O Reino Congelado
Mayla Acima
Reino de Blaueskönigreich 10 anos após a tempestade
Eu acordo na tenda, olho para os lados e vejo Leona, Klaus e Jürgen dormindo. Olho desesperadamente para o relógio de sobrevivência que marca 10 horas, isso significa que temos mais 10 horas de sobrevivência na neve.
Não quero acordar eles, então me levanto e saio para fora da tenda bem devagar, parece que a madrugada está indo embora, creio que daqui a pouco o Sol nasce, eu queria mesmo é saber o horário, mas por causa do Manfred não temos mais o relógio normal, só o de sobrevivência.
Me sento no chão e faço uma careta ao sentir a neve congelante em minhas pernas, mas continuo ali. Mesmo com a madrugada acabando o céu ainda está bem estrelado, o que bom, porque eu amo ver estrelas, desde que saí daquela cabana, ou melhor, daquele bunker que é como eu chamo desde que cai na real, as estrelas são o que eu mais olho e elas são algo que eu consigo olhar e lembrar que o mesmo Deus que fez essas bilhões de estrelas, é o mesmo Deus que servimos e que nos ajudará.
— Você quer mesmo piorar, não é? — Diz uma voz grossa e sarcástica, eu olho para trás e é Klaus na porta da tenda.
— Não, eu não me canso, e daqui a pouco o Sol já vai nascer, deixa eu olhar as estrelas só mais uma vez antes de voltarmos para aquele bunker. — Digo voltando a olhar para o céu
— Está nervosa não está? — Ele pergunta se sentando ao meu lado e fazendo uma careta por causa da neve.
— Não! Claro que não, só estou indo ver meu reino, meu castelo e minha irmã congelada depois de anos, talvez se todos tivessem deixado eu ver isso mais cedo, agora eu não estaria ficando biruta com a ideia. — Digo sentindo uma carga de raiva e ansiedade em mim.
— Nossa, você não precisa querer ser grossa e durona o tempo inteiro Anelise. — Diz ele fazendo uma cara de repreensão para mim, e eu o olho com um olhar sarcástico e respondo:
— Desculpa vai, isso é automático de mim.
— Desde quando você se tornou assim mesmo? — Pergunta ele fixando os olhos em mim.
— Desde quando começaram a me treinar para ser rainha aos 8 anos e falar quase todos os dias frases como: agora o reino é sua responsabilidade, uma decisão errada afeta todo o reino ou se você morrer o reino morre. A partir dali você sabe que minha cabeça foi virada para Blaueskönigreich e nunca mais para mim. — Termino minha fala e olho para ele.
— Você foi grossa de novo, eu acho que está passando muito tempo com Leona isso sim. — Ele sorri e eu retribuo com outro sorriso.
— Tem que ter mais tempo para se tornar uma adulta de verdade, tente olhar um pouco mais para você — Diz Klaus me olhando com pena.
— Não dá Klaus — Falo num tom suave — Você sabe que nem minha adolescência consegui passar direito, parece que fui direto para a fase adulta, eu sou uma adulta agora e mein Königreich, meine Verantwortung (meu reino, minha responsabilidade), essa foi uma das últimas coisas que ela disse para mim. — Agora nós sabemos falar a língua real, já que agora somos mais velhos e estamos envolvidos com os assuntos do reino. Klaus está a olhar para mim agora não com um olhar de pena, mas com um olhar firme.
— Se baseia tanto em Mayla, mas você é a garota mais corajosa que eu já vi.
— Garota corajosa é Leona, não eu — Solto uma risadinha meio falha e olho para neve no chão.
— Não, Leona pode ser corajosa, mas não como você, você mesmo depois de tudo o que passou continua com uma força tão grande, mesmo não tendo tempo para si conseguiu se tornar uma rainha bondosa e humilde, a maioria dos reis que passam por tudo cedo acabam se frustrando por muita responsabilidade e se tornando maus ou são desencorajados, o rei Arstolz é um exemplo deles, mas você Anelise eu te admiro tanto, você tomou força do que te frustrou e é como se você fizesse disso um desejo de mudança para o reino, e isso sim é incrível!
Eu só o olho com um sorriso no rosto que foi retribuído por ele. Durante todos esses anos eu e Klaus ficamos bem próximos, ele me entende como ninguém e consegue me definir da cabeça aos pés só de olhar nos meus olhos, e para mim ele é um melhor amigo e tanto.
— Se não fosse Yeshua eu não seria assim, ele me ensinou a ser corajosa desse jeito e nunca me deixou perder a humildade mesmo com todo mundo cobrando tanto de mim ao mesmo tempo. — Olho novamente para o céu e percebo que já se passou bastante tempo, pois já está bem claro.
— Temos que ir — Diz uma voz grossa vinda de trás, eu olho e é Jürgen saindo da tenda e em seguida Leona sai. Eu e Klaus nos levantamos e Jürgen começa a desarmar a tenda junto de Leona.
— Será que vocês podem parar de fazer vários nada e nos ajudar aqui? — Diz Leona de forma grosseira. Leona em minha opinião tem uma queda por Klaus, por isso ela meio que odeia quando estamos juntos, Klaus nega isso toda vez que eu digo isso, ele tenta dizer que eles não passam de bons amigos, mas eu não acho isso, eu gostaria de vê-los juntos para ver como seria. As pessoas dizem que Leona tem uma pitada a mais de brutalidade do que o normal, mas eu chamo isso de coragem, eu a admiro muito pela sua força, e parece que ela não tem medo de nada, embora seu pior defeito talvez fosse não pensar às vezes, mas ninguém pode culpar ela de nada, ela era filha de um guarda real, foi treinada com espadas e com as artes marciais mais fortes do reino, só que muitas vezes ela não conseguia lidar direito com seus sentimentos, por isso acabava sempre querendo dar uma surra em todos os garotos por quem teve sentimentos, mas Klaus ainda não teve esse privilégio.
