Capítulo 33
Para vocês não ficarem perdidos, antes desse, tem o capítulo 32, que eu postei ontem ;)
G i e n n ah
Andar por muito tempo nunca foi o meu forte, mesmo adorando correr. Aperto mais o casaco no corpo enquanto continuo minha caminhada pelas ruas de Los Angeles. O cenário da Califórnia era totalmente diferente na minha cabeça. Acho que dezembro não é um mês bom para quem quer conhecer a cidade, já que o personagem principal na minha cabeça era o sol escaldante e pessoas de biquíni e sunga para lá e para cá. Eu estava a dois dias sondando a cidade a procura de alguma informação que possa me levar até Thomáz, mas até agora nada. Meus pais, Aby e Josh tinham me ligado centenas de vezes, mas eu não atendi. Não poderia dizer o que eu estava fazendo e onde eu estava. Mas eu estava feliz. Estava animada para reencontrá-lo. Eu não pensava em nada além de vê-lo novamente e dizer o quanto eu estava arrependida pelas minhas escolhas. Eu precisava viver pelo meu presente e não pelo meu passado, por mais difícil que fosse.
Estou andando por uma hora e nenhuma oficina ou loja de motos era de Thomáz. Perguntei para mais pessoas do que eu poderia contar, sobre um cara alto e loiro que era dono de uma oficina/loja de motos e peças. Os lugares que me direcionaram não eram de donos muito longe de serem aspirantes a motoqueiros gordos e tatuados que ouviam rock o dia inteiro. Paro em uma lanchonete para sentar e comer, aliviada por uma pausa. Essas dores colaterais não seriam nada comparadas a rever Thomáz e abraça-lo. Na verdade, beijar o meu vizinho seria a primeira coisa que eu faria. O resto eu resolvia depois. Era incrível que apenas o fato de estar na mesma cidade que ele tenha me transformado do dia para a noite. Eu estava me sentindo uma adolescente, sem medir as consequências, com risco de ter o coração partido mais uma vez. Eu pensei em todas as opções, como ele estar com outra pessoa, ou totalmente alheio a minha presença, como se já tivesse me esquecido. Uma partezinha minha torcia para que ele estivesse pensando em mim todos os 182 dias e meio dos 6 meses que ficamos separados, assim como eu pensei. Uma parte também sentia medo, mas era pequena comparada a minha ansiedade em ver a sua reação.
Não vou negar que imaginava ele em seus 1,90 metros, com os cabelos um pouco maiores do que eu me lembrava, com os olhos ainda azuis demais para o próprio bem, me abraçando forte. Feliz por ver qual tinha sido a minha decisão afinal. Que eu iria tentar o nós que ele tanto me disse.
Depois de pagar o rápido lanche, continuo andando pelas ruas de Los Angeles, esperando encontrar ele pelas ruas, ou até mesmo pilotando a moto. Olho para todos os lados, todas as lojas, até que paro em frente a um posto de gasolina. Se ele anda de moto como eu bem me lembrava, provavelmente o teriam visto abastecer aqui. Fui até a loja de conveniência e perguntei para a funcionária se tinha visto um homem com as mesmas descrições de Thomáz. Quando a pessoa não ligava as características ao rosto, eu mostrava a foto de nós dois juntos, no farol. Eu não queria que aquela foto fosse vista por muitas pessoas, mas era uma das poucas que eu tinha dele. Ela não o reconheceu, mas me disse uma coisa que poderia ser útil:
- Bom, a única pessoa que sabe mais dessa cidade do que qualquer um, é o Lony da Oficina do Lony. Provavelmente ele já viu a pessoa que você procura.
Agradeci a informação, e segui a rota que ela havia me dito para chegar até o lugar. Quando avistei a placa com a logo da loja, sorri para mim mesma, acelerando o passo. Chegando mais perto, pude ver que a oficina era de materiais de construção, apenas porque toda a sua faixada era de vidro, podendo enxergar todo o seu interior. Avancei mais um pouco, tentando ver mais da loja. Parando em um ângulo que poderia ver nitidamente entre duas estantes no corredor, parei de andar. Um corpo de 1,90 metros caminhou despreocupado até o meio da extensa prateleira com diversos materiais. Ele segurava várias caixas como se o seu conteúdo não pesasse nada, enquanto mordia o lábio inferior e olhava com atenção os objetos a sua frente. Meu Deus, como eu poderia ter me esquecido dessa mania? Instintivamente, mordi o meu. Ele parou em determinado momento, se abaixando para tirar alguma coisa da caixa e colocar na prateleira, com o cenho franzido conforme ia organizando.
