10. A apresentação
#BruxinhoFofinho
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Jeongguk escondia o rosto atrás do braço e Jimin observava-o dormir com um biquinho nos lábios. Queria ver o rostinho dele, mas tudo o que conseguia fazer era acariciar a orelha e os fios mais curtos da nuca espetando os seus dedos.
Quando o alfa acordou, permaneceu na mesma posição, fingindo estar dormindo. Tudo o que acontecera no dia anterior parecia distante agora, mas se parasse para pensar, recapitulando todos os olhares e falas, o coração batia no mesmo ritmo magoado e daquilo ele não conseguia se esquecer.
Jimin sabia que alguma coisa havia acontecido, mas Jeongguk se fechou no mundinho do seu abraço e não saiu mais dali.
O alfa decidiu mostrar que estava acordado, tirando o braço da frente do rosto para afundá-lo no pescoço de Jimin, logo ganhando beijinhos na testa e um cafuné que fazia doer o seu coração. Como morrer sozinho poderia ser melhor do que tê-lo ao seu lado? Jeongguk até queria não se importar com as coisas que ouviu da mãe, mas infelizmente, são as coisas que elas dizem que mais grudam na mente.
Não sabia do passado das mães de Jimin e começou a admirá-las ainda mais depois de saber que o seu ômega era fruto de um amor que precisou passar por boas batalhas antes de terem o seu canto, um lugar para chamarem de seu e não responderem mais às expectativas alheias. Queria não sentir tanta admiração e orgulho, uma vontade de fazer parecido em relação as sogras, pois queria guardar um pouco daquilo para os próprios pais, mas parecia que tal ato estava cada vez mais longe.
— O que aconteceu com o meu amor? — Jimin perguntou, tentando se afastar só para olhá-lo nos olhos, mas Jeongguk não tinha condições de fazer aquilo no momento. Caso contrário, se debulharia em lágrimas e não queria assustá-lo.
— Meus pais descobriram o imprinting pela foto e não gostaram muito disso, nada demais... — Suspirou, esperando que a meia verdade funcionasse.
Jimin respirou profundamente e deteve-se dentro dos pensamentos. Se Jeongguk já não queria contar porque a relação entre eles não era muito boa, imagine agora que descobriram a partir de uma foto cercada de fofocas.
— Eu sinto muito que as coisas aconteceram desse jeito.
— Eu também... — Fechou com força os olhos e se afastou para olhar o teto, Jimin ficou observando o semblante do alfa, perguntando-se no que ele tanto pensava.
Jeongguk queria respostas. Por que mesmo fazendo tudo o que os pais queriam, ele ainda era visto como um erro ambulante? Nada podia fazer diferente, pois o problema todo naquele história era Jimin pertencer a uma família não abastada e eram os pais que precisavam parar de se importar com isso, pois Jimin estaria em sua vida de um jeito ou de outro e isso ele não iria querer mudar.
— Tá com fome? — Jimin perguntou, levantando-se para abrir uma fresta da cortina, deixando que um pouco de luz entrasse no quarto. — Trouxe café da manhã.
— Essa é a segunda vez que você me traz café na cama. — Jeongguk sentou-se, sorrindo com a animação do outro em mimá-lo.
— Essa é a minha especialidade. — Deu de ombros, voltando a deitar-se ao lado do alfa, observando-o desbravar a bandeja com frutas, torradas, ovos mexidos e café gelado com creme.
Comeu tudo, mergulhado no cheiro gostoso de ameixas negras. Jimin tagarelava sobre como Jin estava estranho ontem, Jeongguk não havia reparado, mas gostava de ouvir a voz dele.
Quando terminou, Jeongguk desceu com a bandeja e lavou tudo o que havia sujado. E antes de sair da cozinha, Yuna apareceu com uma camisa cinza muitos números maiores do que o dela, o sorriso aberto, tão receptivo, e um abraço acolhedor que Jeongguk só se lembrava de ter recebido de Mary.
— Oi, meu amor! — ela disse, ficando na ponta dos pés para abraçar o alfa. — Ontem você chegou e eu nem te vi. Tá tudo bem?
— Tá sim, e com a senhora? — respondeu, automaticamente.
— Quem é essa tal de senhora? Eu hein, garoto. — E deu um tapinha no ombro dele, antes de voltar para o seu caminho aos risos.
Jeongguk subiu as escadas e conseguia ouvir música vindo do quarto de Jimin quando chegou lá em cima. Ficou parado na porta, assistindo-o arrumar a escrivaninha, relendo papeis soltos, guardando cadernos e livros e colocando CDs de volta no lugar enquanto cantarolava. A música, ouvida sem pretensão alguma, parecia querer lhe dizer alguma coisa, como se não estivesse sozinho no mundo e que alguém, em algum lugar, o compreendia.
— Que banda é essa? — perguntou, procurando pelo celular para anotar e escutar depois.
— Sum 41. — Jimin virou-se e com a mão em punho, fez um microfone e começou a cantar. — I tried to be perfect, it just wasn't worth it, nothing could ever be so wrong...
Jeongguk sorriu, mas a música só evidenciava a tristeza que sentia. Perdeu tanta coisa tentando ser perfeito, que nem tivera tempo para descobrir suas próprias bandas durante a adolescência. Agora, ao invés das letras lhe darem certa nostalgia, como fazia com Jimin, tudo o que sentia era vontade de escutá-las, como quem recebe algum tipo de consolo.
— Quer ajuda? — Percebeu que Jimin arrumava o quarto, vestindo uma camisa velha, como a de Yuna, e decidiu trocar de roupa também, colocando uma regata e uma bermuda de tecido confortável.
— Olha, se você quiser, pode começar ensaboando o banheiro — Jimin disse, meio apreensivo, porque aquela era uma das coisas que menos gostava de fazer e Jeongguk estava ali, oferecendo ajuda em um sábado de faxina.
— Tá bom. — O alfa deu de ombros e recebeu as instruções de tirar tudo lá de dentro, colocar luvas e sair esfregando tudo o que visse pela frente.
Queria mesmo era ocupar a cabeça e parar de pensar na noite anterior. E para eles, já não importava se somente duas semanas se passaram desde que se conheceram e Jeongguk já estava lavando o banheiro do namorado.
Jimin apareceu na porta alguns minutos depois para averiguar e ficou observando-o esfregar os azulejos da parede, um pouco mais perdido nos músculos do braço de Jeongguk, do que na tarefa que executava. Quando ele reparou na sua presença, olhou para trás e perguntou, olhando para a camisa que Jimin vestia:
— Escuta, Nirvana não é um conceito budista?
— Também é uma banda — respondeu, rindo, voltando para o quarto. — Ah gatinho, você tem tanto a aprender.
Jeongguk suspirou satisfeito. Era tão bom estar focado em alguma coisa e notar a presença de Jimin no ambiente, seja pelas músicas que ele colocava, a voz dele dizendo alguma besteira, o cheiro de ameixas negras indo e voltando quando ele se aproximava e voltava para terminar as suas coisinhas. Jeongguk amava estar ao redor do seu ômega, não se arrependia de mal ter chegado em casa e logo ter voltado para a Cidade Alta. A Ilha do Boi não tinha a paz que encontrava ali.
Depois do almoço, Yeri começou a lavar a louça e Jimin a guardar o que estava em cima da pia. Yuna puxou Jeongguk para ajudá-la no jardim e ele conseguia dizer o nome de cada uma das plantas e flores que existiam no quintal. Retirava as ervas daninhas dos vasos e dos canteiros, suas unhas estavam cheias de terra e os joelhos apoiados no chão. Quem olhava para o casarão da calçada, não imaginava o tamanho do jardim que existia nos fundos. Jeongguk amava aquele lugar, ali os passarinhos não paravam de cantar.
O sol era fresco naquele início de tarde e Yuna molhava as plantas com uma mangueira. Jeongguk terminou as tarefas que lhe foram dadas e não tinha mais o que fazer, então, ficou ali, rodeando Yuna, sabendo parte do que ela passou com a sua família e querendo saber mais. Tentou reformular a pergunta de diferentes formas, pois não sabia como começar tal assunto. O desespero começou a bater quando viu que as plantas já estavam quase todas regadas, não sabia se teria outra oportunidade de conversar com ela a sós, então, acabou soltando de repente:
— Você tinha o sobrenome Gong, não é?
— Tinha, mas assim que me casei, tirei e adotei o Park. — Yuna olhou para Jeongguk, sabendo onde aquela conversa poderia chegar e querendo obter algumas respostas também. — Jimin comentou que seus pais não aceitaram o imprinting muito bem.
— É, tentei esconder por um tempo, mas não deu certo. — Pegou uma folha de uma das árvores, dobrando-a ao meio, intensificando o seu cheiro. Estava descalço, sentindo a grama ficar molhado de pouco a pouco com a mangueira que Yuna apontava para as plantas.
— Jeongguk... — Yuna o chamou, sentindo o indicador dormente ao tentar fazer chuviscos. — O que eles realmente disseram?
Jeongguk paralisou, dobrando a folha em mil pedacinhos se fosse necessário, mas não conseguiria olhar para ela. Queria inventar alguma desculpa, qualquer coisa para não ter de repetir o que escutou, mas algo no fundo lhe dizia que essa era a sua oportunidade de desafogar o que sentia, como se guardar por mais tempo aquela mágoa só para si não fosse a melhor escolha que pudesse fazer.
— Porque o imprinting é uma coisa muito rara, todos querem se gabar de conhecer alguém que o tem, então, qual é o problema de verdade? — Yuna completou, desligando a mangueira e começando a enrolá-la.
— Eu não disse nada para o Jimin porque não quero que ele sinta o que eu senti quando ouvi, mas... — Deixou que a folha destruída caísse de suas mãos quando os seus olhos se encontraram com os de Yuna. — A minha mãe disse que preferia que eu morresse sozinho do que ter um imprinting com um ômega como ele.
O rosto de Yuna transformou-se em uma vitrine de emoções. Os olhos arregalaram-se, as sobrancelhas franziram e logo ela fungou o nariz, sentindo as lágrimas acumularem. Colocou as mãos na cintura e sorriu magoada, recordando-se de que já ouvira algo parecido.
— Como um Park, não é? — Jeongguk acenou que sim e Yuna olhou para baixo antes de esticar os olhos em direção ao céu. — É, eles são famosos pelo dinheiro e nós pela subversão.
Yuna olhou em direção a casa, checando se Yeri ou Jimin estavam se aproximando, mas só o que sentiu foi o vento batendo em sua nuca.
— Eu entendo os seus motivos para esconder as coisas absurdas que escutou. Eu também escondia bastante coisa da Yeri, não valia a pena perturbá-la com o preconceito alheio. Mas a ligação que vocês dois têm é diferente da que eu tenho com ela, e talvez, quem sabe, tudo se ajeite no final.
— Enquanto isso não acontece, você tem algum conselho?
— Bem, ouvi dizer que a saudade cura muitas feridas, mas no meu caso, foi só o tempo mesmo. Espero que no seu seja a saudade, porque no fim, ela traz de volta quem quis ir embora.
— Hm, saudade? — Jeongguk abriu e fechou os dedos dos pés, sentindo o geladinho da grama na pele. — Não sei se algum dia eles já sentiram isso por mim, não sei se vai ser agora.
— Vamos ficar com o tempo, então. — Yuna acariciou as costas dele, desejando que Jeongguk não sofresse com aquela ideia de ter morrido para a família também.
— O que vocês estão conversando aí? — Jimin perguntou, da porta da cozinha, já descendo os poucos degraus que separavam o restante da casa do quintal.
— Só jogando conversa fora — Jeongguk respondeu, abrindo os braços para recebê–lo sem nem perceber, de tão automático que os seus gestos eram ao redor de Jimin.
— Eu vou terminar de lavar a roupa — Yuna disse, deixando os dois sozinhos, mas olhando para trás enquanto andava, sorrindo ao ver a união bonita dos dois.
— Minhas mãos estão sujas — Jeongguk alertou, curvando-se para chegar perto da boca do ômega.
— Não tem problema. — E Jimin esticou o pescoço, dando fim aquela distância, selando os lábios dele e chupando o inferior. Logo as línguas se encontraram e não sabiam que sentiam tanta saudade.
Jeongguk não conseguiu evitar e o puxou pela cintura, enterrando os dedos sujos de terra na camiseta puída de Jimin. As mãos dele estavam geladas, provavelmente estava mexendo com água dentro de casa, a sensação era boa em seu couro cabeludo, enviando ondas de prazer por todo o seu corpo. Queria ter percebido quando exatamente ficaram tão bons em beijar, pois quando viu, já estava ali, viciado em cada toque, seguindo o ritmo lento dele, que intensificava o ósculo sem perceber.
— Sua mãe já está voltando com as roupas... — Jeongguk interrompeu o beijo, abraçando-o e sorrindo inocentemente.
