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Prólogo
Era uma vez
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ERA UMA VEZ, em um reino distante, onde os prédios eram altos e impediam o vislumbre das nuvens claras durante o amanhecer e as luzes das casas pareciam vagalumes sempre acesos, vivia um Príncipe Solitário.
Hwang Hyunjin era seu nome, sempre atarefado, sempre mergulhado no mar de livros ou em qualquer outra coisa que o fizesse se sentir menos sozinho. Se afogava no sabor amargo das bebidas, perdia o fôlego ao sentir a fumaça dos cigarros, que saia por sua boca e narinas e sentia o peito vazio, como se o coração já não estivesse ali. Se é que algum dia estivera.
Se via adornado em luz, cercado por graça e atenção. Qualquer um em seu lugar se sentiria não mais do que completamente satisfeito. Contudo, seu reinado mais parecia-lhe um destino vazio. Havia chego ao auge, o ápice, quase tocara os céus, mas sentia como se caísse lentamente, cada vez mais fundo em um abismo desconhecido. Jamais saberia o motivo de tudo lhe parecer tão opaco, apesar da eminente aura epopeica que tudo ali emanava, pois nunca teve sonhos por si mesmo; Não sonhos pelos quais valesse à pena abdicar de sua segurança. Não haviam sonhos para Hyunjin, ele os deixava para a criança que adorava contos de fada, que havia ficado em seu passado. Ele agora reinava com sua majestosa coroa, que jamais brilharia naquele reino cinzento.
De quê adiantava sua coroa de pedras preciosas, de que adiantava todo o ouro do mundo, se ele se sentia tão só? O dinheiro nunca foi e nunca será o melhor amigo de ninguém. O dinheiro não iria abraçá-lo quando tivesse medo de relâmpagos e trovões, não iria fazer carinho em seus cabelos quando ficasse triste, não iria estar com ele em suas crises de ansiedade e não iria andar pela cidade de mãos dadas com ele em suas noites de insônia. O Príncipe detestava a riqueza que possuía e, por ironia, ou simplesmente por destino ou qualquer coisa do tipo - talvez, até mesmo karma -, ela era a única coisa que lhe restava, além de Kkami, seu Fiel Escudeiro, mas que passava mais horas longe dele do que tudo. Não que fosse culpa do pequeno cãozinho, mas sim de Hyunjin, que se afastava ao amanhecer e voltava ao fim do dia, num vai e vem constante, como os das ondas do oceano.
Por isso, deu-se a alcunha de Príncipe Solitário. Sempre acompanhado do vazio e das palavras vagas espalhadas pelos rabiscos de números de psicólogos e telefones de parentes distantes, os quais ele cresceu sabendo que não passavam de interesseiros. Tanta solidão era acompanhada pela mídia cruel, notícias sem fundamento e pela cobrança contínua. Não havia nada para si além de telas e reflexos de seu eu ilusório.
Em uma noite, em que Hyunjin havia brindado ao nada com suas taças de álcool, logo após uma sessão de fotos que parecera interminável, ele parou em frente ao mar. As lembranças de sua infância ainda eram vívidas. O calor dos abraços de sua mãe, o calor do sol, o vento e as cores que pintavam o cenário, pareciam tão vivas, ainda que desbotadas pelo tempo. O mar ainda era o mesmo, e talvez Hyunjin nunca pudesse voltar a ser como era antes.
As ondas pareciam tão cheias de vida. O mar abraçava a areia e o rochedo sem pudor algum, jogando neles sua saliva salgada, num beijo afoito.
Ah, o Príncipe Hwang desejava um abraço das águas também. Ela lhe daria calmaria, e ele se tornaria o mesmo novamente. Ele desejava ser imerso, se misturar ao imenso, até de si não sobrar Hyunjin, até não restar solidão alguma. Andou pela areia, deixando não só os sapatos para trás, como também seus companheiros de anos: a insônia, a solidão e a tristeza. Elas lhe acenavam de forma tristonha, não se atrevendo a interromperem o rompante de coragem do Príncipe.
