Epílogo - Em algum lugar no passado
#BruxinhoFofinho
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A noite era silenciosa naquele lado do vilarejo, mas Dimitri mal piscava encarando o breu da sua cabana. Seu corpo suava e ele tentava respirar mais calmamente para escutar qualquer som do lado de fora, mas tudo o que ouvia era o cantar dos grilos e o nervosismo ampliava-no. Podia jurar que havia dezenas deles rodeando a sua cama.
Ansiava por aquele silêncio, mas os uivos eram esperados, assim como o ranger de dentes e a correria insana de uma alcateia. Já ouviu aquele som antes e não queria ouvir novamente, mas uma guerra estava em iminência e Dimitri queria fazer mais do que ficar sentado esperando. No entanto, para que os seus serviços fossem requisitados, alguém deveria estar doente ou gravemente ferido. Ninguém procurava por um curandeiro sem necessidade.
Era um ômega que possuía as mãos verdes. Tudo o que tocava florescia, sua cabana tinha trepadeiras nas janelas, seu jardim era repleto de árvores frutíferas e a grama do seu pasto nunca se secava. Usava os segredos das plantas para curar, sabia o que acalmava e o que limpava feridas, o que podia ser ingerido e o que servia apenas para seus unguentos.
Caiu no sono sem perceber, repetindo os versos para a Lua, mesmo que não conseguisse vê-la, escondido nos cobertores em sua cama.
Grande Lua Cheia, atenda os pedidos do seu devoto
E proteja aquele que me deu a vida e me ensinou tudo o que sei
Não peço muita coisa, somente que ele volte para nossa casa e preencha o espaço com o seu aroma de acácias
Santa Lua, sei que meus pedidos se repetem, mas a guerra não me resta escolhas a não ser pedir pela vida do meu pai
Grande guerreiro que dá a vida em nome da nossa alcateia, lutando para que o nosso sangue não se perca na morte.
E acordou assustado ao sentir o focinho gelado do seu pai farejando-o ao chegar da vigília noturna. O grande lobo marrom avermelhado saiu do quarto e quando Dimitri levantou-se, agradeceu à Lua por mais um dia que ele retornava para casa. Na cozinha, Tarcísio já estava com um grande manto de pele sobre os ombros, cobrindo a sua nudez.
— Como foi a noite? — Dimitri perguntou, puxando a túnica caída pelos ombros para cima.
Tarcísio suspirou, mordiscando um pedaço de pão feito na manhã anterior. Dimitri sentou-se à mesa, pois sabia que o pai pensava nas melhores palavras para responder-lhe, olhando demasiadamente para os utensílios dispostos nas prateleiras.
— O senhor pode me contar, não sou mais uma criança — reclamou.
— Gostaria que ainda fosse, seria mais fácil lhe esconder a verdade. — Encarou o filho nos olhos, reunindo coragem para tratá-lo como o adulto que era. — Recebemos um comunicado da Alcateia Setentrional, nos informando que eles foram atacados e que agora respodem somente à Alcateia Lua Vermelha. Eles estão tomando todos os vilarejos próximos e não vão demorar até chegar aqui.
— Não gosto dessa alcateia, eles fazem coisas terríveis com os ômegas — respondeu, com um nó pulsante na garganta.
— É por isso que vamos lutar. Os guerreiros da Lua Cheia, alcateia logo ao lado, irão se juntar ao nosso exército para juntos resistirmos. Eles chegam hoje com alguns guerreiros da Setentrional que conseguiram fugir. — Tarcísio levantou-se, colocando a cadeira no lugar. — Vou descansar um pouco para recebê-los mais tarde.
Dimitri assistiu o pai desaparecer da cozinha e só então, deixou que uma lágrima escorresse pelos olhos, pois sabia que todo aquele empenho em proteger o povoado era para que ninguém mais sofresse com a perda de um ente querido, como aconteceu com a sua mãe, arqueira do exército da matilha.
Pegou o pedaço do pão que Tarcísio começara a comer, a receita era a de Celeste, mas o sabor nunca fora o mesmo desde que ela partiu. Dimitri queria ter tido tempo para perguntar a ela se havia algum ingrediente secreto, ou se o que lhe faltava era saber usar o forno corretamente, mas era novo demais quando ela partiu, novo demais para saber fazer as perguntas certas.
Era fim de tarde quando Dimitri e Tarcísio montaram em seus cavalos e seguiram em direção ao centro da pequena cidade. Outros lobos mais jovens passavam por eles correndo, suas pelagens transformavam-se em borrões e desapareciam no horizonte, mas Dimitri gostava de acompanhar o pai em seu descanso, transformar-se em lobo estava tornando-se cansativo para ele. E era na forma humana que o jovem gostava de sentir o vento no rosto, os fios negros do seu cabelo voavam e com eles era deixado para trás um rastro da sua essência de ameixas negras.
Cavalgando lentamente, passaram pelas ruas movimentadas e seguiram rumo à fronteira, onde abria-se uma clareira na floresta que deixava a luz de fim de tarde passar entre as árvores. E assim, entre os troncos antigos da mata, Dimitri viu o primeiro lobo da alcateia longínqua surgir em seu território, um atrás do outro, em diferentes cores de pelagem.
Queria ter sentido paz em seu coração, mas quando perdeu as contas de quantos estavam ali enfileirados na clareira, Dimitri percebeu o tamanho da guerra que estava por vir e os seus olhos encheram-se de lágrimas.
— Pai... — sussurrou, em um fio de voz. — Quantos morreram?
— O triplo disso.
Dimitri desceu do cavalo e olhava para todos aqueles lobos, respirando com dificuldade ao imaginar tudo o que deixaram para trás. Aqueles que permaneceram na alcateia Lua Cheia esperavam pela sua volta, mas não sabiam se aquilo seria possível. Alguns estavam feridos e eram carregados, outros tinham a pata enfaixada e alguns cortes no rosto. Chegou perto de um deles e não resistiu em acariciar o pelo logo acima dos olhos, sentindo o polegar úmido com o sangue de uma ferida não cicatrizada.
— Nós vamos cuidar disso, tá bom?
O lobo esfregou o rosto contra a sua mão, arrancando-lhe um sorriso terno. Dimitri ainda tinha esperanças de que tudo ficaria bem e aquilo parecia chamar atenção de quem possuía olhos atentos. Quando ergueu o rosto, viu que alguém o observava: um grande lobo marrom com olhos gentis demais para um guerreiro do exército.
A essência de sândalo atingiu as suas narinas e esquecer-se de respirar fora inevitável, pois era como se precisasse embriagar-se com aquele cheiro, deixá-lo dentro de si para se fazer lembrar. Só ousou piscar quando o chefe do exército da sua matilha impostou a voz para dar as boas-vindas e direcioná-los às cabanas de palha construídas para eles.
Dimitri montou em seu cavalo, indo na frente junto aos outros curandeiros para melhor se preparar para receber os feridos, que chegaram aos tropeços, deixando a forma lupina assim que estavam suficientemente perto das macas. Logo, cobertores os cobriram, batidas de folhas sendo esmagadas começaram a ser ouvidas e baldes d'água chegavam para apaziguar a febre causada por infecções.
