Capítulo 15: Álvaro Coimbra
Escrevi o capítulo escutando a música If You Leave Me Now- Foxes. Caso alguém queira escutar, está aí o link:
No caminho de volta, deparei-me com Dante correndo na minha direção. Bastava olhar a expressão em seu rosto para deixar claro que algo muito ruim havia acontecido. E isso me deixou apavorada.
– Diego morreu!– disse ele, colocando as mãos em meus ombros. Nos encaramos por alguns segundos, mas eu não sabia o que dizer, simplesmente nenhum ruído saia da minha boca.
– Ele foi assassinado, eu tenho certeza disso– continuou Dante– Ele estava no sótão. Foi colado lá sem cuidados depois das chibatas. O feitor disse que ele morreu por causa de ontem, mas não foi, eu tenho certeza disso! Eu tenho certeza que ele foi assassinado! Maldito feitor! O matou por ter achado um absurdo a confusão de ontem! Ele queria o que? Que vocês dois fossem mortos na frente de todos? Á sangue vivo?
Revirei os olhos, me sentindo tonta, me apoiei no peitoral de Dante e me abaixei para vomitar todas as mangas que eu havia comido perto do rio.
– Olívia!
– Estou bem! Estou bem– afirmei prontamente, limpando minha boca suja com a palma da mão– Foi apenas um mal estar.
– Venha, você precisa descansar.
– Estou bem, Dante!– bufei– Estou bem. É só que... tanta coisa acontecendo...
Eu queria chorar. Queria que Dante fosse embora e deixasse minha dor interior tomar conta de mim. Queria ficar sozinha, colocar a cabeça embaixo do travesseiro e esperar até o dia seguinte, como eu fazia quando era adolescente. Mas agora, eu era obrigada a possuir maturidade suficiente para encarar os fatos, encarar essa dura realidade que agora eu tenho que enfrentar.
– Sei o que está pensando– afirmei, apoiando minha mão limpa no ombro de Dante– Eu não quero que você se vingue. Não quero que vá atrás do feitor, pois isto irá apenas te prejudicar e eu já prejudiquei muitas pessoas desde quando cheguei aqui. Se você for, Dante Silva, nunca mais ouse falar comigo.
– Diego era meu amigo! Uma pessoa boa! E estava livre! Livre! Olívia, eu não posso simplesmente deixar uma injustiça desta acontecer.
– Faça o que quiser. Eu já disse o que acho. Eu já perdi o bebê de Lurdinha, perdi Diego e agora vou perder você? Dante, não era essa a vida que eu tinha, eu não estou acostumada com isso como vocês estão! Eu não quero mais mortes, não quero mais chibatadas, não quero mais assassinatos! Vamos enterrar Diego como ele merece, vamos rezar por Diego e vamos seguir nossas vidas. Se mais alguma coisa acontecer nessa fazenda, eu ficarei louca!
Empurrei delicadamente o ombro de meu amigo e abri espaço de passagem. Continuei meu caminho de volta a Casa Grande, tentando não deixar as lágrimas escaparem. Amélia certamente já estava noticiada sobre os fatos, portando era meu dever ir ao seu encontro e reconfortá-la, a companhia dela também me fazia muito bem. Subi os degraus da Casa Branca e no mesmo instante a porta principal se abre, revelando um rosto extremamente conhecido.
– Olívia– disse ele, virando-se na minha direção.
– Sr. Coimbra– tossi ao pronunciar seu nome– Barão– acenei para ambos.
– Fico feliz que esteja bem e caminhando. Eu já ao seu encontro– disse o Sr. Coimbra, todo sorridente.
– Ia ao meu encontro?– perguntei, como se não tivesse entendido a pergunta.
– Com licença meu amigo– interrompeu o Barão– Vou resolver alguns negócios no meu escritório, sinta-se a vontade, quando quiser eu mando o negrinho retirar as malas do quarto de hóspedes.
– Claro, muito obrigado– sorriu o Sr. Coimbra.
Assim que a porta voltou a se fechar eu encarei o fundo dos olhos azuis do Sr. Coimbra e subi outro degrau.
– Precisamos conversar– afirmei.
– Como quiser– ele disse– Siga-me.
Álvaro virou-se de costas e eu o segui sem protestar. Passamos pela sala principal e chegamos ao corredor estreito situado ao lado da fogueira. O corredor levava para a sala secundária e o quarto de hóspedes, ligeiramente isolado dos aposentos principais, assim como eu estudara na faculdade.
Também não protestei por estarmos entrando em um dos quartos da casa, eu me sentia estranhamente incomodada com isso, mas aceitei de boa fé. Se dependesse de mim iríamos conversar perto das plantações.
