Capítulo 34
T h o m á z
Passo pela porta de vidro do bar com a guitarra pesando do lado direito do meu ombro. Dessa vez eu não iria tocar baixo, e sim algo que me tirasse mais ainda do chão. A guitarra fazia isso comigo. Eu estava estressado desde o Natal, tanto comigo mesmo, com a vida, com o universo. Eu não comemorei o dia de Ação de graças, já que isso me remetia à época em que meu pai e eu comemorávamos da nossa maneira. Essa data se tornou algo insignificante depois que ele nos deixou, mas eu já não ligava tanto. O Natal não tinha mais graça sem o meu irmão e a minha mãe, então foi mais um dia comum de trabalho duro na Oficina do Lony, mesmo no feriado. Mas o que mais me irritava era o fato de que não houve um ‘’milagre de Natal’’ esse ano. Eu estaria mentindo se dissesse que não me agarrei ao pensamento de que Giennah apareceria, mas como todo desejo para o Papai Noel, não foi realizado. Eu estava começando a desacreditar, e ser mais realista. Nesse mesmo dia, Hannah fez algo que me puxou para a realidade: ela me beijou. O que mais mexeu comigo não foi o beijo em si, mas o fato de que eu não senti nada com ele. Nem um sentimento, uma chama, nada. Hannah disse que tinha farelo de biscoito de gengibre que ela tinha comprado para nós, no canto da minha boca, e brincou dizendo que eu precisava de um babador, caso não quisesse me sujar novamente. Ela riu, então eu ri também, mesmo concentrado demais no que tinha para fazer, e sem achar graça na piada. Então ela disse que tinha uma maneira melhor de limpar a sujeira. E então me beijou. Eu pensei, por um curto momento, que aquilo não era certo, que eu estava traindo Giennah, mas no minuto seguinte pensei que mesmo não querendo beijar Hannah, talvez essa fosse a oportunidade perfeita para tirar a conclusão de que eu realmente estava pronto para sentir algo o mais parecido que fosse, com o que eu senti com ela, mesmo sabendo a resposta. Lancei a minha língua na dela, tentando tirar disso alguma sensação, nada. Nem um desejo. Nós éramos melhores na cama sem o beijo, do que se ele fizesse parte do sexo. Provavelmente eu não conseguiria focar no que estava fazendo. Então me afastei dela, e disse para nunca mais fazer isso. Vi um vulto na porta, mas poderia ser algum cliente saindo apressado para o trabalho. A loja estava parcialmente vazia, o ar condicionado, ligado. Mas eu sentia uma queimação no peito. Talvez fosse a repentina ação de Hannah que havia me tirado do eixo.
Depois disso, eu tentava evita-la. Na loja, havia tensão entre nós, e fora dela não era diferente. Agora, eu precisava entrar na minha zona de conforto. Fazia tempo que eu não cantava, só algumas merdas quando bebia demais no bar, mas nada que fosse verdadeiramente sério, e lúcido. Assim que sentei no banco em frente à bancada, bati no espaço a minha frente para chamar a atenção de Caleb, e o mesmo se virou para mim.
- Thomáz! Porra, você sumiu!
Sorri para o meu amigo, e resumi enquanto ele fazia as bebidas, tudo o que vinha acontecendo na minha vida. Ele questionava algumas, perguntava sobre o galpão, e eu contava tudo, empolgado. Quando comentei por cima sobre o último episódio, sobre Hannah e eu, ele literalmente parou tudo o que estava fazendo e ficou parado bem na minha frente, com o semblante mais sério.
- Então você seguiu o meu conselho? – perguntou, lentamente.
- Pode-se dizer que sim. Mas a parte do beijo não foi escolha minha. – Bebi um gole da minha bebida.
Vi Caleb respirar fundo antes de prosseguir.
- Tudo bem. Tudo bem. Tuudo bem! Pode-se dizer que eu não seja confiável. Nunca, em hipótese alguma, siga os meus conselhos.
Franzo o cenho.
- Como assim? O que você quer dizer com isso?
- Eu quero dizer que eu acabei de ver algo que me fez querer cortar a minha própria língua fora.
- O que foi que você viu? Pare de falar em enigmas e diga de uma vez, Caleb.
Ele amenizou um pouco mais o semblante, e se aproximou mais de mim, ignorando o cliente com a caneca de cerveja erguida, querendo mais uma rodada.
- Irmão, eu vi que não é isso o que você quer. Na verdade, vi quando você desviou o olhar assim que revelou que beijou Hannah e que foi pra cama com ela. Faça isso no seu tempo. Talvez você supere e siga em frente. Mas pode ser que você ainda precise de um tempo para si mesmo antes disso. Faça o que o seu coração mandar agora, Thomáz. Se você quer ir atrás dela, vá. Mas se você ainda não está pronto, dê um tempo para si mesmo.
- O problema é que eu iria atrás dela se não tivesse o galpão aqui, precisando da minha supervisão.
- Você faria isso se pudesse, então.
Hesitei, por um momento, antes de responder, ainda sem convicção. Giennah tinha bagunçado toda a minha vida. Jogado tudo pro ar, e quando tudo veio a baixo, a única coisa que ela segurou firme nas mãos, foi o meu coração. O resto? O resto que se foda!