O ômega era ágil no seu trabalho, fazendo curativos com os unguentos e raspagens de feridas com a mão leve, sem nunca deixar de ouvir gritos e de oferecer um lençol para que pudessem morder. Algumas horas se passaram e pouca conversa foi trocada com os outros curandeiros. Quando todas as macas estavam ocupadas e todos os visitantes igualmente tratados, Dimitri lavou as mãos, esfregando debaixo das unhas em uma bacia de cerâmica do lado de fora do acampamento.
— Volto daqui a pouco — avisou, para os seus pacientes, que resmungaram qualquer coisa antes de voltarem a dormir.
De braços dados com Eleanor, uma ômega de cabelo cor de fogo, Dimitri andou até a concentração principal, avistando o seu pai conversar com alguns guerreiros enquanto tomava cerveja em uma taça de prata.
— Ah! Esse é o meu filho, Dimitri — Tarcísio o anunciou, enlaçando os seus ombros. — Ele é um dos curandeiros da alcateia. Não tem apenas os dedos verdes, mas as mãos inteiras.
Dimitri sorriu sem graça e olhou para baixo, pegando na mão de seu pai para encontrar conforto. Não era muito tímido, mas não gostava de ser o centro das atenções em uma roda repleta de alfas.
— Como está a situação dos feridos?
— Vão se recuperar, não há ninguém em estado grave. — Sorriu mais uma vez e cumprimentou a todos com a cabeça, retirando-se dali e reencontrando-se com Eleanor, que era muito boa em desaparecer em situações como aquela.
Ficou ao lado dela, observando os membros mais novos da alcateia na preparação da tinta para marcar os recém-chegados. Aquele era um costume antigo do Sul, no qual os recém-nascidos ficavam com a testa marcada de vermelho durante todo o primeiro mês de vida, até que a apresentação para a Lua fosse feita e eles fossem reconhecidos como lobos daquela alcateia, uma estratégia dos sacerdotes para marcarem aqueles que ainda os aguardavam na apresentação, mas que acabou virando um costume. O que acontecia naquele momento, era uma grande brincadeira com os recém-chegados, que tinham as testas marcadas e brincavam de serem bebês.
Uma fila se formava ao redor deles, que tentavam criar algum laço com os ômegas e alfas da região, pois uma amizade sincera, ou até mesmo um romance, era essencial para suportar os dias duros que viriam pela frente.
Dimitri entrou na brincadeira e passou o indicador na pasta vermelha, deixando apenas um rastro na testa dos que apareciam e até conseguia gargalhar junto aos outros, mas foi só o aroma de sândalo surgir entre aquele grupo para o seu coração bater mais forte e ele procurar pelos olhos gentis que o fitaram mais cedo. Pegou-se imaginando como seria a sua forma humana, se os fios de cabelo teriam a mesma cor da pelagem do seu lobo.
Quando o cheiro ficou cada vez mais forte, Dimitri perguntou-se se o alfa fazia de propósito, se ele queria chamar a atenção de todos, ou se era só ele que achava o cheiro absurdamente atraente. E assim que ele apareceu diante dos seus olhos, Dimitri percebeu que de atraente não era só o cheiro. Ele estava ali, paradinho, com um sorriso animado nos lábios rosados, esperando pela sua marca.
Visto que o ômega congelou, o alfa tratou de abaixar-se, achando que o problema era a sua altura, impedindo-o de alcançar a sua testa. E com aqueles olhos imensos fitando os seus, Dimitri desejou que não houvesse tinta em seus dedos para sentir de fato o toque da pele dele.
— Tem alguma diferença nas marcas com o passar dos anos? — ele perguntou, mostrando a voz igualmente gentil.
O que era uma tremenda quebra de expectativas, no bom sentido. Porque o corpo do alfa era forte e grande, no entanto, a pele era cheirosa e de aparência leitosa, o cabelo dele estava úmido do banho recém tomado e os traços do rosto eram angelicais. Nem mesmo o nariz mais protuberante parecia errado naquela composição. Seu lobo estava profundamente atraído e não conseguia mais negar isso.
— Não... é só essa mesmo — Dimitri respondeu, finalmente passando o indicador na testa do alfa. — Mas se quiser, eu faço uma diferente para você. — Sorriu travesso, passando a tinta calmamente nas bochechas, queixo e nariz, vendo o sorriso de dentes tortinhos e charmosos.
O alfa sorriu soprado, revelando o cheiro do seu hálito e Dimitri sentiu-se, mais uma vez, inebriado, dando um passo involuntário para frente. O alfa não se afastou, muito pelo contrário, seus olhos ficaram mais escuros e sem perceber, fitou os lábios carnudos do ômega.
— Qual é o seu nome, curandeiro?
— Dimitri. — Sorriu docemente ao ser chamado de curandeiro. — Dimitri Valero e o seu?
— Ulysses Agassi, ao seu dispor. — Pegou a mão manchada de tinta de Dimitri e deixou um beijo no dorso dele enquanto não deixava de olhar em seus olhos.
Dimitri mordeu os lábios, tentando conter um sorriso e Ulysses se afastou, não se preocupando em mostrar os dentes. Eleanor o cutucou, sorrindo sapeca ao observar a cena e o ômega apenas negou com a cabeça, voltando a marcar mais um visitante que apareceu de repente, completamente alheio ao momento.
A noite se seguiu conforme as festas que normalmente aconteciam na matilha, nem parecia que os convidados estavam ali para iniciarem um treinamento militar. O que, na verdade, eles tentavam esquecer, pois viverem mergulhados em suas preocupações não o ajudariam a enxergar as coisas com mais clareza e eles ainda tinham tempo, a matilha da Lua Vermelha ainda se recuperava da invasão anterior. Fontes seguras disseram que eles sofreram uma grande baixa no exército e fazer com que os invadidos os defendessem levava algum tempo.
Música ecoava de algum canto, a banda tentava animar os ânimos dos guerreiros, que bebiam cerveja com as suas testas marcadas de vermelho e arriscavam chamar algum ômega para iniciarem uma dança. Dimitri batia o pé no ritmo da música, sorrindo satisfeito observando a forma majestosa com que os outros dançavam, alguns realmente pareciam ter o dom de movimentar o corpo, como se a música fizesse parte deles.
A lua bem cheia diz que o amor vem vindo
Sem demora, sem demora, sem demora
Logo, logo estarás construindo a própria cabana para viver com seus filhotes
Lobos e mais lobos encherão as novas terras com seus aromas
Sendo bons alfas para a sua prole
Sendo bons alfas para os seus ômegas
Dando orgulho às suas alcateias
Sem demora, sem demora, sem demora
Jimin cantava batendo palmas no ritmo, rindo com Eleanor ao lado, movendo os quadris para fazer a saia balançar e esperando que um bom alfa aparecesse e a lavasse para perto de onde os outros dançavam.
— Será que aquele tal de Ulysses vai te tirar para dançar? — Provocou o amigo, cutucando-o com o cotovelo.
— Bom, eu terei de recusar, pois sou péssimo dançando — Dimitri respondeu, olhando discretamente ao redor e encontrando-o conversando em uma roda de alfas.
— Talvez uma dança mais lenta, quem sabe.
— Em danças lentas precisamos ficar muito grudados.
— E você não quer? Estava quase em cima do menino. — Eleanor riu, tapando a boca com a mão.
