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Capítulo 24: A caminho da prosperidade


SEM REVISÃO

A senzala encontrava-se fria naquela madrugada, sem o calor costumeiro de todos os dias. Nem mesmo o amontoado de escravos aquecia o local. Todos estavam lá em torno de Cora, alguns olhares preocupados e outros indiferentes. Apenas uma pele branca e ofuscante também fazia parte do grupo, Álvaro Coimbra tivera a decência de manter-se afastado, encostado na parede ao fundo. Ele fora gentil, além de me salvar e salvar Cora, ele afastara o feitor e consequentemente também me afastara de um castigo eminente.

Eu não entendia ao certo porque toda aquela preocupação vinda de Álvaro. Meu primeiro e desesperado palpite foi a esperança de que seus sentimentos por mim eram realmente reais. Meu segundo questionamento foi a dúvida de que se Cora estivesse sozinha ele não seria tão heroico como foi. Mas lá estava Álvaro, esperando a moça acordar, mesmo com meu bom estado de saúde. Acho que nunca terei certeza sobre suas reais intenções.

Eu passava um pano molhado sobre seus ferimentos enquanto Dante me atormentava com meus próprios machucados. Por fim, deixei uma mulher cuidando de Cora e fui trocar uma palavrinha com Álvaro.

­­­­­ —Bem— eu disse, apoiando-me na parede ao seu lado— Obrigada, se você não estivesse lá o pior poderia ter acontecido, eu...

­­ — Não precisa disso— ele afirmou sem me olhar, apenas encarando o amontoado de pessoas— Espero que ela acorde logo, seria uma tragédia a sua morte.

— Ela teve um ferimento na cabeça, mas não foi grave. Ela está desmaiada, mas vai acordar em breve, posso lhe garantir.

— Eu sei que pode, sua inteligência é admirável.

Permanecemos calados até que o silêncio tornou-se constrangedor.

— O que aconteceu com o homem? — perguntei, sem conter a curiosidade, aquela dúvida estava me atormentando dês da hora que saímos de perto do riacho.

­— Eu o mantive distante.

— Esta resposta vaga não me agrada, sabe disso.

— Ele não está morto, Olívia, eu não teria coragem de matar o homem, apenas apliquei-lhe uma boa surra e ele saiu correndo igual a uma dama para a Casa Grande. Se ele me dedurar pelos ferimentos que lhe causei, contarei o acontecimento do riacho.

— Ou seja, por enquanto ficará sob o tapete— bufei indignada.

— O que você quer que eu faça? Olívia, esta fazenda não é minha.

— Nem na sua fazenda você tem um mínimo de moral.

Ele me encarou, seus olhos faiscavam raiva, mas pelo menos ele estava me olhando.

— Eu nunca quis que você pensasse aquelas coisas que você disse sobre mim— ele suspirou— Eu queria... que as coisas acontecessem com calma.

— Se a gente estivesse em outra época, talvez— ironizei.

­Escutei um barulho vindo da cama de palhas, ela acordara, finalmente. Dante me chamou, mas eu o ignorei por um momento, precisava finalizar aquela conversa.

— Preciso ir, pode voltar para a ceia, devem estar te esperando­— afirmei.

— Eu fui passear com alguns amigos para ver as redondezas— ele contou— Alguns deles têm o costume de cortejar as moças brancas, outros preferem violentar as escravas, o que eu sempre fui contra. Meu pai fazia parte deste segundo grupo, mesmo casado com minha mãe. Quando Fábio saiu de perto da gente, eu já imaginei o que poderia acontecer e fui atrás dele, fiquei preocupado ao pensar que ele poderia estar com você, é claro. Mas além disso, eu me preocupei com as outras moças.

— Eu acredito em você— falei­.

Ele abriu um meio sorriso.

— Desculpa por tudo, desculpa por não ser o homem ideal para você— dizendo isto, ele se afastou da parede, preparando-se para sair de dentro da senzala— Como você disse, talvez em outra época... Até logo, Olívia.

— Até­— a palavra saiu como um sopro.

Aproximei-me de Dante, segurando seu braço com carinho. As pessoas haviam se dissipado com o despertar de Cora, apenas os amigos do riacho mantiveram-se por perto. Eu queria deitar e dormir as poucas horas que me restavam, mas antes era necessário me assegurar do estado de saúde dela.

— Oi, como você está?— perguntei, sem me desgrudar de Dante.

— Dolorida, mas bem­— ela tentou abrir um sorriso— Aquele cavalheiro foi muito gentil em nos ajudar, agradeça a ele por tudo. E não se preocupe comigo, não é a primeira vez que algo assim acontece.

— Ele não chegou a lhe causar algum mal maior?­— perguntei hesitante.

— Não, apenas a luta corporal que você presenciou. Seu rosto também está ferido, precisa cuidar disto aí.

— Infelizmente eu acho que me acostumei com ferimentos assim, os hematomas vão melhorar logo logo— afirmei confiante— Precisamos dar um jeito nisso, fazer com que eles parem de achar que têm o direito de nos usar como prostitutas.

