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Capítulo 22


Capítulo 22

***

      Quando Andrey puxou Asia para longe dos olhares de Vladímir, no terraço, ao pé das escadas, rindo muito, ela começou a dizer:

      - Sinto-me livre, como nunca!

      Andrey a segurava pela cintura com ambos os braços. Ciente disso e de que ele não a soltaria, Asia jogou o corpo para trás. Ficou com o tronco suspenso, amparada por ele; abrindo os braços e sorrindo abertamente olhou para o céu azul acima deles, que se cobria com nuvens cinzentas.

      - Livre como uma ave! - continuou ela.

      Andrey inclinou um pouco o corpo para acompanhar seu movimento, sorriu também e disse:

      - Não por muito tempo, vou ter que dar um jeito de prender essa avezinha!

      Asia, que tinha os braços voltados para trás e para baixo, trouxe-os de volta colocando as mãos nos braços de Andrey.

      - É? E como vai fazer isso? - perguntou sorrindo e olhando Andrey com olhar desafiador.

      - Vou me casar com você, lembra? - Andrey sorria e lhe deu um beijo rápido. - Acabou-se a liberdade!

      - Experimente, vou virar uma fera, indomável. Vou ser como a mãe da Slauka!

      - Impossível! Mesmo assim, você não vai conseguir, não vai escapar de mim! - Andrey puxou Asia para cima e a beijou novamente.

      Ficaram juntos no terraço por um tempo. Andrey estava feliz, contagiado pela alegria de Asia e ela se abraçou a ele. De repente, ela se lembrou do que tinha visto durante a reunião, e ergueu seu rosto para o dele dizendo:

      - Andrey, Vladímir tem um crucifixo preso ao pescoço!

      Ela observou os olhos tranquilos de Andrey a avaliando com um leve sorriso e esperando que ela terminasse de dizer o que a surpreendia.

      - Ele é um Selvagem! Por isso, é tão perigoso e pode matar pessoas! Ele não é bom, ele é mau! - sussurrou.

      Andrey desmanchou um pouco o suave sorriso que tinha, ergueu o rosto deixando os olhos perdidos, fitando o horizonte:

      - Não, ele não é, ele é Nemtsi - respondeu, e com uma expressão mais séria voltou a abraçá-la.

      Com o rosto encostado quase em seu ombro, Asia tornou a dizer:

      - Ele é sim. É Selvagem.

      Ele não disse mais nada, beijou a cabeça de Asia e permaneceu abraçado a ela até Slauka aparecer:

      - Asia, eles ainda não partiram, não é bom ficar aqui fora.

Andrey soltou Asia e subiu com ela a escada até onde Slauka estava.

      - Ondrej, eu já falei com Rainer, está tudo certo. Saímos em uma hora, está bem? - afirmou Slauka passando a mão no braço de Asia e a empurrando à sua frente para a entrada da casa, que ficava do outro lado do terreno.

      - Vamos sair? - perguntou Asia virando-se para trás, e caminhando de costas, observava Andrey.

      - Eu não disse? Vamos nos casar!

      - Hoje? Já? - exclamou Asia surpresa e parando de caminhar.

      - Só precisamos oficializar nossa união para que eu possa partir com você, legalmente, sem reforçar as desconfianças de Vladímir. - informou Andrey, desmanchando o sorriso. - É nossa melhor opção, assim, posso me afastar e me restabelecer sem trazer problemas para Reinis e Daina. - aproximou-se dela e segurou seus braços. - Você não conhece Vladímir. Ele não desiste de uma causa, persegue suas desconfianças até o fim. Se não estiver completamente satisfeito com sua decisão, vai mudar de ideia e voltar amanhã ou depois - observou seus olhos. - Amo você. Não vou deixar que nada de mal te aconteça, quero que fique comigo.

      - Está bem! - respondeu Asia olhando para ele, depois, virou-se para caminhar novamente. Não queria vê-lo triste de novo, e aquela ideia também a agradava muito, queria casar com ele. Mas a sensação de liberdade conquistada que experimentara há pouco, se esgarçava tensionada pela figura, novamente imposta, de Vladímir, e Asia não queria vê-la ameaçada. - Pode ser hoje, então. - continuou, prendendo-se ao seu destino.