Jimin olhou para trás e os lençóis estavam sendo pendurados no varal, misturados em cores claras e escuras, dançando com o vento que sempre batia mais forte no ponto mais alto da cidade. Jeongguk foi lavar as mãos e Jimin ajudava Yuna com o restante da roupa. Naturalmente, Jeongguk ficou por perto, logo sendo o porta pregadores, andando junto a eles com o pote em mãos.
Quando o quintal inteiro se encheu de vestidos floridos e roupas pretas, Jimin e Jeongguk deitaram-se na grama, por cima da manta que ainda estava ali desde o primeiro dia do apego. O cheiro gostoso dos tecidos limpos fizeram Jeongguk fechar os olhos, apreciando a sensação desconhecida, não sabia se as roupas eram capazes de deixar o clima mais úmido, ou o dia mais fresco, o que sentia era algumas gotinhas de água em sua pele quando ventava mais forte.
Jimin chegou mais perto dele, apoiando-se sobre os cotovelos, colocando em prática o seu plano de encher Jeongguk de beijos. O alfa ronronou ao sentir o nariz de Jimin roçando no seu, nem sequer tentou abrir os olhos, apenas moveu as mãos para a cintura do ômega, tocando a pele por debaixo da camisa.
Jimin suspirou com o toque, passando a ponta do nariz pela bochecha do alfa, beijando a mandíbula com um selar molhado, descendo para o pescoço até chegar na glândula de cheiro, que depois de tudo o que fizeram durante o dia, já estava um pouco salgada de suor, mas isso não impediu o ômega de umedecê-la com a língua, sentindo o cheiro de sândalo mais intenso. Jeongguk abriu os olhos e viu as íris de Jimin turvas de tanto amor, e ele se envaidecia por ser um alfa tão bom para o seu ômega.
Apertou mais forte a sua cintura e o beijou como os olhos dele pediam. Devagar, sentindo a textura da língua na sua, aprofundando o beijo e então, lambendo o labret antes de chupar devagarzinho o lábio inferior, começando tudo de novo só porque era bom beijá-lo sem se importar com o tempo, sem lembrar do passado de séculos atrás, ou das últimas 24hrs. Abraçava o seu ômega, colocando a perna entre as dele, rolando-o para o outro lado, ficando por cima dele, mas ganhando gargalhadas em troca porque acabou deitando-o sobre a grama, completamente fora da manta.
Voltou a deitar-se com a cabeça na almofada, puxando Jimin para o seu peito, que deitou-se ali porque gostava de ouvir as batidas do coração de Jeongguk. Não havia música melhor para os seus ouvidos. A certeza de que ele vivia poderia parecer macabra para os outros, mas para ele, era um imenso alívio, pois o seu lobo ainda se lembrava do motivo daquela cicatriz, de tocá-lo e saber que não havia mais vida em seu corpo. E por mais que isso não fosse enviado detalhadamente para Jimin, o ômega sabia que satisfazia o lobo assim, e quanto mais tranquilo ele ficasse, melhor.
Sentiu os dedos de Jeongguk brigando com o vento, jogando o seu cabelo para um lado, enquanto ele tentava jogar para o outro. Seus olhos pesavam quando ficavam grudadinhos assim, uma sensação de segurança e bem-estar lhe invadia, só restava aconchegar-se ainda mais naquele colo, respirando fundo para que o sândalo invadisse as suas narinas.
— Você nem conseguiu escutar o CD, não foi? — Jimin perguntou, a voz meio abafada pela bochecha esmagada contra o peito do alfa.
— Preciso te confessar uma coisa... — Jeongguk respondeu e Jimin levantou a cabeça para olhá-lo nos olhos, logo arqueando uma das sobrancelhas, pois por experiência própria, sabia que quando Jeongguk começava com aquilo, coisa séria não era. — Você disse que eu não teria uma vitrola em casa, mas eu também não tenho um tocador de CD.
Jimin deixou uma risada soprada escapar entre os lábios e Jeongguk riu junto, colocando os braços atrás da cabeça.
— Você tem algum eletrônico no seu quarto?
— Uma Smart TV, fora o computador, mas esse não tem mais entrada para CD.
— Tem tudo na internet, no mesmo lugar que você escuta os seus podcasts. — Jimin relaxou, voltando a deitar a cabeça no peito do alfa.
— Eu vou escutar, juro, juradinho. Não faço promessas vazias. — E a fala dele fez Jimin levantar-se novamente, encarando-o.
— Eu sei, gatinho. Todas as promessas que você fez, já foram cumpridas. — Jeongguk sorriu, colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha do ômega. — Acho que eu preciso fazer algumas também.
— Não precisa. — Jeongguk negou com a cabeça, acariciando a orelha cheia de piercings.
— Mas eu quero. — Jimin respirou fundo, apoiando o queixo no peito alheio, com um biquinho teimoso nos lábios.
— Então me diz, o que você quer prometer para mim?
— Eu prometo... — Sorriu, tímido, mordendo os lábios antes de continuar. — Eu prometo que vou cuidar de você quando o seu cio chegar, e antes também. Não me esqueci da consulta que precisamos marcar para você. E também prometo fazer tudo o que eu puder para te fazer bem, desde te servir um café da manhã na cama, até te abrigar na minha casa pelo tempo que precisar. Por mim, você até já morava aqui.
Jeongguk sorriu, com aqueles grandes dentes branquinhos e também com os olhos, que se perdiam nas íris azuis de Jimin, como se visse além das palavras ditas, que carregavam a vontade de sempre tê-lo por perto, de entrar na frente de qualquer um que tentasse lhe fazer algum mal. E talvez, Jimin precisasse mesmo fazer algumas promessas, pois depois de tudo que Jeongguk escutou em casa, ele necessitava ouvir algo bom, algo que o desse esperança de dias melhores e que um futuro bonito, — sem preocupações sobre família de renome, dinheiro e problemas por causa do imprinting — estivessem bem próximos.
— E eu acredito em tudo isso. — Jeongguk suspirou, aliviado. — Eu só quero que você me prometa que, assim que eu começar a incomodar, quando você tiver coisas demais para fazer, pode me mandar ir embora. — Jimin revirou os olhos, tentando contestar, mas Jeongguk continuou. — Não esse final de semana, até porque amanhã já vai ter o almoço de apresentação da sua casa para o Yoongi. Estou falando sobre o resto da vida, enquanto ainda não moramos juntos no nosso cantinho, porque eu não posso prometer que vou preferir ficar na casa dos meus pais todo fim de semana.
— Eu nunca vou recusar a sua visita e além do mais, você já é íntimo das minhas mães. Pode ficar aqui mesmo que eu não esteja.
Jimin queria voltar a perguntar o que acontecera na noite anterior, pois aquilo poderia ser uma situação parecida com a do "só não dormi direito", sendo que na verdade, o lobo de Jeongguk não aceitou os supressores depois de ter lhe conhecido e tornou a sua noite um verdadeiro inferno. Mas Jeongguk também havia prometido que lhe afastaria das coisas ruins que cercavam a sua família e eles não ficarem felizes com o seu imprinting parecia ser ruim o suficiente para também não querer contato com eles.
Jeongguk ponderou a oferta, mesmo que Jimin achasse impossível andar por aí sem querer a companhia do seu alfa por perto. E deixaram o assunto ser esquecido, aproveitando do fim de tarde debaixo da árvore, do vento forte tão insistente e do cheiro bom das roupas que secavam no varal.
Entraram quando Yeri e Yuna apareceram para esvaziar o varal, gostavam de pegar as roupas quando o sol da tarde era alaranjado no jardim e os tecidos eram recolhidos morninhos. Jimin e Jeongguk ajudaram, logo entrando dentro de casa e sentindo o cheiro de limpeza que emanava de todos os cantos. Os vidros da cristaleira estavam sem qualquer pelinho, ou marca de poeira, e Jeongguk se orgulhava de saber que ajudou naquela grande tarefa que era limpar o casarão. Não conseguiu evitar de pensar na mãe, em como ela repudiava qualquer tentativa sua de fazer algum serviço doméstico, pois segundo ela, aquilo o rebaixava, já que pagavam alguém para fazer por eles.
Dormiu grudado em Jimin, as pernas enroladas uma na outra debaixo do lençol. Até que o dia seguinte chegou e acordaram com o cheiro de carne assada passando por debaixo da fresta da porta, se Jeongguk respirasse mais profundamente, sentiria as batatas com alecrim no caminho de alcançarem o ponto perfeito.
Desceram um pouco apressados, pois se a casa já cheirava a comida, os convidados não estavam tão longe de chegar. Uma prova disso era que Taehyung já estava ali, tagarelando com as tias enquanto provava o ponto do macarrão, ainda precisando de alguns minutos para ficar al dente. Confiaram que as caras inchadas não seriam vistas pelo restante dos convidados, pois Taehyung morava ali do lado mesmo e com certeza estava entediado para chegar tão cedo.
Ele e Jimin sentaram-se na mesa mais afastada da bancada e começaram a conversar sobre as próprias coisas, aulas que ministravam, professores que tinham e trabalhos que precisavam entregar. Se Jeongguk estivesse concentrado em alguma conversa paralela com as sogras, não estaria escutando-os, mas seus ouvidos apurados sempre buscavam a voz do seu ômega, mesmo não querendo ser enxerido.
— Você já falou com ele? — Taehyung cochichou, o mais baixo possível, mas as orelhas de Jeongguk o fizeram mover a cabeça em direção aos dois, que reviraram os olhos assim que notaram.
— Você precisa aprender a disfarçar, garoto — Yeri comentou, balançando a cabeça para os lados. Yuna lhe lançou um olhar intrigado, com suas suspeitas de que a audição da alfa não fosse tão boa caindo por terra. Yeri só deu de ombros e tentou se justificar. — É que às vezes o meu cabelo fica na frente dos ouvidos.
— Falar o quê? — perguntou Jeongguk, curioso.
— Não é nenhum segredo, ok? — Jimin mordiscava a ponta da unha e Taehyung deu um tapa na mão dele, obrigando-o a tirá-la da boca. — É só que depois do lance da foto, você ficou meio esquisito com tudo e ainda rolou o lance na sua casa. Não queria te convidar agora, queria te dar um tempo porque eu realmente quero que esteja presente.
— Convidar para o quê? — As desculpas de Jimin só fizeram Jeongguk ficar ainda mais ansioso para saber o que era.
— Para a minha apresentação na aula de composição.
— Eu vou... Mas por que a minha presença é tão importante? Por acaso a composição é sobre mim? — Jeongguk brincou, olhando para as sogras arqueando as sobrancelhas.
— É... Sim, é sim — Jimin respondeu, nervoso, arrancando o maior sorriso de Jeongguk, que se levantou da banqueta e foi em direção ao seu ômega.
— Quando vai ser isso? — Enlaçou os ombros dele, beijando-lhe a bochecha.
— Nessa próxima sexta. — Jimin sorriu, esfregando o rosto no braço do alfa.
— E eu só vou escutar no dia? Junto de todo mundo?
— É, e vai ter bastante gente... — Jimin enfatizou, vendo Jeongguk franzir o cenho, meio contrariado.
— Quanto? — perguntou, e Jimin olhou para Taehyung, tentando equivaler algum número, mas o amigo só deu de ombros.
— Nunca se sabe — respondeu. — Se começar bem, a sala enche. É tipo um festivalzinho de bandas de garagem. A gente sempre ia nas apresentações dos outros e agora chegou a nossa vez — Taehyung explicou, sorrindo e esfregando as mãos, nervoso.
— Vocês vão apresentar como uma banda? — Jeongguk ficou curioso, querendo saber mais como funcionava o curso de música.
— Não, vamos só dar apoio para Jimin, tocando junto com ele. O trabalho é individual, eu vou apresentar uma nova base de bateria para uma música da Demi Lovato. — E começou a batucar o refrão na mesa, com Jimin cantarolando em um falsete: Take me down into your paradise. Don't be scared, 'cause I'm your body type.
— Espero que ela venha pro rock algum dia. Meu sonho ser o guitarrista dela, ou da Miley... — Jimin comentou, apontando para os pelos do braço. — Nossa, fico todo arrepiado só de imaginar aquele vozeirão dentro do meu retorno.
Jeongguk não fazia ideia de quem eram. Parecia que ficou congelado por décadas, como o Capitão América, e Jimin o atualizava das novidades do mundo musical.
— Tá, eu vou... — Mesmo que o assunto parecesse ter se perdido, Jeongguk fez questão de confirmar a sua presença. — Só acho meio errado isso de não poder escutar antes. Vai me fazer chorar na frente de todo mundo.
E era claro que o incômodo da foto ainda não havia passado, muito menos depois de saber que possíveis prints chegaram até o celular da sua mãe, com pessoas que sabiam da história da família de Jimin julgando a índole dele. Mas se o ômega queria apresentar uma música feita para si, muito provavelmente tocando no assunto imprinting, talvez ele se sentisse seguro naquele ambiente, repleto de pessoas conhecidas e que julgariam-no menos do que aquelas do bloco das exatas. Se era importante para Jimin, Jeongguk estaria por perto sem nem pensar duas vezes.
