Kyrah Von Brandeburg
Kyrah não tinha a mínima vontade de ter filhos, e era muito grata aos céus por ser a caçula de Heric Von Brandeburg e não receber tanta pressão do pai a esse respeito. O seu cavalo era o único ser vivo que ela se sentia capacitada para cuidar, e mesmo ele já dava bastante trabalho.
Enquanto suas amigas se derretiam todas ao ver bebezinhos, Kyrah apenas botava os dedos nos ouvidos - como aquelas criaturinhas berravam! - e se afastava disfarçadamente, indo brincar de atirar faquinhas numa árvore até que elas se cansassem do carinha de joelho e retornassem para junto dela.
Kyrah não conseguia entender que graça viam naqueles tiquinhos avermelhados que ela não conseguia entender como se transformavam numa pessoa, no fim das contas. Não que as crianças mais velhas fossem melhores: correndo pra todo lado, se quebrando todas, quebrando coisas, quebrando umas às outras e voltando para junto de suas mães com o nariz a pingar... Urgh, e tinha mães que ainda limpavam os narizes deles no vestido. Eca.
Um dia ela ouviu sobre como se faziam os bebês - de verdade, não a lenda do repolho - e ficou tão enojada que jurou para si mesma que não ia se deixar apanhar naquela armadilha. Em outra ocasião, acompanhou a mãe quando esta foi auxiliar no parto de uma tia, e reforçou o juramento com todas as suas forças, apavorado, quando tudo terminou.
Kyrah já tinha passado pela iniciação, e suas amigas da mesma idade começavam a se casar e a gerar. Nem isso provocava qualquer mudança de opinião na princesa caçula. Não era Maria-vai-com-as-outras, ué. Não é porque todo mundo casava e tinha filho que ela precisava também. Sua própria mãe vivia dizendo que ela "não era todo mundo".
Se ela chegasse a se sentir muito solitária algum dia, adotaria um lobo.
E então Kyrah achou o Lauren. Melhor dizendo, acharam Lauren para ela. A corujinha branca, tão delicadinha, por algum motivo rasgou seu caminho para o coração da princesa, conseguindo penetrar as camadas exteriores de brutalidade, e cativar seus sentimentos.
Não, Kyrah também nunca fora do tipo que fica toda comovida com gatinhos, cachorrinhos, coelhinhos e todos os animais fofinhos que se encontra por aí. Não os maltratava, mas também não ficava apertando e soltando gritinhos, e voavam longe com um peteleco se viessem pousar no colo dela num momento de mal humor.
Com Lauren tinha sido diferente, sabe-se lá por que. Ele era mais barulhento que muitos bebês, mas sua piaceira não irritava Kyrah. Na verdade, quando ela olhava para a ave, sempre se lembrava do dia em que a tinha encontrado, de quem estava junto, dos momentos divertidos que haviam compartilhado, de como ele tinha ajudado a escolher o nome e ficava bancando o pai do animalzinho...
O Urso que queria adotar uma coruja, veja só. Volta e meia Kyrah ria para si mesma dessa piada interna.
Isso não significava que o juramento estava revogado, de jeito nenhum. A memória dos gritos e caretas medonhas da tia estavam marcados demais nas retinas e nos tímpanos de Kyrah para que pudessem ser apagados assim sem mais.
Mas... eventualmente... quando ela ficasse bem mais velha e a memória começasse a falhar... E se certas pessoas quisessem continuar a brincar de ser papai... Bom, quem sabe o que pode acontecer, uhm? O organismo às vezes nos prega peças, e tudo o que podemos fazer é aceitar.
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