— O cheiro dele muito me agrada. — Dimitri deu de ombros, não levando a sério a provocação da amiga.
— Ah é? Eu não consegui sentir e olha que eu estava ao seu lado. Sabe o que isso quer dizer?
— Não.
— Atração mútua. Ele isolou a essência em sua direção e você foi fisgado. — A fala de Eleanor fez Dimitri franzir o cenho, perguntando-se se ele conseguiu sentir o seu aroma de ameixas negras e se estava igualmente encantado.
— Enfim, eu vou dar uma olhada nos meus pacientes.
Dimitri deixou a amiga à espera de algum alfa e seguiu em direção as cabanas mais afastadas e silenciosas, cruzando toda a festa. A noite era fresca, mas assim que pisou no acampamento, sentiu como o lugar estava quente e abafado. Checou a temperatura de todos os feridos e serviu água para aqueles que tinham sede, respondeu algumas perguntas como, que horas eram e onde estavam e sorriu com os agradecimentos que recebeu.
Saiu da cabana de palha e pretendia voltar para a festa, mas Ulysses entrou em seu caminho, tentando esquivar-se dos galhos mais baixos das árvores.
— Oi — ele disse, com aquele sorriso que Dimitri começou a odiar só porque o afetava tanto.
— Oi — respondeu, sem jeito e nervoso. Não queria ficar sozinho com o alfa logo na primeira noite que se conheceram, não parecia certo e se sentia um pouco intimidado.
— Vi que estava vindo para cá e achei melhor acompanhá-lo. Já está bem tarde e o acampamento não é tão perto do centro, mas acabei me perdendo. — Riu do próprio desastre, chegando somente quando Dimitri já estava indo embora.
— Caro alfa, sinto que em minhas terras você estará mais seguro comigo do que eu com você. — Relaxou um pouco, visto que Ulysses tinha boas intenções. Começou a andar de volta à festa, sentindo-o em seu encalço.
— Então, isso quer dizer que o melhor para mim é ficar perto de você? — Apertou os lábios, nervoso com a investida e ansioso pela resposta.
Dimitri olhou para trás e sorriu, negando com a cabeça.
— Bom, se você quiser conhecer o vilarejo, eu posso apresentá-lo.
Ulysses ficou feliz do ômega voltar a manter os olhos atentos no caminho escuro, pois o sorriso que foi pintado em seus lábios era vergonhoso de tão bobo.
— Eu vou querer, sim, mas quero deixar claro que pouco me importa as belas paisagens que o seu vilarejo possa ter, estou mais interessado em sua companhia.
A música ficava mais alta a cada passo, mas Dimitri acabou estancando no chão sem querer. Olhou para trás e quis morrer ao ver Ulysses jogando a cabeça para o lado, atento as suas reações.
— E o que eu fiz para despertar tamanho desejo?
Ulysses poderia citar o aroma marcante de ameixas negras, o cabelo escuro como a noite, ou os lábios carnudos que muito o apeteciam, mas apesar de tudo aquilo, Dimitri conseguia transmitir paz em tempos de guerra e acolhimento quando todos ao redor tentavam salvar a própria vida. Dimitri mostrava que era possível cuidar, seu lado humano falava mais alto do que o animalesco dos lobos e Ulysses gostava disso.
— Sinto que algumas pessoas foram feitas para se encontrar. E eu sinto isso em relação a você.
— Isso quer dizer que, se não fosse pela guerra, esse encontro não existiria?
— De vez em quando, surge algo bom em meio a lástima — Ulysses disse, vendo Dimitri ponderar e voltar a andar.
Ele não sabia o que pensar sobre aquilo, pois parecia uma grande responsabilidade para carregar logo no primeiro dia que se conheceram. Também não queria ser visto como uma florzinha em meio aos escombros, mas pensar demais era colocar muita importância em algo que poderia não dar em nada. Por isso, quando a música finalmente preencheu os seus ouvidos, Dimitri aceitou dançar com Ulysses.
E aquela vontade de sentir o toque da pele dele logo foi suprida, pois as mãos desencontravam-se para baterem palmas, mas logo uniam-se novamente na coreografia. E pela primeira vez, Dimitri não se importou se dançava bem ou não de tão perdido que estava nos olhos de Ulysses. Enxergava-se no reflexo das íris, vendo o crepitar do fogo das tochas ao redor, sem saber se era a si mesmo que queimava, ou se era Ulysses que emanava calor.
Trocaram sorrisos durante a dança e pararam para comer alguma coisa, tudo sobre os olhos atentos de Tarcísio, que perguntava aos outros guerreiros sobre a índole de Ulysses. Como não ouviu nada de ruim, apenas elogios, deixou que ele acompanhasse Dimitri até em casa.
— Não precisa ir comigo. É um pouco longe daqui e eu estou realmente cansado para ir andando — Dimitri disse, puxando o cavalo pela rédea, com os olhos já pesados, pois a lua estava a pino, indicando que já era meia-noite e ele mal havia dormido na noite anterior.
— Mas você não precisa ir andando só porque eu não tenho um cavalo — Ulysses respondeu, desamarrando a túnica longa que vestia e Dimitri montou o cavalo com o coração disparado depois de ver, por meros segundos, o peitoral do alfa.
Sem pensar direito, fez o cavalo andar a galope pela trilha e sem demora, o lobo marrom estava correndo ao seu lado, fazendo da floresta apenas um vulto e da lua, espectadora de um amor que nascia.
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Alguns dias se passaram sem se encontrarem. Os treinamentos começaram no dia seguinte e Dimitri tinha muitos feridos para cuidar. Ainda dormia pouco devido a preocupação com o pai na vigília e sempre que Tarcísio estava em casa, Dimitri desabava no colchão do seu quarto e sonhava com as mãos de Ulysses sobre as suas, do cheiro de sândalo ainda mais amadeirado que o seu lobo tinha e no focinho gelado que encostou em seus rosto antes de partir na primeira noite que se viram.
Observava a movimentação dos guerreiros na cidade e procurava por ele, tentando disfarçar a sua agonia. Queria perguntar para Tarcísio como Ulysses estava, mas não queria dar brecha para possíveis comentários constrangedores da parte dele, então, só deixou que os dias se passassem e que os feridos se recuperassem, deixando aquela parte do acampamento cada vez mais vazia.
Fazia anotações no caderno dos curandeiros, contabilizando o que tinham, desde folhas mais raras em conserva, até aqueles que receberam alta. O clima era mais quente ali dentro e por isso estava sozinho, quem ainda precisava de cuidados caminhava lá fora, aspirando o ar fresco da floresta. E o cheiro de Ulysses chegou antes do seu corpo, deixando Dimitri paralisado com a caneta em mãos, olhando para a porta esperando a sua chegada.
— Curandeiro Dimitri? — Ele apareceu, como se não se conhecessem e alguém tivesse lhe dito o seu nome. — Preciso da sua ajuda.
— Você se machucou? — Em um sobressalto, Dimitri estava ao seu lado, mas Ulysses logo tratou de mostrar-lhe o antebraço vermelho, irritado por ter arrastado a pele no tronco de uma árvore. — É só isso?
— Eu estou gravemente ferido!
