Capítulo 36
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Slauka deitou-se ao lado de Lars novamente e ficou passando os dedos pelo cabelo dele, enquanto observava Andrey pegar o telefone da casa e discar o número de Reinis.
Deitada no sofá, observando tudo, Asia também se preocupava em ter notícias de Daina, sentia-se um pouco culpada por não ter retornado assim que sentiu Slauka ser ferida, foi incapaz de resistir à Laura e de dizer não a Andrey; talvez, se tivesse retornado, poderia, de alguma forma, ter ajudado Daina e Slauka.
- Reinis? Como ela está? - Andrey ficou um tempo em silêncio, enquanto ouvia os relatos de Reinis. - Quero ir também, mas tenho medo de deixá-los sozinhos aqui, não sabemos se há outros, temos que ficar juntos... Está melhor..., acho que vai se recuperar, Asia fez algo que ajudou - observou Slauka atentamente enquanto falava, - ele não teria conseguido - desviou o olhar para o lado e falou em um tom mais pesaroso. - Volker disse certo, fiz isso, sim. Estava guardada no carro, tenho andado com ela... Vou pedir para Volker ir... Tchau - Andrey conversou com Reinis sério e preocupado. Desligou e ficou pensativo por um tempo.
- Não falei nada sobre Michel, nem sabemos onde procurar - Não deixava de pensar no que teria acontecido com Michel. Então, ocorreu perguntar a Slauka - Slauka, enquanto você estava com eles, você viu Michel?
- Michel? Não está aqui? Ele fugiu! Estavam brigando por causa disso, eu nem o vi - Slauka parou um pouco e ainda acariciando os cabelos de Lars, perguntou a Andrey de maneira a consolidar suas esperanças: - Ele vai melhorar, não vai?
- Vai. - respondeu Andrey.
Slauka apoiou as mãos no chão erguendo o corpo e sentando-se novamente, enquanto falava:
- Eu devia ter aprendido a lutar como você pediu. Atiraram em mim porque eu não deixei eles me pegarem. Eu desviei do tiro que deram. "Ela deve ser uma de nós", eles diziam, não sabiam sobre mim. "Isso está nos criando problemas". Conseguiram finalmente me agarrar e me agrediram. "Estamos nos atrasando", "Isso vai dificultar as coisas", "Assim não vamos pegar todos". Eles iam falando enquanto me amarravam. Depois, eles me arrastaram fazendo que Lars nos seguisse. Ouvi tiros novamente enquanto me carregavam, e todos subiram em motos. Éramos três em uma moto seguindo as outras, e em uma curva na estrada acidentada a moto derrapou e eu fui jogada no chão juntamente com os outros dois que me seguravam. Eles levantaram, colocaram-me na moto novamente e seguiram em direção ao galpão. Nem verificaram se eu estava machucada, jogaram-me em um lugar e depois de um tempo, Lars chegou com os irmãos. Enquanto os irmãos atiravam em quem estava dentro do prédio, eles foram cercados pelo lado de fora e atiraram neles - Slauka, que já estava chorando, começou a soluçar.
Asia nunca tinha visto Slauka chorando, levantou-se do sofá e se acomodou ao lado dela para acalmá-la. Enquanto abraçava Slauka e acariciava seus cabelos, Asia observava Andrey muito inquieto caminhando pela sala. Andrey estava impaciente, Asia via seu nervosismo aumentar. Ele queria saber sobre Michel.
Slauka também percebia a impaciência de Andrey e continuou:
- Acho que eram só eles, Ondrej. Queriam prender Lars e Michel por alguma razão. E Michel fugiu! Michel fugiu!
Passou-se um longo período em que todos permaneceram em silêncio. Andrey caminhava preocupado pela sala, aguardava pelo retorno de Vladímir para que pudessem sair e procurar por Michel. Asia o observava, estava sentada perto de Slauka, que havia se deitado ao lado do marido novamente e acariciava seus cabelos. Ouviram barulho de carros chegando. Depois, Volker entrou com os outros dizendo:
- Não pudemos buscá-los. A polícia já estava lá. Acho que nós dois tivemos sorte de sair de lá antes deles chegarem. Os vizinhos ligaram para avisar sobre os primeiros tiros. Chegaram logo depois que saímos, não sei se fomos vistos por alguém quando os tiramos de lá.