Não demorou muito para que Namjoon tocasse a campainha e Jimin gritasse do alto das escadas que o portão estava aberto. Taehyung avisou que já estava por lá e disse que não tinha problema aparecer por ali também. E junto com ele, estava o seu vizinho de quarteirão, Jin, que parecia meio puto por ter se arrumado às pressas, mas não era como se quisesse chegar sozinho.
Agora só faltava Yoongi, o motivo daquele almoço ter sido marcado devido a sua paixão por moldura de espelhos.
Quando ele chegou, Jimin também gritou para entrar, morrendo de preguiça de descer e subir as escadas só para recebê-lo mais educadamente. Mas ficou esperando-o no topo, com Jeongguk ao seu lado, tornando a situação um pouco constrangedora, com seus passos sendo observados a cada degrau vencido. Não sabia o motivo, mas toda vez que ele e Jeongguk se encontravam daquele jeito, começavam a rir, só paravam quando o outro o alcançava e seguiam para o destino.
E a cena dos dois postados lá no alto era engraçada de se ver. Jeongguk vestia uma camiseta branca mais larga e uma bermuda jeans de lavagem clara, com as barras desfiadas. Jimin vestia uma camiseta preta mais colada ao corpo e uma saia mais solta de amarração, igualmente preta e que passava dos joelhos, coisa simples de ficar em casa.
— Eaí, bro — Yoongi disse, quando finalmente chegou lá em cima. — Achei que a gente viria junto.
— Eu estou aqui desde sexta — Jeongguk sussurrou de volta.
— Ué, por quê?
— Várias tretas.
Yoongi franziu o cenho por meros segundos, logo abrindo um sorriso para cumprimentar Jimin com um abraço e um beijinho no rosto.
— Ei, Yoongi. Que bom que veio! — Jimin sabia receber pessoas, apesar da preguiça de descer e subir escadas. Yuna era muito boa nisso também.
— Eu que agradeço por ter me convidado. — Yoongi pousou a mão no peito.
— Ora, um amigo do meu alfa é meu amigo também. — Jimin entrou na onda dele, arqueando a coluna para parecer mais polido. — Venha por aqui, por favor. Apresentarei-lhe o tão estimado espelho.
Yoongi e Jeongguk começaram a rir, e logo os três entraram na casa com as gargalhadas chamando a atenção dos demais que ficaram lá dentro esperando. Jin moveu a cabeça rapidamente em direção a eles, fingindo fungar só para melhor captar o cheiro engraçado de laranja do alfa. Não podia negar que o sorriso dele era uma gracinha, o cabelo bagunçadinho caindo em ondas grandes pelo rosto também, mas achá-lo bonito era tudo o que podia fazer, pois claramente ele já tinha alguém, ou não estava nada interessado em seu aroma de framboesa, como ninguém realmente ficava.
— Ah, aí está. — Yoongi parou em frente ao tal espelho com moldura provençal. Um retângulo grande que se estendia por todo o aparador, com as luas em um tom escuro em todas as suas fases em pequenas estátuas, destacando-se no tampo claro.
— Yoongi é vintage — Taehyung comentou, fazendo um bico metido e uma pose engraçada.
— Aposto que ele tem uma vitrola. — Jimin cutucou Jeongguk, que negou com a cabeça, não aceitando a provocação.
Yuna e Yeri vieram para abraçá-lo, abandonando o fogão com seus aventais com algumas manchas de farinha e molho. Os novos e antigos amigos sentaram-se à mesa, um ou outro levantando-se para ajudar com alguma coisa, distribuindo os pratos e retirando o grande vaso de plantas que a decorava.
Os casais ficaram um ao lado do outro, mas Yoongi e Jin ficaram frente a frente. Taehyung e Jimin trocaram olhares, como se fosse óbvio que alguma coisa pudesse rolar entre os dois, mas para Jin, nada passava de uma frustração, pois nem expectativas ele conseguia ter. Não queria ter sentimentos parecidos com mais ninguém, mesmo que não fosse grande coisa. Achou que poderia contar com Namjoon para os seus cios, ou até mesmo que eles ficassem sem compromisso uma vez ou outra, e olha só onde estava agora, sendo servido por Taehyung, que de repente, queria ser um bom ômega para ele.
Tudo ali era muito estranho, pois era como se estivesse conhecendo todas aquelas pessoas naquela manhã, já que não se sentia próximo de ninguém e só fosse perceber isso agora.
Depois do almoço, ofereceu ajuda com a louça, ao menos se ocupava e não ficava pensando na forma engraçada como Yoongi distribuia o seu cheiro de laranja pela casa, querendo conhecer os cômodos e tirando foto de tudo em um ângulo aesthetic. Taehyung ficou por ali, secando o que Jin lavava e Namjoon tirava a mesa, passando um paninho cheiroso sobre o tampo de madeira.
Yeri e Yuna andavam pela casa com Yoongi. Jeongguk e Jimin mantinham-se por perto só porque acharam que ele ficaria mais confortável com gente conhecida, mas o alfa era todo dado, batia o maior papo com as mães de Jimin e até parou para cheirar os sabonetes, shampoos e condicionadores em barra que Yeri vendia, comprando alguns para testar.
Levaram mais mantas para o jardim e logo todos estavam debaixo da árvore, exceto por Yeri e Yuna, que decidiram se recolher para deixar os jovens mais à vontade. De barriga cheia, jogavam conversa fora, comentando sobre a apresentação da banda para a aula de composição e foi ali que Jin se sentiu parte de um segredo. Eles entreolhavam-se e riam com a cara de frustrado de Jeongguk, que morreria de ansiedade até a próxima sexta.
— Ah, eu também vou ter de ir — Yoongi disse, fazendo o coração de Jin bater acelerado com a ideia do alfa vendo-o cantar e tocar a sua guitarra cor-de-rosa.
Jin estava se sentindo um tremendo bobalhão, pois mal havia trocado meia dúzia de palavras com Yoongi e não podia ignorar que estava interessado, mas nem conseguia direcionar o olhar para ele quando sentia os olhos dele pesados sobre si. Ou vai ver era só impressão.
Jeongguk deitou-se sobre as coxas de Jimin, de pernas esticadas, encostado no tronco da árvore. Queria que a mãe visse como estava bem, cercado de amigos. Amigos ômegas. Queria que ela visse que aquilo era culpa de Jimin, pois se não fosse por ele, não conseguiria chegar perto de outros ômegas e os alfas achariam aquilo muito estranho e se afastariam, como sempre foi, mas ela nunca entenderia. E suspirar frustrado e feliz ao mesmo tempo era a sua única opção.
E foi natural as mãos de Jimin embrenharem-se em seus fios de cabelo, jogando a franja, agora mais longa, para trás. Curvou-se para depositar um beijo nos lábios de Jeongguk, que sorriu e segurou uma de suas mãos, entrelaçando os dedos e massageando as pontinhas com o polegar porque gostava de sentir a porosidade dos calos causados pela guitarra.
— Fala uma palavra que tem na música — Jeonguk pediu, fazendo Jimin rir, mas logo o atendeu.
— Eu.
— Eu o quê?
— Eu e mais nada. Vamos parar de falar sobre isso? Não quero ficar nervoso.
— Tá, me desculpa. — Jeongguk sorriu e abraçou a mão de Jimin, logo levando-o a boca e mordendo o dorso fofinho.
— Eu duvido que vocês sejam uma banda — Yoongi provocou, fazendo uma cara de falso desdém.
— E tá duvidando por que, doido? — Namjoon perguntou, caindo na dele.
— Nunca vi vocês tocarem. — Deu de ombros, analisando as unhas.
— Se você quer que a gente toque alguma coisa pra você, é só pedir — Jimin disse, achando tudo aquilo muito bobo e rindo da bobice.
— Então toca uma pra mim, aí. — Yoongi balançou o braço, como se pedisse a atenção de algum garçom.
Jimin levantou-se e Jeongguk ficou deitado no chão, parecendo meio desolado por um instante. Taehyung foi logo atrás porque sabia que ele não conseguiria trazer tudo sozinho. E não demorou para que Jimin aparecesse com dois violões, um equilibrado em cada mão, e Taehyung trazendo uma caixa que Jeongguk julgou ser uma assento qualquer no quarto alheio, mas ao que parecia, era um instrumento musical, apesar de continuar parecendo-se com um banco qualquer porque o ômega sentou-se sobre ele. Jimin entregou um dos violões para Namjoon, com paletas enganchadas rente a pestana. Sentou-se com o outro no chão e arqueou as sobrancelhas para Yoongi.
— E aí, qual você quer? — perguntou, passando a paleta pelas cordas rapidamente, checando a afinação.
— A que você fez para um tal de Jeongguk — Jeongguk pediu. Jimin ignorou, acenando qualquer coisa para ele parar de pedir por aquilo.
— É... Sabe aquela? — Yoongi tentou dizer, mas toda vez que alguém pedia o nome de qualquer coisa, seja filme, série, ou música, ele não conseguia se lembrar de nada. — Não faço a menor ideia, desculpa. — E todos riram, pois era compreensível.
— Sabe uma música que eu tenho saudade de ouvir? — Jimin perguntou, deixando todos ansiosos quando apertou as cordas no primeiro acorde e com a outra, segurou a paleta e começou a dedilhar Decode.
O começo da melodia foi decifrado por todos no primeiro segundo da música, exceto, é claro, por Jeongguk, que sentiu-se de fora por não fazer a menor ideia de que banda era, se a música era antiga, ou se era tocada daquele jeito mesmo, ou se originalmente precisam plugar o violão na tomada.
Jimin olhou para Jin, depois que a entrada passou e ele repetia do começo, esperando que ele começasse a cantar, achando que aquilo fosse óbvio, já que tocava no tom do vocalista. Ele assentiu e respirou fundo nervosamente, o olhar de Yoongi e de Jeongguk em expectativa para ouvir a sua voz pela primeira vez o deixava nervoso, fazia tempo que não sentia aquilo e odiou a presença daquelas alfas.
Logo que Jin começou, Taehyung foi no embalo do cajón, unindo os quatro instrumentos, formando aquela coisa que Jeongguk desconhecia, mas que o arrepiou por inteiro.
No refrão, Jin cantava mais alto, Jimin se juntava a ele fazendo a segunda voz. Jeongguk achou incrível a forma como as vozes se encontravam, formando uma só. Jimin fez o solo no violão e logo Jeongguk entendeu o que ele sentiu quando viu Rick DiFonzo tocar pela primeira vez. Todos olhavam para ele, os dedos movendo-se com habilidade, o som saindo do grave para o agudo e era só Jimin sentando no jardim, com um violão em mãos, fazendo mágica sem querer.
Yoongi filmava com o celular, tentando focar em cada um deles, e até mesmo no olhar bobo de Jeongguk em direção a Jimin. Mas quando a música ficou mais baixa, a voz de Jin quase sumindo e crescendo aos poucos novamente, Yoongi não tinha olhos para mais ninguém, só para Jin, que mantinha as pálpebras fechadas, deixando a voz sair tão naturalmente, sentindo as batidas do cajón juntarem-se com as do seu coração.
A música acabou e os dois que assistiam bateram palmas, deixando a banda lisonjeada.
— E qual é o nome da banda? — Yoongi perguntou.
— Banda do Jin. — Jin não conseguiu deixar de repetir a piada, ouvindo risadinhas e revirar de olhos em brincadeira dos colegas.
— Não temos um nome, a gente nunca se apresentou formalmente — Taehyung explicou, alongando a coluna.
— Hmmm, vamos pensar em um... — Yoongi sugeriu, como se fosse fácil resolver aquele problema. — Pode ser uma sigla. B de Banda, e para não excluir os betas e pra identificar que vivemos no planeta terra, pode ser T de Terráqueos. E pra nos diferenciar dos betas, pode ser S de sazonais, porque respeitamos o tempo da lua.
— E quando o Faustão perguntar o que significa BTS, a gente vai dizer o quê? — Namjoon perguntou, porque toda vez que alguém dava a sugestão de um nome, ele imaginava o apresentador dizendo-o e quase nunca parecia legal.
— Banda terráquea sazonal — respondeu, como se a ideia fosse ótima. — Simples, problema resolvido.
— Eu ainda prefiro banda do Jin — Jin disse.
— Vou te dizer que eu também — Jimin concordou, rindo, porque nem em seus piores pesadelos se imaginaria dizendo aquilo.
— Jeans Band — Jeongguk sugeriu. — E daí todo mundo só veste jeans.
— Lobinhos Trevosos. — Yoongi insistiu em continuar com a conversa, mesmo vendo os semblantes de desaprovação dos próprios membros da banda.