As risadas de Ulysses fizeram o seu rosto esquentar, envergonhado com o seu desespero, exibindo uma preocupação que não era necessária. Não queria mostrar que se importava tanto, mas era difícil quando aqueles olhos gentis caíam sobre si pedindo por atenção.
— Eu precisava de uma desculpa para te ver.
— Por isso não me procurou por todos esses dias? — Dimitri chegou mais perto, inclinando a cabeça para o lado e pegando no braço do alfa, notando que pequenos pedaços de pele se levantaram. Aquilo era um arranhão, mas não era nada profundo. — Você não se machucou de propósito, não é?
— Não, foi um acidente besta, então resolvi vir aqui. — Ulysses abaixou-se e sussurrou na altura da boca de Dimitri, para que ninguém mais pudesse escutar o seu segredo. — Ver o melhor curandeiro desta alcateia.
Dimitri não sabia o que encarar enquanto tinha o rosto dele tão perto: a boca com os lábios rosados pareciam tão macios e os olhos dele fitavam os seus, parecendo pender sobre um abismo que gostaria muito de pular. Dimitri deveria ter rido com a fala, mas ficou ali, sentindo o braço dele em suas mãos e o hálito embriagá-lo de pura vontade.
— Você não precisa criar desculpas para me ver. Eu estava mesmo te esperando. — Pigarreou, voltando para dentro da cabana, procurando por uma faca e uma das plantas colhidas naquela manhã.
— Hmmm, você está mesmo me devendo um passeio pelo vilarejo. — Ficou observando-o cortar um pedaço de aloe vera e retirar-lhe a casca, enfiando o restante em um jarro d'água.
— Pois é, achei que tivesse feito desfeita da minha ideia.
— Jamais negaria a sua presença, Dimitri.
O ômega sentou-se de frente para o alfa, com o coração batendo forte ao ser chamado pelo nome. Não sabia o motivo, mas o jeito que Ulysses o chamava causava-no um furacão de emoções. Estendeu o braço dele na mesa e passou a aloe vera sobre a irritação, acabando por segurar a mão perto do seu corpo, pois Ulysses puxara os seus dedos para encaixarem-se nos seus.
— Dói? Arde?
— Um pouco... — Ulysses respondeu, e Dimitri levantou a aloe vera, encarando-o antes de continuar. — Mas não é o braço.
— Onde é?
— Aqui. — E apontou para o coração, fazendo-o rir e olhar para baixo, tímido.
— Dói ou arde?
— Arde, como se queimasse, mas isso só acontece quando você está por perto.
— Pare, está fazendo as minhas bochechas arderem. — Dimitri recusava-se a olhar para ele, muito focado em passar a aloe vera e sentir a palma macia de Ulysses segurando a sua mão.
— E não é bom?
— Devo admitir que sim. — Mordeu os lábios para conter o sorriso e apreciaram o silêncio que surgiu depois da conversa, como se o mundo inteiro coubesse naquele momento.
Passaram-se alguns minutos e Dimitri julgou ser o suficiente para acalmar o arranhão, a pele até parecia menos vermelha e Ulysses a olhou admirado.
— Uau, você é um bruxinho mesmo. — Imediatamente, pensou um pouco no que acabara de dizer, arregalando os olhos, logo tentando consertar. — No bom sentido, é claro. Porque isso aqui foi realmente mágico.
— Tudo bem, é só não me chamar assim por aí. Estou tentando evitar a fogueira. — Arqueou as sobrancelhas, indo em direção a porta da cabana, repudiando mentalmente os lobos que não eram tão conectados a mitologia lupina e faziam coisas horríveis com os outros que acreditavam nos poderes da Lua e das plantas, como era o caso da Matilha Lua Vermelha.
— Certo, certo, então esse será o nosso segredo.
Dimitri sorriu, aspirando o ar fresco do lado de fora, sendo surpreendido pela boca de Ulysses em seu ouvido, sussurrando:
— Gratidão, bruxinho. Amanhã eu volto para cobrar o meu passeio. — E deu-lhe um beijo na bochecha, rápido demais na realidade, a lentidão do momento fora feita em suas memórias, repetindo-o sem parar.
O dia seguinte chegou e Dimitri não saiu de sua cabana, havia muitas coisas para fazer e o pai estaria de vigília naquela noite. O dia quente era propício para assar pão, a massa crescia rapidamente e ele até achava que conseguiria sentir Celeste por perto assim que o provasse, mas ela parecia cada vez mais longe. A cabana não tinha mais o cheiro de pêssego dela e olhar para as flores que cresciam em seu jardim, causava-no certa saudade, pois ela o explicava como cuidar de cada uma delas, mesmo que ainda não conseguisse guardar todas aquelas informações.
A tarde ainda era majestade do dia quando o vento trouxe o aroma de sândalo para dentro da cabana e o cheiro mais forte o dizia que Ulysses vinha na forma de lobo. Parado em frente a varanda, o grande lobo esperava pela presença de Dimitri, que caminhava lentamente em sua direção, com a túnica longa mostrando os seus ombros e metade do peitoral.
— Por que está em forma de lobo? — perguntou, retoricamente, sabendo que Ulysses não seria capaz de responder. — Você quer fazer o passeio assim? — O lobo bufou, balançando a cabeça. — Então eu também devo me transformar? — Riu com a animação alheia, como se adivinhasse a curiosidade dele em vê-lo transformado. — Então olhe para lá.
Dimitri jurou ver o lobo revirar os olhos, mas atendeu o seu pedido para que pudesse retirar a túnica e logo, saltar na frente de Ulysses, exibindo o seu lobo de pelagem preta e escuros olhos azuis. O alfa o acompanhava com facilidade, desbravando a mata densa ao redor, sentindo o vento não conseguir chegar em sua pele e a velocidade fazendo o coração palpitar forte.
Chegarem perto de uma campina e diminuíram os passos, o sol batia mais forte ali devido a ausência das árvores e não demorou para que Ulysses parasse de repente, encantado com a paisagem que surgia depois do precipício. Montanhas formavam moldura para um rio de águas claras e ao fundo, a floresta continuava, com pinheiros formando um muro verde.
Dimitri sentiu um sorriso brotando no peito e olhou para Ulysses, tomando um susto ao vê-lo na forma humana, agachado e com os olhos perdidos no horizonte. Engoliu em seco ao ver os braços descobertos, sem a túnica e sem a pelagem densa, apenas a pele dourada de mil sóis. Sem perceber, voltou a sua forma humana também, querendo vê-lo de mais perto, como se só aqueles olhos pudessem enxergar a sua completude.
— Gostou?
— De fato, é um vilarejo com muitas beldades — Ulysses respondeu, olhando para Dimitri. — Mas olhando para a sua pele, começo a sentir falta do meu.
— O que tem a minha pele?
— Se morasse lá, você nunca seria tão rosado assim. — Esticou o braço para tocá-lo, acariciando o ombro do ômega. — Moro do lado do oceano e você das montanhas. Em dias de paz, ficávamos na praia, brincando com os cachorros.
— Eu ainda vou conhecer o seu vilarejo, Ulysses. Tenha calma e um pouco de fé. — Sorriu, abraçando os joelhos, com a mão do alfa descendo para as suas costas, como se fosse impossível não tocá-lo e sentir a maciez da pele tão exposta.
Dimitri segurava seus suspiros, voltando a olhar para frente e nunca dando qualquer indício de que recusava os seus toques.