Quando a água do mar lhe tocou os pés, sentiu o peito explodir em euforia. Aos poucos, sentiu-se abraçado pelos braços frios do oceano. Era um abraço cruel e sufocante, rasgava o peito e queimava o âmago do Hwang. Ele fazia isso com frequência, até sentir que quase desmaiaria na banheira de seu luxuoso apartamento, então emergia para a realidade, mas ali, era o mar, lhe sussurrando a calmaria para sua tormenta. Era muito mais do que um pequeno espaço. Era infinito e tempestuoso.
Foi aí que ele o viu pela primeira vez. Embebido pela noite estrelada, como quietude após uma tempestade. Ele lhe segurava, tomando-o dos braços do mar, fazendo o oxigênio voltar aos seus pulmões. Era o Príncipe do Oceano, e ele brilhava com a luz da lua, e o Príncipe Solitário via as estrelas cadentes do céu pousarem delicadamente sobre seu rosto. Era o ser mais belo que Hyunjin já havia visto em toda a vida. Talvez ainda estivesse um pouco zonzo, mas pode ouvir o mar continuar a bater contra o rochedo, enquanto era carregado até a areia, ao passo que - de uma maneira um tanto quanto desesperada - o Príncipe do Oceano chamava-o. Forçando os olhos, ainda sentindo a ardência da água salgada, o Hwang vislumbrou os fios de ouro descendo como cascatas até os ombros, os olhos escuros e perdidos e todo o pânico que emoldurava a bela face do rapaz. Quase riu, pois a cena parecia-lhe como algum clichê de contos de fadas.
Mas, para o Príncipe Solitário, as fadas madrinhas não existiam, muito menos felizes para sempre. Sem responder, ou dar o mínimo sinal de interesse no notável desespero de seu suposto salvador, apenas esperou ter forças o suficiente para poder se levantar. O outro Príncipe parecia entender, por mais que ainda se mantivesse ali, como uma grande estátua de areia. Quando finalmente pode firmar os pés, Hyunjin gritou para o mar, para a noite e para o rapaz, agora, visivelmente assustado, e saiu andando encharcado pela rua. Cambaleava um pouco, a cabeça nublada, parte por estar completamente nervoso por ter sido tirado do silêncio e da calmaria que o mar lhe dava e ter sido trazido novamente para a realidade vazia e barulhenta, parte por estar ainda sob o efeito de algumas taças de vinho. Não olhou para trás, e não se sentiu ser seguido em nenhum momento. De qualquer forma, ele jamais esperaria que alguém de fato o seguisse. Esse era o tipo de atitude que apenas pessoas demasiado preocupadas fariam. E ele jamais seria tão importante para alguém.
E o Príncipe do Oceano o observou sumir pela areia, como se o feitiço da meia-noite estivesse acabando.
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Pois bem, cá está o prólogo de Nessie.
Estou organizando as coisas aos poucos, e não mudei quase nada nele, apenas acrescentei alguns trechos.
Um agradecimento especial ao Bié, que é um dos meus motivos diários para enfrentar meus monstros. Obrigada por ser o melhor amigo e leitor crítico que eu poderia ter.
É curioso estar reescrevendo algo que fiz em 2018, acho que meu eu antigo era muito mais poético e, certamente, via o mundo de uma forma muito mais bonita - ainda que demasiado melancólica.
Espero não decepcionar com a reescrita, ainda assim. E planejo, também, realmente dar continuidade à Nessie, e realmente finalizá-la.
Hyunjin e Felix merecem um final feliz, tal como nas histórias de contos de fadas.
Os capítulos serão maiores daqui para frente, espero que não se incomodem com reflexões muito longas ou descrições detalhistas.
Dúvidas, críticas ou apenas para falar sobre a previsão do tempo, estou sempre ao dispor ❤️
Nos vemos no dia 30, que é quando Nessie será oficialmente reiniciada❤️
Até lá,
Com muito carinho, direto da torre cinzenta, mxoonbebe.
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