Capítulo 30
T h o m á z
3 meses depois
Véspera de Natal
Eu nunca pensei que faria isso. Nunca pensei que um dia, teria coragem o suficiente para sentar em uma cadeira, pegar uma caneta e um papel para escrever uma carta importante, e não uma música. Já escrevi uma carta, mas não na mesma intensidade que estou prestes a escrever. Ultimamente, eu tenho trabalhado em uma, mas como sempre acontece quando eu tento me concentrar em compor alguma coisa, meus pensamentos sempre se dirigem à Giennah. Talvez seja porque é ela que ocupa a maior parte dos meus pensamentos. Ou porque é o rosto dela que tem aparecido nos meus sonhos, ou é o sorriso dela que eu tento achar no meio de uma multidão, ou algumas pessoas na rua. Ou eu simplesmente esteja sendo brega de mais para alguém que não deve mais estar pensando em mim. Faz exatos seis meses que vim para a Califórnia, e seis exatos meses em que não tenho nenhuma notícia dela. Eu foco muito no trabalho e nas reformas finais do galpão, mas me pego pensando nela, no mínimo, umas cinco vezes ao dia. Isso é chato pra caralho! Angustiante. A dúvida me consome, sem saber se, caso ela aparecesse na minha frente agora, qual seria a sua reação. Qual seria a minha. Bem, provavelmente eu a atacaria e rasgaria suas roupas, sem deixa-la nem ao menos respirar, e então beijaria a sua boca que eu sinto tanta falta.
Amar é uma merda dolorosa. Mas a dúvida de que eu possa não ser amado na mesa intensidade por ela, é a pior parte, com certeza. Quando completou um mês desde o dia em que eu vim para cá, lembro de ter feito uma promessa para mim mesmo: não correr atrás, e deixar que, se ela me quiser de verdade, que dê o primeiro passo. Quando ela estiver pronta. Mas ela não tem como saber disso se eu não disser que ainda não desisti. Me encher de esperanças não é o caminho mais viável, e me iludir com a imagem de uma mulher de costas para mim com um capacete idêntico ao que eu tinha dado a ela, é a coisa mais sem noção que eu pude pensar. Por que raios ela estaria aqui, com um capacete no braço, se até o dia em que nos conhecemos, nunca tinha subido em uma moto? Não teria tido tempo suficiente para ela ter conseguido a habilitação, e muito menos sentido de estar de moto aqui.
Burrice nunca foi o meu forte, mas estou começando a acreditar que o amor faz isso com a gente.
Suspiro e fecho os olhos por um momento, antes de começar a deslizar a ponta da caneta no papel, eternizando as palavras que eu preciso que ela saiba, antes que realmente pare de pensar em mim. Isso se já não parou. Mandar mensagens de texto foi algo que eu descartei de primeira. Eu não quero ser um pé no saco. Ultimamente eu tenho ido para o bar de Caleb e bebo, até ter coragem suficiente para subir no palco do bar e cantar algumas músicas deprimentes. Ele me disse que de cinco dias que eu aparecia lá, dentro de semanas, quatro eu tentava mandar mensagem para ela. Uma dessas vezes, de acordo com Caleb, eu simplesmente coloquei o celular na frente do meu rosto e comecei a gritar para a tela apagada o quanto eu não me importava se ela não me quisesse mais, e no meio dessas falas, eu dizia: porra, eu te amo pra caralho. E em seguida, dizia que amor não existe. Mas finalizava dizendo que ela era o amor que eu tanto esperei desde que era pequeno.
Eu tenho um segredo que nunca contei para ninguém, e me arrependeria para o resto da vida se um dia alguém além de mim soubesse.
‘’Quando eu era criança, com uns oito anos, eu lembro de ir para a biblioteca que tínhamos em casa, e pegava os romances da minha mãe. Eu não sabia o que me atraía nos romances adolescentes, que eu simplesmente me fascinava. Minha mãe me teve muito nova, com vinte anos, e também era uma romântica incurável, que era tão apaixonada pelo meu pai, que agia como se estivesse em um livro de romance. Sei disso porque li todos os seus romances açucarados da estante, e via o jeito que ela olhava para o meu pai e para mim e o meu irmão, como se nós fossemos os personagens da sua história que ela tanto sonhara. Talvez seja por isso que eu ia para o meu quarto depois de assaltar a biblioteca dela sem que ninguém visse, e lia debaixo das cobertas, apenas com uma lanterna acesa direcionada nas palavras românticas dos livros, e os devorava, conhecendo mais sobre o amor. Provavelmente isso é de família. Eu poderia muito bem acender o abajur e ler como uma pessoa normal, mas eu sempre achei mais emocionante ler desse jeito.’’
