas, pelo simples fato da maioria acreditar que aquilo fosse um defeito, algo que a deixava mais lenta, como se de alguma forma estivesse em desvantagem.

      Celina não se preocupou em tirar os tênis conforme se dirigia até o quarto com a cabeça latejando pelas longas horas conversando, algo que ela costumava odiar com todas suas forças — principalmente quando tudo o que ela ouvia eram reclamações —, mas era o único emprego que a tinha aceitado (e que a pagava bem). Tinha sido contratada para ser atendente em uma linha de atendimento ao cliente fazia cerca de um mês, mas aquilo já pareciam anos de tortura, dolorosa e triste.

      Se jogou no colchão encostado em um dos cantos do que deveria ser a sala, os joelhos chiaram em uma dor leve, mas ela não deu importância, assim como não ligou quando a poeira subiu pelo ar tampando o olfato dela. Fechou os olhos por instante, concentrando-se, não no barulho dos carros passando abaixo ou nos gemidos de prazer do quarto ao lado, mas no que sentia. Era engraçado, mas Celina tinha aprendido a “ver” as pessoas, e os objetos, de outra forma desde o acidente — se é que podia chamar daquela forma.

     Era como se tudo fosse sólido, até mesmo o ar, mas havia sempre um emaranhado de cordas, algo que a guiava por onde quer que fosse. Cada movimento subia e estendia-se em uma vibração lenta por esses fios. Era como uma teia de aranha, mas não haviam espaços vazios. Cecília conseguia sentir tudo à sua volta ainda que não pudesse ver.

     A janela acima de si estava fechada, mas o vento batia lentamente como se fossem um amigo de longa distância com saudades, ele pedia para entrar e arrastar toda a dor para fora, mas Celina queria que doesse. Queria ficar triste e chorar todos os dias antes de dormir, então ela esticou o braço e fechou a cortina.

     O amontoado de caixas do outro lado do apartamento — roupas e objetos sem que ela não tinha se dado ao trabalho de abrir — se mexeram conforme as batidas do quarto ao lado que chiava de prazer se intensificaram.
   
    Celina cobriu a cabeça com o travesseiro e rezou. No começo ela não sabia para quem rezava, mas continuou, fervorosamente. Ela sempre rezou para que fosse outra pessoa, mas agora que ela estava em um cubículo mofado e não em sua casa cheia de lustres, ela se perguntou se tinha feito o pedido certo.

     Algo vibrou abaixo dela, a puxando novamente a realidade fria e suja do apartamento.  Ela teve que passar a mão pela barriga até se dar conta de que era seu celular que tocava e não a fome que consumia seu abdômen, reclamando pelas seis horas sem uma comida decente.

     Ela atendeu a ligação e após longos minutos em silêncio a voz do outro lado da linha começou: “Alô? É a senhorita Celina Cooper?” Era a voz de uma mulher, ela percebeu, deveria ter na faixa de trinta anos e pela forma como soava incerta, Celina teve certeza de que era uma secretária há pouco tempo.

— Sim. — Respondeu se sentando no colchão. Ela não tinha certeza do porquê tinha comprado um, ele era tão fino que mais parecia um cobertor duro. — Quem é?

— Aqui é da Universidade de Lockland, meu nome é Vanessa, sou secretária do senhor Windsor.

   Suas mãos tremeram por um momento ao ouvir as palavras da mulher. Celina nunca tinha estudado em Lockland, ainda que as suas notas fossem excepcionais. Tinha preferido se esconder em Merit e continuaria assim, até que Deus dissesse o contrário.

   “Vocês ligaram errado.” A voz parecia tremer mais que suas mãos quando ela replicou apressadamente antes de desligar o telefone, deixando um som mudo e entenso vagar pelo quarto. Mas essa paz cheia de terror não durou muito porque o telefone tocou novamente, mas desta vez ela tinha recebido um e-mail. O celular começou a ler suas mensagens e por um momento Celina se esqueceu de como fazê-lo parar. 

     “A Universidade de Lockland te convida para uma homenagem ao senhor Lyne Cooper, professor renomado pela sua pesquisa sobre o estudo anatômico dos músicos flexores superficiais na movimentação esquelética e...”

    Suas mãos correram pelo telefone apertando a tela e todos os botões, mas nada funcionava, a voz robótica continuou a recitar a mensagem até que Ceci jogou o aparelho contra a parede de gesso. A mensagem não foi completa e agora retavam apena cacos de vidro e uma nova conta para pagar.

     Celina apoiou as costas na parede mofada do apartamento, sentindo o ar voltar aos poucos aos seus pulmões. Seu coração doía por entre suas costelas. Elas se expandiam e se contraiam em uma dança violenta enquanto seu rosto se contorcia em algo horrível e doloroso.

     Ela não dormiu naquela noite.


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