Capítulo 12
T h o m á z
Desligo o fogão e tiro a panela do fogo. Eu fiquei surpreso por Giennah ter pelo menos pensado em trazer coisas para eu me sentir melhor, mesmo eu ao menos ter pedido. Fiquei meio sem graça quando entrei na cozinha e encontrei sacolas de mercado, em cima do balcão, com sopas e mais outras coisas. No domingo, quando ela veio aqui e me perguntou qual bebida (sem álcool) eu mais gostava, e respondi ser refrigerante, achei que era mais uma das suas perguntas para me conhecer melhor. Ela realmente me surpreendeu.
Enquanto passava a sopa para um prato, pensei no que tinha acontecido há minutos atrás, no quarto. Na verdade, eu não queria pensar muito. Queria apenas... Eu não sabia o que eu queria. Essa era a verdade. Giennah entrou muito rápido na minha vida, tanto que eu nem pensei nas consequências quando a provoquei na primeira vez. Eu não me sentia pronto para um relacionamento, e muito menos ela. Eu tinha acabado de me tornar independente, começando a construir a minha vida, e tinha sonhos. E por isso, eu não poderia me envolver com ninguém que não pudesse viver esse sonho comigo. E ela tinha a vida dela aqui, o seu sonho era aqui. E o motivo dos meu pensamentos e sentimentos estarem tão confusos, é que eu sabia que ela era perigosa. Giennah era o tipo de garota que um cara desistiria de tudo para apenas viver perto dela. Eu tinha notado isso assim pelas poucas vezes que senti a vontade de viver emanar dela, quando se arriscava em coisas que ela nem ao menos tinha certeza se daria certo. Porra, ela confiou em mim para andar de moto, foi em um galpão cheio de caras estranhos, mesmo aquilo sendo claramente nada a ver com o seu jeito.
Giennah merecia reciprocidade, alguém que se arrisque da mesma maneira que ela se arrisca por alguém.
E eu não estava pronto. Eu não queria machucar ela. Eu posso estar sendo precoce demais, mas eu senti uma conexão, eu senti alguma coisa, assim que estive dentro dela. Assim que olhei nos seus olhos quando tivemos o contato mais íntimo que duas pessoas podem ter. E essa alguma coisa me alarmou, me dizendo que era perigoso. Porque eu sabia que queria mais daquilo, mas ao mesmo tempo, poderia haver consequências.
É por isso que eu não quero pensar muito nessa merda toda, e apenas viver o que tiver para viver, aproveitando o desejo um do outro, o corpo um do outro. E ela pareceu concordar com isso. Então eu não tinha motivos para me preocupar com mais nada. Seriam fodas casuais e ponto. Nada a mais para pensar.
Eu só precisava me convencer disso.
Assim que me virei para a bancada da cozinha, tive que parar para respirar fundo e fechar os olhos, para não largar o prato e fazer toda a sopa se espatifar no chão. Porra. Eu não me assustei com a presença silenciosa de Giennah sentada em um dos bancos altos do outro lado da bancada. Eu me assustei pelo meu pau ter ficado duro tão rápido apenas com a visão dela ali, com a minha camisa e o cabelo levemente bagunçado, jogados para frente. Ela.Ainda.Vai.Me.Matar. Fiz desse o meu mantra antes de ter talvez um ataque cardíaco toda vez que ela me surpreendia.
- Você sabe cozinhar? – Perguntou, com o queixo apoiado na mão esquerda, analisando o meu prato de sopa firme na minha mão.
- Algumas coisas, mas não sou um chefe de cozinha. – Sentei no banco ao lado dela e apoiei o prato na bancada, oferecendo a ela com um gesto de cabeça na direção da sopa.
Ela balançou a cabeça e fez uma cara de nojo.
- Não gosto de sopa. Parece que alguém simplesmente jogou várias sobras na água e cozinhou.
Rio.
- E você ainda traz isso para eu comer? Deveria estar agradecido? – levo uma colherada até a boca. Não está tão ruim assim.
- Dizem que sopa é bom para quem está se recuperando, então, como você estava aparentemente impossibilitado de cozinhar alguma coisa, e sou péssima na cozinha, comprei sopa. E sim, você deveria estar agradecido porque tive a gentileza de ir até o mercado comprar essa coisa para você.
Tomo mais da sopa e rio.
- Obrigado então, vizinha. Muita gentileza sua ir até o mercado comprar essa coisa para mim.
Ela assentiu com a cabeça.
- Por nada, vizinho.
Ficamos dois minutos inteiros em silêncio até ela voltar a falar. Levo mais uma colher de sopa na boca.
