O que faz falta
- Anelise - Diz a mesma voz de anos atrás.
- Mãe? Mãe? - Eu digo olhando para os lados está tudo escuro, tudo a minha volta parece névoa preta. - Cadê você? - Pergunto eu tentando andar para algum lugar, mas parece que quanto mais longe eu vou mais volto para o mesmo lugar.
- Eu estou aqui. - Sinto um braço me tocar e dou um pulo, sinto meu coração acelerar até ver quem é.
- Mãe? - Digo vendo o rosto da minha mãe, com os mesmos cabelos pretos, o mesmo sorriso branco calmante e os mesmos olhos castanhos.
- Nós estamos aqui Anelise. - Diz outra voz vindo da névoa escura, meu pai, dos olhos verde escuro o cabelo um castanho claro, bagunçado como sempre e as roupas de caça que ele usava. Eu olho para os dois e eles me abraçam.
- Eu senti tanta falta de vocês, achei que nunca mais os veria, que estavam... - Meu coração queima e eu só me seguro nos braços deles me envolvendo.
- Nós estamos aqui Anelise. - Diz meu pai com uma voz calma e em um instante sinto o toque deles ficarem mais fraco, eu abro os olhos e eles começam a desaparecer.
- NÃO!!! - Grito em desespero, mas eles desaparecem enquanto estão me abraçando e eu já não sinto mais eles. - POR FAVOR! - Digo olhando para os lados. - MÃE! - Começo a andar para direita da névoa com a pequena esperança de achar eles de novo, mas por aqui não tem nada. - PAI! - Resmungo de novo, agora tentando andar para a esquerda, mas como na direita aqui também não tem nada, eles foram embora, não tem mais pra onde ir, não tem mais o que fazer. Eu me ajoelho, com meu coração ainda queimando, às lágrimas caem e parece que tem uma agulha entrando no meu peito, eu não consigo nem mais respirar direito, como se fosse minhas últimas forças eu digo aos prantos, com as lágrimas caindo em cima das minhas mãos, apoiadas num chão duro e preto:
- Por favor, não vão embora, não me deixem sozinha de novo. - Eu tiro minhas mãos do chão e a coloco nos meus braços tentando aliviar minha dor, está começando a ficar frio e de repente Nevaska aparece. Eu olho para ela e minhas lágrimas congelam, eu as tiro dos meus olhos e olho firme para ela, atrás dela não está mais preto, vem vindo algo de cor branca, branco até demais, é uma rajada, está vindo para cima de mim, não dá tempo de eu fazer nada.
- NÃO! - Grito com uma mão esticada tentando me cobrir, mas a rajada de neve me pega.
Eu dou um pulo e olho para os lados, estou no meu quarto, mas meus olhos estão meio molhados e minha respiração também, meu coração parece que saiu para fora de mim e voltou. Eu pego o relógio e são três e dez da madrugada, eu não vou conseguir mais dormir, não sozinha, acho que vou ir até Mayla, talvez não adiante muito, mas eu só quero ficar com uma pessoa que eu amo agora.
Desço da cama, o quarto de Mayla fica no corredor de baixo, um pouco depois da sala hospitalar, quase no final. Eu abro minha porta tentando fazer o mínimo de barulho, mas a porta range um pouco, eu começo a andar e descer para o corredor que há embaixo e ao passar pela cozinha ouço algumas risadas bem baixinhas, eu olho de relance pela porta e são três garotas comendo das frutas com chocolate, elas parecem ter minha idade e eu acho que elas perceberam que eu estou aqui.
- Está tudo bem princesa? - Pergunta uma delas.
- Está sim. - Digo balançando a cabeça.
- Você quer um pouco? - Pergunta outra mostrando a fruta coberta com o chocolate.
- Não obrigada, eu quero chegar até Mayla logo. - Respondo.
- Tudo bem então. - Ela diz voltando a comer.
Eu volto a andar e paro em frente a sala hospitalar, Klaus ainda está lá, os médicos disseram que seria melhor ele dormir lá caso tivesse alguma complicação não precisariam carregar ele até a sala. Ele ainda não sabe dos meus pais, eu quero saber o que ele acha de tudo isso, ele e Mayla e acho que Sofie também são as melhores pessoas para falar disso, mas será que ele não está cansado? Já deve ter melhorado um pouco, passou o dia inteiro na sala descansando, quer saber agora já foi, eu abro a porta do quarto e vejo que ele acorda e força a vista para ver quem é.
- Oi! - Digo sussurrando - Sou eu. - Digo na porta.
- Sua doida o que você tá fazendo aqui essa hora Anelise? - Pergunta ele em voz normal, estranhando.
- Precisava conversar com alguém, mas deixa pra depois então vai. - Sussurro abrindo a porta novamente.
- Não, volta aqui vai, fecha a porta e acende a luz. - Ele responde.
- Tá bem. - Digo ainda sussurrando.
- Acho que não precisamos falar baixo aqui, ninguém fica perto daqui e também seria muito difícil alguém aparecer. - Diz ele se ajeitando na cama.
- As três meninas talvez. - Digo pegando uma cadeira e colocando do lado de sua cama.
- Três meninas? - Ele pergunta.
- Deixa pra lá vai, eu tenho que te contar uma coisa. - Digo olhando fixo para ele.
- Seria que seus pais estão vivos? - Diz ele olhando para baixo.