‘’Quando eu completei quatorze anos, lembro de ter me apaixonado pela primeira vez, por uma garota da escola. Ela era loira, e tinha olhos azuis. Seu nome era Angeline. Ela era a garota que tinha saído dos romances dos livros da minha mãe e tinha caído bem na minha frente. Ela tinha o estereótipo da maioria das personagens dos livros de romance, e naquela época, acreditava que ela era perfeita. Acreditava também que a amava. Mesmo nunca tido falado com ela. Mas então ela saiu da escola, e o encanto se foi. Quando fiz dezesseis anos, Débora, uma garota gordinha da minha sala se declarou para mim, e naquela época, eu jogava no time de basquete do colégio, o que me fazia popular. O que automaticamente me fez ser visto pelas garotas. Ela era tímida, mas mesmo assim veio falar comigo e dizer que gostava de mim. Lembro do que senti quando notei sua atitude. Vou ser sincero e dizer que nunca olhei para ela de outra forma, mas a sua atitude me fez vê-la, e então, no final da aula, fomos para um canto escondido e a beijei. Era o primeiro beijo dela, e acho que ficou tão nervosa, que saiu correndo e nunca mais me olhou de novo. Eu me perguntei por dias o porquê de ela ter feito isso, se a culpa era minha, mas nunca soube de fato. Provavelmente era o nervosismo.’’
Eu nunca parei de ler livros, e mesmo descobrindo outros gêneros, nunca deixava os romances de lado. Ainda era o que eu gostava. Quando eu tive mais maturidade, com dezessete anos, depois de ter perdido a virgindade, e de ter ficado com mais garotas que eu pudesse contar no fim do colégio, ainda pensava que encontraria a que me tiraria o chão, e enfim, fosse a personagem que contracenaria comigo. Pensava se no meio de tantas bocas que beijei, uma delas tivesse sido a garota certa, e eu a tinha deixado ir. Mas o tempo foi passando, e fui desacreditando que ela surgiria do nada. Eu teria que interferir. Então comecei a sair com muitas garotas, conhece-las, e usar o meu charme de bad boy, para atraí-las. Sim, bad boy. Eu já li romances suficientes para saber o tipo preferido das garotas, e esse era o que mais aparecia nos new adults da minha mãe, e nos que eu mesmo acrescentava na estante. Com o tempo, essa foi se tornando a minha personalidade, e fui ficando cada vez mais parecido com os meus amigos, com o jeito que não ligava para as garotas no dia seguinte, ou que era um canalha.
Então, comecei a sair com eles, beber, trepar, e essa vontade de conhecer alguém de verdade ia ficando cada vez mais para trás, e nenhuma relação minha acendia o meu coração, não me alertava de que a garota certa estava bem na minha frente.
Mas então eu conheci Giennah. E isso aconteceu. O meu coração finalmente acordou e como um louco, batia desesperado por ela desde o dia em que a tinha visto pela primeira vez. E não parou mais. Esse foi o sinal de que eu estava loucamente, perdidamente, absolutamente, completamente, e inteiramente, apaixonado por ela. E tinha enfim, sentido pela primeira vez o que os personagens fictícios tanto enfatizavam. Mas a parte bonita e romântica eu conhecia. Os fracassos amorosos também, inclusive na vida real. Mas eu nunca tinha sentido a dor física de perder a pessoa que faz você sentir tudo isso, e mesmo ela não estando aqui, sentir todos os sintomas do que ela desperta em você. Eu ainda não consigo acreditar em como eu posso sentir tanto, e ter passado tão pouco tempo com ela. Mas sei que todos os pequenos toques, se eternizaram na minha pele, na minha memória, e se enraizaram no meu coração. Como se enfim, eu tivesse encontrado o que eu tanto procurei, o que eu tanto idealizei, e veio melhor do que eu pudesse imaginar. Mas também doeu, como eu nunca poderia ter sentido. Nem mesmo os socos que eu já levei, são páreos ao dar um voto de confiança ou um tiro no escuro por alguém a quem você entregou o coração, e desse liberdade para decidir se o joga de um penhasco, ou se junta ele com o seu.
Depois de escrever a carta, a dobro e passo a língua na ponta, selando. Com um suspiro, mais por alívio de dizer tudo o que eu precisava, saio do escritório no andar de cima do galpão, e desço as escadas. Com a moto, dirijo até o correio. Assim que paro no sinal, olho para o lado, e vejo um vendedor de rua com vários souvenirs. Estreito os olhos atrás dos óculos escuros, e vejo vários chaveiros, até ver um em específico. Sorrio tanto, que fico preocupado de rasgar a minha cara. Imediatamente guio a moto para o meio fio, e desço. Assim que paro na frente do vendedor, meus olhos vão direto para o chaveiro que não pode ser real. Aponto para o objeto, em uma pergunta silenciosa se posso pegá-lo, e o senhor de meia idade concorda com a cabeça, sorrindo para mim. Quando pego o chaveiro nas mãos, o analiso. É uma balança, claramente simbolizando Direito, com a letra G talhado no centro do símbolo. Há outros souvenirs de outras profissões. Os chaveiros têm as outras letras do alfabeto talhadas no mesmo local. Pego a carteira e pago pelo chaveiro.
Quando chego ao local para enviar cartas, peço para que inclua no pacote, o chaveiro, e que se certificassem que estaria preso no envelope da carta. Depois, volto para o galpão, e trabalho até tarde com a equipe da construção, e em seguida, quando terminamos o dia de trabalho, vou para casa e tomo um banho. Apenas quando já estou na cama, cansado demais para sequer me importar de puxar a coberta, olho no relógio da cabeceira e sorrio. Meia-noite. 25 de dezembro.
- Feliz Natal, Giennah Jones.
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