TEN ⇾ Me torne um planeta
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ههههه
"— Sempre soube que o amor é a maior força do universo. Estive disposto a arriscar a minha posição por ela, pois eu a amo. Que cor poderia prever a intensidade do meu amor?"
Embora haja um arco-íris no fim do bioma de cores neutras, sempre é estranho. Não importa há quanto tempo está preso no mesmo lugar, na mesma tarefa, Ten não consegue deixar de se incomodar com a diferença de cores entre a sua ponte e o restante do mundo preto e branco.
Com uma simples palavra, o Guardião é capaz de permitir e negar a entrada de todos os seres na Capital das Cores. Os que trabalham aqui são responsáveis por cuidar da beleza colorística e da organização deste universo alternativo.
Todos os funcionários e pessoas que aqui vivem estão muito bem vestidos com roupas espalhafatosas e acessórios únicos. Ten acha engraçado o fato de usar uma pequena coroa flutuante, acaba por se considerar o Rei e não Guardião da ponte, e gosta muito dos pequenos cristais abaixo de seus olhos formando um círculo incompleto ao redor deles; acredita que isso o torna muito atraente. Aperfeiçoando-se em um terno branco, por baixo um colete azul pólvora, Ten é identificado como Guardião por sua faustosa capa de cor azul céu claro, adornada em símbolos únicos da Capital das Cores.
Porém, dentre todas as suas belezas, Ten possui um grande problema, algo impossível, um sentimento carregado de aflição. Durante os seus muitos séculos de vivência, depois de apreciar tantas cores, gradientes luminosos e escuros, a beleza da cor mais escura se misturar com a cor mais clara, deu-se conta de que está apaixonado por um tom sem graça, inexistente em sua capital, e que às vezes considera tal cor como a personificação da morte.
Ten está apaixonado pela Lua.
Não são todas as noites que o Guardião consegue vê-la, tão reluzente em seu mundo cinza escuro, e quando tem a oportunidade de apreciar a sua beleza, Ten se preenche de um colorido sentimento que somente a Lua, uma bela mulher de cores neutras, é capaz de proporcionar.
Que intrigante.
Todos os dias o Guardião se esforça em resolver o recente mistério em seu coração: por que se sente tão sacudido quando a vê? Não é como se a Capital das Cores esteja em falta quanto à beleza das moças, afinal é uma terra conhecida pelo amor e felicidade.
Então... por quê?
O Guardião sempre está com o olhar para o céu, à espera de sua amada. Respirando fundo, apreciando o som da corrente de água abaixo da ponte que guarda, Ten se familiariza com lentos passos a se aproximar, e sabe muito bem o que vem à seguir.
— Ten, você precisa se casar. É o único Guardião da Capital que ainda não encontrou um amor. — Apesar da repreensão, a voz soa calma e melódica.
Ten distancia sua mente da sonora paz natural, e diz:
— Também é muito bom revê-lo, Taemin.
— Desculpe. Fico alegre em notar que está bem, caro amigo. Mas, ouça, essa é uma ótima oportunidade! O Festival das Cores, que celebra a vida e a felicidade, é em poucos dias. Poderá encontrar uma bela moça para se casar.
— Já lhe disse que estou bem e não preciso me casar agora.
Taemin ri para si mesmo, uma risada soprada pela ingenuidade do amigo e se aproxima, ficando ao lado de Ten; o Guardião continua a olhar para o céu.
Taemin é o Regente do Rio das Memórias, um lugar que se torna bom ou ruim de acordo com o que se deseja recordar. Este mesmo rio percorre por toda cidade, inclusive por debaixo da Ponte das Sete Cores, essa que Ten guarda, mas os seres só podem recordar o que almejam se antes falarem com Taemin; o jovem sempre está fugindo de multidões desesperadas e furiosas, muitos não têm o seu desejo aceito pelo Regente, que, diferente do que pensam, possui sabedoria suficiente para decidir se a lembrança a ser recordada é boa ou não para quem pediu.
— Está indo, novamente, contra a Ordem Natural. Veja, você só precisa de uma moça qualquer, e o seu posto como Guardião jamais será retirado. — Criterioso, Taemin usa as regras da Ordem Natural para, mais uma vez, tentar persuadir Ten.
— Como eu poderia ser egoísta e ir contra a Ordem Natural? Afinal, foi ela quem me concedeu este título, este cargo, esta tão cansativa tarefa. Sou muito grato por ainda existir.
Taemin segura o Guardião pelos ombros a fim de que ele pare de olhar para o céu, e diz:
— Então tire esta ideia insolente de se apaixonar pela Lua. Ten, tem sido o meu amigo por muitos séculos, não gostaria de vê-lo sendo exilado por uma questão tão insignificante.
Com as mãos, Ten desfaz o segurar de ombros de Taemin sobre ele.
O Regente mantém uma expressão aflita, quase tristonha, em perceber que o Guardião irá contestá-lo, mais uma vez.
— Para você, Taemin, o amor é insignificante, pois só se casou para continuar mantendo a sua posição. Eu estou profundamente apaixonado, e me deleito em tal sentimento a ponto de, às vezes, não conseguir me conter de entusiasmo ao vê-la... — Sem se dar conta, Ten sorri ao final de sua sentença, e volta a ter os olhos no céu.
A brisa, acompanhada do cheiro úmido da terra, balança a capa azul do Guardião. Ten sente uma indescritível paz à medida que aumenta o seu sorriso, nunca imaginou que cores tão neutras poderiam deixá-lo sem fôlego.
Em contrapartida, Taemin balança negativamente a cabeça desaprovando o pensamento estranho de paixão. O Regente nunca se sentiu dessa forma, e se for para passar pela experiência de assemelhar-se a um zumbi, prefere que não tenha.
— Certo, tudo bem. Aquela história sobre não ir contra a Ordem Natural, entendo a sua ironia. Fique com esses pensamentos deploráveis. Não há mesmo como tirá-los de você — Taemin diz aborrecido cruzando os braços.
Somente Ten consegue tirar o Regente de sua postura pomposa e cordial, e por este motivo o Guardião gargalha.
— Não se preocupe, meu amigo. Logo após deixar os seres entrarem na cidade, através da minha ponte, irei acompanhá-lo pelo Festival — Ten garante dando dois toques nas costas de Taemin.
O Regente franze o cenho, considerando intolerável que Ten converse com ele com o olhar para o céu à procura de sua amada.
— Considerarei uma promessa. — Taemin recupera a postura erguendo o queixo.
— É claro. — Ten assente com um sorriso.
E continua assim até não sentir mais a presença do Regente.
Passa a ser dia, e a noite a convida.
O Festival das Cores acontece uma vez por mês sob a lua cheia. Todo o esforço de permitir e negar a entrada dos seres na Capital das Cores, apreciar tristemente as cores neutras da Floresta Neutra além da Ponte das Sete Cores e imaginar, solitário, uma linda história de amor em seu consciente parece ganhar sentido quando esta noite chega.
Ten anseia ver a Lua.
Consertando seu traje, puxando as duas lapelas de seu paletó, o Guardião se prepara para um encontro. Ajeita os cabelos para trás, mas algumas mechas são teimosas em se voltar para frente, ainda assim isso o deixa muito atraente.
As vozes abafadas ao longe, no centro da Capital, deixam o Guardião ainda mais ansioso. Ten deseja se sentir feliz novamente, aproveitar a sua dose mensal de felicidade.
Contudo, algo não está certo.
Ten sabe exatamente os segundos, minutos e a exata hora que a Lua surge no céu estrelado. Porém, ela não está ali. Poderia ter se atrasado? Não... A Lua se atrasaria? Corta essa. Isso é impossível! A Lua é o ser mais pontual em todo este Universo Alternativo!
Ten franze o cenho, preocupado que algo tenha acontecido à bela moça. Sente sua respiração ficar inconsistente de um segundo para o outro. De repente sua autoestima se apaga, e começa achar que não está tão apresentável caso a Lua apareça no céu.
De longe, no meio das árvores sem cores e brilho, entre os arbustos apagados pintados em cinza, mostra-se elegante, com um vestido escuro no qual, por cima, um tecido tule é adornado com estrelas, luas e planetas dourados, a Lua.
O Guardião não consegue conter o seu espanto. Este, sem dúvida, é o dia mais feliz para Ten, o apaixonado; ver de perto a sua amada, que amou por tantos séculos, aproximar-se graciosa com olhar curioso para a Ponte das Sete Cores.
Ten se mantém rapidamente em cima da ponte, no meio, seus pés inconscientemente querem ir ao encontro dela. E, apesar de se sentir nas nuvens todas as vezes que a viu no céu, Ten nunca parou para pensar o que aconteceria com si uma vez que a Lua o rejeitasse. Por este motivo, o Guardião volta dois passos.
A Lua encontra o olhar surpreso do Guardião. Ela mira com veemência todo o visual espalhafatoso dele, achando engraçado todos os seus adornos. Onde pisa, no mundo preto e branco, a Lua se destaca reluzente emitindo uma aura apaixonante. Sua pele é clara como a neve, seus cabelos ondulados como as águas do mar e coloridos assim como o céu ao anoitecer. Ela cessa seus passos no começo da Ponte das Sete Cores, cada madeira reluz um tipo de cor muito diferente da última, e isso a encanta. Com o olhar, Lua segue as cores até parar nos pés de Ten. Induzida pelo ambiente colorístico, ela pede com voz amena:
— Me deixe entrar.
Seria muito mais belo se sorrisse.
Ten arregala o olhar, não pensou que Lua falaria tão cedo e que sua voz fosse tão serena. Ele se atrapalha e engasga com a sua própria saliva.
Lua espera paciente uma resposta dele.
— Não posso deixar que entre. — Ten profere sentindo seu coração doer em angústia.
— Deixou que todos aqueles seres fizessem uso da ponte. Eu vi, foram muitos. Você sorriu verdadeiramente para todos eles acenando para que entrem. Comigo é diferente?
— Não! Eu sorrio para você, exclusivamente para você, todos os dias. É a única que viu o meu sincero sorriso...
Lua pisca uma vez, duas vezes, três, quatro... mas não parece compreender as palavras do Guardião.
— Não entendo o que disse. Se sorri para mim como sorriu para eles, então estou apta para atravessar a ponte.
— Você não... foi convidada...
— Então me convide.
Ten observa a leve brisa balançar os cabelos escuros de Lua. Nota pequenos adesivos de luas em suas muitas fases por todo o cabelo dela. É muito bonito quando a luz das estrelas reluz sobre cada um deles, emitindo um brilho único e rápido.
— A Lua não está convidada — ele lamenta.
— Oh. — A voz dela soa mais baixa do que o normal.
Lua não demonstra estar triste, não sabe expressar tal emoção, mas sente o lado esquerdo do peito arder, uma sensação estranha e contínua.
— Não que você tenha algum problema! — Ten é rápido em explicar. — Sua beleza é incomparável, os seus talentos transmitem paz a todos os seres e, agora por vê-la em minha frente, noto o quanto é delicada como a porcelana, suas cores neutras não interferem em sua magnificência. — Os olhos do Guardião brilham apaixonados a cada palavra.
Lua não se recorda de receber um elogio tão bonito, é como poesia para seus ouvidos; uma poesia complicada, mas bonita.
— O que quer dizer quando diz os meus talentos? — ela pergunta, demonstrando o seu segundo e genuíno sentimento de curiosidade.
— Não notou? Neste mesmo dia, todos os meses, a Capital comemora um evento feliz sob a sua luz. Você é responsável pela felicidade e tranquilidade das pessoas. Sua posição perfeita no céu dá vida às ondas do mar! Suas muitas fases comandam quase todos os seres. — Ele suspira apaixonado. — És perfeita da cabeça aos pés.
— Perfeita... — Lua profere pensativa, o seu segundo indício de pensamento desde que saiu do céu. — Qual é o seu nome?
— Ten — responde no mesmo segundo, ansioso em tornar conhecido o seu nome a ela.
— Observe, Ten. Não possuo cor ou vibração. Gostaria de me sentir quente como a cor laranja ou radiante como o amarelo. Minha luz não se sobressai mesmo na parte preta e branca de sua terra. Sou uma cor morta.
— Está errada, sinto uma emoção eletrizante quando a vejo. Meu coração palpita todas as vezes quando surge no céu.
— Como pode sentir isso...?
Ten anda até o final da ponte, para a Lua o começo, sentindo seu coração pular quando se tem tão próximo dela.
Ele sorri ao dizer:
— Estou apaixonado por você.
Lua paralisa seus sentidos.
Ten sente as batidas de seu coração nos ouvidos, acelerando mais a cada tentativa falha de acalmá-lo.
— O que é estar apaixonado? — A pergunta dela é como um balde de água fria.
Ten deixa ir o seu sorriso.
— Tudo o que desejo é sentir as cores, foi por isso que saí do meu lugar. Do céu, tão distante de todos os seres da terra, não fui capaz de aprender sentimentos.
Há uma diferença de altura entre os dois que se torna ainda mais visível quanto mais Ten se aproxima, porém ele não deixa de pisar sobre a ponte.
— Que realidade triste. Não poderia imaginar que por tanto tempo, entre os muitos anos, você esteve tão sozinha.
Lua sorri, o seu primeiro indício de emoção divertida.
— As estrelas me contam muitas coisas, algumas vezes segredos estranhos dos outros seres. Isso me deixa... com vontade de sorrir. Porém não um sorriso de curta duração.
— Vendo sua expressão, esses segredos aparentam ser engraçados para você. Lua, é capaz de sentir emoções, somente não aprendeu que pode senti-las — Ten diz otimista, exalando confiança no olhar.
Lua se sente esperançosa, desejando sorrir cada vez mais.
— Mas, Ten — dizer o nome dele o torna um completo bobo, o Guardião sorri à espera que ela continue —, o meu tempo é escasso.
Ela deixa ir o seu sorriso.
— Escasso? — E Ten faz o mesmo. — Deveria reluzir durante toda a noite.
— Sim, porém, como pode ver, deixei o meu posto no céu. Necessito orbitar ao redor de algum ser celeste a fim de que eu não morra.
A menção da última palavra arrepia o corpo de Ten, o Guardião sente suas pernas perderem a força.
— M-Morrer?!
— Não se assuste — pede amável. — Preciso me sentir atraída por um planeta. Da mesma forma como precisa receber os seres para atravessar a ponte, necessito orbitar ao redor de um corpo celeste. Esta é a minha Ordem Natural.
— Me torne um planeta! — exclama afoito.
Lua sente sua pulsação subir.
Uma leve brisa balança algumas mechas do cabelo de Ten, e com elas também a sua capa.
— Ten... sabe que um planeta precisa orbitar em volta de uma estrela para viver, não sabe?
Ten ondeia em responder, a boca entreaberta e os olhos bem abertos. O que um Guardião de uma ponte específica poderia saber sobre o universo?
Lua coloca a mão sobre o lado esquerdo do peito sentindo uma dor aguda. Ten dá um passo para fora da ponte, a expressão dolorida no rosto de Lua desperta grande preocupação no Guardião. Subitamente, no mesmo segundo que quebra as regras de sua Ordem Natural, Ten sente perder todo o seu fôlego.
— Ten? — Lua expressa preocupação na voz ao notar as pupilas do Guardião desaparecerem.
Ele não responde.
Lua usa de toda a sua força para empurrar o Guardião de volta à ponte, o pé dele que esteve para fora retorna ao piso colorido.
Ten recobre a consciência. Suas pupilas voltam a estar visíveis e é possível respirar novamente.
— Você está bem? Fale comigo! — Lua nunca experimentou gritar, esta é a primeira vez em que esteve desesperada.
— Eu... Eu estou bem — o Guardião responde desnorteado, e relances do que aconteceu segundos atrás retornam em um flash. — Lua, me torne um planeta — pede, mais uma vez, resoluto.
Lua se descobre admirada pela coragem do Guardião mesmo após explicar a condição de se tornar um planeta.
— Você não está são — ela diz firme, deixando sua expressão menos tensa.
Ten deixa de estar cansado, sua respiração volta ao normal depois de estabilizar o processo natural de respirar, então afirma:
— Estou são. Lhe disse antes: estou apaixonado. Durante todos os séculos me dispus a somente olhar para você, a Lua, deixando de lado a minha Ordem Natural, pois compreendi que eu não devo apenas aceitar uma condição.
— Denegar a Ordem Natural é o mesmo que não ter um objetivo na vida. Não quero, jamais, vagar sem um rumo.
Ten deseja dar um passo à frente, mas seu próprio corpo reluta.
— Não percebe? Quando não somos úteis para a Ordem, nos substituem. Todavia nunca me senti tão feliz em ir contra. Quando olhava para o céu, minha felicidade e objetivo era você e... isso é o suficiente para me sentir vivo.
Lua olha para o céu, para sua casa, sentindo um breve arrepio. Experimentar sair do limite imposto pela Ordem Natural não causou nenhuma sensação ruim. Pelo contrário. Até o momento Lua nunca se sentiu tão viva fazendo o que nunca foi permitida fazer.
Enquanto isso, Ten aprecia a beleza da bela moça. Não imaginou que poderia ser tão diferente do que imaginou e ainda assim gostar muito ao vê-la.
— Eu posso conseguir uma estrela — Ten diz com entusiasmo. — É possível que consiga ver as cores e viver fora do céu.
Lua abre a boca para falar, porém o Guardião é rápido em acrescentar:
— Quando eu mesmo me expulsar da Cidade das Cores, me encontre no fim do arco-íris.
Lua olha para trás, para o luminoso arco-íris ao fim do bioma preto e branco.
— Me espere lá, Lua. Prometo que irei encontrá-la, e, por fim, virarei um planeta — ele conclui.
Lua sorri de lábios, de forma sincera e bonita, o que aquece o coração de Ten e o incentiva a correr tão rápido quanto a brisa que balança seus cabelos e levanta sua capa.
É estranho que sempre chova no Lago das Memórias, como um choro de alguém ressentido por um passado desperdiçado, e Ten, agora, compreende o porquê Taemin prefere vagar pela Capital ao invés de permanecer aos arredores do lago.
O Guardião cessa seus passos repousando a lateral do corpo em uma grande árvore. Observa os muitos seres desejosos e ansiosos para relembrar suas memórias, e sente pena.
— Achei que não iria vê-lo hoje. — Taemin, em um pulo, desce da árvore em que Ten está recostado.
Ele sorri ao ficar de frente para o amigo.
— Preciso de um favor, um grande favor que somente você é capaz de fazer.
A expressão de Ten em dizer tais palavras causa ansiedade em Taemin.
— Não me diga que...
— Taemin, eu preciso que reviva a memória de uma estrela.
O Regente sente seu coração doer.
— É claro, só poderia se tratar dela...
— Por favor, somente você é capaz de fazer isto. Eu a encontrei, finalmente, depois de tanto esperar. — Os olhos do Guardião brilham muito mais do que o reflexo das estrelas no lago. — Não me perdoaria se perdesse esta chance, tão valiosa, de ficar ao lado dela para sempre.
Taemin franze o cenho se sentindo aflito.
— Como pode ser tão estúpido, Ten?
O Guardião mantém sua expectativa.
— Irá perder a sua vida por causa dela? Para sempre? É isso que realmente deseja para si? — o Regente pergunta, mesmo sabendo a resposta.
— Sim. É o que eu mais desejo para mim — Ten responde com confiança, exalando um sentimento profundo e forte.
E, embora soubesse da sua resposta, Taemin não esperava poder sentir isso. O pesar em não ajudar o seu melhor amigo é mais forte do que rejeitar a proposta dele. O Regente se vê sem escolha. Porém, em seu íntimo, esta já havia sido feita. Taemin certamente não iria ir contra a felicidade de Ten mesmo que isso causasse a morte dele.
Ten encobre a estrela em seu paletó, receoso que ela perca o seu brilho por qualquer motivo que seja. Taemin vem logo atrás tentando acompanhar a corrida do amigo, e mesmo que saiba que a estrela não irá se apagar, a menos que exploda por motivos específicos longe do alcance de Ten, o Regente prefere não atrapalhar a felicidade do Guardião.
— Ten, espera! — Taemin segura o Guardião pelo antebraço. — Pretende cruzar a Floresta Neutra? Isso é suicídio!
Ten recupera o fôlego antes de responder o amigo:
— Eu disse que a encontraria no fim do arco-íris.
— No entanto não é capaz de respirar ou viver fora da Cidade das Cores e, muito menos, além da Ponte das Sete Cores!
— Eu sei — diz virando o corpo para Taemin. — É por isso que irei renegar a minha posição de Guardião da Ponte, e, por conseguinte, denegar a minha Ordem Natural.
É tarde de mais para Taemin impedi-lo. A capa azul de Ten desaparece assim como a pequena coroa flutuante pouco acima de sua cabeça. Isso não seria possível se o seu coração não gritasse desejando profundamente deixar tudo para trás em busca do amor.
Taemin estende o braço na tentativa de segurar o ombro de Ten, mas o entusiasmo do Ex-Guardião é muito maior para que o alcance. Ten é capaz de respirar e, ainda, sentir-se vivo mesmo fora do piso colorido da Ponte das Sete Cores, ele sorri para Taemin uma última vez. O Regente está incrédulo, não poderia imaginar que este dia chegaria.
Correndo em meio aos arbustos sem vida e as árvores de cores neutras, Ten procura apressar-se em direção ao fim do arco-íris. Sente pisar no vazio, a cor branca do chão causa certa incerteza no que é real.
O fenômeno colorido é desconhecido, pois nenhum ser foi capaz de ser corajoso e ambicioso o suficiente para ir além do que lhe é permitido. No entanto, por sempre viver na Ponte das Sete Cores, Ten contemplava as sete lindas e diferentes cores no fim da Floresta Neutra, perguntando-se o porquê algo tão bonito reside depois de um lugar sem vida.
Ten sente finas gotas de água sobre seus braços. Suas bochechas, quentes pela corrida até o ponto de encontro, agradecem o toque frio da água. Ele olha para cima à procura de uma nuvem, pois é lógico pensar que as gotas possam vir de uma fina chuva. Porém não é exatamente isto. Há nuvens, mas nenhuma que indique estar carregada de água. Embora a estranheza, Ten se encanta ao perceber que o arco-íris é formado a partir da luz do sol nas gotas de água, tornando ainda mais deslumbrante observar.
— Como é possível o sol estar aqui se é noite na Cidade de onde viemos? — Lua pergunta com o olhar para o arco-íris.
Ten não notou a presença dela. Embora reluzente, Lua possui as mesmas cores neutras da floresta, como se fosse parte dela.
— É simplesmente lindo — Ten diz maravilhado, mas ao fim de sua frase tem o olhar sobre Lua. — Estou pronto para, enfim, me tornar um planeta.
Lua sorri, não era capaz de imaginar que tal ação seria tão prazerosa. Seus cabelos balançam assim como a barra de seu longo vestido. Se realmente soubesse que sorrir verdadeiramente, levaria embora seus medos, receios e ansiedades, teria tentado há mais tempo.
— Realmente, você está decidido. Não poderia imaginar que seria tão corajoso e determinado. Não é possível ver características de quem observo lá de cima.
— Você... me observava? — Ten demanda tímido, sua voz se abaixa ao final da frase.
— Todas as noites e em dias em que era possível vê-lo. O mundo é tão lindo, Ten. Há tantas coisas que gostaria de experimentar, são incontáveis os meus desejos. Não poderia imaginar que um Guardião de uma ponte se sentiria da mesma forma que eu. Talvez existam muitos outros com este mesmo pensamento?
Ten é alegrado pela curiosidade de Lua. Ele deixa de esconder a estrela em seu paletó, deixando à vista a energia do ser celeste. É possível ouvir um som contido quando a estrela aumenta e diminui a intensidade de seu próprio brilho. Lua não parece impressionada como esteve Ten quando Taemin reviveu a memória, pois conviveu com estrelas durante toda a sua vida até agora.
— Acredito que existam. Não tenho ideia de como o mundo é grande ou lindo, como disse, mas anseio em descobrir todas as suas maravilhas com você, Lua.
Lua sorri e se aproxima de Ten. O Ex-Guardião sente borboletas no estômago.
— Não há como retribuir o seu favor.
— Este não é um favor. Favores são, em sua maioria, atos de gentileza que em alguns casos se tornam uma remissão de culpa. Já lhe disse, estou apaixonado por você, e é isso, o amor, que me torna tão confiante de realizar o seu desejo enquanto que, para mim, vê-la feliz é o suficiente.
Lua se encanta com os pequenos cristais ao redor dos olhos de Ten tocando-os carinhosamente com o polegar. Ten inconscientemente fecha os olhos ao sentir o toque dela.
— Me ensine, então, como se apaixonar, não como um favor, mas através de um sentimento que ainda não fui capaz de sentir.
Ten sorri de lábios sentindo seu corpo queimar por dentro, o calor vem do toque de Lua em seu rosto. Ele luta contra a ardência, que se torna dolorida em poucos segundos, e a estrela em suas mãos reluz muito mais do que antes esteve.
Lua deixa de tocar o rosto de Ten, analisando todas as suas características físicas que considera bonitas, e começa a andar ao redor dele o tornando um planeta.
Em física, órbita é a trajetória que um corpo percorre ao redor de outro sob a influência de alguma força. Para Ten, a fonte desta força é o seu amor por Lua que possibilitou ambos se entrelaçarem de forma tão graciosa e romântica.
Enquanto Lua realiza duas voltas em volta de Ten, ele abre os olhos observando a jovem reluzir de forma colorida, diferente do neutro que antes a cobria. Sua roupa, seus olhos e até seus lábios ganham cor. A jovem sente uma grande felicidade ao olhar nos olhos de Ten, e ele é fortemente contagiado por ela.
Unidos por uma órbita e um desejo em comum.
E então, no meio de todo o amor, Lua é substituída. Suas roupas se iluminam e se tornam pequenos estilhaços, assim como, também, todo o seu corpo. Ten continua a sorrir, feliz demais para notar que acontece o mesmo com si. Ambos, envolvidos pelo desejo de liberdade e amor, desaparecem.
De longe, Taemin nunca presenciou flocos de neve tão bonitos. Denegar a Ordem Natural não parecia ser um evento belo. Mas com a beleza o Regente não consegue impedir as lágrimas de saudade de um grande amigo e felicidade pela conquista dele.
"— Nos unimos por um desejo em comum. Todavia qual estrela poderia pressentir que ficaríamos juntos por toda a eternidade?"
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