— O único trevoso aqui é o Jimin. — Namjoon observou, descartando o nome. — O Jin toca uma guitarra rosa.
— É pra combinar com o meu cabelo!
— Cidade Alta! — Jeongguk quase gritou, ficando de joelhos, matando todo mundo de susto.
— Acho que esse é o menos pior.
— E a resposta pro Faustão não seria tão ruim. — Taehyung apontou.
— Ciiiidade ALTA! — Yoongi fingiu estar segurando um microfone, mas todos ficaram um pouco confusos com a sua imitação.
— Acho que esse é o Raul Gil... — Jimin piscou os olhos, balançando a cabeça, perguntando-se porquê os alfas faziam aquelas confusões.
E a tarde foi passando nesse clima, com outras músicas sendo tocadas, conversas aleatórias surgiam e até Yoongi tentou cantar, mas desistiu porque, segundo ele, não sabia conversar com o violão.
Quando todos decidiram ir embora, Jimin sussurrou no ouvido de Jeongguk:
— Você não vai, né? — Com a maior cara de bruxinho abandonado. Jeongguk não conseguiu negar e ficar mais um dia fora de casa, não mataria ninguém de saudades por lá.
Taehyung puxou Namjoon pela mão, despedindo-se de Jin e Yoongi na calçada. Queria ficar mais tempo com o seu alfa também. Jin ficou meio perdido, sem saber como poderia ir embora, já que achou que dividiria um uber com Namjoon e não conseguiu evitar de ficar um pouco magoado com os outros que simplesmente o deixaram ali propositalmente, não percebendo os olhares travessos de quem dava as costas e os deixavam a sós.
— Você mora aonde? — Jin perguntou, ainda parado em frente ao casarão. — Será que a gente consegue dividir um uber?
— Praia da Costa e você? — Yoongi respondeu, tirando as chaves do carro do bolso.
— Ah, no Bairro Universitário... — Jin fez um biquinho involuntário, percebendo que moravam em lados opostos da cidade. Talvez, fosse melhor assim, não queria alimentar aquela sensação de que seria muito bom passar mais tempo com Yoongi dentro de um carro.
— Eu te deixo lá. — Apertou a chave, destrancando a BMW branca estacionada do outro lado da calçada.
— Ah não precisa, é muito contra-mão pra você. — Jin recusou, já pegando o celular para pedir um carro, pois era tortura demais andar de ônibus no domingo. — Não quero incomodar.
— Não vai ser um incômodo... — Yoongi torceu os lábios, o coração batendo mais forte de repente só com a ideia de deixar as suas pretensões mais explícitas. — Você não quer parar em algum lugar? Tomar um café, um sorvete, sei lá...
— Você não tá cheio? A gente acabou de tomar o maior café da tarde lá dentro. — Jin riu, com o gosto do bolo de Yuna ainda adoçando a língua.
— Até que sim, mas eu gostaria de passar mais tempo com você. — Yoongi arqueou as sobrancelhas, o corpo indo para frente e para trás, os pés pendendo rente a calçada.
— Ah... tá. — Deu de ombros, ainda não colocando muitas expectativas naquela história. As pessoas não costumavam querer passar muito tempo consigo, logo Yoongi o conheceria o suficiente para se afastar também.
Ou, quem sabe, Jin poderia tentar ser menos chato.
×───||───×
Jeongguk esgueirou-se pelo jardim da sua casa, atravessando a área da piscina e chegando à saída dos fundos da cozinha. Mal entrou e já conseguia ouvir o radinho de Mary ligado. Há pouco tempo atrás, não acharia grande coisa, talvez, nem o escutaria de fato, mas Jimin causou uma revolução em seus ouvidos e ele até pensou que já havia escutado aquela música alguma outra vez.
Colocou a cabeça para dentro da porta para checar se a mãe estava por ali dando alguma ordem, mas só o que viu foi Mary cantarolando All My Loving, balançando suavemente a cabeça de um lado para o outro.
Jeongguk chegou por trás, abraçando-a pela cintura e dando-lhe um beijo na bochecha. Mary engoliu um grito, o coração disparou e se acalmou em segundos depois de sentir o cheirinho característico de Jeongguk.
— Garoto! — Virou-se depressa, sem saber se o batia com o pano de prato, ou se parava tudo e lhe dava um abraço. Preferiu a última opção. — Você sumiu o final de semana inteiro.
Jeongguk suspirou com a cabeça deitada no ombro dela, desejando que aquela mansão tivesse mais do afago de Mary, do que das palavras duras de Yoo-mi.
— Você ouviu o que ela disse, não foi?
— Uhum... E também gostei do que você respondeu — Mary sussurrou em inglês, fazendo Jeongguk rir. Sentou-se à mesa para continuar a conversa.
— E depois? O que eles fizeram? Quando saí de casa, não vi mais ninguém.
— Ela ficou estática por um tempo, parece que caiu em si. Depois foi lá pra cima e se trancou no quarto, seu pai foi atrás. Queria ter ido lá te ver, mas fiquei com medo de me pegarem. — Apoiou a bochecha na palma da mão, sorrindo com os olhos pequenos e verdes.
— Estava com saudades de você. — Jeongguk pegou a mão livre dela. — Mas eu não ia conseguir ficar aqui, preferi ir para a casa do Jimin, Yoongi foi para lá no domingo, tivemos um tempo bom entre amigos.
— Ele te faz bem, não é?
— Muito, muito, muito mesmo! — Jeongguk até sentiu um nózinho apertar na garganta e era inevitável que os seus olhos não brilhassem pelas lágrimas que se formavam sem controle, mas piscou os olhos e espantou aquela emoção para longe. — Por isso doeu tanto ouvir aquilo dela, porque eu sou uma pessoa melhor com ele... Eu conheci mais coisas, me sinto mais à vontade na minha própria carne, é uma sensação bizarra e incrivelmente boa.
— Eu estou muito feliz por você, meu filho. — Mary acariciou a mão de Jeongguk, com os olhos igualmente marejados pela felicidade alheia enchendo o seu coração de amor. — Não se deixe levar pelas coisas horríveis que a Sra Jeon disse. Elas não tem o poder de afetar o amor de vocês dois.
Jeongguk piscou os olhos demoradamente, apreciando algo de bom ecoando pelas paredes brancas daquela casa fria.
— Eu vou trazê-lo aqui algum dia para você conhecê-lo.
— Você tem que me avisar antes, preciso me preparar para esse momento. — Mary soltou uma risadinha sapeca, animada com a ideia.
— Assim que a lua cheia despontar no céu, pode começar a se preparar.
E decidiu ficar ali, ouvindo as músicas que Mary escutava, conversando sobre o dia-a-dia e fofocas do novo jardineiro. O cheiro do tempero preenchia o espaço e Jeongguk comeu um pouco do assado de cordeiro com batatas ali mesmo, na cozinha.
Subiu para o quarto antes dos pais chegarem. Não queria ver ninguém, não procuraria por eles, pois nem achava que era o certo a se fazer. Queria ouvir um pedido de desculpas, podia ser uma da bem esfarrapada, do tipo, "falei na hora da raiva", qualquer coisa era aceitável, exceto aquele silêncio que só fazia as últimas palavras trocadas entre os três ecoarem em sua cabeça.
E para parar de pensar, deu play no CD que comprou com Jimin. Os fones de ouvido caros faziam a experiência ser amplificada, os graves de Come Together reverberando em seus ouvidos era tudo o que pensava. Assim, percebeu qual era o vício da maioria das pessoas em música: ou fazia pensar demais no que precisava ser esquecido, ou fazia justamente o contrário, como era o seu caso.
Something o fez pensar em Jimin, vislumbrava o sorriso dele tão nítido que abriu os olhos para checar se não estava de fato no casarão, no quarto dele. Maxwell's Silver Hammer o fez pensar em um filme de comédia antigo, com vestidos grandes e rodados, bengalas e cartolas em uma coreografia que mais se parecia um stop motion. E por não conhecer nenhum dos integrantes, sempre imaginava Jimin na guitarra, completamente fora de contexto.
Quando deu por si, o álbum havia terminado e ele se preparava para dormir, pronto para encarar mais um dia e quem sabe, perceber que a mágoa não mais existia e ele não precisaria de escutar músicas para afogar os seus pensamentos. No entanto, a terça-feira chegou e ele acordou pensando em Jimin e no que sua mãe havia dito.
Saiu sem tomar o café da manhã, não querendo correr o risco de esbarrar com algum deles. Não que o seu pai fosse dizer alguma coisa, pois ele era mais apagado do que o próprio cheiro.
E o restante da semana foi seguindo da mesma forma. Tomava um banho rápido, pulava dentro do carro e comprava alguma coisa na cantina da faculdade, morrendo de vontade do café gostoso que só Mary conseguia fazer. Desejou que o fim de semana chegasse logo, quem sabe Jimin faria mais uma daquelas bandejas com tudo que gostava de comer pela manhã.
Yoongi começou a ir com o carro do pai e Taehyung ficava mais tempo no estúdio, ensaiando para a apresentação de sexta. Assim, Jimin e Jeongguk iam sozinhos no carro e beijos eram trocados antes do alfa ir embora. Mal estacionava e os cintos eram desafivelados, arfares pesados enchiam o interior do automóvel e uma vontade absurda de entrar e terminar o que começaram era quase sufocante, mas Jeongguk queria dar um tempo da estadia na casa de Jimin, pois não era como se morasse ali, era só a alma gêmea de um dos moradores.
— Por que você não entra só um pouquinho? — Jimin perguntou, não pela primeira vez na semana. Entre beijos, as línguas se encontravam fora da boca em uma bagunça, as mãos do alfa apertavam a sua bunda e ele só queria tirar aquela calça jeans apertada.
— Já é quinta-feira, bruxinho — murmurou, seguindo caminho até a orelha para sussurrar. — Sexta eu venho direto pra cá e a gente fica bem agarradinho com o monte de nó que eu vou te dar. — E lambeu a glândula de cheiro dele, fazendo-o gemer com a intensidade da língua contra a pele.
— Isso é algum tipo de vingança por causa do segredo da música? Eu juro que se a gente tivesse começado a ensaiar antes, eu te mostraria — começou a se justificar, sem perceber a voz pastosa, desmanchando-se nas mãos do alfa.
— Não fala assim... — Jeongguk se afastou para olhá-lo nos olhos, com as mãos espalmadas na bochecha dele. — Você sabe que não é por isso que não estou dormindo na sua casa t-o-d-o-s o-s d-i-a-s. — Riu da constatação, fazendo Jimin rir também, mas meio sem graça com todo aquele apego. Vai ver era a música que compôs, cantada tantas vezes ao longo dos ensaios que era impossível não querer Jeongguk só um pouco mais perto.
— Não tô acostumado a ficar longe de você. Tipo, o dia e a noite toda! — disse, como se fosse um absurdo, arregalando aqueles olhos que sabiam ser mimados quando queriam.
Jeongguk não se aguentou e beijou o rosto dele inteiro. A testa, as bochechas, o nariz, as pálpebras e um selo bem demorado e grudento na boca. Jimin ria sem parar, pensando que era ele a ser chamado de bruxinho, mas quem parecia ter o enfeitiçado era Jeongguk.
Despediu-se e subiu as escadas muito a contragosto, mas logo entreteu-se na própria rotina de jantar, conversar com as mães, tomar um chá com elas antes de subir para o quarto, tomar um banho, escovar os dentes, passar séruns e cremes no rosto, ler algumas páginas de algum livro e cantarolar a música que compôs no violão. Aquele era do tipo de acontecimentos que ele custava a acreditar, pois a menos de um mês nem conseguia chegar perto de um alfa e, agora, escreveu uma música para ele e a apresentaria para algumas dezenas de pessoas.
Pensou em levar as unhas à boca, mas o esmalte cinza escuro estava tão bonito que ele se reteu. Pensou em ligar para Jeongguk, dizer que estava nervoso, mas também desistiu. Ele o deixaria ainda mais nervoso por dizer que também estava nervoso, ansioso para finalmente ouvir a canção. Acabou dormindo pelo cansaço do dia de aulas, ensaios e caminhadas para o restaurante da Física.
Quando acordou no dia seguinte, sentia-se enjoado de tanto nervosismo, como se algo muito importante fosse acontecer devido a apresentação e não somente por causa dela. Expectativas de um futuro, de uma banda que agora tinha um nome. Cidade Alta acabou pegando mais pela falta de opção e pela necessidade de resolverem logo aquilo.
Jin até ia para o restaurante do outro lado do campus só para almoçar com eles, sem reclamar uma vez sequer. Óbvio que o culpado disso era Yoongi, mas até quando ele não estava, Jin parecia mais agradável, como se tivesse finalmente percebido que bancar a estrela não aproximava ninguém, só afastava.