Desarmamos tudo da forma mais rápida possível e colocamos tudo nas nossas mochilas enormes.
— Temos 8 horas ainda de sobrevivência, temos de 40 a 50 minutos para chegar ao castelo, e depois de 3 a 4 horas para voltarmos, até aqui aproveitamos bem o tempo, mas é melhor irmos logo. — Diz Jürgen colocando a mochila nas costas e nós fazemos o mesmo.
Começamos a andar e depois de uma pequena caminhada já estamos perto do reino, sei disso porque vejo de longe uma pessoa congelada.
— Chegamos — Digo com o coração disparado, fazia 10 anos que eu tinha deixado o reino, e ninguém me deixou vir nas missões, nem quando eu completei 16 anos, Schmidt disse que era porque eu não estaria psicologicamente preparada, mas eu acho isso uma besteira, eu preferia ter visto tudo de uma vez logo para saber o que eu veria de novo. E o que eu vejo agora são pessoas congeladas e um reino que antes era alegria e agora é só neve e gelo, um reino reinado pelo som de um vento que parece incessante. Então andamos mais um pouco e já dava para ver o castelo e mais, Mayla congelada, eu paraliso e Jürgen paralisa junto de mim, não consigo conter as lágrimas, só as sinto cair pelo meu rosto enquanto eu tento recuperar as forças, mas eu sei que vou ter que fazer isso de qualquer jeito. Enxugo as lágrimas, fazendo o máximo para reter da minha cabeça as memórias da minha irmã sendo congelada, eu vou em direção ao castelo, o qual está com a porta arrombada por causa das outras missões que fizeram para ver a situação do castelo, procurando algum vestígio que Nevaska poderia ter deixado. Quando eu entro, olho pelos arredores e minha casa inteira virou gelo, tudo está congelado, mas mesmo com minha casa sendo muito importante para mim, eu preciso ver algo que é extremamente mais importante, algo que está na torre, no lugar mais alto do castelo. Tiro minha mochila das costas e jogo ela no chão e começo a correr nas escadas, escorregando em cada degrau pelo fato de serem gelo agora.
— Vai com calma Anelise, vai acabar se machucando! — Grita Klaus, mas eu nem ligo e continuo a tentar correr segurando nos corrimãos, enquanto a lembrança de mim e de Schmidt correndo por essas escadas desesperadamente começa a me devastar, quem diria que eu estaria no mesmo lugar onde meu desespero começou novamente. Isso queima em mim, bem no fundo do meu peito, mas agora, eu ouço alguém correndo atrás de mim, tenho certeza absoluta que é Jürgen querendo ver a noiva congelada.
Jürgen nunca mais se envolveu com nenhuma mulher depois de Mayla e isso não foi por falta de opção, ele é um homem muito bonito, na verdade, ele sempre foi. Ele era da guarda real quando conheceu Mayla, era um dos mais jovens guardas, ele protegia Mayla com unhas e dentes e fazia de tudo para ficar com o turno de proteção dela, e quando vinham príncipes pretendentes de outro reino ou ele descobria um atentado ou achava um defeito bem feio para Mayla se desinteressar e não querer nem mais saber do pretendente, ele dizia que era tudo para a proteção dela, mas ele realmente só dizia. Antes de a tempestade chegar ele estava sendo treinado para herdar o trono por estar noivo de Mayla e eles já estavam com casamento marcado, até a tempestade aparecer.
Eu escorrego, mas seguro firme no corrimão e acabo cortando minha mão em algum lugar, seguro um aí bem alto dentro de mim e isso resulta em um resmungado que ecoa pelo corredor das escadas, Jürgen me ajuda a levantar, mas esse machucado valeu a pena, porque finalmente chegamos ao topo da torre, e Mayla está bem ali, congelada, exatamente com a última expressão que vi dela, em prantos por saber que iria ser congelada por ajudar o reino. Eu não tenho o que falar, principalmente Jürgen. Mas há algo muito errado ali, ela envelheceu no gelo!
— Mayla está viva — Digo deixando as lágrimas caírem novamente, no mesmo momento Leona e Klaus chegam e Jürgen me olha com um olhar desesperador de alguém procurando respostas.
— Olhem ela envelheceu, o gelo só está segurando-a presa, eu acho ele não a matou. — Nesse momento abraço com meu coração explodindo de felicidade Mayla naquele pedaço de gelo e só quando sinto meu corpo esfriar até um ponto que eu não consigo suportar, eu a solto.
— Dá para reverter — Diz Jürgen recuperando um sorriso que era algo que tinha se tornado muito difícil de ver nele.
— Sim, e dá para recuperar o reino, Nesvaska não conseguiu matar ninguém só manter congelado — Diz Klaus animado.
— Sim, então precisamos achar Nesvaska e nós vamos descongelar minha irmã e o reino. Nós achamos a solução. — Digo recuperando a esperança.
Ele me conduziu por entre os ossos que cobriam o fundo do vale, espalhados por toda parte e completamente secos. Então ele me perguntou: "Filho do homem, acaso estes ossos podem voltar a viver?". Respondi: "Ó Senhor Soberano, só tu o sabes".
Ezequiel 37:2-3
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