- Sinto muito, Vladímir, não havia tempo para trazê-los também, Lars morreria - justificou Andrey.
- Volker já me explicou, Andrey. Irei resgatá-los depois, tenho meios de conseguir e Rainer já se prontificou a me ajudar - Vladímir virou a cabeça juntamente com o corpo e olhou para Rainer próximo à entrada da porta.
Ele tentava parecer sereno, mas era visível o pesar de Vladímir. Andrey involuntariamente pensou se isso o fazia se lembrar de quando morreram os seus verdadeiros filhos e de como isso o afetava.
- Vai trazer problemas para a colônia daqui? - perguntou Volker.
- Não, eles estão sem documentos e não estavam registrados neste país. A polícia não tem registro de suas digitais.
- Vladímir, desculpe-me, mas nós precisamos achar Michel. Não disse nada a Reinis - continuou Andrey redirecionando o curso de seus pensamentos.
- Reinis já sabe, eu o mantive informado. Vou me preocupar só com isso agora. - continuou Vladímir tranquilo e ciente dos outros problemas que enfrentavam. Mas, de repente, parou. Ficou imóvel por instantes e depois pegou sua arma.
Andrey logo entendeu os gestos de Vladímir, e com extraordinária agilidade correu para a primeira sala para pegar sua espada. Volker e Rainer viraram-se na direção da varanda, seguindo os movimentos de Vladímir, que se moveu correndo para lá seguido por Andrey. Vladímir se preparava para enfrentar outro Selvagem que se aproximava, e suas ações instigavam Andrey a fazer o mesmo.
Mas, subindo o jardim abaixo do plano da piscina, Michel apareceu com ambas as mãos erguidas, acompanhado de um rapaz alto, magro e desarmado. Michel vinha falando em inglês, dizendo de longe para todos se manterem calmos:
- Ondrej, está tudo bem! Ele está comigo, ele me ajudou a sair de lá! Subimos pela encosta para que não fôssemos localizados - Michel observou que Vladímir estava com eles, armado e apontando para o rapaz ao seu lado. - Vladímir, está tudo bem! Ele está comigo e me ajudou a fugir! - garantiu usando sua fala juvenil.
Andrey abaixou a espada e Vladímir ainda fitou Michel por instantes, antes de abaixar sua arma também.
- O nome dele é Thomas Ogilvy Spach - continuou Michel, - só fala inglês e cooperou comigo para me ajudar a fugir de lá. Eu disse a ele que nós lhe daríamos abrigo, os colegas dele vão matá-lo por ele ter me ajudado.
Andrey ergueu levemente a espada apontando a direção do pátio inferior, ao lado da piscina.
- Vamos conversar aqui. - e tudo agora era dito em inglês.
- Está tudo bem, Ondrej! - tranquilizava Michel estranhando ver Andrey todo sujo de sangue e com uma espada na mão. - Ele é amigo.
- Explique melhor, Michel - disse Andrey estendendo o braço para puxá-lo para seu lado.
Michel ergueu a mão no ar mostrando a Andrey que não sairia de perto de Thomas.
- Atacaram minha faculdade, como você já deve estar sabendo - explicou observando que Vladímir caminhava se posicionando por trás deles. Michel, virando seu corpo na direção de Vladímir, acrescentou: - Vai ficar difícil eu explicar tudo se tiver que ficar girando em todas as direções!
Vladímir continuou sua trajetória em arco indo se posicionar ao lado de Andrey. Thomas, que não os conhecia, olhava ora para um, ora para outro. Estava sério e apreensivo, observando todo o sangue que havia sobre Andrey, que não parecia ferido. Michel, ao ver Vladímir finalmente ao lado de Andrey, aguardando, continuou:
- Atacaram minha faculdade, eram vários deles e me arrastaram de lá. Levaram-me para um galpão não muito longe daqui e foi lá que conheci Thomas, que deveria me vigiar enquanto iriam atacar papai e Lars.
Michel tinha uma das mãos erguidas à sua frente enquanto falava, diminuiu a velocidade em que expunha os acontecimentos e mais lentamente observou:
- Ondrej..., antes de continuar, eu preciso saber se eles estão bem.