Tudo o que acontecera nos últimos dias contribuíram para isso, pois ninguém se sentia confortável de compartilhar coisa alguma com ele: foi o último a saber que Jimin e Jeongguk tiveram um imprinting, nem suspeitava que Namjoon estava apaixonado por Taehyung e Jimin era o receio em pessoa ao pedir para cantar a música que compôs sobre o seu próprio romance, como se Jin fosse a pior pessoa do mundo e tivesse que se apropriar daquilo. Não queria mais sentir o coração batendo lento, levemente magoado com tudo até que, de repente, sentisse vontade de chorar com uma piada interna que não entendeu.
E era muito melhor estar aquecendo a voz com Jimin no corredor do auditório, do que fazer isso sozinho com um olhar chateado direcionado a si.
Jimin dava voltas ao redor do próprio corpo, fazendo a língua vibrar dentro da boca, só parou quando viu Jeongguk entrando no prédio, guiando-se mais pelo seu cheiro do que pelas coordenadas que deu. Logo se enfiou no abraço do alfa, afundando o nariz no pescoço dele para tentar se acalmar. O sândalo se fez mais intenso, penetrando o algodão da camisa que vestia, assim como os seus poros. Jimin era uma mistura dos dois aromas e ele amava quando Jeongguk fazia aquilo.
— Como você está?
— Agora, mais calmo — respondeu, abraçando-o forte.
Só não entraram abraçados porque a guitarra estava pendurada nas costas. Yoongi e Jin se cumprimentaram com um abraço, e um beijo na bochecha meio desengonçado. Não havia rolada nada mais do que um sorvete e uma conversa cheia de risadas, mas o interesse foi exposto e só restava uma oportunidade aparecer para acabar com as expectativas de um beijo e torná-lo real, mas estavam apreciando aquele clima de flerte, olhares intensos e toques sutis.
Sentaram-se nas últimas cadeiras acolchoadas. Os quatro estavam amontoados ao redor do celular de Jimin, checando a ordem das apresentações, percebendo que toda a discussão que fizeram anteriormente sobre aquilo, de nada adiantou, pois a lista estava em ordem alfabética.
As cadeiras eram inclinadas de cima para baixo, de modo que todos conseguissem ver as apresentações, como se fosse um grande cinema, a diferença era que lá na frente havia um palco, com uma bateria a postos, pedestais com microfones e amplificadores calibrados, prontos para o uso. Muitas vozes falavam ao mesmo tempo, alunos e acompanhantes ansiosos, pois o professor não era qualquer um. Ministrava cursos por todo o continente, aparecia na televisão quando o assunto era música e grandes composições. Em programas musicais, em homenagens feitas para artistas importantes, o nome dele aparecia na tela, sendo um dos compositores. Dava aula por hobby e pelo prazer de estar em contato com a nova geração, não precisava estar ali, mas gostava.
Quando ele apareceu, o auditório ficou mudo e o coração de Jimin parou de bater, ou batia tão rápido que ele nem sentia. O assistente do Sr Choi lhe passou um microfone e ele testou antes de começar a falar.
— Boa tarde, pessoas. Hoje iniciaremos e concluiremos, antes das seis, assim espero, as nossas apresentações finais da disciplina. — Arregalou os olhos em direção a todos, como uma ameaça, e sorriu, achando graça daqueles que ficaram nervosos com a sua fala. — Lembrando que, não coloquei tempo limite para as músicas, mas por favor, tenham bom senso e não apresentem uma orquestra inteira aqui na frente. Sabemos que nos dias de hoje as músicas tem por volta de 3 minutos e meio, então espero que vocês tenham trabalhado com isso.
Jimin respirou fundo e apertou com mais força a mão de Jeongguk, levando a outra na boca, nem ligando para o esmalte nas unhas.
— Vou então expor as expectativas para as apresentações: faça uma breve explicação acerca da composição, isso não é um podcast. Conceitos de harmonia, ritmo e melodia serão rigorosamente avaliados, vocês não são amadores. Dicção também é algo importante, não quero ter de ler a letra para saber o que está cantando. Solos de instrumentos também contam história, já falamos sobre isso nas aulas. Só serão aceitas versões instrumentais de músicas já existentes, não me venha com um funk cantado em bossa nova. Dito isso, vocês já possuem a lista com a ordem das apresentações, então assim que uma apresentação terminar, levante-se e esteja a postos para iniciar a sua, sem muita perda de tempo. Ok? Quem é a primeira pessoa?
Sem demora, a primeira ômega corajosa, que por sorte, tinha o sobrenome Ahn, levantou-se com um violão e posicionou-se atrás do microfone. Jimin tentou relaxar, apreciar as apresentações até que a letra P chegasse, mas não sentia que estava conseguindo. Assistir não sendo um aluno da disciplina era infinitamente melhor. E lá se foram os Byuns, Chang, Do, Gang, Im, Kim Namjoon se apresentou, seguido de Kim Seokjin e Kim Taehyung, levando a galera do pop à loucura, até que um Paeng foi chamado e Jimin já sabia que seria o próximo.
Lá do pequeno palco, tudo o que conseguia ver era o reflexo verde que as lâmpadas faziam nas lentes do óculos de Jeongguk, tanto que acabou levando um susto quando ouviu a voz do professor.
— Park Jimin — Sr Choi disse, preparando as suas anotações. Jimin levantou a mão e o professor balançou a cabeça. — Então temos mais uma banda, qual é o nome?
— É... Cidade Alta. — Olhou para trás, buscando o olhar de Taehyung, tentando não mostrar muito as mãos trêmulas.
— Você é o vocalista?
— Não, é o Jin... — Apontou para ele, em pé no canto esquerdo com a sua guitarra rosa.
— E por que não é o vocalista que vai cantar?
— Porque... — Respirou fundo, apertando os dedos contra as palmas para tentar aquecê-las. As janelas do auditório estavam abertas, era até um pouco quente ali dentro, mas Jimin aceitaria um casaco sem nem pensar duas vezes. — Porque a letra tem um significado importante para mim.
— E você se sente confortável para compartilhar?
— Até que sim, mas eu não queria influenciar a decisão do senhor.
O professor franziu o cenho, tentando pensar em algo que o fizesse abandonar o seu criterioso sistema de avaliação e insistiu:
— Fique à vontade para compartilhar, então. — Olhou o ômega de cima a baixo, curioso com o motivo e esperava que fosse um dos bons, pois se não fosse, aquilo seria uma tremenda petulância.
— É sobre o meu imprinting.
Um uníssono de arfares surpresos ecoou pelo auditório e Sr Choi levantou-se da cadeira, estupefato. Jimin procurou por Jeongguk novamente e ele sibilou um "calma" de longe. Namjoon chegou mais perto de Jimin e Jin o acompanhou, em um instinto protetor devido a atenção que o ômega não queria receber, mas era inevitável.
— Tá... — murmurou o professor, um pouco sem ar devido a raridade dos fatos.
Imprintings já eram raros, tomar conhecimento deles era mais raro ainda, ter músicas compostas sobre o acontecido, nem se fala... As mais famosas eram sobre o assunto, mas eram antigas também, a última foi lançada no começo dos anos 2000. De resto, tudo o que existia era escrito baseado em suposições e relatos distantes.
— Podem começar... Só vou precisar gravar a apresentação para melhor avaliar depois, pois confesso que agora eu não sou ninguém.
Jimin concordou e olhou para Taehyung, que começou a fazer a contagem batendo as baquetas. A balada romântica era perceptível desde o primeiro acorde, mesmo que a guitarra de Jimin fosse mais elaborada do que as que ouviam por aí, mas esse era o seu jeito de contar a sua história, seria estranho se fosse diferente. Tocou a introdução e o coração já não batia mais acelerado, e quando a paleta bateu na última corda, segurou o microfone ainda preso ao pedestal e cantou olhando para quem não tinha olhos para outra pessoa no mundo desde o dia 10 de junho de 2017.
Alguma coisa me dizia que na lua eu não podia acreditar
Mas te olho e sinto que foi ela que te mandou pra mim
Em algum lugar no passado, a nossa história se perdeu
E ainda me dói olhar pra aquela cicatriz no teu peito
Eu ignorava todos os contos de fadas que ouvia por aí
Mas nas suas histórias eu acredito, eu acredito
Elas me dizem sobre um mundo onde eu quero estar, alguma coisa sobre destino escrito nas estrelas e ver o meu futuro inteiro dentro do seu olhar
E às vezes, começo a pensar que mesmo sem nada interrompendo o nosso amor
Eu inventaria mil vidas só para nunca sair do seu lado
(Refrão)
As luas cheias passam e eu fico bem
Mas foi só pelo seu cheiro que eu fiquei refém
Você se foi e eu fiquei sozinho
Acho que quem me contou isso foi um passarinho
Mas não tem problema, não
Se eu te achei agora, acharia de novo
É, eu te acharia de novo
Assim que a música foi finalizada e Taehyung segurou os pratos da bateria, uma salva de palmas reverberou pelo auditório e Jimin, enfim, percebeu que havia mais gente do que antes de começar a tocar. Curvou o tronco em agradecimento e desplugou a guitarra rapidamente, sabendo que a resposta das avaliações de todas as apresentações seriam dadas em sala de aula, em um momento mais reservado com a turma.
A banda deixou o palco e as palmas não cessavam, a próxima pessoa a se apresentar já estava se preparando e ninguém se importava, todos só queriam ver para onde Jimin estava indo e se a outra metade dele estava ali. Tirou a guitarra do corpo pela alça e fez um sinal para que Jeongguk e Yoongi se levantassem e o acompanhassem em direção a saída, pois se continuassem ali, ninguém iria parar de olhar para eles.
E estava na cara quem era o alfa de Jimin, pois ele era uma mistura de sorrisos e lágrimas, sem acreditar que alguém fora capaz de compor uma música para si, sobre os dois, que ele fazia parte desse dois. E sentia que poderia fazer algo parecido porque aquele amor não cabia mais dentro de si.
E aquele fora um tipo de exposição que não deixou Jeongguk incomodado, ou desconfortável. Tudo bem que só tinha olhos para Jimin, mas pelo pouco que olhou ao redor, não sentiu sentimentos ruins direcionados a si, como a inveja. Os olhos dos estudantes exalavam amor e felicidade ao verem algo tão raro acontecendo bem debaixo dos seus narizes, e Jeongguk sentiu uma tristezinha de repente, pois estranhos conseguiram transmitir acolhimento e gratidão somente com o piscar dos cílios e sorrisos sinceros, mas a sua mãe nem ousou chegar perto daquilo.
— Uau, vai ser difícil competir com isso, hein? — Uma aluna com o sobrenome Ryu disse no microfone, tentando captar a atenção.
Ainda ouviam a voz da aluna e do professor no microfone reverberando pelo corredor quando saíram do prédio. Jeongguk abraçava Jimin enquanto andavam e todos sentiam que precisavam comemorar o sucesso da apresentação, não só de Jimin, mas de todos os membros da banda.
Garrafas e mais garrafas de litrão saíam e entravam da capa de isopor sobre a mesa. Os bares da rua universitária estavam lotados, as calçadas tomadas de mesas e cadeiras de plástico e pessoas andavam no meio da rua. Porções de batata com bacon foram compradas e devoradas em instantes. A visão já começava a ficar meio turva quando Jimin levantou-se para ir ao banheiro pela primeira vez, mas continuou bebendo, encaixado no abraço do seu alfa, que sussurrava juras de amor e elogios em seu ouvido, deixando beijos atrás da sua orelha.
— Não vejo a hora da próxima lua chegar pra eu te apresentar a ela — sussurrou, com a voz mole e os lábios molhados e geladinhos de cerveja. — Ela vai estar gigante na praia, com os olhos inteiros só para você.
— E a lua tem olhos? — Jimin riu, brincando com os dedos de Jeongguk.
— Tem, é claro. Por que você acha que os meus olhos são tão grandes? Eu só posso ser filho dela. Não tem outra explicação.
Jimin queria acreditar que Jeongguk falava aleatoriedades sem sentido, mas mesmo bêbado, sabia que aquilo não era sobre os seus olhos, mas, sim, sobre o descuido da mãe que não o enxergava. Era mais fácil pensar que o sangue que corria em suas veia não era o mesmo do dela, do que aceitar que o desinteresse alheio possuía raízes mais profundas. Deixaria que Jeongguk fingisse acreditar nisso.
— Então quer dizer que os meus problemas com a lua foram resolvidos?
— Sim, você olha para ela todos os dias e nem sabe. — Curvou o pescoço para olhá-lo nos olhos, chegando tão perto de Jimin que as lentes dos seus óculos embaçaram. Arregalou as pálpebras, fazendo-o mostrar aquele sorriso bêbado e apaixonado. — Faça um pedido.
Jimin respirou fundo e tirou o óculos do rosto dele. Voltou a se aproximar e deu-lhe um beijo de focinho.
— Eu desejo que o passado não se repita. Quero viver ao seu lado para sempre.