- Você também sabia? - Digo quase surtando.
- Sim, faz um pouco de tempo já. - Diz ele levantando a cabeça e olha só para mim.
- A quanto tempo? - Pergunto sentindo meu rosto ficar vermelho e ele só respira fundo. - A quanto tempo Klaus? - Pergunto novamente.
- Um pouco depois de nós brigarmos. - Ele diz olhando para mim fixo.
- TRÊS MESES? TRÊS MESES? QUER DIZER QUE TODO MUNDO DECIDIU ESCONDER TUDO DE MIM! - Digo levantando, alterando minha voz.
- Anelise fala um pouco mais baixo, porque desse jeito a cabana toda vai ouvir. - Diz ele tentando me acalmar.
- Tá desculpa. - Eu senti na cadeira de novo e coloco a mão na cabeça.
- Eu ia te contar Anelise, eu era a pessoa que mais queria te contar nesse mundo, quando Mayla falou eu disse que talvez não pudesse esconder isso de você, porque seria uma injustiça, mas aí Jürgen veio conversar comigo antes de eu fazer isso, ele me disse que Mayla tinha razão e que você estava muito vulnerável, então eu escutei, mas do mesmo jeito achava errado deixar você pensando que seus pais estão mortos, sendo que nós estávamos sabendo que eles estão vivos, agora é você que vai precisar me perdoar Anelise, me desculpa eu não queria fazer isso. - Diz ele preocupado, eu continuo com as mãos no rosto.
- Não, não, você não precisa que eu te perdoe Klaus. - Sinto lágrimas caírem do meu rosto e meu rosto cai para baixo.
- Anelise, o que foi? - Diz Klaus pegando do meu braço, mas eu continuo com ele duro tentando tapar meu rosto. - O que foi Anelise? O que aconteceu? Fala comigo. - Diz ele tentando me acalmar, ouço um barulho de cama rangendo e tiro as mãos do rosto, Klaus está levantando.
- Não, não faz isso Klaus. - Digo com a voz falha e rouca, mas ele já levantou, ele pega uma cadeira e senta do meu lado. - Klaus volta pra lá, você não tá bem. - Respondo com meu corpo todo mole e sinto Klaus me abraçar, tento manter meu corpo duro pra não me jogar nele e machucar ele.
- Eu não sinto mais dor Anelise. - Eu o olho vendo se ele está falando a verdade e parece que está. - Estou falando sério. Eu solto meu peso e encosto minha cabeça nele.
- Eu sonhei com eles Klaus. - Digo ainda molenga. - Eu sonhei com eles.
- E o que aconteceu no sonho? - Pergunta ele.
- Eles estavam lá e aí... - Eu começo a chorar de novo.
- Faz mais uma forcinha. - Diz ele
- Aí eles sumiram, eles estavam lá e eles me abraçaram, mas sumiram. - Digo recuperando a força.
- Acho que entendi... Olha Anelise você precisa buscar suas forças agora. - Diz ele me segurando.
- Aonde Klaus? Aonde?! - Pergunto.
- Em Deus Anelise, lembra que Yeshua falava que além de tudo nossas forças deviam estar nos céus, você confiava nELE, agora não deve ser diferente, você sempre teve uma fé inabalável Anelise não deixe que ela se desfaleça agora. - Diz ele e ele tem razão, não posso deixar eu desfalecer agora, principalmente agora que meus pais estão vivos. Eu ouço o coração de Klaus bater e sorrio, então levanto minha cabeça e o olho fixo.
- Seus olhos às vezes me lembram os olhos do meu pai. - Digo olhando os olhos verdes meio escuros dele e ele sorri.
- Já se sente melhor? - Pergunta ele ainda sorrindo e eu faço que sim com a cabeça e ele me solta. - Amanhã vai vir me visitar não vai? - Ele pergunta.
- Não! - Brinco
- Não Anelise? - Diz ele rindo. - Então não salvo sua vida mais... Tá isso é mentira. - Diz ele me olhando.
- Acho que não vai precisar mais, mas amanhã eu venho sim, Albert vai me levar para algum lugar e depois passamos aqui. - Explico.
- Ah Albert, sério Anelise? - Diz ele olhando para cima.
- Por que você não gosta dele? - Pergunto.
- Eu estava apenas brincando, mas, você... Você o ama? - Ele pergunta ficando sério.
- Olha eu gosto muito dele, mas eu não sei se chego a amar ele. - Digo com sinceridade.
- Se ele te magoar, ele vai se ver comigo Anelise. - Diz ele ainda sério.
- Nossa que medonho. - Digo caçoando.
- Eu estou falando sério. - Diz ele ainda com a expressão séria.
- Tá bom então. - Digo levantando, volta pra cama, eu vou até Mayla.
Ele se levanta e eu o ajudo a deitar novamente, eu me despeço dele e vou até o quarto de Mayla. Eu abro a porta e ela força a vista tentando ver quem é, eu deito em sua cama e ela já sabe que sou eu.
- O que aconteceu? - Ela pergunta me olhando.
- Posso contar amanhã? - Pergunto, já está tarde e eu já estou morrendo de sono, ela sorri e faz que sim com a cabeça. Eu coloco minha cabeça no travesseiro e ela me cobre e me abraça e eu caio no sono o mais rápido possível.
O Senhor renova as minhas forças e me guia por caminhos certos, como ele mesmo prometeu.
Salmos 23:3
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