Eu acompanhei de longe por uns cinco minutos todos os seus movimentos, com o coração batendo acelerado no peito. Quando não aguentava mais, caminhei até a entrada e passei pela porta de vidro. Ainda eram nove da manhã, por isso não havia mais de três pessoas na loja, imagino. Que sorte a minha procurar por ele em um lugar que poderia me dizer onde estava, e encontrá-lo! Com passos hesitantes, adentrei mais a loja. O lugar era enorme, com muitas prateleiras variando de médias para grandes e altas para baixas. Ele estava entre uma das altas, então fui em direção a elas.
- Bom dia, precisa de alguma ajuda?
Me viro na direção da voz e encontro uma garota baixa e loira me encarando. Olho para o seu avental e vejo seu nome. Hannah.
Quando volto o olhar para ela novamente, vejo seu rosto sério, e seu sorriso de boas vindas não estava mais lá. A garota engoliu em seco, e abriu a boca, mas fechou em seguida.
- Não preciso de nada, obrigada. Eu vim atrás de uma pessoa.
Com isso, me viro na direção que estava seguindo, mas sua voz me para novamente.
- Há apenas eu de funcionária da loja. Não há outros.
Me viro novamente para ela, e franzo o cenho. Eu não poderia ter imaginado ter visto Thomáz. Eu fiquei cinco minutos o encarnado de longe. Se fosse obra da minha imaginação, creio que não estaria tão nítido na minha frente.
- Bom, creio que há mais um. Eu o vi do lado de fora da loja. Alto, loiro, de olhos azuis. Ele está aqui, e eu preciso mesmo vê-lo. Com licença.
Dito isso, me viro, sem mais ser interrompida pela garota. Começo a andar entre as prateleiras, mas parece que ele não está mais na seção em que tinha o visto. Começo a duvidar que possa mesmo ser obra da minha imaginação, quando vejo um redemoinho pequeno e bagunçado de cabelos claros passar entre duas estantes mais baixas. Sorrio, prestes a gritar o seu nome e anunciar a minha presença, quando vejo a garota baixa, Hannah, parar ao seu lado e falar algo que o faz sorrir. Como ela pode dizer que há apenas ela de funcionária se sabe muito bem que Thomáz está ali e com o uniforme? Acelero o passo e congelo a três prateleiras de distância dos dois, quando a garota se inclina, segurando o rosto dele entre as mãos, e o beija. Meu coração para por alguns segundos, antes dos meus olhos ficarem turvos pelas lágrimas. Seguro a bolsa no ombro com mais força.
A única coisa que nos separa são as duas estantes com corredores largos, e todo um futuro idealizado esmagado da mesma forma que seus lábios estão sendo pelos dela. Olho a cena em câmera lenta. Vejo que ele retribui o beijo. Vejo ele pondo a mão no cabelo dela. Vejo seus olhos fechados se deleitando com aquilo. Vejo o homem que eu amo, beijando outra pessoa que não seja eu. Também vejo os últimos caquinhos que restavam do meu coração, se desprenderem de mim e caírem no chão junto com as minhas últimas lágrimas de esperança. Aquilo é registrado por mim, e duvido que seja apagado da minha memória.
Essa cena e tudo o que começo a sentir naquele momento se mesclam na minha mente como diversos gatilhos mirados em mim.
Ele estava agindo de forma estranha, vindo para casa com o rosto machucado vários dias, e eu o ajudava a limpar e cuidar das feridas, enquanto as minha ficavam abertas. Ultimamente tem sido sempre a mesma coisa: ele chega, não olha para mim, seu rosto com algum machucado, e nenhuma explicação. Ele passa por mim como se eu não estivesse ali. Mas depois, como a boa namorada que sou, e também porque o amo mais do que tudo e confio que se ele não quer explicar, é porque eu não preciso de explicação. Faz poucos meses que estamos morando juntos, mas essas cenas estão se tornando constantes desde que nos mudamos para cá. Como se a mudança tivesse sido o motivo pelos machucados no rosto e no corpo. Ele tinha me surpreendido com a casa. Escolhemos juntos, mas foi ele quem pagou. Lembro de ter insistido em ajudar a compra-la, mas ele sempre dizia para eu não me preocupar com isso.