Jeongguk o beijou na boca, segurando forte o seu rosto com a mão quente e macia, e só isso já era o suficiente para fazer Jimin derreter. Em um suspiro, as línguas geladas se encontraram, as vozes ao redor foram abafadas e o momento se arrastava sem que percebessem. Beijavam-se com o amor pulsando no peito, com as entrelinhas daquela conversa lidas até o avesso. Completavam-se e entendiam-se, não havia como negar que eram almas gêmeas.
Na mesa, Taehyung, Namjoon, Jin e Yoongi não viam esse amor todo, apenas o brilho da língua de um dentro da boca do outro.
— Ê, nojeira — Jin se manifestou, dando um gole na cerveja e arregalando os olhos, tentando olhar para o outro lado.
— Quando será que isso vai passar, hein? — Taehyung soluçou, sentindo um pouco do suco gástrico na garganta. Talvez devesse parasse de beber.
— Eles se conhecem só tem três semanas. — Namjoon comia a amostra de amendoim que foi deixada por um vendedor na mesa e deu de ombros. — Têm três semanas que eles perderam o BV.
— Três semanas que eles se reconheceram — Yoongi corrigiu. — Deve ser uma coisa muito doida, porque tipo, os lobos anciãos também estão nesse rolo. Imagina quanto tempo eles esperaram por esse momento. — Semicerrou os olhos, dando muita atenção ao beijo que ainda acontecia, analisando-o.
— Ainda sim, eu não gostaria de ser reencarnado — Jin sussurrou, para não ofender o casal. — Imagina viver sabendo que existe uma única pessoa no mundo que é a sua metade... Você pode nunca conhecê-la e morrer sozinho.
— É, esse é um problema. Por isso os casos de imprintings são tão... Famosos? — Taehyung perguntou.
— Repercute bastante, de fato — Yoongi concordou.
— Eles são tipo esses casos de gêmeos siameses? — Namjoon já dobrava o papel do amendoim, esperando que o vendedor passasse para comprar um canudinho. — Eu acho que são, sei lá, um caso em 200 mil.
Todos franziram o cenho e começaram a rir, chamando a atenção dos beijoqueiros.
— Pior que eu acho que os imprintings são mais raros do que isso — Taehyung respondeu, ainda rindo, pedindo mais uma cerveja.
— O que é tão engraçado? — Jimin perguntou, voltando ao mundo real.
— Nada não — responderam em um uníssono desastroso e tentaram mudaram de assunto.
— A incidência de imprintings é de um em 500 mil — Jeongguk disse, dando um gole em sua cerveja recém servida e recebendo olhares incrédulos de quem achava que ele estava muito focado em enfiar a língua na boca de Jimin, mas ele não conseguiria deixar de ouvir nem se quisesse, sua audição de alfa era muito potente, mas Yoongi e Namjoon estavam bêbados demais para se lembrarem disso. — E daqui alguns anos, eles vão deixar de existir completamente.
— Por quê? — Jin perguntou, curioso.
— Porque já faz um tempo que as pessoas não encontram tantos obstáculos para ficarem juntas. Não existem mais guerras, casamentos arranjados, nem monarquias proibindo o amor de príncipes e plebeus. E se acontece, é só tacar o foda-se e viver junto do mesmo jeito, não é como se uma sociedade inteira fosse arruinada por causas dessas coisas.
— Faz sentido... — Taehyung concordou e dali para frente, pouca coisa foi lembrada.
Jin até queria que Yoongi não estivesse tão bêbado, porque quando decidiram ir embora, ele andava com o braço sobre os seus ombros, irradiando aquele cheiro de laranja para as suas roupas. Enlaçou a cintura dele e foram andando para a sua república, vomitando um pouco antes de caírem no sono. Taehyung também não saiu do Bairro Universitário, foi para o apartamento de Namjoon, deixando Jimin e Jeongguk sozinhos para pegar um uber.
Quando chegaram no casarão, as luzes da escada estavam acesas e se não fossem por elas, hematomas nos joelhos seriam vistos no dia seguinte. A porta também estava aberta e Jeongguk levou alguns bons minutos para rodar a chave na maçaneta enquanto Jimin tirava os sapatos sentado no chão. Aproveitou que já estava ali e desamarrou os cadarços do alfa, que conseguiu se livrar do tênis sem se desequilibrar.
Subiram as escadas apoiados no corrimão e a mão pesada de Jeongguk bateu com tudo no interruptor do quarto. Deitaram-se na cama meio atravessados, sem conseguirem mudar de posição de tão pesados que se sentiam. Jimin tentava desabotoar a calça para se livrar do jeans e mais resmungava do que de fato movia o tecido. Jeongguk estava confortável com a sua calça larguinha de alfaiataria e por estar deitado de barriga para cima, nem notou o cinto apertando a cintura.
— A gente precisa escovar os dentes — Jeongguk disse, de olhos fechados. — E tomar um banho.
— Uhum... — Jimin passava a calça pelos joelhos e começou a chutar com força, atirando-a no chão quando finalmente conseguiu se livrar dela.
Deitou na cama respirando pesadamente e sabia que dali não sairia. Era sexta-feira e trocaria os lençóis no dia seguinte mesmo, não tinha problema dormir daquele jeito. Sentia que o sono o derrubaria a qualquer momento devido o silêncio da respiração profunda de Jeongguk, mas ele ainda não havia dormido.
— E desligar as luzes — o alfa avisou, sem mover um dedo para resolver o problema.
Jimin abriu minimamente os olhos, percebendo a lâmpada ainda acesa. Tateou a cama, pegando alguma coisa que ele não soube identificar de imediato e nem teria tempo para tal, pois arremessou o objetivo no interruptor e então, fez-se escuridão.
— O que você jogou?
— Shhh — Jimin sibilou, procurando o corpo do alfa para dormir abraçado a ele.
— Você tem a mira boa — Jeongguk comentou, passando a mão pelas costas do ômega, que voltou a sibilar, mesmo depois de sentir a mão alheia em sua bunda.
E com uma apertadinha, estava pronto para cair no mais profundo dos sonos.
Parecia que acabara de fechar os olhos quando sentiu a claridade inundar o quarto novamente. Ficou confuso, pois ainda se lembrava de quando Jimin conseguiu apagar as luzes sem se levantar da cama, mas fechar as cortinas já era demais. Acordou com um gosto horrível na boca e sem o peso do corpo do namorado sobre o seu peito. Sentou-se e sentiu dor de cabeça, parecia que o seu cérebro estava descolado do crânio e o cabelo para cima não ajudava em nada a sua aparência.
Não demorou a achar Jimin, sentado no chão, juntando uma porção de creme com a concha das mãos.
— O que é isso?
— Respondendo a sua pergunta, eu joguei um pote de creme no interruptor e ele se abriu. — Sorriu com os lábios cerrados, arrastando a palma da mão na borda do pote, tentando recuperar o hidratante corporal.
Jeongguk se jogou na cama novamente, resmungando de dor de cabeça e afundando o rosto no travesseiro com uma ressaca horrível de uma noite incrível.
×───||───×
— Aaah...
Sentado na maca, Jeongguk colocava a língua para fora enquanto um palito de picolé era pressionado levemente contra a sua língua. Pensou na hipótese dos médicos usarem o abaixador de língua de madeira para fazer picolés de verdade, mas logo a descartou, pois também não entendia o motivo da inspeção na sua garganta se o seu problema precisava de, no mínimo, um exame de sangue. Depois que o médico de Jimin pediu para que ele retirasse a camisa, percebeu que o ômegalogista só queria dar uma olhada na cicatriz em seu peito. Eles nunca perderiam a oportunidade.
— Vou chamar um alfacologista amigo meu — disse, simpático, sorrindo somente com os olhos, já que usava uma máscara cirúrgica.
Jeongguk olhou para Jimin, sentado na cadeira logo à frente e colocou a camisa por cima do ombro, cobrindo a cicatriz. Trocaram olhares que diziam: "É, parece que vai ser sempre assim" e logo o outro médico apareceu no consultório, com a respiração ofegante, como se não acreditasse que o seu próximo paciente era um alfa com imprinting.
— Olá, bom dia. Sou o dr. Son. — Cumprimentou Jeongguk, antes de pegar um par de luvas cirúrgicas. — Posso ver a cicatriz?
— A minha cicatriz não é um problema — Jeongguk respondeu, em um tom neutro. — Estou preocupado com o meu cio. Parei de tomar os supressores porque o meu lobo começou a recusá-los.
— Certo, certo... — Dr. Son parecia um pouco sem graça e Jimin olhava cansado para toda a cena. — Vou pedir uma coleta de sangue e alguns exames específicos.
Jeongguk levantou-se da maca e de costas para os médicos, colocou a camisa, sendo acompanhado até o ambulatório no andar de cima e deixando Jimin sozinho com o seu ômegalogista.
Jimin continuava com a sua prescrição de anticoncepcional. Jeongguk saiu de lá sem respostas, apenas com um laudo médico a ser entregue na universidade, alegando cio instável e que ele poderia ser afastado a qualquer momento, assim como o seu parceiro. Só restava esperar o seu corpo fazer a desintoxicação e começar a ser afetado pela lua novamente.
Ela que mantinha o seu ciclo e logo mais estaria cheia novamente, fazendo Jeongguk sentar-se à bancada da cozinha de Jimin, lendo o livro sobre os segredos da Lua de Yeri.
— Pra isso você aparece aqui durante a semana, né? — Jimin disse, emburrado, os braços cruzados e um biquinho manhoso nos lábios.
Jeongguk levantou o olhar e deu aquele sorriso charmoso que fazia Jimin se odiar por amar tanto. Puxou-o para perto, colocando-o entre as suas pernas para beijar o biquinho e espalhar outros beijos por todo o rosto. As mãos desceram pelas costas, ficando paradas na base da coluna do ômega, somente os dedos repousados no comecinho da bunda.
— Eu fico um pouco a mais, tá bom? Só não vou dormir aqui — Jeongguk anunciou.
— Por que não?
— Porque eu não quero ficar mal acostumado. — Deu-lhe um selinho, enlaçando a cintura e dando fim a distância dos corpos. — Você já está mal acostumado.
Jimin murmurou, não querendo concordar, mas Jeongguk não queria achar que tinha uma vida perfeita e inexistente. Seu lugar ainda era naquela mansão na Ilha do Boi, recebendo os afagos de Mary e o silêncio dos pais, quase como um castigo sobre algo que não fez por mal. Esconder Jimin sempre esteve em seus planos e não se arrependia disso, muito menos depois de tudo o que escutou.
Jimin o puxou para o quarto e só se deu por satisfeito quando Jeongguk puxou a barra da sua saia e, delicadamente, o livrou da meia arrastão. Cavalgou o pau do alfa como se não tivesse transado com ele o final de semana inteiro, logo depois de se recuperarem da ressaca. Apoiava as palmas nos ombros dele e quicava olhando-o profundamente nos olhos, mordendo os lábios para não gemer tão alto, gozando no abdomen dele enquanto se beijavam, com Jeongguk preenchendo as palmas com a sua bunda, puxando-o para perto e atar-lhe o nó.
— Essa é, definitivamente, a melhor posição para o nó — disse, com o quadril encaixado no do alfa, abraçando-o e lambendo-o a glândula de cheiro, enquanto a ponta dos dedos de Jeongguk serpenteavam pela sua pele, causando-lhe espasmos involuntários.
— Concordo... — sussurrou, meio mole. Os olhos reviravam e ele gemia baixinho com a atenção que o seu pescoço recebia.
Jeongguk estava completamente perdido. Aquela quebra de rotina parecia deixar tudo ainda mais gostoso, pois era quase noite de uma quarta-feira e os dois estavam no meio da cama, as roupas jogadas no chão e a sua língua sendo chupada em um beijo que o fazia sentir o interior de Jimin contraindo-se ao redor do seu pau.
O nó se desfez e os dois ficaram ali, um em cima do outro, sentindo o calor da pele e a respiração sincronizada. Quando Jimin saiu de cima de Jeongguk, o alfa virou-se de lado só porque gostava de olhar para o rostinho suado, os lábios vermelhos e o sorriso que ganhava sem precisar fazer graça.
Jimin nem precisou insistir muito para Jeongguk tomar um banho consigo. O alfa cantava a música feita para si enquanto massageava o couro cabeludo de Jimin, observando a espuma do shampoo tomar os fios escuros. A água já limpa escorria pelo seu pescoço e os lábios de Jeongguk aqueciam a pele gelada, sussurrando as palavras que escreveu e deixando-o todo bobo.
— A sua voz é bonita — Jimin comentou, puxando os braços de Jeongguk em direção a sua cintura, sentindo todos os seus músculos relaxarem com o calor do corpo alheio grudado no seu.
— Eu acho que você só pode estar muito apaixonado. — Jeongguk riu soprado, dando um beijo molhado atrás da orelha de Jimin.
— É sério, algumas aulas com o Jin e você já pode pegar o lugar dele na banda.