- Reinis e Lars estão bem, e os colegas desse aí já não existem mais! - respondeu Volker que havia descido e se colocado ao lado de Andrey.
Asia estava com Rainer na varanda acima deles, ouvindo do alto a conversa que se dava ao lado da piscina.
Michel olhou para Thomas, que retribuiu o olhar e depois olhou para Vladímir e Andrey.
- Vocês mataram todos eles? Como?
- É uma história muito complicada, Michel. Tivemos problemas, estávamos preocupados com você - afirmou Andrey relaxando mais a espada em seu braço.
- Eles vieram por ordem de alguém. Queriam matar papai, Lars e me levar com eles. A ordem era me levar com vida para que eu fosse interrogado. Acho que eu seria morto depois disso... Pelo menos foi o que eu deduzi, porque falavam muita coisa em francês, não dava para entender tudo. Depois que eles saíram, fiquei sozinho, com Thomas me vigiando. Eu não representava grande perigo. Acho..., ainda não sou adulto. Thomas era o mais novo e não sabe lutar, então, sua função era me vigiar.
Michel falou mais tranquilamente. Percebeu que Andrey e Vladímir estavam ouvindo sua história com atenção:
- Conversei com ele, perguntei de onde vinha, como foi sua vida. Ele nasceu em uma prisão, foi criado sem o pai e longe da mãe..., depois explico essa parte. - Michel pensou em ser mais objetivo e contar rapidamente como fugiu. - Eu expliquei a ele quem é meu pai e como era minha família. Que nós somos a favor da convivência com Selvagens. Falei que papai o acolheria se me ajudasse a fugir. Ele tinha a opção de voltar para a vida que tinha, ou, então, vir comigo e ter uma vida melhor. Eu garanti que nada aconteceria com ele. Posso contar com a colaboração de vocês?
Andrey até esboçou um sorriso pela forma estranha do garoto falar com eles, Michel parecia um negociador experiente pedindo para a polícia não atirar. Passou a espada para a mão esquerda totalmente relaxada e estendeu a mão para Michel, puxando e abraçando quem, para ele, era como um irmão mais novo. Depois, ofereceu a mão para Thomas, que apertou a dele também.
- Obrigado - disse Andrey.
Em seguida, Vladímir também lhe estendeu a mão e Thomas, inocentemente, correspondeu ao cumprimento. Vladímir, segurando a mão do rapaz sem soltá-la, perguntou:
- Posso confiar em você?
- Pode. - respondeu Thomas inseguro e perplexo.
Vladímir o encarou por um momento e depois o soltou, indicando com a mão esquerda o caminho para a varanda.
Ao entrar na sala, Michel se deparou com Lars, com o tórax e o abdômen coberto por faixas e sobre a cama improvisada com Slauka ajoelhada ao seu lado. Primeiro, assustou-se, depois, viu Lars virando o rosto para seu lado e percebeu que ele estava vivo e consciente.
- Está acordado! - exclamou Volker que, imediatamente, colocou-se ao lado de Lars examinando-o. - Você está bem melhor. Vai ter que agradecer à Asia, eu não sei o que ela fez, mas deu certo! - Volker olhou de lado para Laura e levantou-se indo para junto dela.
Andrey e Michel se aproximaram agachando ao lado de Lars, e logo Michel falou:
- Lars..., feriram você? E papai?
Lars virou os olhos interrogativos para Andrey, já que não sabia dos outros. Andrey apoiou a mão no ombro de Michel:
- Reinis está bem, mas Daina foi ferida. - respondeu Andrey para ele e, em seguida, dirigindo-se a Michel, disse: - Só nos faltava encontrar você. Michel, você sabe se havia outros? Outros além dos que havia no galpão?
- Não. - respondeu Michel. - Eram só eles, tenho certeza. Eles e Thomas. - Michel virou-se para Thomas observando-o.
- Quantos vocês eram? - perguntou Andrey a Thomas.
- Éramos dez. - respondeu Thomas um pouco receoso.
- O que queriam conosco?
Thomas ficou em silêncio sem saber ao certo o que responder, e antes que pudesse elaborar uma resposta, Andrey continuou:
- Seremos atacados novamente?