- Eu tinha esquecido de perguntar a você sobre a sua banda. Vocês tocam há muito tempo?
Levanto do banco e vou até a geladeira pegar refrigerante.
- Tocamos desde o ensino médio – respondo de costas para ela, enquanto encho o copo. – Éramos uma banda de garagem, formada por adolescentes na puberdade – volto para a bancada e me sento, bebendo um gole.
- E por que vocês resolveram formar uma banda?
Sorrio ao lembrar.
- Alguns dos meus amigos do time de hockey da escola, sabiam tocar instrumentos: eu tocava guitarra e baixo, e me arriscava no vocal. Pet também cantava, mas era melhor que eu. Jack também tocava baixo, e Cal, bateria.
‘’Numa dessas festas de quem você está indo, mas nem conhece o dono da casa, nós quatro estávamos praticamente caindo de bêbados quando Jack simplesmente surtou dizendo que deveríamos começar uma banda para impressionar as garotas. Como ninguém estava sóbrio, todo mundo concordou batendo uma garrafa de bebida na outra, como um brinde. Eu rio só de lembrar.”
Olho para Giennah, que me encara sorrindo, como se fosse cúmplice das loucuras de um bando de adolescentes bêbados.
- Continua – me incentivou.
- Bom, esse foi basicamente o começo da banda. No dia seguinte, por incrível que pareça, nos lembramos da ideia de Jack e já sóbrios, pensamos que a ideia seria realmente boa, tanto para aumentar nossa reputação na escola, como para pôr em prática nossas habilidades nos instrumentos. E foi assim que surgiu a banda.
Ela ri suavemente e balança a cabeça. Porra, ela tá tão linda assim, sem nada além da minha camisa e a fina calcinha que aparece apenas quando ela levanta o braço, que eu sou capaz de jogar ela no sofá, no chão ou até mesmo na bancada e fode-la até dizer chega.
- E a banda tem nome? – pergunta.
Tomo a última colherada de sopa e termino o refrigerante.
- Na verdade não. Os caras já brigaram tanto por nome, que simplesmente desistimos e só nos apresentamos pelos nossos nomes mesmo.
- Vocês deveriam chegar em um consenso. É bem mais legal bandas com nome... – franze o cenho, pensativa.
Ergo a sobrancelha.
- E qual você sugere, Jones?
Ela não responde, apenas olha para um ponto na bancada, pensando, enquanto batuca os dedos na perna.
De repente, ela pula na cadeira e cruza as pernas, animada, de frente para mim.
- E se vocês fizessem tipo o AC/DC? – franzo o cenho, não entendendo, e ela explica – A irmã do vocalista viu a sigla em um aspirador de pó.
Rio da sua ideia e ela revira os olhos.
- É sério! Eu tô tentando ajudar. Já que vocês não têm ideias pelo menos segue o mesmo raciocínio que as grandes bandas tiveram – cruza os braços.
Concordo levemente com a cabeça, tentando pensar em algo.
- E The Victoria’s? – ergo as sobrancelhas, olhando para ela.
- E de onde você tirou isso?
Olho para o tecido fino aparecendo na curva da sua cintura.
- Inspirações...
Ela olha na mesma direção dos meus olhos e abre a boca, em descrença quando entende o que eu quis dizer. Ela me dá um tapa fraco no braço.
- Seu pervertido! Eu não quis dizer esse tipo de inspiração – ela ajeita a blusa, tirando o pedaço da calcinha da Victoria’s Secret da minha visão. Droga.
- Eu sou péssimo com essas coisas, vizinha. E você está me desconcentrando, fazendo essa cara de pensativa e mordendo esse lábio.
Ela para de morder o lábio inferior e olha para mim, sorrindo sutilmente e se aproxima. Ela se inclina na minha direção e me rouba um selinho demorado. Sinto sua mão na minha coxa, subindo para o início da minha box, até chegar no abdome, e então para de repente. Com um impulso para trás, ela arregala os olhos e sorri, abrindo a boca, como se tivesse acabado de se lembrar de algo.
Me ajeito na cadeira, tentando abaixar o que subiu do nada e olho para ela, frustrado.
- O que foi, Jones? – pergunto.
- Do que você me chamou? – diz, agitada.
Franzo o cenho.
- Jones...?
- Não, antes.
Tento lembrar, mas a única cena que meu cérebro volta é no toque de Giennah no meu corpo, segundos atrás.
Ela revira os olhos.
- Do que você sempre me chama, Thomáz?
- Vizinha – respondo sem pensar muito, esticando o braço e pegando na sua/minha, camisa a puxando para mim.