Tento pensar no que isso pode estar ligado, mas as conclusões que chego sempre são absurdas, e Kieran nunca seria capaz de fazer nada do que minha imaginação me leva a crer. Dessa vez, ele passa por mim como todas as vezes nos últimos meses, e vai para o banheiro. Eu, como sempre, vou atrás e em silêncio, o ajudo a se curar. Limpo suas feridas, lavo seu rosto. Mas dessa vez, ele me encara durante todo o processo. Não o olho de volta, mas sinto sua atenção em cada gesto meu. Fazia tempo que ele não me olhava por tanto tempo. Eu sentia falta disso.
- Você ainda me ama?
Sua voz corta o silêncio do banheiro. Ele está sentado na pia, e eu parada bem na sua frente, com o rosto na direção do seu.
Rio sem humor.
- Que tipo de pergunta é essa, Kieran?
- Só responde. Você ainda me ama?
Paro de limpar o machucado no seu queixo, e olho nos seus olhos. Dessa vez, não conto suas sardas, não reparo no quão ruivo é o seu cabelo. Apenas olho dentro das suas íris verdes e respondo:
- Amo.
Ele continua me encarando, sem expressão nenhuma. O que é estranho, já que Kieran sempre fora muito expressivo.
- Como você ainda pode me amar? Depois de tudo o que eu tenho feito?
Coloco a mão no seu rosto, e sorrio sutilmente para ele.
- Eu me apaixonei por você, Kieran. Sei que não quer me contar, mas você sabe que eu estou aqui para dividir suas dores. Momentos difíceis não vão mudar o que sinto por você.
- Eu não sou mais aquele cara, Giennah. Não sou bom.
Ele abaixa o rosto, mas eu logo ergo o seu queixo.
- Eu sempre vou estar aqui. Para te segurar quando você estiver caindo. Quando você achar que está sozinho. Eu vou estar aqui, Kieran. Você confia em mim?
Ele me puxou para um beijo forte e sedento, que eu retribuí na mesma intensidade.
- Confio. E você? Confia em mim? Confia que tudo o que eu faço é para o seu bem?
- Só se você disser que nunca vai deixar de me amar.
Ele não respondeu. Apenas me beijou novamente. E foi naquele momento que eu desmoronei, enquanto ele me beijava, como se aquela fosse a resposta que eu precisava.
Eu estava sendo forte por nós dois nessa relação. Kieran não era mais o mesmo. Eu não era mais a mesma. Eu não sei onde a nossa relação se perdeu. Onde tudo o que éramos, deixou de existir.
Corro em direção a porta, segurando o que restara de mim. O que restara do meu coração. Corri para longe de Thomáz e corri para longe do meu último fio de esperança. Corri pelas ruas da Califórnia, lugar esse que eu estava começando a querer chamar de lar. Lugar esse em que o meu lar estava. Mas que nesse momento, estava me esquecendo.
Eu tinha que achar a força que eu encontrei quando Kieran disse que não me amava mais. Eu precisava pensar por mim. Eu precisava pensar em mim. A vida inteira eu estive ali para todos que eu amava, como uma boia salva vidas pronta para resgatar quem quer que estivesse se afogando, enquanto eu mesma precisava de tanto apoio quanto. Eu tinha que me salvar.
Eu precisava me salvar, e não ser salva.
Com esse pensamento, enxugo as lágrimas do rosto, e olho para frente, para o meu futuro daqui em diante. Eu precisava seguir o meu sonho. Não era todo mundo que tinha a oportunidade de ser aceita em uma faculdade e passar com apenas 21 anos. Eu precisava me valorizar e acreditar em mim mesma. Todas as minhas dores e amores, um dia se curariam. O meu amor próprio, nesse momento, era o que me importava a partir de agora.
Sei que muitos de vocês estão ansiosos e querendo esse reencontro dos dois o mais rápido possível, mas eu preciso ressaltar aqui, que essa não é uma história clichê, na qual os personagens com problemas pessoais vão se curar um no outro. A minha proposta sempre foi criar personagens completos para juntos somarem. Então, calma, e tentem entender a mensagem que essa fase dos dois quer passar! O final já está feito por mim, e eu não mudarei, mas eu preciso que vocês absorvam isso para no final, vocês entenderem onde eu quis chegar. Obrigada ❤️
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