Thomas balançou a cabeça negativamente e respondeu sem muita certeza:
- Não, creio que não... Não sei. Nós viemos todos juntos, não havia outros, que eu saiba. Disseram que seria fácil.
Andrey observou-o por algum tempo imaginando como ele podia ter participado desse ataque e não saber ao certo o que estava acontecendo.
- Reinis está com Daina no hospital, precisamos ajudá-lo. Vamos, temos de ir - Andrey olhou para Lars novamente e perguntou: - Lars, você está bem? Posso ir ver Daina?
- Vá, estou bem. - A voz de Lars era fraca e sussurrada. Ele levantou o antebraço e apoiou a mão no braço de Andrey, mas sem forças para segurar.
Michel assustou-se. Nunca tinha visto seu primo, que era tão forte e seguro, em estado tão debilitado. Volker se aproximou com Laura atrás dele e disse:
- Vou ficar, Ondrej, vou observar Lars e cuidar das crianças para que Laura possa ir.
- Vou trocar essa roupa. Já volto - avisou Andrey observando sua roupa suja com sangue.
Enquanto Andrey subia as escadas, Volker caminhou para onde estava Asia, que estava encostada na parede de vidro da varanda, em silêncio, observando a todos.
- Asia, Laura me contou tudo o que você fez por ela e pelas crianças. Nem sei como conseguiu, obrigado!
Volker abraçou Asia que se sentiu meio estranha com isso. Estava acostumada com Slauka e Daina lhe dando beijos e abraços. Até se Michel e Rainer fizessem isso seria algo mais natural para ela, mas Lars e Volker sempre se mantiveram fisicamente tão distantes que esse novo tipo de aproximação lhe trazia estranheza.
Laura, ao lado de Volker, pegou a mão de Asia:
- Sei que você já fez muito hoje, Asia, mas você poderia fazer por mamãe o que fez por Lars? Ela não está bem. Você acredita que poderia?
- Eu não sei bem o que eu fiz, mas posso ir ver Daina, sim. Posso tentar fazer o mesmo!
- Ela está na UTI. Ondrej pode entrar a hora que quiser, mas eu e papai só poderemos vê-la na hora de visitas. Eu vou dar meu lugar na visita para você entrar com papai e vou segurar Ondrej do lado de fora com alguma desculpa.
Demorou um pouco para Asia assimilar o que Laura havia dito. Não conseguia imaginar que alguma atitude desse tipo fosse necessária:
- Ele não me impediria de tentar ajudá-la! Ele não faria isso, Laura! - afirmou Asia espantada.
- Eu não sei, Asia. Você passou muito mal depois do que fez por Lars. Até Volker se assustou com você! Ondrej disse que você está esperando um bebê, e que não quer que você faça isso novamente.
- Ele não me impediria de tentar ajudar Daina. - insistia Asia atônita.
- Vai fazer mal para o bebê, Asia? - perguntou Laura, que queria ajuda para a mãe, mas assim como seu pai, era muito correta, não pediria algo que fosse prejudicial para Asia e seu futuro filho. - Ou para você?
Asia pensou um pouco. Nada nela dizia que faria mal para o bebê. Aquilo seria entre ela e Daina, o bebê não sofreria, tinha certeza.
- Não, está tudo bem, eu posso tentar. Mas talvez seja melhor eu entrar sozinha, sem Andrey. Peça para Michel lhe ajudar a distraí-lo, enquanto eu entro com Reinis. - concluiu convicta.
Laura encolheu os lábios, olhou para baixo e depois voltou o rosto para o lado e para cima, olhando para Volker, que a abraçou enquanto observava Asia seriamente.
Quando Andrey terminou o banho e trocou de roupa, desceu para a sala chamando Michel e Laura para o carro. Asia o acompanhou, sentando-se à frente, ao lado dele. Andrey não questionou sua ida, pois a queria junto com ele. Atrás se sentaram Laura, Michel e o atordoado Thomas, que ainda não tinha se localizado no meio daquela confusão de pessoas estranhas. Andrey dirigiu calado até o hospital observando Thomas pelo espelho retrovisor, não estava totalmente certo de que poderia acreditar naquele estranho perigoso, mas permanecia confiante de que a avaliação de Vladímir era melhor que a sua.