- Então! No plural – diz, como se respondesse tudo.
- Vizinhos? Esse seria o nome da banda?
- Não especificamente. Em inglês – diz.
Penso, e então olho para ela.
- Neighbors?
Ela dá um pulo na cadeira novamente e concorda com a cabeça.
- Isso! É perfeito. Fica diferente, e como vocês são uma banda de amigos desde o ensino médio, o nome combina.
- Como assim combina?
- Vocês moravam na mesma rua?
- Sim... – Então a ficha cai. Uou, agora faz sentido.
- Perfeito, não? – diz, enlaçando o meu pescoço com os braços e saindo do banco para se sentar no meu colo, uma perna de cada lado da minha cintura.
- Sim, Jones... Nada mal. Vou falar com eles hoje ainda – aproximo o rosto do seu pescoço e mordo, passando a língua em seguida e plantando beijos molhados por toda a extensão até a orelha.
- Só não é mais perfeito que transar no banho – mordo sua orelha e ela solta um gemido baixinho – O que você acha?
Ela concorda imediatamente com a cabeça. Rindo, saímos da cozinha e corremos para o banheiro.
...
Quando acordo, a cortina já está aberta e Giennah está em pé, terminando de vestir a calça jeans, apressada. Assim que me vê sonolento e olhando para ela, diz enquanto caça mais alguma peça de roupa no chão:
- Thomáz! Já são sete e vinte e cinco! Eu tenho que ir pro escritório! – diz, nervosa.
Deito a cabeça no travesseiro e gargalho.
- Eu sou o seu chefe agora, esqueceu? – estico o braço na sua direção – E eu não me importo se você se atrasar pra ficar na cama comigo.
Ela revira os olhos e para de frente para a cama.
- Quero que uma coisa fique bem clara. Eu não quero que você me trate diferente no escritório só porque estamos transando, entendeu? Se ainda não notou, eu não sou esse tipo.
Murmuro no travesseiro e levanto da cama.
- Eu sei, você tá certa. Mas não custava nada tentar... É tentador, não? Ainda mais em uma terça feira de manhã – vou para o banheiro, sem nada, e entro no chuveiro.
Deixo a água quente descer pelas minhas costas por um tempo, levando o cheiro de Giennah de mim. O que a gente tinha feito ontem nesse chuveiro deixou marcas fortes nas minhas costas que eu ainda podia sentir. Sorri. Eu gostava da ideia de ter marcas que ela tinha feito nas minhas costas para a cada momento do dia, me lembrar da noite e madrugada que tivemos juntos.
Saio dos meus pensamentos assim que a água fica fria, gelada pra caralho, na verdade, e então eu fecho o registro. Como em um déjà vu, desligo o chuveiro e saio do banheiro com uma toalha enrolada na cintura, todo molhado. Vou até a sala e encontro Giennah bebendo um copo de água.
- A sua amiga tá em casa? – digo apressado.
Ela franze o cenho.
- Não sei, por quê?
- A porra da água tá gelada de novo. Ela deve estar tomando banho.
Giennah começa a gargalhar e leva o copo na pia.
- Que pena, não é mesmo? – diz.
Bufo e vou para o quarto me vestir.
Assim que termino de me arrumar, com a calça jeans e dessa vez uma blusa branca de botões, pra ficar pelo menos um pouco mais formal, pego a jaqueta e as chaves da moto. Giennah reclamou que não queria entrar no escritório junto comigo, mas eu a convencia que ficaria tudo bem, que ninguém repararia, e com muita relutância, ela aceitou, já que estávamos atrasados.
Hoje era praticamente o meu primeiro dia como chefe, subchefe, eu não sabia dizer ainda, e não fazia a mínima ideia do que ia encontrar no escritório hoje, já que teria que começar a ver a papelada para administrar.
Quando eu e Giennah entramos no prédio, alguns olhares se voltaram para nós, principalmente das recepcionistas. Mas não olhei muito para elas, já que tinha a bunda de Giennah na minha frente para olhar. Ela sabia que eu estava olhando e por isso, rebolava um pouco mais.
Quando entramos no elevador, não perdi tempo e puxei o seu rosto com as duas mãos na minha direção e a beijei, antes que o elevador chegasse no andar. Ela correspondeu de imediato, sorrindo para mim.
Enquanto ela entrava no escritório e cumprimentava os amigos de trabalho, sorri para nada em específico.
Realmente ela era a parte boa de trabalhar nesse escritório.
Estão gostando da história? O que vocês esperam? Eles vão se machucar? Ou não? Me digam as suas teorias!
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