— Tem mais algum lugar que queira me mostrar?
— A cachoeira é legal, mas fica do outro lado.
— Vamos lá, então. — Ulysses começou a se levantar, mas Dimitri se apressou para ir na frente.
— Duvido que consiga me alcançar. — E começou a correr sobre as duas pernas, que logo transformaram-se em quatro e o cheiro de sândalo mais amadeirado invadiu as suas narinas. Seu lobo ficou em uma mistura de correr mais rápido e de diminuir a velocidade porque não queria ficar tão longe dele.
Sentia as gargalhadas ecoarem dentro do seu peito toda vez que Ulysses se aproximava, ficando tão colado a si que somente a expectativa de tocá-lo o fazia perder a velocidade.
Invadiram um campo de trigo, a paisagem agora era amarela e Dimitri era facilmente identificável. Com um pouco mais de esforço, Ulysses o atropelara e ficara por cima dele, rolando pelos corredores da plantação até pararem e os seus lobos terem ido embora.
Dimitri ria, abraçando-o, sentindo o ar que saía da boca de Ulysses em seu pescoço, perto demais da sua glândula de cheiro. O alfa estava por cima, entre as suas pernas. Ele apoiou-se nos braços e ficou olhando para o ômega, que se esquecera de que estavam em uma corrida e que a perdera, pois olhando daquele ângulo, não parecia que havia perdido coisa alguma.
Suas mãos deixaram a timidez de lado e serpentearam os braços do alfa, sentindo os músculos ondularem em suas palmas. Chegou em seu pescoço e sentiu os fios escorregando pelos dedos, bagunçando-os e sorrindo juntos. Dimitri o puxou para mais perto, dando um beijo em cada bochecha, resvalando o nariz no dele para chegar na testa e deixar um selo ali também, e fazendo o mesmo caminho de volta para deixar um beijo mais molhado no queixo do alfa, que arfou diretamente na boca de Dimitri, engolindo o hálito que há muito o embriagava e finalmente, deu fim à distância dos lábios que há muito se desejavam.
Ulysses sentia a pressão dos lábios carnudos contra os seus, apoiando os cotovelos na terra e grudando os abdomens. Dimitri arfou com a aproximação, sentindo a pele quente e macia contra a sua. Ulysses lambeu os lábios do ômega, os quais entreabriram-se para aprofundar o beijo, fazendo as línguas encontrarem-se em meio aos apertos das pernas e as mãos de Dimitri que agarravam os seus fios de cabelo.
E suavemente, saboreavam a boca um do outro, deixando que os corações se acalmassem e parassem de bater tão rápido. Em contrapartida, a entrada de Dimitri pulsava, exibindo a lascívia sentida com o encaixe do beijo, dos corpos entrelaçados e no cheiro de Ulysses que ficava cada vez mais forte.
O momento poderia durar uma eternidade e não perceberiam. Não era a primeira vez que ficavam tão perto de outro lobo, mas era a primeira vez que sentiam a paixão criar raízes e nunca um beijo foi tão gostoso em toda a sua vida.
Voltaram a rolar pelo chão e Dimitri ficou por cima, encaixando-se no quadril. Mancha minava da entrada, melando as coxas do alfa, que agarrou as suas com força e mordeu o seu lábio inferior, sentando-se com ele em seu colo.
Entreolharam-se dentro daquela névoa de aromas voluptuosos. Dimitri resvalou o nariz na bochecha do alfa e a mordeu levemente, sorrindo e olhando para o corpo dele, notando o peitoral forte, o abdomen que subia e descia devido a respiração, e as ereções entre eles, a falta de roupas escancarando o efeito dos beijos.
Dimitri não resistiu e passou a ponta dos dedos sobre a cabeça do pau do alfa, escorregando com facilidade devido ao pré-gozo perolado que a fazia brilhar e a sua boca salivar. Ulysses o olhava com as sobrancelhas franzidas, gemendo baixinho antes de beijá-lo com vontade e agarrar-lhe a bunda, sentindo os grão de terra nas palmas. Dimitri envolveu todo o pau e começou a masturbá-lo lentamente, numa velocidade quase torturante. E antes que o alfa pudesse fazer o mesmo consigo, um uníssono de uivos ecoou para além da floresta, puxando-os para fora daquele momento, enfim percebendo onde os seus aromas o levaram.
— O que é isso? — Dimitri perguntou, abraçando com força os ombros do alfa e olhando ao redor.
— Calma, bruxinho... — Ulysses beijou a sua clavícula, os olhos quase revirando-se ao estar tão perto da glândula de cheiro. — É só uma simulação, para treinarmos a chegada ao combate.
— Você precisa ir?
— Infelizmente, sim. Vamos, eu te deixo em casa.
Ajudou-no a se levantar e em suas formas de lobo, correram para a cabana de Dimitri e transformaram-se de volta só para se despedirem, abraçando-se assim que chegaram em frente a varanda de madeira.
— Fique aqui, tá bom? Eu te procuro no acampamento amanhã.
E beijaram-se novamente, acabando com o fôlego que restara da corrida e apertando-se no abraço para fazer a pele se lembrar, como se os seus poros tivessem memória do arrepio que o cheiro alheio causava.
Com resistência, afastaram-se e Ulysses voltou ao ser o lobo grande e marrom, sumindo trilha a fora em direção ao chamado dos uivos que ainda ecoavam.
Dimitri, enfim, se viu sozinho, pegou a túnica que havia jogado no chão e recolheu-se dentro da cabana, sabendo que a noite seria solitária. Dentro da banheira, seus olhos embaçaram-se por não focar em coisa alguma, o rosto apoiado no joelho enquanto repassava tudo o que aconteceu naquela tarde. A água morna já estava fria e os seus dedos enrugados, e nem todo o tempo que racionalizou os seus atos fizeram-no entender o porquê do beijo de Ulysses ser tão gostoso, porquê o hálito dele era tão delicioso e o gosto da boca ainda aparecia em lampejos de memória em sua boca.
De fato, viu-se viciado, querendo mais e mais da presença do alfa, de sentir a entrada pulsar com o desejo de tê-lo tocando ali e de ver os olhos dele tremularem com a vontade que o seu cheiro causava. Ainda sentia as pernas fracas quando saiu do banho e procurou algo para comer, ansioso para que o dia seguinte chegasse e Ulysses cumprisse a sua promessa.
Não dormiu bem como queria, apesar da presença do alfa constante em seus pensamentos facilitar um pouco, ainda acordou assustado durante a madrugada, imaginando ter ouvido algum uivo mais intenso para acordar todo o vilarejo, mas esse era apenas um de seus pequenos pesadelos quase que cotidianos.
Pegou o cavalo para ir até o acampamento, pois era o seu dia de ficar o dia inteiro cuidando dos pacientes. E mesmo que os bocejos fossem constantes, Dimitri conseguia distrair-se enquanto fazia chás, colhia ervas no jardim e até escrevia receitas antigas que já sumiram do livro que usavam. Algumas pessoas rasgavam as páginas ao invés de anotarem o que queriam em um papel a parte, deixando-o um pouco detonado.
— Se não fosse tão caro, eu compraria um caderno e começaria a revisar todo esse livro — disse, para Eleanor, que cortava tecidos ao seu lado para servirem de ataduras.