No hospital, encontraram Reinis na sala de espera. Ele levantou-se e abraçou Michel com força agradecendo por seu filho estar vivo. Depois, Reinis, ainda segurando o braço do filho, estendeu a mão para Thomas dizendo em inglês:
- Muito obrigado! Vladímir telefonou contando tudo, muito obrigado por ajudar meu filho. Você será bem vindo à nossa casa - depois, Reinis olhou para Andrey e continuou: - Ela foi operada e recebeu sangue humano, de acordo com seu tipo sanguíneo. Isso não vai ajudá-la. Era melhor se a tivéssemos levado para casa, mas a ambulância chegou e trouxeram-na para cá.
- Aqui o centro cirúrgico é mais equipado, Reinis, a estrutura é melhor, temos aparelhos para monitorá-la e para fazer os exames necessários. Tivemos sorte com Lars. - Andrey olhou para Asia e depois continuou: - Vou ver como ela está.
Reinis apertou o braço de Andrey em sinal de concordância e o deixou se dirigir para a UTI.
Passaram-se vinte minutos, Andrey voltou com ar preocupado e foi falar com Laura. Pediu a ela para manter a calma e que tranquilizasse Reinis, agora que iriam entrar para vê-la; Daina não estava bem.
Laura passou a segurar Andrey do lado de fora pedindo mais explicações sobre o estado de saúde de sua mãe, e ficou com ele enquanto Asia se dirigia com Reinis para a entrada da UTI. Michel caminhou ao lado deles, mas quando chegou perto da porta, Asia o segurou pelo braço e fez sinal de silêncio com o dedo indicador na boca, depois, soltou seu braço e com a palma da mão erguida indicou que a deixasse entrar sozinha com Reinis.
Lavaram as mãos, colocaram uns aventais por cima da roupa e coberturas para os sapatos e entraram no recinto onde havia várias camas com pacientes monitorados por aparelhos. Alguém que Asia não viu quem era acompanhou-os até onde Daina estava. Ela estava entubada, ligada a vários aparelhos e em coma, e Reinis e Asia ainda não sabiam, mas ela tinha poucas chances de sobreviver.
Sentindo aquele ambiente frio e pesado, Asia se aproximou de Daina lentamente, contornou a cama e ficou na lateral bem próxima a ela. Colocou a mão sobre seu abdômen tentando repetir o que fez instintivamente com Slauka e Lars. Reinis, que havia se dirigido ao outro lado da cama, só então viu que foi Asia quem entrou com ele. Imaginou qual era a razão de sua presença ali e observou o que ela fazia.
Asia estranhou suas sensações: "Não sinto nada! Não sinto dor, nem sinto mais nada, para dizer a verdade.". Deslizou as mãos sobre os braços dela e nada. Ficou perplexa. "Eu não sinto Daina!" Ergueu os olhos e encontrou os de Reinis olhando para ela. Naquele momento, naquele exato instante em que seus olhos se encontraram, Reinis entendeu. Daina havia morrido. O que mantinha seu corpo eram os aparelhos e nada que fizessem de agora em diante traria Daina de volta.
Reinis olhou carinhosamente para Daina, pegou sua mão, e começou a falar com ela em letão, sua língua de origem. Suas palavras eram sussurradas e ditas de forma meiga. Asia não entendia aquela língua, mas a forma como Reinis falava com Daina segurando sua mão e a expressão que ele tinha no rosto deixavam claro tudo que ele dizia: Reinis estava se despedindo.
Asia caminhou lateralmente à cama olhando para Reinis. Quando alcançou a extremidade da cama, próximo aos pés de Daina, ela parou por instantes, depois deu dois passos para trás e parou novamente. Percebeu pelo canto do olho seu marido se aproximando por trás dela, e sentiu as mãos dele suavemente se apoiarem em seus ombros. Virou o rosto para cima e olhou para ele, mas Andrey, agora, observava Reinis.
Ele soltou os ombros dela e se aproximou de Reinis seriamente, passando então, a segurar os ombros dele. Andrey falou com ele em forma de sussurros naquela mesma língua que era desconhecida para Asia.
De frente para eles, ela deu dois passos para trás, depois, girou seu corpo e saiu da UTI com pressa. Lá fora encontrou Michel e Laura, ansiosos por notícias, e para os dois, os olhos de Asia disseram tudo.
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