Gargalharam com a insensatez do que diziam, pois ninguém ali era maluco de fazer uma maldade dessa.
Jeongguk vestiu algumas peças que esquecera ali e Jimin não perdeu tempo e colocou o pijama, descendo para começar o jantar. Quando Yeri e Yuna chegaram, terminaram as carnes porque Jimin não era muito bom naquilo e Jeongguk insistiu para ajudar na salada, lavando algumas folhas de alface.
O livro de Yeri ainda estava sobre a bancada, aberto em uma página aleatória. Jimin andava pela cozinha e tentava ignorá-lo, olhando-o de soslaio de vez em quando. O vento da noite fazia os cristais pendurados na varanda tilintarem e algumas páginas do livro passarem, parando de repente em uma, mesmo que as folhas do ramo de alecrim em um copo d'água continuassem a serem jogados para trás.
— Acho que vem uma tempestade por aí — Yeri disse, chegando perto da janela e fechando os olhos, sentindo o vento bater em seu rosto e o clima pesado e, confortável ao mesmo tempo, que só um céu nublado poderia proporcionar.
Jeongguk franziu o cenho, não queria dirigir no meio da chuva, mas também não queria ir embora antes que ela chegasse. O cheiro dos filés acebolados estavam deixando o seu estômago maluco.
Jimin ainda olhava para o livro e algo dentro de si o dizia para chegar mais perto, pois o seu lobo estava inquieto, querendo se enfiar nas cobertas com o seu alfa ao lado. E mesmo que sentisse aquele desconforto, a vontade de descobrir o que motivava o seu lobo a se afastar era ainda maior. Era como se precisasse descobrir algumas partes daquele passado desconhecido e assim, moveu os pés em direção à bancada, lendo o que constava naquela página imóvel.
Grande Lua Cheia que tem poder sobre todas os lobos
Não leve o meu amor embora
Coloque sua graça no meu unguento e cure suas feridas
Cicatrize o buraco em seu peito e deixe que o seu coração volte a bater junto ao meu, vivo e cheio de amor
Tenha piedade dos amantes dessas terras e não me faça ter de procurá-lo em outras vidas
Pois sua ausência nesse plano seria o meu maior desalento
Oração feita por Dimitri Valero, curandeiro da Alcateia do Sul, para o seu par, Ulysses Agassi.
Lágrimas desciam pelo rosto de Jimin a cada linha lida e ao final, o ar lhe faltou nos pulmões e em um engasgo, ele deixou que um choro forte sacudisse o seu peito. Os outros três, que estavam distraídos com a tempestade eminente, assustaram-se e em um pulo, Jeongguk estava ao seu lado, abraçando-o sem entender e levando-o para longe do livro.
Yeri passou os olhos rapidamente sobre a página e Yuna o fechou em um movimento brusco, dando um olhar enfezado para a esposa. Foi para a sala e viu Jimin abraçado a Jeongguk, sentados no sofá, os olhos vazios olhando para o nada enquanto o ouvido estava grudado no peito do alfa, ouvindo os batimentos cardíacos fortes, emitindo vida daquele corpo.
Não sabiam o que fazer, mas parecia que só o coração alheio batendo já o acalmara e ficaram grudados durante o jantar. Jimin comeu pouco. Jeongguk tentava levar o garfo cheio de comida até a boca dele, mas estava distraído demais repetindo os nomes dentro da sua cabeça. Ulysses foi o nome que chamou durante o seu cio e Dimitri tinha uma proximidade com o seu nome de agora que ele não sabia o que pensar. Dimi. Jimin. Dimitri. Yeri devia possuir algum tipo de mediunidade para escolher um nome como esse.
Jeongguk não ousou ir embora aquela noite. Deitados na cama, Jimin com a cabeça sobre o seu peito, em completo silêncio ouvindo as batidas do seu coração, tentando acalmar o lobo que ele mesmo perturbou.
— Depois da apresentação, — Jimin finalmente falou, quebrando a quietude desconfortável. — isso vai mesmo passar? Porque eu não sei se vou conseguir fazer.
— Eu não posso te dar certezas, meu amor... — Jeongguk respondeu, acariciando os fios de cabelo. — Mas segundo o livro, isso seria uma forma da Lua reconhecer que nos reencontramos e levar acalento para os nossos lobos, precisamos comunicar à Ela que estamos aproveitando essa nova oportunidade. Eles não merecem ficar tão angustiados assim. E eu não quero te ver chorando desse jeito de novo.
Jimin fechou os olhos com força, pois o que doía em si, doía em Jeongguk também e ele sentia muito por isso.
— Me marca com o seu cheiro? — pediu, levantando a cabeça para olhá-lo nos olhos, mostrando a súplica contida naquele pedido.
Deitou-se de lado e sem demora, sentiu o peito do alfa contra as suas costas, o focinho logo foi esfregado contra a glândula de cheiro, fazendo tudo ao redor cheirar a sândalo e um ronronar baixinho ser emitido pelo ômega. Jeongguk suspirou contra a pele, o hálito quente incendiando-a, o corpo menor foi buscando mais espaço no encaixe e um beijo foi deixado ali, a língua passando levemente pela glândula, mordiscando-a porque sabia que podia, porque o toque era agradável para o seu ômega.
Jeongguk não demorou a ouvir a respiração pesada dele, dormindo profundamente. O que não aconteceria se o alfa não estivesse ali e não teria acordado melhor sem a presença dele.
A fragrância de ameixas negras era inexistente e Jimin sentia o peso do significado daquilo. Seu pescoço ainda não tinha a marca do alfa, mas o seu corpo inteiro exalava o fato de que já pertencia a alguém. Embreou os dedos pequenos nos fios castanhos de Jeongguk e ficou olhando-o dormir, pouca luz passava pelas cortinas, mas já era o suficiente para perder tempo ali, olhando o peito dele subir e descer devido a respiração. Pressionou o polegar contra a testa dele e estava quente, aconchegante, vivo.
Queria parar de sentir aquele constante alívio, checando o tempo inteiro se o coração batia. Seu lobo precisava sossegar e pela primeira vez, desejou que a lua cheia chegasse logo de uma vez para darem fim aquele sentimento intruso. Queria amar Jeongguk sem medo do passado se repetir, queria viver o presente de quem vive a primeira vida e planejar o futuro com as expectativas, ambições e sonhos que pertenciam somente a si.
Não foram para a universidade. Jeongguk já havia feito algumas provas e Jimin apresentado vários outros trabalhos. Aproveitaram o dia assistindo filmes e comendo algo gostoso enquanto ainda chovia lá fora.
Os dias que se seguiram foram vividos mergulhados em um mar de ansiedade pela bendita Lua Cheia que parecia nunca chegar. Ela estava próxima, mas as horas não se passavam, os ponteiros se arrastavam e Jimin passava a maior parte do tempo perguntando-se o motivo dos nomes dos seus lobos estarem presentes naquele livro antigo. A morte de Ulysses foi tão impactante para a alcateia que precisou ser registrada, ou foi as súplicas não atendidas de Dimitri que causou uma certa revolução na mitologia lupina, já que as suas preces não foram atendidas?
Perguntar-se como Dimitri viveu o resto dos seus dias fora inevitável, mas não queria que o seu lobo interior respondesse. A dúvida vinha em momentos sensíveis, ou em que percebia que estar ao lado e ser amado por Jeongguk era tão bom que imaginar-se sem ele o causava uma dor lancinante. E então, pensava em Dimitri e em Ulysses, e tentava lembrar-se do nome que deu às filhas, mas percebeu que se esquecera completamente e não queria perguntar a Jeongguk.
Aquela sensação estranha de estar preso ao passado, resolvendo problemas que não eram seus, era quase sufocante, paralisante. E quando a Lua Cheia chegou em menos de uma semana, Jimin sentiu o alívio de uma espera que durou algumas centenas de anos.
Olhava pela janela do carro a ponte que ligava a Ilha do Boi ao continente, enfim passando pelas mansões e as luzinhas amarelas dos postes, até o fim da ilha e a praia vista no horizonte.
Passaram por uma guarita e pararam em frente a uma construção de linhas retas, branca, sem muros. Da entrada, Jimin conseguia ver o jardim que fazia caminho para a piscina aos fundos e o quintal era literalmente a praia. O som das ondas atropelaram os seus ouvidos e a espuma contrastava-se com o oceano escuro, deixando-o hipnotizado.
Suspirou com a emoção que invadiu o seu peito. Sentiu a mão de Jeongguk procurar pela sua e acordou do transe, deixando-se ser levado em direção a areia. O ritual iria finalmente começar, não podia mais ser adiado, a ansiedade não os deixariam fazer qualquer outra coisa que não fosse aquilo, pois Ela já estava lá, grande e exuberante no céu, prateada como em nenhum outro dia ou lugar. Parecia, realmente, que os olhos da Lua estavam atentos a somente aquele único momento.
Andaram um pouco pela areia, tentando fugir das luzes emitidas pela casa de Jeongguk. Pararam somente quando alguns refletores que estavam mais longe não os deixaram no completo breu. Jimin olhava para o chão e Jeongguk mantinha os olhos em direção ao céu. Era justamente quando a Lua estava gigante daquele jeito que o ômega sentia certa repulsa, evitava olhar para ela como quem ignora a presença de alguém que o magoou.
Jeongguk ajoelhou-se, enfiando os dedos dos pés na areia, ficando em posição de prece, já tão acostumado a fazer pedidos à Lua. Jimin imitou os seus movimentos e eles se entreolharam, respirando fundo antes do alfa comunicar à Lua que os seus pedidos foram atendidos: encontrou a sua alma gêmea.
Grande Lua Cheia, que não deixa os seus fiéis em puro lamento
Meus pedidos foram atendidos
Meu amor está ao meu lado.
Somente Vossa Majestade foste capaz de tirar-me de tamanha desilusão
Seu nome agora é Park Jimin
E eu, Jeon Jeongguk, aceito de bom grado essa nova oportunidade de amá-lo como não pude no passado
Jeongguk repetia os versos, apertando com força a mão de Jimin. A voz doce dele ecoava em seus ouvidos, mostrando a angústia que algum dia sentiu por pedir e pedir, e nunca ser atendido. Agora, estavam ali, sentindo novamente o calor da pele dele contra a sua e encontrando refúgio em sua existência. Mil vidas poderiam viver, mas em todas elas, Jeongguk sempre pareceria ter sido feito para Jimin.
As lágrimas que tentava não derramar, molhavam o seu rosto. Seus dedos já estavam dormentes quando Jeongguk começava a repetir os versos pela terceira vez, mas ele não se incomodava, pois o aperto fazia-no estar presente e na quarta vez, Jimin sentiu um impulso de olhar para a Lua. Na quinta, seus olhos foram em direção ao mar, a maré alta fazia as ondas quebrarem tão perto de onde estavam e Jimin estava hipnotizado. Na sexta vez, a voz de Jeongguk estava mais alta, tomado pela bênção, exaltando quem havia lhe dado o melhor dos presentes. Na sétima e última vez, os olhos de Jimin foram em direção à Ela, encarando o seu brilho como há muito não encarava, sentindo, finalmente, alívio e gratidão.
Levantou-se no fim do último verso e andou em direção ao mar, sentindo os pés serem atingidos pela água salgada, gelada e violenta, ricocheteando-lhe a pele com pequenos grãos de areia. A garganta não se apertava mais porque o choro não era contido. E não era apenas Jimin chorando, mas o seu lobo derramava o mesmo pranto de cem anos atrás, finalmente percebendo o seu pedido atendido.
Grande Lua Cheia, agora eu entendo
Nunca mais duvidarei dos intempéries que colocastes em minha vida
No passado, eu o perderia, se não naquela batalha, em outras mil que ele enfrentaria
Em tempos de paz é onde nosso amor renasce, em raízes profundas e antigas
Meu unguento não cicatrizou suas feridas, mas deu-lhe forças para que pudesse voltar para mim
Forte e cheio de vida, como a primeira lembrança da sua existência sendo a última que passou pela moldura dos meus olhos
E é nesse corpo que enfim direi adeus à eternidade, com o meu amor de volta ao meu lado
Jeongguk estava em seu encalço, ouvindo os versos saindo automáticos da boca do ômega. Enlaçou os ombros dele e o apertou forte, beijando-lhe a nuca e chorando com o que parecia o fim de todo aquele tormento. Jimin fez as pazes com a Lua.
Ficaram assim até que os olhos parecessem menos inchados. Jimin envolveu-se no abraço de Jeongguk, afundando o rosto em seu peito e apertando-o tão forte que sentiu-se um pouco fraco quando resolveram andar. Olhava para as pegadas que faziam na areia, ciente de que não faziam a sua marca somente naquele tempo, mas no passado também. Onde quer que fossem, os outros lembrariam-se daquele amor, seja pelas preces infinitas, seja pelas músicas que Jimin deixaria escritas.