— Eu sei como fazer um — respondeu, no tom mais natural possível, chocando Dimitri como se aquilo não fosse nada.
— Oras, então faça um! — Dimitri começou a rir, negando com a cabeça ao que terminava de escrever.
— Você nunca pediu por um caderno novo antes. — Eleanor deu de ombros. — Dê-me uma semana, preciso reunir papel antigo. E eles precisam secar também.
— Tudo bem, eu espero.
Algumas pessoas do vilarejo apareciam por ali procurando ajuda, na maioria das vezes, eram ômegas em trabalho de parto e Dimitri perdera as contas de quantos recém-nascidos já passaram pelas suas mãos, mas daquela vez era apenas um senhor com a visão prejudicada, incomodado demais com farpas nos dedos.
E assim, o dia se passara sem que sofresse com a vontade de ver Ulysses, mas a noite ameaçava cair e Dimitri já iria embora com medo de que ele não aparecesse. E antes que perdesse as esperanças, ouviu um assovio do lado de fora e os grandes olhos gentis do alfa apareceram na mesma velocidade que sumiram acampamento adentro.
Dimitri fungou o ar para seguir o rastro do aroma de sândalo e sentado em um banco entre as árvores, estava Ulysses, pacientemente esperando-o. Quando o viu, esticou o braço, chamando-o fazendo um sinal com os dedos, pedindo para que o ômega chegasse mais perto e sentasse no seu colo.
— Achei que não viria mais... — choramingou, sendo puxado pela cintura e afogando-se em seu abraço. Poderia cair em sono profundo se tivesse um pouco daquele cheiro consigo.
— Desculpa, mas a culpa é do seu pai.
— Por quê? — Dimitri arregalou os olhos, encarando o alfa.
— Porque ele é um dos responsáveis pelo treinamento e está pegando bem pesado. Estou morto... Só quero o carinho do bruxinho. — Ronronou em seu pescoço, sentindo as mãos pequenas de Dimitri acariciarem o seu cabelo.
— E como foi a chegada ontem? — Cheirou-lhe a têmpora, logo farejando os resquícios de suor do couro cabeludo, como se precisasse saber cada nuance do cheiro do alfa.
— Não fui o primeiro a chegar, mas também não fui o último.
Ulysses afastou-se, olhando para Dimitri meio de longe antes de selar os lábios e sorrirem com as bocas tão perto uma da outra que não sobrava tempo, a saudade do beijo de ontem se fazia presente e não havia porquê adiá-lo ainda mais. As línguas encontraram-se lentamente, no encaixe conhecido e memorizado que já sabiam ser tão bom. Dimitri deixava suas palmas acolherem o calor da nuca de Ulysses, desenhando a linha dos ombros para afagar-lhe o peitoral, a ponta dos dedos ultrapassaram o tecido leve da túnica e gravou em suas digitais a textura da pele macia.
Não sabia o que fazer com aqueles beijos sempre incitando a sua mancha, fazendo Ulysses arfar, parar de beijá-lo e afundar o rosto em seu pescoço, enfiando a mão entre a fenda da túnica para agarrar-lhe a sua coxa e descontar o que sentia.
— Seu cheiro... — Ulysses sussurrou. — Você não faz ideia do que faz comigo.
Dimitri retomou o beijo, controlando o ritmo enquanto incentivava Ulysses a continuar subindo a mão, levando-a em direção a sua bunda para sentir o que o cheiro do alfa provocava em si. O coração de Ulysses batia acelerado, beijando-o de olhos abertos para checar se havia alguém por perto, os dedos já melados com a mancha escorrendo ainda mais devido a aproximação, pulsando sem parar em expectativa, da adrenalina de estarem daquela forma em um lugar reservado, mas que não havia qualquer impedimento de que surgisse alguém.
Por debaixo do tecido, Ulysses o tocou, arfando pesado com o quão molhado o ômega estava. Seus dedos não tardaram a massagear a entrada, provocando gemidos baixos dentro do seu ouvido. Sentia os dedos ficarem encharcados a medida que continuava, abraçando-o enquanto os olhos estavam atentos para além da linha dos ombros de Dimitri.
Quando escutaram um estalar de galhos, pararam de repente e o ômega ajeitou-se no colo do alfa, cruzado as pernas para esconder a ereção que queria saltar para fora da túnica. Riram, percebendo que era apenas uma lagartixa andando entre as folhas, xingando-a mentalmente porque não queriam parar.
— Vamos, te acompanho até em casa.
— Eu estou a cavalo — avisou, levantando-se, puxando o tecido da túnica grudada em sua bunda.
Ulysses deu de ombros, montando na cela atrás de Dimitri, apalpando o interior de suas coxas e deixando um beijo molhado em seu pescoço antes de pegarem o ritmo e galoparem mata adentro. A excitação durante o trajeto só aumentou, a postura em cima do cavalo fazia a sua bunda encaixar-se perfeitamente na virilha de Ulysses, sentindo o pau duro contra as suas costas.
Ao descerem do cavalo, Dimitri pegou em sua mão e o levou para dentro da cabana para darem fim ao desejo que os perseguiam. Sentado na cama, Ulysses viu o alfa entre as suas pernas, desamarrando a túnica que ainda o cobria. Assim que a pele foi descoberta, iluminada pelas velas, o alfa derreteu-se e beijou-lhe a barriga, começando pelo umbigo até circular a linha da penugem escura que o levava até a virilha. Olhou para cima, com a cintura dele em suas mãos, o cheiro de ameixas negras o deixava tonto de desejo e lambeu a lateral do abdomen, chupando a pele e deixando uma marca avermelhada, tentando descontar o tesão.
Lentamente, Dimitri virou-se de costas, sentindo os lábios do alfa nunca abandonarem a sua pele, beijando um dos lados da sua bunda com a língua, provando da pele lambuzada e, enfim, lambendo-lhe o meio, apertando com força a carne para expô-lo ainda mais, conseguindo penetrar a língua e chupar com tanto vigor que as pernas de Dimitri começaram a tremer, deixando que os gemidos ecoassem pelas paredes de madeira da cabana.
A língua fazia movimentos circulares na borda, sentindo a entrada pulsar bem na pontinha da língua. Dimitri inclinava-se para trás, tentando rebolar na cara do alfa, que seguia os seus movimentos, sentindo o gosto doce invadir-lhe por inteiro e até parecia que o alfa havia perdido completamente os sentidos quando o ômega tornou a virar-se de frente, sentando-se em seu colo e encaixando o seu pau na própria entrada, começando a cavalgar assim que acomodou-o inteiramente dentro de si.
O depois disso foram noites em que Ulysses dormia sem querer na cama de Dimitri e saía pela janela, deixando a túnica para trás e sumindo em sua forma de lobo. As noites que Tarcísio passava na vigília foram vividas em meio aos nós apertados e beijos na linha da coluna, observando a pele se arrepiar com o mínimo e ouvindo os gemidos quando oferecia-lhe tudo o que tinha no meio da madrugada.
