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Capítulo 28


Capítulo 28

***

Início do século XXI.

      Estava um dia quente e ensolarado neste final de verão holandês. Ao caminhar pelos jardins da propriedade que os Nemtsi mantinham em Amsterdã, Olívia erguia o rosto para o sol e sentia o calor abraçar sua pele como um veludo.

      Esta manhã ensolarada a estava fazendo sentir-se bem e deixava um pouco distante os problemas que teria de resolver mais tarde no tribunal. Olívia teria que participar do julgamento de uma mulher Nemtsi que já estava presa há alguns anos aguardando ser avaliada por ter acobertado um Selvagem e se casado com ele. Naam Símaco a estava defendendo e alegava que a moça desconhecia o fato de que seu marido era um Selvagem, coisa que Olívia sabia que não era verdade. Mas essa era a única maneira de salvá-la da condenação, uma vez que o marido já havia sido executado. O inquérito já se arrastava há anos e eles estavam otimistas de que teriam êxito; os filhos Nemtsi da moça, ignorantes da condição de seu pai, já haviam sido afastados de qualquer acusação, e agora Símaco lutava para inocentá-la.

      Ela seria a primeira Nemtsi a obter liberdade nestas condições, mas ainda havia outros presos, e Olívia se solidarizava com eles. Todos detidos após a súbita deposição do antigo Conselho, ocorrida cerca de trinta anos antes. Na época, o primeiro Nemtsi preso fora executado imediatamente sem julgamento, era de uma família importante e sua execução foi feita para exemplo de todos.

      Mas, no momento, o sol incidindo em seu rosto era como um carinho. Ela já estava hospedada em Amsterdã fazia uma semana, sentia falta de seu marido e queria voltar para casa. Olívia era uma mulher que, se fosse humana, aparentaria ter perto de trinta anos, era magra e não muito alta, um tipo físico miúdo com os traços do rosto delicados, cabelos castanhos, ondulados e olhos num tom de castanho escuro. Fazia o percurso até o hotel em que estava hospedada a pé atravessando os jardins da propriedade. O hotel não era longe e ela havia dispensado seu motorista. Estava distraída e só se deu conta da presença de Vladímir quando já não podia mais fugir dele: "Não acredito que ele está aqui. Este homem está me perseguindo! Primeiro em Paris, agora aqui!", pensou Olívia observando Vladímir aproximar-se, com o seu típico sorriso estampado no rosto, sem ter como fugir dele novamente. Olívia cruzou os braços segurando os próprios cotovelos e parou diante dele em uma postura defensiva.

      - Bom dia, Olívia! Não tive o prazer de encontrá-la em Paris. Nem ao seu primo... Só encontrei Armand. É uma pena, já que faz tantos anos que não nos vemos!

      - Bom dia, Vladímir! Como vai?

      - Vou muito bem, obrigado. Espero que seu marido também esteja bem, não o vejo há algum tempo. Na verdade..., com exceção de Armand, não vejo nenhum de vocês desde a década de 1940. Logo após a Guerra, não é mesmo? Mande lembranças minhas a ele – enquanto falava, Vladímir se aproximou um pouco mais dela. Com ambas as mãos, em um gesto paternal, pegou a mão direita que Olívia mantinha cruzada sobre o braço, desarmando a postura dela com um cumprimento afetuoso. - Tem visto Erine? Como ela está?

      Olívia, extremamente perturbada com a demasiada aproximação de Vladímir e com suas perguntas inoportunas, respondeu com contrariada sinceridade:

      - Não sei sobre Erine há muito tempo, Vladímir.

      - Talvez seu primo saiba dizer algo, então?

      - Louis não sabe sobre ela também, nenhum de nós... Por que não pergunta a Alan Krans? - indicou Olívia puxando rispidamente sua mão de dentro da armadilha que eram as mãos de Vladímir. - Ele está neste prédio. Por que não pergunta a ele? Ou à família dele? - Olívia inclinou-se indicando o prédio de onde vinha. Depois, se virou novamente para Vladímir e cruzou os braços como antes, segurando os próprios cotovelos, retomando sua postura fechada e defensiva.

      - Só estava curioso em saber como ela está, Olívia! Saber se está bem. Já faz muitos anos que não a vejo, não é mesmo? - Vladímir observava as feições de Olívia com atenção, procurava pelas informações que queria, dentro das fortes emoções que ela emanava. - Mas vejo que tudo tem sido mais difícil depois das mudanças que se seguiram com a troca dos membros do Conselho - Vladímir ficou sério, observou Olívia em silêncio por instantes e depois prosseguiu: - Espero que apesar de tudo isso, Eleonora esteja bem, também. Talvez eu deva visitá-la.

      - Eleonora está como sempre, Vladímir, mas creio que ela ainda não queira ver você. E ela não anda de bom humor nos últimos tempos..., com ninguém - respondeu Olívia espontaneamente. Ela imaginava que ele poderia forçar uma visita a Eleonora se quisesse e que seria em vão. Olívia acreditava que Eleonora Burnier era a única pessoa no mundo que poderia enfrentar Vladímir frente a frente sem problemas.

      - Mas posso querer visitá-la, mesmo assim - insistiu ele.

      - Fique à vontade, mas avise Armand antes. Seria bom - ela o observou seriamente por instantes e depois olhou na direção que precisava retomar, enquanto dizia: - Tenho de ir, Vladímir. Não posso demorar. Tenho outros compromissos.

      - Claro! - concordou Vladímir esboçando seu sorriso sincero e observando as feições nervosas de Olívia. - Não quero atrapalhar seus compromissos. E mande lembranças minhas a seu primo, sim?

      Olívia acenou com a cabeça, virou-se dando as costas a Vladímir e caminhou decidida em direção ao hotel em que estava hospedada. Seu último encontro com Vladímir, tantos anos antes, a fez vê-lo menos como a figura ameaçadora que sempre fora e mais como um homem gentil. Porém, mesmo assim, com toda a nobreza demonstrada na época, todo o seu corpo reagia a ele de maneira exagerada. Durante quase toda a sua vida, Vladímir representou uma ameaça e era difícil enxergá-lo de maneira mais branda.

      Quando era criança e Vladímir frequentava sua casa, Olívia não tinha conhecimento de seu passado obscuro. Eram outros tempos, tempos em que a paz reinava entre todos eles e ela era uma criança Nemtsi que não sabia da distinção entre Nemtsi e Selvagens. Ela não tinha conhecimento sobre as guerras, lutas ou os ataques às aldeias, anteriores ao seu nascimento; até certa idade, Olívia havia sido criada alheia a tudo isso, em sua casa não se faziam comentários a respeito de violências, pelo menos não na frente dela. Vladímir era sempre bem recebido por sua família, era amigo de seu avô, Armand Gareth, e Olívia ainda pequena, o chamava de tio.

      Depois, vieram as mudanças, e Olívia, com oito anos de idade, deu-se conta de que coisas terríveis estavam acontecendo fora dos muros de seu protegido lar. Foi seu marido quem contou a ela, quando ambos eram ainda crianças, sobre a perseguição e condenação dos Selvagens, e que o "Tio Vladímir" era um assassino cruel, que há poucos anos havia saído da prisão. O "Tio Vladímir" era perigoso e até Eleonora Burnier, que fora sua amiga no passado, havia deixado de falar com ele.

      Por conta de suas atitudes no pós-Guerra, durante os anos 1940, Olívia passou a ver Vladímir de maneira mais afável; na verdade, os seus modos gentis sempre contrastaram com sua fama ruim, e Erine, que era sua amiga, afirmava com frequência que Vladimir era um bom homem que se preocupava em ajudar as pessoas.

      Olívia confiava que Erine estivesse certa, mas segredos precisavam ser guardados e Vladímir era um grande inconveniente a ser evitado. Olívia percebeu que, nos últimos dias, ele andava a persegui-la, e também a incomodava o fato de que Vladímir repetidamente se referisse a Louis Berard como "o seu primo".