      Na lateral da casa havia outra varanda, pouco usada, mas que tinha bancos, cadeiras e uma mesinha de ferro. Quando passavam por lá, saiu da varanda um dos irmãos que foram criados por Vladímir, Bruno.

      Asia caminhava sozinha na frente e assustou-se com a aparição repentina de Bruno. Ela instintivamente estendeu o braço direito no ar, com a mão erguida, como fazia quando queria que Andrey a pegasse.

      Slauka correu primeiro e pegou a mão de Asia, fazendo sinal com a outra mão para que Andrey não se aproximasse.

      - Vladímir já foi para o carro, fiquei para trás porque queria me desculpar pelo que aconteceu outro dia - esclareceu Bruno.

      - Tudo bem, já passou! Não precisa se preocupar mais com isso, está bem? - tranquilizou-o rapidamente querendo encurtar a conversa.

      - Bom, então, da próxima vez que viermos a São Paulo, prometo que venho visitá-la. - Bruno, com um sorriso meigo, deu dois passos para frente e estendeu a mão para Asia; Slauka a soltou permitindo que ela se despedisse. Andrey já as tinha alcançado e encarava Bruno com seriedade. - Bom, até a próxima, então.

      - Até! - respondeu Asia sentindo-se um pouco culpada por estar sendo rude com ele.

      Bruno virou-se e um pouco cabisbaixo seguiu para a frente da propriedade. Slauka puxou Asia de volta para as escadas, desceu e foi com ela até a casa e entrou pela varanda.

      Reinis acabara de sair com Daina e Lars; eles decidiram ir a um café que havia na cidade para conversar sobre tudo o que havia acontecido, queriam deixar Lars ciente da posição em que Vladímir havia se colocado. Reinis tinha intenção de conversar com Andrey também, tranquilizá-lo quanto a Vladímir, mas, sem ter ciência de seus planos, resolveu deixá-lo com Asia e abordá-lo mais tarde, quando estivesse mais calmo.

      Na sala, estavam Volker e Laura com suas filhas, sentados conversando descontraídos acreditando que tudo havia terminado. Slauka deu graças a Deus por Lars não estar com eles, naquele momento. Seria mais difícil fugir dele. Foram para os seus quartos para se trocarem.

      No seu quarto provisório, Asia colocou o vestido bonito que Slauka a fez comprar, entendendo que haviam se preparado para isso. Quando colocou os sapatos e se olhou no espelho, com os cabelos escovados para trás, achou que estava extraordinariamente parecida com sua mãe, só não tinha os cabelos escuros dela.

      Slauka voltou e a puxou pela mão:

      - Você está linda e já estamos atrasadas, vamos!

      Ventava e fazia muito frio, então, elas colocaram casacos grossos e desceram a escada. Volker, ao vê-las arrumadas, perguntou:

      - Vão sair?

      - Vamos. - respondeu Slauka sem parar para olhar para eles. - Avise Lars que saí com Asia e vou demorar.

      - Onde está Ondrej? - continuou Volker.

      - Saiu com seu irmão - Slauka passou pela porta da sala e fechou-a.

      Foram para o carro de Slauka, pisando com cuidado com seus saltos sobre o piso coberto por pedregulhos e segurando os grossos casacos contra o forte vento.

      Asia concluiu que aquilo estava, surpreendentemente, parecendo uma fuga. Ela estava fugindo para se casar, escondida dos outros. Depois, dentro do carro, sozinha com Slauka, afirmou:

      - Estou fugindo escondida para me casar, não é mesmo?

      - É, pode ser visto dessa forma - respondeu Slauka dirigindo, descendo a serra e seguindo para São Paulo. - Na verdade, isso põe fim a todas as discussões. É o que vocês querem, não é mesmo? Vocês são adultos, podem fazer as próprias escolhas.