— Como você se sente? — Jeongguk perguntou, olhando-o com aquele olhos grandes e cheios de felicidade aliviada.
— Acho que eu nunca me senti tão bem em toda a minha vida. Sinto que, daqui para frente, tudo vai ser diferente, porque era como se eu vivesse com um peso no peito e agora... Sou só eu. — Respirou profundamente, sentindo o cheiro da maresia. — Mal posso esperar pelo meu cio, acho que dessa vez vai ser muito melhor.
— Hmmm, já tá pensando no cio, hein? — Jeongguk brincou, agarrando-o pela cintura e beijando-lhe o pescoço.
— É claro. Quero que seja só eu e você, sem nenhum lobo interior chamando nome de outra pessoa. — Aproveitava-se dos beijos atrás da sua orelha, sorrindo quando o nariz de Jeongguk começou a fazer cócegas de propósito.
— Vem, vamos lavar os pés antes de irmos.
Jeongguk procurou pela mangueira do jardim e lavou os pés de Jimin primeiro. Ele que puxou a barra da bermuda para cima, sentindo a água fresca substituindo a aspereza da areia nos joelhos. Lavou as mãos e já se sentia mais leve, dando alguns passos para frente enquanto Jeongguk se lavava. Observava a mansão e entendeu o que o alfa disse sobre achar sem graça casas com arquitetura moderna, pois tudo era reto e grande, até a porta que parecia alcançar o segundo andar.
— Quer uma toalha para secar os pés? — Jeongguk perguntou.
— Não precisa, a grama daqui é gostosa. — Observava os pés sendo arrastados no chão, sentindo a maciez das folhinhas geladinhas.
Ouviu alguns passos ecoarem na entrada e logo uma mulher de terninho branco e cabelo preso para trás surgiu em sua visão. Entreolharam-se em surpresa e Jimin logo soube que era a mãe de Jeongguk, pois seus olhos eram idênticos. A mulher o olhou de cima a baixo, notando os pés descalços em contato com a grama, a bermuda jeans ainda dobrada e a regata preta com a estampa de uma caveira em chamas. A luz amarelada daquele espaço realçava o brilho dos piercings em seu rosto e não sabia no que ela pensava.
— Boa noite — disse Jimin, tentando soar simpático.
— Boa noite — Yoo-mi respondeu, quase que imediatamente, assustada com a voz agradável do ômega. Queria sentir a fragrância alheia, mas tudo o que sentia era o sândalo conhecido do seu filho, pois Jimin ainda estava marcado.
Jeongguk apareceu de repente na sua frente, protegendo o corpo do ômega e os seus olhos escureceram de mágoa, pois o filho tinha medo do que ela poderia fazer e isso era nítido na tensão que surgiu no ar. Yoo-mi continuou o seu caminho, dando as costas para eles e entrando na casa silenciosa.
O alfa fechou os olhos e relaxou o corpo. Yoo-mi nunca pediria desculpas, deixaria que tudo fosse esquecido e se perdesse na infinidade do tempo. O problema é que Jeongguk nunca se esqueceria, o que aquelas palavras o fizeram sentir sempre ocupariam um pedaço do seu coração.
— O que foi isso? — Jimin perguntou, massageando os seus ombros. — Por que você me protegeu da sua mãe?
— Ela é tipo o livro dos encantos para Lua para você. Só que para mim, acho que não tem prece que dissipe toda essa mágoa.
Pegou na mão dele e o enfiou dentro do carro, não dando brecha para continuarem o assunto.
Estavam de volta ao casarão vazio, pois suas mães saíram para jantar na casa de alguma amiga. A pele de Jimin estava fresca do banho recente, cheirando a alecrim e a sândalo. Estava em pé na janela, olhando para a lua, deixando que novas sensações o invadissem. Agora, sempre que tivesse oportunidade, seus olhos estariam sobre ela.
Viu que Jeongguk saía do banheiro e sentou-se na cama. Ele esfregava uma toalha no cabelo e outra estava em volta de sua cintura. Penteou os fios com os dedos e Jimin observava-o fazer a sua rotina de cuidados, passando desodorante e um hidratante nos cotovelos porque percebeu que estavam ásperos demais. Seus cremes estavam acabando mais rápido do que o normal, mas Jimin não reclamava, gostava de vê-lo à vontade em ambientes que antes somente pertenciam a si e agora, eram de Jeongguk também.
— Cadê aquele negocinho que você passa no cabelo? — Jeongguk perguntou, virando-se para ele na cama e pegando-o em flagrante, olhando-o todo apaixonado.
— No mesmo lugar de sempre — Jimin respondeu, com o coração perdendo o ritmo das batidas quando o viu dar alguns passos em sua direção.
— Achei que tivesse escondido de mim. — Fez um biquinho, ficando entre as pernas do ômega.
— Eu nunca faria isso.
E beijou-lhe o abdomen, começando pela região perto da barra da toalha, mordendo a borda do umbigo e subindo em direção ao mamilo, o qual foi chupado lentamente, sentindo-o endurecer na ponta da língua.
— Você gosta? — Procurou pelo seu olhar e Jeongguk já o olhava de volta com as pálpebras tão relaxadas que parecia que os olhos estavam fechados.
— Uhum...
Jimin decidiu dar mais atenção ao outro mamilo, o que ficava do mesmo lado da cicatriz e esse se mostrou mais sensível, fazendo Jeongguk gemer bem baixinho. Jimin passou as mãos por debaixo da toalha, as palmas pesadas nas coxas grossas do alfa, sentindo os músculos ondularem sob suas digitais. E beijou-lhe a cicatriz, todos os ramos esbranquiçados e, principalmente, o centro dela, o único ponto denso bem em cima do coração, Jimin sentia-no bater sob os seus lábios e uma lágrima escapou dos seus olhos, pois nunca havia olhado por tanto tempo para uma parte tão importante do corpo de Jeongguk, aquela que guardava o passado dos dois.
— Shhh, shhh... — Jeongguk sibilou e com o indicador, puxou o queixo do ômega, fazendo-o olhar para si. — Não precisa chorar. Acabou.
— Eu sei — sussurrou em resposta, lembrando-se da manhã que acordou com Taehyung ao seu lado, sugerindo que fossem a algum lugar repleto de alfas para achar alguém para o seu cio e agora estava ali, com as suas lágrimas sendo beijadas pelo amor da sua vida.
— Você ainda está com as mãos na minha bunda — Jeongguk avisou, querendo mudar o clima e fazer Jimin rir. Ele deu mais algumas apertadinhas antes de tirar-lhe completamente a toalha e caírem na cama.
Apreciaram juntos o encaixe dos corpos e as consequências da prece, que o deram uma maior conexão, amplificando as suas sensações. Os enlaces da carne firmarem uma aliança: nunca seria melhor ou equivalente com outra pessoa, nunca sentiriam aquilo se não fosse um com o outro.
A pele arrepiava de um jeito diferente, a mancha escorria com mais intensidade pelas coxas e os tremores sentidos com o nó foram apenas um detalhe, pois Jimin esqueceu-se por alguns bons segundos de quem era e onde estava, saindo de órbita. A única coisa que sabia era sobre Jeongguk, pois a essência dele era tão forte e pesada que formava uma névoa no ar.
As peles estavam grudentas, mas Jimin não conseguia se afastar, se pudesse, fundiria-se a Jeongguk, a quem parecia ter os mesmos sentimentos, pois seus braços estavam em volta de Jimin, apertando-o contra o seu peito, como se pudessem estar ainda mais encaixados.
— É, precisamos de outro banho — Jeongguk comentou, rindo ao observar o estado do rosto vermelho de Jimin. — Como você consegue continuar todo lindo mesmo suado? — E tirou os fios grudados na testa dele, penteando-os para trás, exibindo ainda mais o rosto dele e céus... Jimin era uma perdição, ou um grande achado.
— Coisa de artista, sabe como é... — Ele brincou, notando a confusão nas sobrancelhas franzidas de Jeongguk. — Já viu que em shows, os integrantes da banda sempre estão encharcados de suor? E eles nunca parecem nojentos ou algo do tipo.
— Entendi, é o charme do rock star.
— Exatamente. — Jimin apoiou as mãos no colchão, chegando bem pertinho da boca do alfa. — Será que você é um rock star também? — sussurrou, contra a pele dele e Jeongguk estava hipnotizado, sorrindo sem perceber. — Todo gostoso desse jeito... — E tentou lamber a boca de Jeongguk, mas ele foi mais rápido e o beijou primeiro.
Ficaram assim até que o nó se desatou e eles puderam tomar um novo banho. Desceram para a cozinha para pegar água e enquanto esvaziavam um copo atrás do outro, as mães de Jimin chegaram do jantar, radiantes e curiosas para saber como foi o ritual de apresentação da alma gêmea.
— Foi... Intenso — Jimin respondeu, procurando uma boa palavra para o descrever e mesmo assim, não parecia a certa.
— Jimin fez as pazes com a Lua. — Jeongguk o entregou e logo as duas deram gritinhos de felicidade.
Yuna abraçou o filho bem apertadinho e os alfas ficaram observando a cena com carinho, o abraço demorado enquanto a mãe marcava o filho com o seu cheiro de gerânios. Yeri não deixou de fazer o mesmo, sentada na banqueta enquanto afundava o focinho na glândula de cheiro de Jimin, esfregando-o levemente.
Jeongguk encarou os atos de afeto e engoliu em seco, pois a única coisa que os seus pais fizeram sobre a sua essência foi se gabarem da raridade do seu cheiro, comentando com pessoas de renome como se aquilo fosse grande coisa.
— Essa é a fragrância de um verdadeiro Jeon — disse o seu pai, com o seu cheiro fraco de tâmara e canela que, com toda a certeza, não era de um Jeon.
Yuna olhou para Jeongguk, procurando por um sorriso cúmplice, mas o que encontrou foram os olhos marejados do alfa, tentando disfarçar que ficou afetado com algo que nunca tivera. Estava feliz pelo amor que Jimin recebia das mães, mas era difícil observá-los e não se lembrar.
A ômega pediu por um abraço, o qual Jeongguk deu, inicialmente, por educação, mas deixou-se derreter nos gerânios da sogra, que entendia parte da sua dor. Yuna nunca conseguiria substituir, ou dar o que deveria ser recebido por Yoo-mi, mas sempre estaria de abraços abertos para afagar aquela ferida aberta e dar os conselhos que nunca recebeu de ninguém. Yuna se afastou da família e ainda precisava esconder certas coisas de Yeri, agora, esperava que Jeongguk encontrasse nela uma confidente, alguém em quem poderia confiar.
— A Lua não poderia ter escolhido um alfa melhor para o meu filho — disse, apertando-o com toda a força.
Jeongguk sabia que as suas palavras eram sinceras e dormiu satisfeito, sem deixar que as coisas ruins pesassem mais do que as boas. O dia fora incrível, Jimin não tinha mais medo de olhar para a Lua e nem para a sua cicatriz, o passado não mais os assombravam, agora, era somente uma parte da história dos dois, que ainda eram novos demais e tinham muito o que viver.
E foi pensando nisso que Jimin acordou no dia seguinte. O alfa ainda ronronava ao seu lado, completamente perdido em algum sonho bom. Levantou-se e encarou o céu azul claro com um pouco dificuldade, acostumando-se com a luz do Sol, que já não era mais o seu astro principal. Lá, bem clarinha, a Lua misturava-se com as nuvens e foi incrível pensar que estava ansioso pela noite, na qual Ela seria majestade e ele poderia ajoelhar-se para agradecer, não só naquela noite, mas em todas as outras que teria pela frente. Sabia que o seu futuro seria brilhante e Jimin nunca se sentiu tão extasiado por viver.
Enquanto se arrumava para encarar mais um dia, achou um delineador perdido na gaveta e lembrou-se do que sua mãe Yuna disse uma vez, sobre ser um gótico muito conservador, pois nem maquiagem usava. Sorriu com a lembrança e tentou traçar um risco nos olhos, seguindo a linha dos cílios. E por ser a sua primeira tentativa, não ficou tão ruim, mas ele ainda sentia que faltava alguma coisa.
Respirando fundo, listou tudo o que a Lua havia lhe concedido naquela vida, desde uma família incrível que o apoiava em tudo o que queria fazer, amigos que estavam ao seu lado mesmo nos momentos difíceis, até o alfa de bom coração que foi cuidadosamente colocado em seu caminho. Jimin se sentia abençoado.
E foi traçando uma lua crescente na testa que ele sentiu que um novo capítulo da sua vida estava emergindo e que nenhuma noite voltaria a ser sombria, pois a Lua era o seu satélite e nunca o deixaria sozinho.
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e acabou...
sim, bruxinho e gatinho deram adeus, mas semana que vem eu volto com o epílogo ♥
sei que esse capítulo foi bem grande, então tá valendo me contar aS suaS parteS favoritaS hehehe
beijos e até sábado que vem!
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