— Não temos que dar um jeito em nada, por favor— pediu Dante com bastante pesar na voz— O que você pretende fazer, Olívia? Colocar o Barão Macedo contra a parede e impedir que coisas assim voltem a acontecer? Ele deve estar ciente de tudo isso e mesmo assim não mexe um dedo para nos ajudar.

— O que eu vou fazer eu não sei, mas as coisas não podem continuar assim.

­— A única coisa que podemos fazer é esperar, esperar uma possível abolição, talvez.

Refleti por um momento. A abolição aconteceria em 1888 com a Lei Áurea. Estávamos quase em 1872, eu não poderia esperar tanto tempo para encontrar uma solução. Mesmo assim, a abolição não iria impedir os constantes abusos que as mulheres sofriam.

— Tem muitos senhores a favor da abolição, eu posso sentir o cheiro dela, não deve estar longe— disse Dante com esperança— Talvez daqui uns quatro anos.

— Ou dezesseis anos...

— Não seja pessimista— Dante me cutucou com o ombro.

— Não estou sendo— eu disse com tristeza— Vamos dormir, estou exausta.

— Vou para a minha ala, boa noite— Dante e os outros homens se retiraram. Cora já estava adormecida novamente, mas agora eu sabia que ela estava bem, pelo menos aparentemente. Era um absurdo ninguém chamar um médico para os escravos, em algumas fazendas até chamavam, pois um escravo custa caro, mas aqui na Fazenda Canto do Sabiá dinheiro é de menos.

Deitei no meu monte de palha, sonhando com minha cama macia e aconchegante. Será que uma pessoa poderia mudar o futuro? Eu não poderia ser a única viajante do tempo existente no mundo. E se outros viajantes mudaram toda uma história? Imagina se toda a documentação escrita em livros que hoje eu conheço foi modificada por viajantes do tempo... Muitas dúvidas e poucas respostas.

Lembrei-me daquela bruxa na vila, que sabia sobre a minha cicatriz da vacina, ela poderia ser uma viajante, ela poderia me dar mais informações. Eu poderia ficar, poderia ir atrás dela, adiantar a data da abolição, mudar a vida das pessoas que me cercam ou até de toda uma população. Meus pais ficariam orgulhosos se soubessem das minhas realizações. Mas eu queria tanto voltar, reencontrar minha família e contar tudo o que eu aprendi; voltar para a minha faculdade e me formar como uma excelente arquiteta. E agora, será que todos aqueles planos que eu possuía com tamanha certeza no século XXI permaneciam? Eu tinha minhas dúvidas.

Adormeci com estes pensamentos na cabeça. Duas horas depois o sino da capela toca, mais alto do que nunca, estourando todos os tímpanos de meus ouvidos. Mas como noites em claro eram frequentes no meu tempo de faculdade, levantei sem reclamar. Olhei o estado de Cora, que já estava levantada, pronta para ir trabalhar, contra minhas restrições médicas.

Caminhei até a cozinha, para roubar os quitutes da manhã, eu precisava de alguma coisa doce. Devo admitir que eu também possuía segundas intenções, esperava encontrar Álvaro na Casa Grande, ele deve ter passado a noite no quarto de hóspedes.

— Bom dia Lah! Bom dia Carla— sorri.

— Menina! — chamou Lah, se sentado ao meu lado na mesa da cozinha— Como está Cora? Ficamos todos preocupados. E você? Cruzes! Carla, precisamos de gelo para o rosto de Olívia.

— Não, não, por favor— abanei minhas mãos, mas foi um gesto em vão. Uma sacolinha de gelo me atingiu no olho esquerdo.

— Se você não tratar, vai piorar— insistiu Lah.

— A menor preocupação por aqui sou eu, isso eu lhe garanto.

— Aquele cafajeste, acredita que o infeliz teve a coragem de dizer ontem na jantar que escorreu e caiu? Como se alguém fosse acreditar naquela palhaçada­— Lah suspirou.

— É óbvio que ele não iria falar a verdade— falei— Álvaro o ameaçou. E eu achei pouco toda a surra que o cafajeste levou.

— Hmmm, Álvaro, seu herói— Lah abriu um sorriso malandro­— Primeiro ele te salva das chibatadas, agora ele te salva das garras de outro homem. Carla concorda comigo! Ele tem segundas intenções com vocês senhorita Olívia.

Eu forcei uma risada, quase me engasgando com o pão que enfiara na boca.

— Por falar nisso— ela levantou-se para ajudar Carla com uma bandeja de chá— Ele e alguns homens dormiram aqui, vou servir o chá agorinha lá na sala de refeições.

Ela saiu da cozinha com a bandeja, deixando a porta ligeiramente aberta de propósito. Sem conter minha curiosidade, corri até a fresta e espionei o café da manhã da alta sociedade. Quatro homens e o Barão Macedo estavam sentados na mesa principal, conversando e rindo, um deles e o único que me chamou atenção, foi Álvaro, de costas para mim. As mulheres estavam do outro lado da mesa, o grupo era menor, apenas Amélia, a mãe e uma mulher idosa e elegante.

