Aos talentos abortados
Quero alçar agora
um dos meus lamentos
Por tantos talentos
Que não viram a luz.
Pelo poeta
Que não sabia
Usar a caneta
Nem pôr em letra
As belezuras que dizia em voz.
Pelo Beethoven
Que hoje não ouvem
Pois não houve claves
Pois só houve cravos
Pra sentir seu toque
E o som do martelo
— dentre a infinidade
em seu cerebelo —
foi só o que na prática
ele produziu.
Pelo pintor pobre
Que traçou na areia
Seu desenho esnobe
Veia atrás de veia
E então veio a cheia
E tudo apagou.
Foi melhor, senhor.
Afinal, não pode
Esse carapinha
Dar-se a perder tempo
Como quem escrevinha.
Há que carpir lote,
Há que cortar vinha.
E, afinal, quem tinha
Um camaradinha
Assim bem colocado,
Numa capital
Teatro ou jornal
Bem financiado —
É porque me-re-ceu, não?
Obrigada, História,
Por Homero, Pushkin e Shakespeare
Quisera eu embora
Também ter ouvido
Seu Antero, a Ruth, o Zé e a Neide.
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