      Asia olhou seriamente para Slauka, imaginando se isso não era outra atitude descabida, já que considerava que era melhor contar a todos. Não via o porquê do segredo e do afastamento de todos. Mas era com Andrey que iria se casar, e para ela, que ao longo dos anos havia desenvolvido certa carência afetiva, isso soava quase como um prêmio por tudo que havia passado nos últimos dias.

      - Asia, pelos nossos costumes. Eu sou Selvagem, não sei se conta. Mas, pelos costumes dos Nemtsi, a partir do momento em que você se casar com Ondrej, Vladímir não poderá interferir em nenhuma de suas decisões. Você será uma mulher casada e ninguém poderá te afastar do marido que você escolheu. Essas leis são antigas e levadas muito a sério por todos eles. As mulheres fazem suas escolhas e todos respeitam isso. Nas colônias, isso está sempre muito evidente. Nós, aqui em casa, vivemos um pouco à parte de tudo isso, mas essas leis são respeitadas até por Vladímir. Toda essa confusão acaba hoje, de qualquer jeito - Slauka falava com seriedade, não olhava para Asia, estava prestando atenção na estrada e dirigindo um pouco rápido.

      - Acho que Vladímir não vai mais me perseguir, Slauka. - disse Asia. - Pude sentir isso hoje, quando estava próxima a ele. Não há mais nada com que me preocupar, ele vai respeitar minhas decisões, mesmo sem isso.

      - Mas ANDREY não está convencido disso. Ele ama você, fica angustiado com a ideia de te perder. Ele não vai voltar ao normal até garantir que não haja mais perigo de te levarem daqui. Pense um pouco nele.

      Asia se surpreendeu ao ouvir Slauka dizer para "ela" pensar em Andrey. Virou o rosto pausadamente e olhou para Slauka com as sobrancelhas erguidas e a boca um pouco aberta; Slauka parecia alguém que pensava somente em si mesma e Lars fazia tudo o que ela queria. Mas o comentário de Slauka Asia podia entender; Andrey já passara por muita coisa em sua vida, a história de Aiva a impressionou e ela entendia muito bem o medo de se perder alguém querido. Em seu íntimo, Asia tinha medo também, mesmo que não admitisse e deixasse Andrey passar como o único responsável por tudo; ela tinha medo de perdê-lo e ficar sozinha, como sempre. Se as normas eram essas, ela era a detentora de suas escolhas e ninguém podia afastá-la do marido escolhido, ela iria garantir Andrey ao seu lado.

      Ao chegarem ao centro da cidade, Slauka levou Asia até seu apartamento para buscar sua bolsa com os documentos. Usando a chave que Vladímir havia devolvido e que Slauka cuidadosamente recuperou de onde Reinis havia deixado, Asia retornou ao seu apartamento. Estava arrumado, como da última vez em que esteve ali, com todas as coisas no mesmo lugar de sempre, mas Asia sentiu-se diferente ao retornar à sua casa, era como se tudo aquilo pertencesse há um passado distante, mas não se deteve em divagações, foi rapidamente ao seu quarto, pegou sua bolsa e saiu com pressa, retornando ao carro de Slauka, verificando que seu celular estava sem bateria.

      Elas se dirigiram para o aeroporto fora da cidade onde pegariam um avião até Santa Catarina. Slauka parou o carro em um estacionamento e foi com Asia, quase correndo pelo saguão, ao ponto de encontro. Próximo ao portão de embarque, Andrey e Rainer aguardavam por elas.

      "Eles devem ter se trocado na casa de Rainer", pensou Asia, porque ambos vestiam ternos. Ela observou como eles estavam elegantes e bonitos com aquela roupa e estendeu o braço para Andrey, que pegou sua mão sorrindo, enquanto dizia que ela estava linda.

      A viagem de avião até o Estado de Santa Catarina foi rápida. Sentado na poltrona ao lado de Asia, Andrey se forçava a manter-se acordado, o sono insistia em dominá-lo, já que havia passado noites quase sem dormir. Slauka, sentada ao lado de Rainer, constantemente se levantava para falar com Asia, o que ajudava Andrey a se manter desperto.

      Chegaram e, ao desembarcar, pegaram um táxi e foram até uma casa que Reinis mantinha naquela cidade. Asia reparou que se tratava de uma casa típica daquela região do país, com telhado muito inclinado, adornada com faixas de madeira, seguindo as tendências de construção trazidas por imigrantes, no início do séc. XX.

      Apesar de parecer estar conservada, a casa tinha um aspecto de abandono, havia meses que ninguém aparecia por ali. Asia não chegou a ver a casa por dentro, ficou em silêncio, quieta esperando na calçada. Da garagem, Andrey retirou o carro de Reinis, levando-o para a rua a fim de prosseguir com a viagem. Como Andrey estava sem condições de guiar devido a seu estado de sono, quem dirigiu o veículo foi Rainer.

      Deixaram a cidade e seguiram por uma estrada, por bastante tempo. Asia lembrou-se de que havia nascido e morado naquele estado quando era pequena, e essas lembranças tomavam conta de sua mente, enquanto ouvia Slauka ao seu lado, ora falando, ora cantarolando; Slauka estava simpática até com Rainer, que dirigia em absoluto silêncio. Asia não conhecia Rainer muito bem, mas notou a mudança em seu comportamento, que era cheio de conversas irônicas sobre tudo; Rainer mantinha-se calado observando a estrada, sério e compenetrado. Asia imaginou que, apesar de colaborar com Andrey, Rainer não devia estar aprovando nem o segredo feito em torno do casamento deles, nem a urgência com que tudo estava sendo feito.

      A viagem seguiu sinuosa e ganhando altura. Depois de passarem por um trecho cheio de curvas, saíram da estrada principal e seguiram através da neblina por uma estrada de terra. De quando em quando, avistavam placas que eram iluminadas pelos faróis do carro, que diziam: "Propriedade particular". Asia observou com apreensiva atenção todo o caminho que faziam, principalmente quando Rainer parou o carro diante de um enorme portão de tela de metal, que fez Asia lembrar-se de fotos dos campos de concentração da Segunda Guerra Mundial.

      Próximo ao portão havia uma pequena e antiga casa de alvenaria e tijolos expostos, cujas janelas estavam iluminadas, indicando que estava habitada. Rainer permaneceu estacionado diante do portão fechado, aguardando com o motor do carro ligado, enquanto esperava um senhor que deixou a casa e se dirigiu rapidamente para a portaria a fim de abrir passagem para eles.

      Ao lado do portão havia um poste de luz. No topo do poste, uma haste metálica sustentava uma lâmpada que pendia presa a um suporte em forma de prato largo; a neblina, que abraçava tudo em volta deles, era iluminada em torno da lâmpada criando um clarão redondo sem bordas definidas. A luz do poste era a única iluminação externa e insidia diretamente sobre o portão, mas permitiu a Asia ver o senhor se apressar diante deles. Assim que liberou a passagem e eles lentamente entravam com o carro, o senhor, que não era humano, se afastou para o lado. Ele abraçava o casaco contra o próprio corpo tentando se proteger do frio, e cumprimentou Rainer com um leve sorriso e aceno com a cabeça, não fazendo nenhuma pergunta sobre o destino deles.

      - Você acabou vindo aqui de qualquer maneira. - comentou Slauka interrompendo os pensamentos distraídos de Asia. Estavam chegando à colônia deles. - Eu só estive aqui uma vez, quando Vladímir estava longe, e não fiquei muito tempo.

      Seguiram pela pequena estrada, agora asfaltada e em terreno ascendente, sem que Asia pudesse enxergar direito o que os rodeava:

      - O que tem em torno da estrada? - perguntou ela.

      - A estrada está, desde o início, dentro das terras de todos eles - Andrey, sentado no banco do passageiro e ao lado de Rainer, fez sinal com a mão, mostrando pela janela fechada do carro a paisagem escura e coberta pela neblina em torno da estrada por onde o carro passava. - Ao redor de onde estamos há criação de animais e cultivo de diversos produtos que os sustentam. A estrada que percorremos até aqui pertence a eles, são terras particulares.

      Aos poucos, Asia percebeu que chegava à cidade Nemtsi. Não era o que ela esperava, não havia muros ou cercas isolando o lugar. A pequena estrada que eles pegaram saindo da estrada principal se fundia à avenida principal da pequena cidade que se situava na parte mais elevada de toda a região. Um terreno acidentado com lojas e casas que se incrustavam entre grandes pedras e pinheiros, mas que não se diferenciavam de outras daquela região do país. Casas feitas em madeira ou alvenaria seguindo a mesma tendência arquitetônica trazida pelos imigrantes que povoaram aquela região e davam àquela cidade um aspecto de cidade turística. Se pessoas comuns chegassem até ali, achariam a cidade bonita e não notariam nada de estranho.

      Ela pôde ver algumas pessoas caminhando pelas calçadas e tentou ver se Marta estava entre elas. As roupas dos habitantes não se pareciam com as usadas na atualidade, era uma mistura de qualquer coisa sem época definida e isso chamava a atenção.

      - A maioria dos Nemtsi mora em casas dentro das terras em torno desse vilarejo. - comentou Andrey ao perceber Asia atenta, olhando pela janela. - Ninguém das redondezas costuma vir aqui, mas, se por acaso, um humano visitá-los, não notará nada de estranho. Esse centro comercial é necessário para a vida deles, é bastante moderno e diversificado.

     Asia o observou seriamente, para ela, a maneira deles se vestirem seria questionada por qualquer um, mas talvez isso não fosse tão importante ao ponto de preocupá-los. Enquanto o carro cruzava a avenida cercada de lojas e casas, Asia avaliava tudo o que via: havia certo encanto ali, concluiu que não deveria ser tão ruim viver em um lugar onde não precisava se vigiar constantemente. Viver entre os seus parecia agradável a ela: "Como Marta disse, a vida na colônia deve ser tranquila e segura. Daina também disse qualquer coisa neste sentido.". Olhando assim, através dos vidros do carro, ela podia imaginar como seria a vida daquelas pessoas: "Eles são tantos! Parecem tão felizes e quando querem, podem viajar.". Ela passou a imaginar como poderia ser sua vida ali, sem precisar fingir ser outra coisa, podendo ser aberta para muitas amizades. "Ser aceita naturalmente sem precisar me preocupar, deve ser realmente bom, poderia viver aqui se Andrey aceitasse, Mas Slauka não pode." Lembrou-se dela e virou o rosto para olhá-la. Slauka, sentada a seu lado, mantinha o rosto voltado para fora e também observava a cidade. "Ela e Lars não podem vir e não podemos nos dispersar e deixá-los sozinhos."

      O carro seguiu adiante após passarem pelo fim da cidadezinha e parou em frente a uma pequena construção um pouco mais afastada e que lembrava uma arquitetura oriental. Asia percebeu que havia chegado ao local onde seria seu casamento e, de repente, foi tomada pelo medo angustiante e infundado de que Vladímir poderia aparecer a qualquer momento e encontrá-los ali, sorrateiramente armando um casamento secreto. Era a colônia dele e ele poderia ter voltado para lá. Nesse momento, Asia imaginou que ele poderia descobrir tudo e, por alguma razão, vir impedir seu casamento.

      Desceram do carro e os pensamentos preocupados de Asia foram interrompidos por Andrey:

      - Ainda é o rapaz novo que está aqui, não teremos problemas.

      Andrey caminhou à frente de todos. Foi o primeiro a subir os degraus da escadaria e chegar à porta de entrada do prédio, e Slauka o seguiu. Rainer, alguns instantes antes de pisar no primeiro degrau, segurou o braço de Asia que já se lançava escada acima, temerosa com suas recentes suspeitas.

      - O que foi? - perguntou Asia surpresa, posicionada alguns degraus acima dele, e deixando um sorriso amplo atravessar seu rosto ao olhar para Rainer, antes de voltar os olhos para o espaço que os cercava, checando a presença de mais alguém.

      - É que... Você... - Ele começou a dizer algo, mas desistiu - Não é nada - respondeu, observando o largo sorriso de Asia e sua exploração preocupada antes de olhar para ele novamente e sorrir. - Amanhã, seremos placas de tiro ao alvo, mas se você está feliz, é o que importa. - Ao verificar o quanto ela estava feliz, e não sendo capaz de expressar seus receios nem de contrariar Andrey, Rainer soltou o braço dela e a deixou subir.