­Aproximei-me para escutar a conversa. Consegui captar algumas frases, apesar do barulho causado por várias vozes tagarelando ao mesmo tempo.

— A construção da Rodovia Rio-Santos nos prejudicou, é o que eu digo— a voz de Álvaro ecoou pelo ambiente— São Paulo possui terras e clima melhores que o Rio de Janeiro, o interior prospera cada vez mais. Barão Macedo viu o tamanho do pé de café da região. Paraty tornou-se uma cidade retrógrada.

— Não exagere, senhor— disse outro homem enquanto bebericava o chá que Lah servia— Temos terras boa aqui também...

— Apenas algumas, temos cada vez menos— disse Álvaro com rispidez— Veja o caso do Barão Jorge, teve que vender as terras e mudar-se daqui, uma lástima. Particularmente, nada é pior que isso, a declaração de falência.

— Concordo com o senhor neste quesito— disse um homem mais novo, aparentava ter trinta anos— Você leu no jornal da semana passada? São Paulo possui novas máquinas que diminuem a mão de obra na produção do café. Se você visse as belezocas, queria muito ter uma, ainda mais hoje em dia, na dificuldade de encontrar um bom escravo com preço condizente.

— Escravo hoje não vale a pena, estou pensando seriamente em investir na mão de obra assalariada­— prosseguiu Álvaro­— Estava conversando com alguns ingleses e esta parece a melhor alternativa, cobraremos barato dos imigrantes que chegam aqui no Brasil a procura de emprego e evitaremos problemas como fugas, castigos, alimentação, hospedagem. É uma solução viável para a situação atual de Paraty.

Lah entrou na cozinha no final da frase de Álvaro, empurrando-me para dentro.

— Menina curiosa, metendo a cara porta afora— ela reclamou.

— Solte-me, preciso escutar o restante da conversa— eu pedi—É uma parte importante.

— Negócios e mais negócios. Eu ouvi­— balbuciou ela— Quero saber da minha alforria, apenas isto, qualquer outra coisa não me interessa.

— Mas tem a ver com a gente...

— Claro que não! Deixa isso quieto Olívia. O que a situação econômica da fazenda tem a ver com a gente? Vou ter minha liberdade com os barões mais ou menos ricos? Não!

Desvencilhei-me de seus braços e corri para a porta.

— Dom Pedro II pouco se importa se Paraty caia no esquecimento— Álvaro bocejou antes de continuar— Nós que devemos ir atrás de nossos interesses. Eu estou avaliando seriamente esta proposta de mudar a mão de obra da minha fazenda, inclusive já conversei com alguns imigrantes interessados no trabalho. Talvez até abandone o café, minhas terras não estão boas quanto eram antigamente.

— Muito radicalista meu caro— Barão Macedo interpôs­— Vosmecê anda com umas ideias tão inovadores... quem colocou esses absurdos na sua cabeça oca?

­— Vosmecê não entende...

— Entendo mais que todos aqui— pigarreou o Barão Macedo— Minha fazenda é a mais próspera e continuará sendo, não preciso de novas alternativas.

— E eu espero que nunca precise— Álvaro comeu um pedaço de bolo de fubá— Mas meu caso infelizmente é diferente, minha fazenda pode declarar falência a qualquer instante.

— Então continue com seus negócios com o Inglês­— disse o Barão, referindo-se ao tráfico ilegal.

­— Não acho certo...

— Ah, por favor, poupe-me disso tudo­— o Barão levantou, assustando a todos da mesa, inclusive eu— Daqui a pouco vosmecê será a favor da abolição e eu não quero escutar tamanho desaforo, vou me retirar, com licença.

Encolhi a cabeça para dentro, com medo de ser vista e com uma pontada de receio pelo clima que atingira a sala, parte dele eu sabia que era minha culpa. Abri um sorriso enquanto eu me retirava da cozinha, certa de que Álvaro tinha seguido meus conselho. Eu precisava conversar com ele, mostrar meu contentamento, apesar de tudo o que acontecera antes.

A caminhada até o cafezal me fez tomar uma decisão: amanhã eu o visitaria, não com a intenção de realizar um encontro romântico, talvez isto não fosse mais possível, queria apenas parabenizar a coragem dele e mostrar os caminhos mais fáceis para a prosperidade.

E com sorte, eu fugiria. Sim, era uma excelente ideia, os feitores de Álvaro não me conheciam, o cocheiro era meu amigo e poderia até fugir comigo. Demoraria horas ou dias para alguém descobrir. Alegrei-me com o plano, eu precisava apenas elaborá-lo com precisão, porque desta vez nada daria errado, não poderia dar errado.

NOTA DA AUTORA

Mais uns quatro capítulos e a história acaba, a reta final está chegando e muita coisa ainda vai acontecer. Será que Olívia volta para a época dela? Será que Álvaro e Olívia finalmente ficarão juntos? Uma pessoa sozinha pode mudar o passado?

Boa leitura a todos!! Bjos bjos

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