Ele abriu a porta, revelando um quarto extremamente agradável, com paredes azuis, uma cama central de madeira com cobertores verdes escuros, um armário simples de madeira à esquerda e um gracioso quadro de girassol sobre uma poltrona de couro. A janela, apesar de pequena, iluminava bem o local.
Álvaro sentou-se na cama, gesticulando para eu me sentar ao seu lado, mas sem pensar duas vezes fui me acomodar na poltrona.
– Diga– ele afirmou, cruzando os braços sobre o peito.
– Você disse que ia me procurar. Posso saber o motivo?– cruzei as pernas enquanto eu arrumava os cachos rebeldes que saiam do lenço amarrado na minha cabeça.
– Posso sim– ele sorriu maliciosamente– Queria ver se estava bem. Fiquei sabendo que recebeu duas chicotadas antes do meu impedimento da continuação do acoitamento.
– E uma pancada nas costas antes disso, juntamente com outros hematomas que ainda não identifiquei de onde vieram.
– Sim, claro. Você estava sendo rebelde quando te pegaram no riacho.
Fechei a cara e juntei minhas sobrancelhas, encarando furiosamente o rosto de Álvaro.
– Você é tão..– comecei.
– Bonito?– ele piscou– Obrigado.
– Já estou desistindo de falar com você.
– Eu já disse o que fui fazer. Agora o justo seria você falar o que queria conversar comigo.
– Bem– eu disse, indecisa– Eu queria...
Ele me olhava sarcasticamente e isso me dava vontade de levantar e enforcá-lo até ouvi-lo suplicar misericórdia.
– Eu queria agradecer– forcei um sorriso– Por você ter me tirado do pelourinho, ambos sabemos que eu não sobreviveria lá.
Ele abriu ainda mais o sorriso.
– E...– continuei– Eu queria te pedir desculpa por tudo o que eu falei no dia do enterro do bebê. Eu sei que você tem um coração bom, mesmo que nunca tenha me pedido desculpas por tudo o que fizera comigo...
– Desculpa.
Arregalei os olhos, assustada.
– Como?!– perguntei, estupefata.
– Desculpa por ter batido em você quando nos encontramos. Desculpa por ter te mantido minha prisioneira. Desculpa por ter vendido você...
Álvaro levantou-se e se ajoelhou na minha frente, segurando minhas mãos sem permissão.
– Desculpa por todas as ofensas que te fiz, por ter te humilhado, por ter te prejudicado, por não confiar nas suas capacidades– ele estava tão sério, que eu estava ficando consequentemente cada vez mais assustada.
– Desculpa por ser esse homem velho que não merece o mínimo de sua atenção. Você está certa em tudo o que falou no dia do enterro, eu fiquei com as suas palavras e acusações presas na minha cabeça durante todo esse tempo, não consegui me concentrar em nada do que eu fazia. Olívia, eu sei bem que esse é o seu nome; sei que é uma mulher maravilhosa; uma baronesa, sem dúvida. Eu nunca teria coragem de admitir isso se você não tivesse me dito aquelas coisas. São tantas coisas que me impedem de ser quem eu realmente sou que eu não consigo ser diferente... Olívia, somente você me faz ajoelhar nos pés de alguém e somente você me faz pedir desculpas pela primeira vez na vida.
Ele olhou para seu próprio joelho no chão e levantou-se, sem conseguir me encarar.
–Bem... Era isso– ele disse virando-se de costas– Sei que você tem que ajudar a organizar o enterro do outro escravo, pode ir.
Encarei as costas de Álvaro, sua camisa fina de linho branco marcando seus músculos e decidi me levantar.
– Tenha um bom dia– afirmei, completamente desorientada– Álvaro.
Abri a porta e sai.
Apoiei minhas costas doloridas sobre a madeira fria da porta fechada e suspirei fundo. O que acabou de acontecer lá dentro? Aquele nem parecia Álvaro Coimbra, nem parecia a pessoa fria que eu conhecia.
Senti-me tonta repentinamente. Eu precisava me concentrar, não poderia pensar em outra coisa além de Diego, já que eu me sentia tão culpada pela morte dele, por tê-lo envolvido nessa fuga.
Encarei a fechadura do quarto, tentando imaginar o que estava acontecendo lá dentro. Pare com isso Olívia, você precisa de foco.
Apoiei minha mão na fechadura do quarto e suspirei fundo novamente. Um, dois... três. Fechei os olhos e abri a porta, sem nem saber que eu havia tomado essa decisão.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro