JAEHYUN ⇾ O segredo do fim do arco-íris
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Nem o bolo de chocolate, recheado com doce de leite, parecia ter o mesmo sabor açucarado e gostoso, quando Jaehyun levou uma garfada na boca, contemplando a vidraçaria transparente da cafeteria em sua frente, a qual permitia a ele que tivesse uma visão privilegiada daqueles que passeavam pela rua.
O dia era assustadoramente frio e nublado, e Jaehyun estava sem nenhum apetite ou bom humor. Na verdade, o motivo que o levou à cafeteria MaCherie foi porque sentia saudades de sua ex-namorada, Yooa, a pessoa mais marcante de sua vida. Também, a pessoa que mais o machucou dentre todas as outras.
Por essa razão, olhar para o interior daquela loja de cafés e doces era como sentir uma faca encravada bem no meio do peito, como uma ferida que nunca parou de doer, tipo uma barreira insuperável, e como uma situação na qual Jaehyun nunca se conformou.
Fazia dois anos que estava sem ela, Yooa partiu para bem longe e levou consigo um grande pedaço do frágil coração de Jaehyun, sem nenhuma explicação coerente.
O pior de tudo, na verdade, foi ela ter prometido que voltaria. Uma promessa jogada ao vento, a qual Jaehyun nunca foi capaz de ver se realizar.
Exatamente naquele dia frio e cinzento, pelas contas de Jaehyun, Yooa estaria completando 25 anos. E, justamente por isso, que ele havia reservado uma parte do dia para ir àquela bendita cafeteria que cheirava a chocolate, café amargo e caramelo. Chocolate, porém, sempre foi o sabor favorito de Yooa. Jaehyun, por outro lado, nunca gostou tanto assim de chocolate, mas ele gostava da companhia dela, o que no fim dava a mesma coisa.
Era uma verdadeira tortura olhar para aquela fatia de bolo marrom recheada e não ter a companhia de Yooa ao seu lado, para deixar tudo mais doce, era um martírio sentir o sabor do chocolate meio amargo se derretendo em seu paladar sabendo que ela, a única coisa que o fazia comer bolo de chocolate sem realmente gostar de seu sabor, não estava mais ao seu lado para o ouvir reclamar da textura do bolo, ou do sabor incômodo e amargo que ele deixava no paladar.
Era de partir o coração, pelo menos foi assim que Jaehyun se sentiu quando percebeu ser incapaz de sequer conseguir terminar aquela bendita fatia de bolo sem que sua mente vagasse na lembrança mais dolorosa de sua vida, a cruel memória de quando o seu grande amor trouxe a notícia que foi capaz de desmoronar com tudo.
...
Entender o porquê de tanta felicidade estampada nas feições da garota a sua frente no momento era uma incógnita, o rosto de Yooa transparecia tanto orgulho de si mesma, contentamento e alegria, que Jaehyun, mesmo não sabendo a razão de estar na cafeteria por um convite inesperado de sua atual namorada, ficou feliz com a vibe que a garota exalava apenas com um sorriso pequeno.
— O que fez você ficar tão feliz, eu posso saber? — Jaehyun perguntou com um sorriso nos lábios, contagiado pelos sentimentos da garota, prestando atenção em cada movimento que Yooa estava fazendo.
Ela pegou o notebook em sua bolsa, rapidamente, fazendo questão de ligá-lo. Jaehyun observou tudo enquanto tomava um pouco de seu café, fazendo uma leve carranca pelo suave amargor que acompanhou o líquido quente, logo em seguida, deixou a xícara em cima da mesa e prestou atenção no e-mail que tinha aberto na tela eletrônica em sua frente.
Com cuidado, leu cada linha de todos os diversos parágrafos daquele e-mail, percebendo que a cada momento que traduzia o conteúdo do texto, em proporção, a sua felicidade ia se esvaindo gradualmente.
— E aí, o que me diz? — Yooa perguntou animada, toda aquela felicidade foi aumentando, a partir do momento que Jaehyun a olhou mais uma vez. — Não é um máximo?
— Eu acho ótimo isso — Jaehyun disse claramente preocupado, e meio infeliz, internamente pensando no que aquilo tudo poderia acarretar. — Trabalho no exterior... Uma ótima oportunidade, sem dúvidas — enfatizou uma parte descrita no e-mail.
— Sim, amor, olha que legal — Yooa disse, parecendo ainda mais eufórica, logo virando o notebook para si, orgulhosa. — Já até aceitei o pedido! — exclamou alto, fechando o aparelho, sem muito esperar, e o guardando novamente na bolsa.
— Já aceitou o pedido? — Jaehyun repetiu alto demais, assustado com a decisão rápida da namorada, ainda tentando processar tudo aquilo.
Com medo de ser interpretado errado pela garota em sua frente, ele colocou na sua cabeça de que não poderia ser egoísta, já que aquela notícia poderia ser boa para vida de Yooa. E, assim, optou por não interferir ou protestar contra a sua decisão.
— Mas, e a gente... Como fica o nosso namoro? — foi a única coisa que ele conseguiu pensar e se preocupar. — Se você realmente for para longe, quando voltará? — Jaehyun enfatizou a pergunta, ainda sem muita reação, seu olhar estava desfocado, sua mente totalmente nublada por tantas informações que foram despejadas sobre si de uma hora para outra
— Segundo o contrato que assinei, em um ano estou de volta aqui! — Yooa garantiu convincente, olhando meigo no fundo dos olhos de Jaehyun, depois levou a mão para perto da dele e fez carinho no local.
— Me dê uma garantia de que vai mesmo voltar — Jaehyun respondeu sério, medo era o que sentia como uma pontada no coração, ela poderia não voltar e para que isso não acontecesse, queria ter uma promessa mais segura. — Eu preciso saber que não vai desistir de nós.
— Não seja bobo, Jaehyun! — ela repreendeu. — Nós podemos manter contato pela internet, e você pode me visitar quando quiser.
— Eu sei, meu amor. Mas não é a mesma coisa, relacionamento à distância é complicado e...
— Não se preocupe, nós vamos superar tudo isso. E você vai ver como um ano passa voando! — Yooa garantiu sem preocupação, apertando o contato entre as suas mãos e as mãos de seu namorado.
— Ainda assim, eu quero uma garantia de que vai voltar para mim! — Jaehyun insistiu, com os olhos apertados e o coração amedrontado pela possibilidade de tê-la de tão longe.
— O arco-íris é o sinal. Assim como ele sempre aparece depois da chuva, eu vou voltar para você — Yooa disse sorrindo, ficando meio que em pé e, percebendo as suas aflições, beijou os lábios de Jaehyun com ternura o suficiente para confortá-lo. Ele, por sua vez, apenas concordou.
...
Mas, dois anos se passaram e, desde a última vez que se viram no aeroporto, onde se despediram na base de beijos e abraços, além de diversas promessas, desde então Jaehyun nunca mais teve notícias sobre a sua amada. Nem uma mensagem de texto, nem uma chamada de vídeo. Nada.
Yooa desapareceu, assim como o arco-íris que se desmancha como o dissipar das nuvens de chuva.
Porém, nunca mais voltou.
Voltando para a triste e cruel realidade, de longe, mesmo estando dentro da cafeteria, mergulhado dentro do seu próprio sentimento de amargura e impotência, ele observou uma garota sentada em uma mureta que dava de frente para o horizonte. Essa garota estava, literalmente, observando o nada como se fosse a coisa mais poética do mundo. Jaehyun torceu o nariz e achou estranho, mas não se importou tanto porque ele tinha os seus próprios e solitários problemas para resolver, por isso só ignorou.
Suspirou alto, olhou para o teto branco feito de gesso e sentiu, mais uma vez, o peso da incapacidade pesando em suas costas. Ainda mais, ficou revoltado pela péssima ideia de ter visitado um lugar tão recheado de antigas lembranças dolorosas, uma péssima ideia.
Jaehyun saiu da cafeteria com uma cara enfezada e o estômago revirado, quase nem tocou na sua fatia de bolo ou no seu latte de café. Estava amargamente arrependido de, em primeiro lugar, ter a maldita ideia de revirar aquela página mal resolvida de sua vida e ser o maior culpado por alimentar o seu próprio sofrimento.
Abriu a porta, e assim que colocou o rosto para fora foi recebido com o ar gélido do inverno de Seul e sentiu frio na mesma hora, quase bateu o queixo com a temperatura baixa, mas, o mais inconveniente foi perceber as gotas de chuva gélidas que, sem aviso, começaram a despencar sobre o rosto e todo o corpo do rapaz.
— Que droga, esqueci o guarda-chuva! — ele murmurou entredentes e com o humor ainda mais deteriorado do que antes.
Felizmente, não precisou se molhar muito até encontrar uma pequena lojinha de conveniências na mesma rua e, rapidamente, pegar o guarda-chuva azul de bolinhas brancas, foi o primeiro que ele viu pela frente.
Depois que pagou ele só caminhou, atravessou a rua e chegou perto da mureta que separava a calçada da praia azulada pelo céu carregado. Jaehyun olhou para o horizonte, viu algumas plantas nas quais ele julgou serem completamente sem graça. A tonalidade do céu estava toda tenebrosa, e isso explicava muito bem o motivo de uma chuva tão forte estar caindo em cima de sua cabeça. Ele foi incapaz de conter a curiosidade que invadiu a sua mente, porém, tentando imaginar o que a garota estranha tanto olhava do outro lado da rua enquanto estava sentada, já que ele não conseguia enxergar nada digno de apreciação dentro daquela paisagem de dar dó.
Entretanto, enquanto caminhava, foi ainda mais surpreendente quando ele esbarrou de novo com a mesma garota estranha e misteriosa de antes. Ainda sentada, exatamente no mesmo lugar, e sem parecer se importar nem um pouco com a chuva que despencava e molhava o seu corpo por inteiro.
— Você tá bem? — intrometido, ele estendeu o guarda-chuva de bolinhas um pouco mais para frente, o suficiente para proteger a estranha da chuva e, por consequência, molhar o seu próprio corpo.
— Estou sim! — A garota disse simples e alheia, não estava se importando com o garoto que chegou do nada.
Ainda com o guarda-chuva em direção a garota, não se importou em se sentar na vareta e esticar o braço para protegê-la da água que caía do céu, esquecendo-se de si mesmo. E Jaehyun, que não sabia muito bem o que fazer naquele momento, curioso para entender o que se passava nos pensamentos alheios, apenas resolveu olhar para onde a garota olhava naquele momento, mas apenas enxergava o céu nublado e a forte chuva caindo, que por sinal, deixou-o totalmente encharcado.
— O que tanto olha? — perguntou, Jaehyun era curioso demais de nascença, não conseguia ficar quieto em um lugar olhando para o simples nada.
— Estou esperando o arco-íris. — A garota disse com um olhar sereno, focada no céu nublado, tentando não perder nenhuma reação que poderia acontecer no vasto horizonte, pois o arco-íris poderia chegar a qualquer momento.
— Por que está esperando o arco-íris? — perguntou, mais uma vez, Jaehyun poderia sim ficar quieto, mas ele não queria, tinha muitos problemas em sua cabeça, então, estava tentando dar espaço a novas estranhezas.
E mesmo depois daquela pergunta tão direta para a garota ao seu lado, que ficou quieta em resposta, deixando como resultado um Jaehyun silencioso e ainda mais ansioso para entender o que a fazia esperar por um fenômeno natural tão simples. Afinal, o arco-íris era só luz refletida, nada além disso, certo?
— Meu irmão, ele não está mais entre nós. — A garota sussurrou com a voz fraca e falhada, depois olhou para o chão e suspirou, não entendendo a reação carinhosa do garoto tão lindo ao seu lado, também, sentindo a mão dele apoiada em suas costas, esperando por suas próximas palavras com calma e empatia. — Sabe, ele costumava me dizer que lá no final do arco-íris existe um tesouro, então, eu estou esperando o arco-íris aparecer para ver se assim tenho a última visão de meu irmão — a garota continuou sua fala, emocionada, com os olhos embaçados em lágrimas que pendiam. — Porque ele é o meu tesouro.
Compreendendo o lado da garota, Jaehyun acabou pensando em si mesmo, não estava diferente dela, pois também pensava constantemente no fato de Yooa voltar um dia, mas pela primeira vez, e numa altura daquelas, já começava a se convencer de que isso não iria acontecer. O melhor que ele poderia fazer é entender que isso não ocorreria, por isso os dois teriam que seguir as suas vidas em frente.
— Ele está bem — disse sorridente, Jaehyun olhou para a garota que olhou para ele também. — Você tem noção que ele não irá aparecer para você, mesmo você querendo tanto. Porque você não terá mais os toques dele e nem escutará a sua voz, mais uma vez, também — sorriu pequeno, engraçado, ele sabia que estava falando para si mesmo, pensando nas ironias da vida.
Sua dor não é maior que a dos outros, muito menos menor, nem mesmo sua ilusão ou imaginação, pois cada pessoa tem um objeto, frase ou pessoa para colocar suas inseguranças em cima e Jaehyun colocava tudo isso na partida de Yooa e em sua promessa de volta ilusória, assim como a garota estranha colocou as suas no arco-íris.
— E mesmo que seja complicado pensar assim, olha pelo lado bom — disse Jaehyun, tocando no ombro nu da garota que lhe olhou curiosa devido ao ato. — Temos boas lembranças deles — disse sorridente, fazendo a garota rir fraquinho também.
Ao observar o que estava acontecendo em volta de si, ele percebeu que a chuva havia cessado um pouco, tomou coragem em levantar e dar sua mão como apoio para a garota levantar também. A menina não negou a ajuda, ficando de frente um para o outro, ambos se perguntavam como uma conversa poderia ser tão estranha e, ainda assim, fazer tão bem.
— Prazer, eu sou a Jina — Jina disse um tanto envergonhada, com um clarinho rubor facial, não queria ser taxada de sem educação, então, acabou entregando sua mão como cumprimento, observando o garoto a pegar.
— Prazer, Jaehyun — respondeu, estranhamente contente, Jaehyun ainda não estava acreditando que poderia, ao mesmo tempo, ajudar outras pessoas e também se ajudar. — Você, quem sabe... Você não quer tomar um café comigo? — perguntou apontando para a cafeteria MaCherie, atrás de seu corpo e batendo o queixo, estava frio nesse momento e seu corpo gelado não o ajudava. Jaehyun pouco se importou com as dolorosas lembranças antigas, porque naquele instante ele estava disposto a construir novas boas lembranças, quem sabe, ao lado de uma recém-conhecida.
— Acho que não irão nos deixar entrar, assim tão encharcados! — Jina falou em um riso nervoso, sua feição estava mostrando tanta paz que seria impossível não dizer que essa garota estava bem melhor do que antes.
— Não custa tentar — disse Jaehyun rindo também. — Qualquer coisa a gente corre — completou sua frase com uma expressão engraçada no rosto.
— Talvez o meu irmão esteve certo o tempo todo — Jina comentou, com o olhar distante que apontava para o arco-íris que acabou de surgir no céu. — E realmente exista um tesouro no fim do arco-íris...
Jaehyun olhou para Jina, ela estava feliz, com os olhos coloridos e radiantes, e depois olhou para o arco-íris sem nenhum ressentimento do que aquele sinal pudesse lhe remeter. Pois, estava disposto a superar, compreendeu, pela primeira vez, e após tanto tempo que precisava superar.
— Eu acho que descobri qual é o segredo do fim do arco-íris! — Jina quase berrou, roubando a atenção de Jaehyun para si.
— E qual é? — ele perguntou com o rosto curioso.
— É sobre constância, porque ele sempre aparece depois de uma terrível tempestade — estendeu os braços ao vento, como se pudesse tocar no arco-íris de longe. — A gente tem que ser como um arco-íris, e permanecer colorindo mesmo depois de uma chuva forte. É sobre não desistir, você concorda? — ela perguntou, por último, olhando bem nos olhos de Jaehyun, ele parecia estar meio emocionado.
– Sim, eu concordo — respondeu, olhando mais uma vez para o arco colorido e decidindo que aquela era uma definição muito melhor para o seu significado, do que apenas o reflexo de luz.
— Você não vem? — foi a última coisa que Jina falou, antes de atravessar a rua correndo até a cafeteria sem esperar por ele, rindo e saltitando embora seus problemas.
E, assim, Jaehyun a seguiu, após descobrir qual realmente é o segredo do fim do arco-íris, entendendo que o mais importante de tudo sempre foi continuar sem desistir.
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