Meses se passaram em meio aos preparativos para a futura batalha e tardes nadando na cachoeira eram interrompidas com os uivos em alerta, deixando um Dimitri sempre à espera. Mas não se sentia sozinho, pois Ulysses sempre cumpria as suas promessas de ir vê-lo no fim do dia, mesmo que dormisse deitado em seu peito, completamente exausto, ou quando aparecia em forma de lobo e ambos deitavam-se na varanda, Dimitri o abraçava, cheirando os pelos grossos e logo ouvia o lobo ronronar, satisfeito por ter voltado para os braços do ômega, sua nova casa, já que o seu antigo vilarejo parecia a mil anos de distância.
Em uma manhã, Eleanor apareceu com um enorme caderno de capa preta, fazendo Dimitri se lembrar do pedido feito a ela há alguns meses. Levou-o para casa para se distrair durante as madrugadas que Ulysses se juntara ao seu pai para fazer a vigília, passou a limpo todas as receitas que estavam no livro antigo, até mesmo as orações para a Lua que prometiam atender pedidos. Quando a manhã chegava e o sol já estava irradiando em sua janela, Dimitri deitava-se e não demorava a sentir o focinho gelado do seu pai passando para lhe dar um cheiro, logo sentia o peso do corpo de Ulysses aconchegando-se ao seu e só então, dormia profundamente, finalmente encontrando descanso.
Em um momento, servia chá para Ulysses e conversavam sobre as suas expectativas de vida, em outro, Dimitri estava sozinho, sentado à mesa, sentindo a angústia se revelar, pois a Matilha Lua Vermelha conseguiu reunir forças para dar continuidade à guerra e só a Lua sabia o quanto Dimitri rezou para que isso nunca acontecesse, que a tentativa de anexar territórios sumisse da cabeça dos alfas de lá e que os seus conseguissem viver em paz, fazendo seus cultos a Lua e preparando chás que curavam, seja pelos componentes medicinais, seja pela energia colocada em suas folhas.
Mas Ulysses e Tarcísio foram para a primeira batalha, restando a Dimitri esperar que voltassem, protegido em algum canto da floresta, olhando para a Lua e rezando, pedindo sem que um minuto se passasse em silêncio, implorando de joelhos para que ouvisse o uivo da sua matilha indicando a vitória.
Saiu em disparada com o cavalo quando o ouviu, seguindo rumo ao acampamento e seus olhos não podiam acreditar no que viam: Tarcísio carregado em sua forma humana, já sem vida.
O momento fora apagado da sua memória. Tudo o que lembrava era de sentir o cheiro de sândalo ao seu redor e gritar, pois ficou rouco por alguns dias.
A cabana não tinha mais o cheiro de pêssego da mãe, tampouco o de acácias do seu pai. Os meses foram se passando e a ausência deles não perdia o peso. Sonhava estar acordando com o focinho gelado do lobo de Tarcísio e chorava em silêncio ao perceber que isso nunca mais aconteceria. Sentia o cheiro de acácia rodopiando no ar e seguia o rastro floresta adentro, até se ver perdido em meio a uma tempestade e de repente, estava nos braços de Ulysses, apertando-se contra o seu peito e chorando até que a dor anuviasse.
— Ele lutou como um verdadeiro herói. Você precisava ver... Quando parecia que eu desmoronaria de cansaço, eu olhava para ele e arranjava forças para continuar — Ulysses dizia, em seu ouvido, deixando que algumas lágrimas fossem derramadas, juntando-se as suas. Seu cabelo era acariciado e a fronha do travesseiro ficava ensopada, mas Dimitri gostava de ouvir os feitos do seu pai e o que ele significou para Ulysses.
Não sabia se teria sobrevivido sem a presença do alfa em sua vida. Paciente e carinhoso, lhe dava banhos e esfregava o seu couro cabeludo com o maior amor do mundo, tirando um pouco daquele peso dos seus ombros, pois era como se a água recarregasse as suas energias. Preparava o que comer e regava as plantas deixadas por Celeste, sempre mantendo vivo cada pedacinho daqueles que construíram a cabana onde começaram a viver juntos, observando os seus silêncios e não pedindo para que falasse. Deixou Dimitri viver no próprio tempo, acostumando-se com a falta, deixando que as suas preces à Lua o reconfortasse.
Em uma noite quieta, as velas estavam acesas sobre a mesa e uma xícara de chá estava a sua frente, ainda intocável e já morna. Ulysses lia um livro, seus olhos piscavam lentamente e as mãos fortes com veias proeminentes poderiam matar alguém, como já fizera na última batalha ganha e em tantas outras, mas eram usadas somente para passar as páginas, calmamente. Dimitri desejou que o mundo não fosse do jeito que era, que pudessem viver em paz e que as mãos do alfa fossem usados somente para aquilo.
Talvez, assim, seu pai e sua mãe ainda estariam ali. O gosto do pão ainda seria o mesmo e ele aprenderia com ela a como cuidar das plantas, não precisando recorrer aos outros curandeiros. Sua letra seria mais bonita porque Tarcísio era rigoroso e perfeccionista, e incentivaria-o até que conseguisse fazer o seu melhor, mas ficava tão pouco em casa que a vida foi passando sem se atentar as pequenas coisas e Dimitri não conseguia se lembrar da última vez que ouviu a gargalhada do pai porque, em tempos de guerra, não há muitos sorrisos.
— Às vezes... — Dimitri, finalmente, rompeu o silêncio da noite, atraindo os olhos grandes de Ulysses. — Às vezes, eu sinto que foi a Lua que te mandou para mim.
— Eu não tenho dúvidas disso, meu amor. — Ulysses fechou o livro e sentou-se mais perto de si. — Eu vou estar com você até o fim. Eu prometo.
— E eu acredito. Você nunca descumpriu uma promessa.
A lua continuava a mudar de forma no céu, indicando que a vida continuava. Dimitri gostava de tomar banho de chuva, acreditando que aquelas gotas d'água foram tocadas por Ela, em todo seu esplendor e misericórdia. Fechava os olhos e esticava a cabeça em direção aos céus, sentindo os pingos massagearem o seu rosto e agradecia por estar vivo, por continuar fazendo o que gostava, por ter amigos por perto e por ter um alfa que o amava, que não desistiu de si mesmo nos seus piores dias.
E assim como o tempo passa, a temporada de cios começava. Dimitri havia passado todos os cios de sua vida inebriado do efeito de ervas tranquilizantes, completamente inconsciente dos seus atos, confiando nos ômegas guardiões que cuidavam daqueles que não queriam ou não tinham parceiros. Assim como Ulysses, já que a técnica era amplamente difundida por todo o continente, mas aquele cio seria diferente.
Dimitri queria que Ulysses o tomasse como seu e o alfa não conseguiria negar tal pedido.
Cada toque de Ulysses foi sentido como se o amor causasse arrepios. Seus suspiros não exclamavam apenas o prazer, mas a contemplação de ter aquele momento com quem se ama.
Entre uma conversa e outra durante as pausas dos calores, Dimitri, conscientemente, falava o nome de suas filhas.
— Yong-sun e Moon-ji.
— E como você sabe que serão meninas? — Ulysses perguntou, beijando a testa dele e enrolando os fios de cabelo em seus dedos.
— Porque eu sinto que cada uma delas terá uma parte da minha mãe. A doçura do seu nome, Celeste. E a força de uma arqueira que morreu na guerra, como o meu pai.