**

      Depois do tumultuado casamento, Andrey e Asia fizeram uma viagem à Argentina. Foram a Bariloche, onde era temporada de esqui, havia muita neve e fazia muito frio. Asia queria ficar entocada no hotel quentinho, mas foi obrigada por Andrey a sair, fazendo passeios a pé e a cavalo, e aprendendo a esquiar. Asia concluiu que a neve era realmente linda, mas ela a odiava. O teleférico não foi uma dificuldade, para surpresa de ambos, já que Asia não teve problemas com altura e as brincadeiras de Andrey perderam a graça, com Asia aceitando corajosamente todos os desafios propostos.

      Ao retornarem para o Brasil, Asia mudou-se com Andrey para seu antigo apartamento, chocando a todas as velhas senhoras do prédio ao voltar para casa com um marido. Após avaliarem o tal marido, elas vieram dizer a Asia que decidir se casar com um jovem médico bonito e simpático foi a melhor coisa que tinha feito. Afinal, era muito triste para ela, que era tão jovem, viver sozinha sem a mãe e sem a avó. A diferença de quase dez anos que parecia existir entre eles (Asia fez questão de dizer a todos que Andrey tinha "quase" vinte e oito anos), aliada ao fato de Asia ter se casado tão nova e tão depressa, tiveram pouco significado para as senhoras, que estavam encantadas com o novo vizinho.

      A boa aparência e o fato de ser um médico, profissão que todos ali consideravam ser de uma pessoa bem intencionada, ajudaram Andrey a ser logo aceito por todos; até os parentes de Yeda vieram visitar Asia para conhecê-lo. Diferente dela, que passou parte da infância e da adolescência fugindo dos moradores do prédio, Andrey foi simpático e atencioso com todos. Conversava com eles sobre os assuntos que lhes interessavam, ouvia suas histórias de vida, suas opiniões sobre os acontecimentos da atualidade e os conselhos que queriam dar a ele sobre sua vida de recém-casado; diziam que Yeda havia criado Asia muito bem e que sorte ele tinha por ter encontrado uma moça tão especial. Como médico, precisava sempre dar atenção às suas perguntas e também ouvir sobre suas queixas de saúde. Em pouco tempo, ele se tornou amigo de todos aqueles idosos adoráveis.

      Com a presença de Andrey, Asia passou a receber muito mais atenção e conselhos de todos que encontrava no hall de entrada ou no elevador. Como saía muito com o marido, ela começou a usar roupas sociais e sapatos com salto alto com mais frequência, o que tornou suas fugas rápidas mais difíceis, e quando Andrey estava com ela, era impossível fugir deles. Como Yeda, Andrey sempre parava para falar com todos e sorria ao lado de Asia, mantendo seu braço em torno do ombro mantendo-a presa e concordando com o que diziam para ela.

      Um dia, Andrey parou na frente do elevador com a porta aberta para dar atenção a um morador que passava, demorou-se um pouco, e quando entrou no elevador viu Asia batendo de leve, repetidas vezes, a cabeça na parede.

      - Você parece criança! - disse ele rindo.

      Quinze dias depois de seu casamento, Andrey retornou ao trabalho. Foi uma grande novidade no hospital em que trabalhava, pois voltou casado. Depois ele ouviu, sob as risadas de Volker, os comentários sobre como as férias de três semanas, arrancadas à força, resultaram em um casamento relâmpago com uma moça que havia acabado de conhecer. Andrey nem pôde reclamar com Volker pela notícia ter se espalhado, já que foi a própria Asia que, quando foi visitá-lo pela primeira vez em seu trabalho, inocentemente contou que havia conhecido Andrey há alguns dias.

      Como ocorre em qualquer procedimento médico invasivo, Andrey precisava retirar a aliança para a devida higienização das mãos. Como no início não estava acostumado a usá-la, esqueceu-a em algum lugar ou colocou no bolso da calça e depois a perdeu. Ele e Volker procuraram pela aliança por vários dias, mas nada foi encontrado. Isso o deixou abatido, pois além de ter perdido a aliança que fora de seu pai, se preocupou com a tristeza de Asia com o ocorrido.

      Mas Asia ficou triste por vê-lo triste. Ela sabia que a aliança era importante para ele, mas ficou em silêncio ouvindo Volker dizer que era só mandar fazer outra. Ninguém mais na casa sabia da origem de Andrey, o segredo foi mantido: para todos os efeitos, ele era filho de Reinis e Daina e aquela aliança poderia ser substituída.

      Três meses depois, Lars apareceu com a aliança recuperada em um leilão de penhores. Lars, astuto e bem relacionado como era, havia ficado à procura de notícias sobre objetos de ouro antigos que caíssem no mercado negro ou em leilões, manteve-se em busca da aliança e foi capaz de recuperá-la para a alegria do casal.

      Neste período de recém casados, eles saíam muito, iam a restaurantes, cinemas e teatros. Asia, aos poucos, passou a querer se vestir mais como sua mãe, que tinha em sua memória como exemplo de elegância; usava vestidos e sapatos com saltos que a deixavam mais alta para acompanhar a altura de Andrey, estava sempre elegante e ele a elogiava. Mas, logo, Asia percebeu que o estilo que Erine usava não lhe caía tão bem. Elas não tinham o mesmo porte físico e Asia se sentia estranha com aqueles vestidos que, em sua mãe, ficavam tão elegantes. Passou aos poucos a descobrir o que ficava bem nela e a desenvolver um estilo próprio, sendo também elogiada pelo marido.

      Nestes três primeiros meses, Andrey manteve-se afastado de Reinis e Daina, vendo-os poucas vezes. Além de Volker, que ele via sempre no trabalho, e Rainer, que os visitava de vez em quando, Lars e Slauka estiveram sempre presentes.

      Saíam com eles com frequência, tendo Lars, uma vez, insistido em fazê-los atravessar São Paulo para assistir a uma peça de teatro que queria mostrar a Asia. Andrey foi a contragosto, já que Lars disse que levaria Asia com ou sem ele, e Slauka divertia-se com a ideia de roubar Asia do marido.

      Era uma peça educativa, de teatro, um tanto amador, direcionada a crianças em fase escolar. Encenava algumas passagens da mitologia grega dando destaque a Hades, o deus do mundo dos mortos, o mundo dos mortos em si, a Perséfone e a Demeter. Asia já conhecia a narrativa, mas adorou tê-la visto encenada. Andrey entendeu a ironia e o paralelo que Lars queria fazer comparando-o a Hades, que sequestrou Perséfone prendendo-a sorrateiramente ao seu lado no mundo subterrâneo, mas assistiu calado à peça sem buscar argumentos em sua defesa.

      Como Rainer havia dito, com o tempo, o incidente do casamento foi relevado e a vida voltou ao normal para todos eles.

      Era quase primavera, Andrey e Asia foram passar o fim de semana na casa de Daina e Reinis. Slauka, que desde a época do casamento tumultuado havia se autopromovido à amiga íntima; via Asia mais como uma escrava fiel do que como uma amiga leal, arrastando-a para todos os lugares que queria ir. Asia, que sempre foi independente e já estava se rebelando contra a dominação de Slauka, neste dia quis ficar na casa.

      No final da tarde, ela desceu pelo jardim lateral à varanda e foi caminhar ao lado da piscina, parando antes do fim do terreno. Estava hipnotizada observando o pôr do sol avermelhado por trás das colinas, quando sentiu uma mão pousar em seu ombro e pescoço, pegando-a de surpresa.

      - É muito bonito, não é?

      Era Reinis, que a viu se dirigir para lá e se aproximou em silêncio.

      - Não me canso de olhar essa vista - continuou ele. - Foi o que me fez comprar essa casa em vez de outra mais próxima da casa de Laura e Volker, mais no centro dessa pequena cidade.

      Asia, que tinha se assustado com a aproximação dele, observava Reinis ao seu lado sorrindo e segurando seu pescoço.

      - Acho que assustei você, não foi? - adivinhou Reinis, notando a reação dela. E balançando um pouco seu ombro, continuou: - Desculpe-me, você estava tão concentrada que não me viu. Vocês têm aparecido tão poucas vezes que temos de aproveitar essas oportunidades para conversarmos.

      Reinis sorria para Asia, que estava surpresa com essa súbita aproximação.

      - Slauka está sempre tomando toda a atenção para si e não sobra tempo para Daina e para mim, não é mesmo? - continuou Reinis alegremente. - Vocês dois precisam ficar mais conosco, estamos sentindo falta de vocês. Andrey disse que você tem estudado muito, está se preparando para as provas, não é?

      - Sim. - respondeu Asia, ainda sem saber ao certo como falar com Reinis, já que trazia consigo, desde que o conheceu, a sensação de que ele não a aceitava de fato. Mas, de qualquer forma, estava absolutamente feliz por vê-lo tão próximo e a tratando como alguém de sua família.

      - Muito bem, Asia! Dedique-se a isso, o estudo é muito importante! Quer dizer que teremos outro médico..., uma médica na família? Você não está deixando Andrey te influenciar em suas escolhas, está?

      - Não, eu já tinha decidido isso antes de conhecê-lo.

      - Muito bem, estude então, mas venham nos ver nos fins de semana com mais frequência.

      Desde seu casamento e da reação que Asia viu em Reinis na época, eles não haviam tido uma conversa tão próxima. Andrey manteve-se afastado deles nos três primeiros meses, suas visitas foram rápidas e ficavam mais na companhia de Lars, com Slauka a sequestrando sempre. Daina não a angustiava, desde o início sempre demonstrou carinho por ela. Ser aceita por Reinis era o que faltava para Asia deixar de se sentir uma intrusa toda vez que chegavam àquela casa.

      Andrey avistou os dois conversando e foi se juntar a eles. Encostou-se na mureta de proteção puxando Asia para junto dele e iniciou uma alegre conversa com Reinis, sentindo-se feliz por poder estar junto deles novamente.

      Os dias de estudo de Asia, depois disso, se intercalavam às saídas ou com Andrey ou com Slauka, e os fins de semana eram todos de Daina e Reinis, com Asia feliz com o rumo que tomava sua vida.

      Em uma tarde de sábado, Asia, sentada em um dos bancos balanço da varanda da casa, se viu sendo infernizada por Slauka. Após vários dias a observando, Slauka deduziu que Asia era capaz de trazer Andrey para ela quando quisesse, e convicta dessa possibilidade, insistia em arrancar algumas informações dela:

      - Eu já percebi, Asia, logo nos primeiros dias. - dizia Slauka com seu sorriso ferino no rosto. - E você logo notou isso, porque estava fazendo testes, eu vi.

      - Fazendo testes? - Asia começou a rir.

      - Fazendo testes, sim. Para ver se ele aparecia se você quisesse.

      - Eu não estava fazendo testes. Só tinha vontade de que ele estivesse comigo! - afirmou sorrindo, forçando certo ar de inocência.

      - Como isso é possível? Como você pode fazer isso, Asia? - Slauka a observava. - Isso não é como localizar alguém que se queira encontrar, sentir a direção para onde se deve ir. É como se pudesse chamá-lo à distância. Controlá-lo... Como pode fazer isso? - perguntou com olhos de gata desconfiada.

      - Não sei como você pode afirmar uma coisa dessas.

      - Você já percebeu que pode fazer isso, tenho certeza - interrompeu Slauka. - Andou se testando. Diga como isso funciona.

      - Calma! - disse Asia sem conseguir deixar de sorrir. - É algo instintivo, eu acho. Eu não sei bem, talvez seja apenas como aquele vínculo que você me contou que nós formamos um com o outro. De alguma maneira, posso senti-lo.

      Slauka, agora com a cabeça inclinada para o lado, fitava Asia com os olhos apertados, esperando que soltasse a informação que era importante:

       - Eu vou ter que torturar você?

      - Naaão, claro que não! - Asia riu e se preparou para o ataque de Slauka. - Calma... Talvez aconteça quando eu desejo muito isso, quando anseio profundamente que ele esteja comigo, então, ele aparece e segura a minha mão, como acontecia em meus sonhos antigos. - Asia tinha puxado as pernas para cima do banco como Slauka costumava fazer.

      - Só isso?

      - É algo muito natural. Chega a ser tranquilizador imaginar que ele está perto e que pode me encontrar, ter certeza de que ele está comigo e eu não estou só. - Asia apoiou o queixo no joelho flexionado. Ficou em silêncio por instantes imaginando que Slauka não entenderia este tipo de solidão e a segurança que a presença de Andrey trazia para ela. Depois, prosseguiu: - Não é assim com todos? Você não consegue sentir a todos nós, mesmo a distância?

      - Não é a mesma coisa. Ninguém controla ninguém, só Vladímir. - Slauka, ao dizer isso, silenciou-se e a observou com a cabeça inclinada.

      Andrey e Lars chegaram e foram até a varanda para acompanhá-las.

      - Eu imagino como Vladímir faz certas coisas. Acredito que ele consegue formar esses vínculos com as pessoas com facilidade. É como entrar em sintonia com alguém, como ondas de rádio. Como você me disse que podia fazer em alguns casos.

      - Em muitos casos - corrigiu Slauka convencida e fitando Asia com seus olhos de gata.

      Andrey riu e comentou:

       - Do que vocês estão falando?

      - Asia faz você aparecer. Ela consegue te chamar quando quer - afirmou Slauka em tom irônico.

      Lars começou a rir e se sentou ao lado de Slauka, fazendo o banco ranger.

      - Isso é sério? - perguntou Andrey olhando para Asia, rindo um pouco envergonhado por parecer ser manipulado sem conhecimento.

      - É, talvez eu possa mesmo fazer isso, não tenho certeza. Não funciona sempre. - Asia olhava nos olhos do marido constrangida. - Posso saber como você se sente também. Se estiver triste, eu posso sentir.

      - Isso é ótimo - Andrey inclinou-se e deu um beijo em Asia. - Também posso saber como você se sente. Da mesma maneira. Isso acontece com muitos dos nossos. Mas, explique-me melhor, o que você pode fazer? Consegue me chamar? - riu.

      - Slauka está fazendo isso parecer uma piada, não é bem assim. Eu desejo que você esteja comigo e se você estiver próximo, você vem. Mas nem sempre dá certo - continuou Asia de maneira tímida.

      Lars começou a rir novamente e comentou:

      - Finalmente alguém consegue controlar você - Lars continuava a rir. - Acho que esse é o segredo, é fazer você não ter consciência de que está obedecendo - falou rindo. - Asia, você precisa treinar mais isso. É algo muito útil, acredite.

      Apesar das risadas de Lars, Andrey passou o braço em torno de Asia em um abraço e sugeriu:

      - Isso é algo diferente, Asia. Ser capaz de sentir outra pessoa com quem temos uma forte ligação é uma coisa, mas o que você parece ser capaz de fazer é diferente, é algo poderoso. Você pode treinar. Mas eu sou um alvo fácil para você, não é uma coisa justa. Por que você não começa a treinar neles? - Andrey apontou para Lars e Slauka, que ainda riam em sua frente.

      - São coisas que Vladímir consegue, não é? - Asia observou Andrey consentir com a cabeça. - Ele disse para Marta que quem treina consegue fazer o que ele faz. Você acredita que se eu treinar, posso ficar um pouco como ele?

      - Que horror! - interrompeu Slauka, que ainda ria. - Quem quer ser como Vladímir?

       - Eu acredito - disse Andrey respondendo à pergunta de Asia. - Vá treinando com esses dois.

      - Ele está tentando te enganar, Asia - interrompeu Lars. - Está desviando a atenção dele próprio. Sabe o que é melhor nisso tudo? Acho que Ondrej não pode fazer nada parecido. Você está em vantagem.

      Andrey apenas olhou para Lars com um leve sorriso vitorioso.

      Asia passou os dias seguintes tentando manipular as vontades de Andrey, tentando ser como Vladímir, mas viu que isso não era possível. Então, com o tempo, desistiu de desenvolver essa tão poderosa habilidade, que, afinal, não estava se mostrando tão poderosa assim.

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