- Na verdade eu não sei, Caleb. Eu já demonstrei demais, e mesmo assim já contradisse tudo o que eu pensava que não faria. Parece que todo dia eu vou mudando, mas o sentimento continua aqui. Preso. Só que tudo ao redor muda. Eu não sei. Eu também penso que já fui atrás dela vezes demais. Está na hora dela vir atrás de mim, não acha?
Caleb sorriu, amenizando o clima.
- Você pode estar certo, irmão. Mas lembre-se que a vida é curta demais para dar lugar aos pensamentos racionais. – Ele olha para cima por um instante, como se estivesse pensando, e volta o olhar para mim, antes de seguir para os seus afazeres – Provavelmente você não deve seguir esse conselho também.
Ri enquanto entornava mais um gole de algo que Caleb misturou enquanto conversávamos. Era forte. Bem forte. O que me deu coragem para levantar e ir falar com o dono do bar, que gostaria de cantar essa noite. Ele apoiou, mesmo já me conhecendo de invasões de palco anteriores.
- Só tem um problema. – Começou o homem. – Nosso amplificador de som está no conserto, então o mais viável seria você tocar algo mais leve, como violão. Sei que você poderia tocar normalmente sem o aparelho, mas faz apenas seis dias do Natal, poderia tocar algo menos pesado?
Concordei, já que eu estava acostumado a tocar e cantar músicas bastante discrepantes umas das outras. Eu queria sim tocar algo pesado e agitado, mas eu não tinha escolha. Ele foi buscar o violão, e assim que retornou, comecei a fazer os pequenos ajustes nas cordas. Quando terminei, dei um pequeno toque no microfone, chamando a atenção das pessoas que estavam dispersas. A música ambiente parou de tocar, e eu me apresentei. Limpei a garganta e então ajustei o violão de madeira escura e brilhante na coxa, antes de começar a dedilhar.
You´re just too good to be true
(Você é boa demais para ser verdade)
Can´t take my eyes off you
(Não consigo tirar meus olhos de você)
You´d be like heaven to touch
(Você é como tocar o céu)
I wanna hold you so much
(Quero tanto te abraçar)
At long as love has arrived
(Quando o amor chegou)
And I thank God I’m alive
(E agradeço a Deus que estou vivo)
Continuo tocando, com os olhos fechados, sentindo a vibração do violão na minha barriga. Escuto o estalar de palmas da plateia, enquanto eu canto.
Pardon the way that I stare
(Me perdoe pelo jeito que te encaro)
There’s nothing else to compare
(Não há mais nada para comparar)
The sight of you leaves me weak
( A visão de você me deixa fraco)
There are no words left to speak
(Não há palavras para falar)
But if you feel like I feel
(Mas se você se sentir como eu me sinto)
Please let me know that is real
(Por favor, deixe-me saber que é real)
You´re just too good to be true
(Você é boa demais para ser verdade)
Can´t take my eyes off you
(Não consigo tirar meus olhos de você)
Um tempo depois, finalizo com um dedilhar no violão, e reabro os olhos, encarando as pessoas que estão na minha frente. Alguns casais se levantaram para dançar, outros, chegaram em alguém. Olhei para o meu amigo atrás da bancada, e sorri para ele. Ele estava pensando o mesmo que eu. Ele sabia que eu estava pensando nela.
Eu também sabia que não tinha escolhido essa música em específico sem alguma razão. Já que eu não pude tocar algo para esquecer, toquei algo para lembrar. Foi bom. Foi como se essa música tivesse trazido a solução da equação.
Se ela sentia o mesmo que eu, teria que mostrar que era real. Só não sabia como isso iria acontecer.
...
- Mais para a esquerda, ou está bom?! – Gritei por cima do ombro, em um dos últimos degraus da escada de mais de um metro, para Lony e os outros funcionários da obra.
- Perfeito! – Gritou Sebastian, o fornecedor de peças para logos de lojas. Sorri para o resultado antes de descer a escada. Assim que me afastei mais para trás na calçada, tampei os olhos com o braço, para analisar o resultado. Eu queria colocar letra por letra eu mesmo. Era um momento único. Analisei desde o B até o S da grande placa que levava o nome do galpão.
Grande e brilhante, ordenado com luzes em formato de foco acima das oito letras como as luzes do Farol, estava escrito BESOUROS. Abaixo com letras menores, estava escrito Motorcycles e o meu nome assinado abaixo. Estava realmente perfeito, único. Não pude deixar de pensar no motivo por trás da escolha desse nome, e sorrir com isso. Ela estava em todo lugar. E agora, estava por trás da razão do nome que o meu sonho levava.
Olhei para o canto mais escondido da logo, no qual poucos conseguiriam ver se se esforçassem.
GJ.
Ela fez parte disso. E agora preencheu o espaço mais íntimo de mim.
Eu estava finalmente preenchido por Giennah Jones.
E não tinha mais volta.
Hey, beloveds! Uma leitora INCRÍVEL, criou um perfil no Instagram da Giennah e do Thomáz, esses aqui:
E sério, eu fiquei MUITO feliz por isso, então sigam eles porque ficou perfeito demais! 🖤
Meu coração de pedra chega a amolecer vendo isso hahaha
AAAAAAAAAAA e também gostaria de agradecer a vocês pelos 100k em NEIGHBORS!!! MUITO OBRIGADA! EU AMO VOCÊS ❤️
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