      Assim que entrou no prédio, Asia pôde ver o sacerdote em pé, no centro do primeiro recinto, que era razoavelmente simples forrado com tapetes e com algumas lanças e espadas expostas na parede:

      - Boa noite! Você deve ser Ondrej, não? - disse o sacerdote sorrindo e dirigindo-se duvidosamente a Andrey, com forte sotaque, indicando à Asia que a expressão "rapaz novo" não indicava só a idade: o sacerdote mal devia falar português. - Desculpe-me, não conheço todos por aqui, ainda, mas já estou me adaptando bastante bem. Vamos prosseguir?

      O sacerdote indicou que todos o acompanhassem até a segunda sala. Asia percebeu que Andrey havia marcado a cerimônia com antecedência, pois o rapaz os estava esperando. A sala maior a fez lembrar-se de seus estudos sobre Idade Média e de seus sonhos recentes. A sala era circular, com pequenas janelas no alto de sua circunferência e um teto abobadado onde, no topo, havia um buraco redondo fechado com vidro. Não havia nada lá que pertencesse ao cristianismo, ou qualquer outra religião que conhecesse, mas as armas expostas na primeira sala, as tapeçarias das paredes, as hastes com bandeiras representando brasões de antigas famílias, os tapetes pelo chão e um altar com castiçais e velas acesas a fez pensar que, de alguma forma, havia influência da cultura humana ali, também. Os Nemtsi não eram tão distantes dos humanos, afinal.

      Foi uma cerimônia simples, tranquila e com belos dizeres; era muito parecida com a que Slauka havia ensinado à tarde e que seria feita depois, sem o sacerdote, entre as chamas das velas para se colocar as alianças. Durante a cerimônia, o sacerdote dirigia-se mais à Asia, demonstrando o respeito e a importância reservados a ela. Com suas mãos presas às de Andrey, ouvindo as belas palavras do sacerdote, Asia tinha ciência de que se tratava de seu casamento, mas diante daquele cenário medieval e de ter que colocar suas mãos entre as mãos de Andrey, não podia deixar de pensar em feudalismo e vassalagem.

      Na cerimônia, Slauka e Rainer eram as testemunhas necessárias. Formavam um estranho par, com Slauka usando sapatos altos, tendo, pelo menos, um palmo de altura a mais que Rainer e se colocando ao seu lado totalmente indiferente a ele. Asia até entendeu a escolha de Slauka, mas não entendia o que Rainer fazia ali. Para ela, Lars e Volker seriam as escolhas mais prováveis.

      O sacerdote entregou de volta para Andrey as alianças, que durante a cerimônia permaneceram sobre a mesa, próximo às velas, e ele as guardou no bolso da calça; em seguida, assinaram em um livro seus nomes de solteiros: ele assinou Ondrej Zigajevs e ela Johanna Berard. Andrey, logo depois, deu um beijo em Asia, e ambos receberam um abraço de Slauka e de Rainer.

      Despediram-se do amável sacerdote, e no caminho até o carro, Andrey disse à Asia:

      - Preciso te levar para casa, primeiro, prometi uma coisa a Daina. Depois, podemos ir para o seu apartamento para fazer as malas e seguir viagem. Poderíamos ir a Bariloche, não é muito longe e estamos na temporada de esqui. Gostaria? - Andrey olhou para Asia sorrindo e balançando seu ombro, já que ela estava tão séria abraçada a ele. Asia acenou positivamente com a cabeça, mas permaneceu calada e pensativa.

      O trajeto de volta foi silencioso, Asia, com a cabeça apoiada no braço de Andrey, imaginou que todos estavam cansados, por isso, ninguém dizia nada. De fato, no avião, retornando a São Paulo, Slauka adormeceu com a cabeça caindo sobre Rainer. Ele, que estava surpreendentemente sério, acomodou-a melhor sobre si, deixando-a dormir sossegada, enquanto acariciava seus cabelos como todos faziam.


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