— Eu te darei todos os filhotes que quiser, bruxinho. Não há nada que seja impossível para mim. — Brincou, fazendo as lágrimas de Dimitri sumirem em meio aos risos.
E foi durante um nó que os caninos de Ulysses se abriram e cortaram a pele de Dimitri, marcando para todo o sempre a sua glândula de cheiro. O alfa lambia a ferida recém aberta e o ômega ainda delirava de prazer e dor, sem saber em qual das partes se apegava, qual delas o fazia se sentir mais vivo.
Quando o cio acabou e os seus olhos abriram-se numa tarde de domingo, viu o sol entrar pelas janelas irradiando a sua luz alaranjada, evidenciando as partículas de poeira que voavam no ar e a beleza da pele bronzeada de Ulysses. Ele era o próprio sol, irradiava tanto calor que Dimitri nunca se sentiu sozinho, ele era a sua paz, mesmo que uma guerra ainda acontecesse. De fato, ele se tornou a sua florzinha em meio aos escombros e nunca o que ele havia dito fizera tanto sentido: De vez em quando, surge algo bom em meio à lástima.
No entanto, a lástima ainda acontecia. A Alcateia Lua Vermelha era maior do que a alcateia de Dimitri e Ulysses juntas e a derrota só aconteceu por pura sorte, um plano de guerra melhor elaborado junto a um bom comando. Conseguiram fazê-los cruzar a linha da fronteira e voltar de onde vieram, mas a revanche estava próxima, acompanhada de um sentimento de vingança, mesmo que alguns anos já tivessem se passado. A Lua Vermelha se sentia humilhada e buscar a sua redenção era o que precisavam fazer.
E a guerra iniciou-se aos poucos, com batalhas em proporções menores, fazendo o coração de Dimitri ficar cada vez menos apertado toda vez que Ulysses retornava em sua forma de lobo, forte e ao mesmo distante, pois não era como se ele gostasse de estar em combate, machucando seus semelhantes. E Dimitri sentia isso em seu coração, que agora pulsava no mesmo ritmo devido a marca, acelerando e angustiando-se, o medo pulsava em ambos agora em dobro, pois era o desespero de Dimitri na espera, e a sensação de quase morte de Ulysses.
Dimitri ajoelhava na floresta, sentindo as folhas úmidas em sua pele, esticava as mãos em direção a Lua e pedia a ela que o protegesse, encarava sua silhueta prateada pairando sobre todos e desejando que ela escolhesse um lado. Ulysses sentia os seus apelos enquanto seu coração se dilacerava por machucar alguém, vendo os olhos sem vida de um lobo caindo em sua forma mais fraca, a humana.
E foi em uma noite de lua cheia que Dimitri começou a questionar se ela, lá do céu, se preocupava com quem rezava para ela ali da terra, pois o coração fora atingido por uma dor lancinante, irradiando para todo o seu corpo e queimando a garganta em um grito mudo da boca aberta sem reação. Dimitri perdeu as forças e suas palmas apoiavam-se no chão, sentindo as lágrimas mancharem o seu rosto enquanto a respiração saía com dificuldade.
Não se importou com a túnica rasgando-se quando arrancou em alta velocidade em sua forma de lobo, correndo ao encontro de Ulysses e sendo parado por outros lobos entre o acampamento e a fronteira, onde a batalha acontecia. Seu lobo uivava em desespero, ganindo para que o deixassem passar. Ainda sentia o coração de Ulysses batendo, mas algo atrapalhava o músculo a funcionar corretamente. Eleanor tentou afagar o seu pelo, mas Dimitri contorcia-se, agonizando com a espera do fim da batalha.
Nunca escutou o uivo da vitória, pois eles perderam a guerra. O que escutou daquela vez foi o mesmo som desesperador da sua matilha arrancando em direção a floresta, pois a Matilha Lua Vermelha tomaria tudo o que um dia fora seu. Naquela mesma noite, em um acampamento montado às pressas por aqueles que conseguiram fugir, viu Ulysses com uma flecha no peito, exatamente no meio do coração, arrastado pelos outros em sua forma humana.
O que não se igualava às cenas que vira anteriormente, porque ele ainda estava vivo, o coração batia, mesmo que fraco. Suas mãos tremiam sobre a ferida, sem saber o que fazer. A flecha já havia sido retirada, restando apenas um buraco que minava sangue toda vez que o músculo atrevia-se a bater.
— Fique comigo, Ulysses. Por favor, eu não conseguirei sem você — disse, aos prantos, esperando que ele respondesse, ou que ao menos, estivesse ouvindo-o.
Junto a Eleanor, entraram floresta adentro em busca de algo que cicatrizasse a ferida, mas a ômega sabia que tudo seria em vão, mas não ousava dizer isso a Dimitri. Deixou que ele se arriscasse a voltar ao acampamento para resgatar suas plantas e ervas e não saiu dali sem o livro que fez em mãos.
Amassava as ervas, ungindo-as em óleo, algumas de suas lágrimas caiam na mistura e ele rezava, pedindo a lua sem parar.
Grande Lua Cheia que tem poder sobre todas os lobos
Não leve o meu amor embora
Coloque sua graça no meu unguento e cure suas feridas
Cicatrize o buraco em seu peito e deixe que o seu coração volte a bater junto ao meu, vivo e cheio de amor
Tenha piedade dos amantes dessas terras e não me faça ter de procurá-lo em outras vidas
Pois sua ausência nesse plano seria o meu maior desalento
Mas nada adiantou.
Quando o coração de Ulysses parou, Dimitri sentiu o seu parar também.
Seus gritos foram abafados pelas mãos de Eleanor para que a Lua Vermelha não os encontrassem. Dimitri não pode nem chorar pelo seu amor que se foi.
Aquela fora a terceira vez que Dimitri morreu, a quarta e última, foi em 1693 após ser acusado de bruxaria e morrer na fogueira.
Eleanor eternizou os seus versos, escrevendo-os no livro que fizera, pois aquela foi conhecida como a mais trágica história de amor da região, na qual a guerra provou-se ser a maior destruidora de nações, matilhas, laços sanguíneos e amores que transcendem uma vida. Não houve uma pessoa sequer que não ouvira a história e desejou que os dois se reencontrassem no futuro, em um novo mundo, sem tantos conflitos e com mais guitarras elétricas.
No fim, seus pedidos foram atendidos. Dimitri Valero reencarnou no corpo de Park Jimin em 13 de outubro de 1995 e Ulysses Agassi em Jeon Jeongguk, em 01 de setembro do mesmo ano. Ambos reencontraram-se no dia 10 de junho de 2017, mas o resto dessa história vocês já conhecem.
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Oiêeee
Agora acabou de vez, tá bom? Quero agradecer todo mundo que leu quando repostei no meu novo perfil, mas principalmente aqueles que me acompanharam e esperaram pelas atualizações mesmo depois de um ano. Esse apoio é sempre muito importante para mim, saber que os personagens te marcam e que de vez em quando vocês se lembram deles, e se perguntam "e aquela fanfic, hein?" me deixa muito feliz! Obrigada por estarem aqui ♥
E se você só leu essa fanfic de minha autoria, te convido a dar uma olhada no meu perfil e conferir as demais. São bem legais também kkkk
É isso, gente, obrigada por tudo e nos vemos por aí em outros universos. Beijos no coração.
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