Se passaram dois dias desde o ocorrido com os Cefurs na floresta, eu queria que aquilo tudo fosse um sonho, mas isso aqui era a realidade e eu estava bem acordada, eu não conseguia colocar em palavras o que está sentindo, não conseguia parar de reviver aqueles momentos dolorosos, cada lembrança era uma facada no meu peito, ele me traiu, ele traiu seus amigos, traiu a sua única família.
Outra coisa que dói é a imagem dele e da Abby se beijando como se eu não estivesse presente, como se eu não existisse mais pra ele, parece que tudo que ele disse e que vivemos foi mentira, todo aquele amor era mentira, minha vida era uma mentira. Toda vez que essas imagens me vêm à mente, era uma lágrima escorrida, eu ficava pensando no que eles dois estariam fazendo agora, estariam se divertindo juntos ou rindo nas minhas costas?
Não foi só eu que fiquei assim, todos estava se sentindo traídos, quando chegamos da floresta, cada um foi para um cômodo da casa longe um do outro, todos com raiva e magoados. Eu apenas voltei para minha cama e dessa vez não consegui dormir por um segundo, apenas fiquei com esse sentimento de ser traída pela pessoa que você mais ama, pela pessoa que você nunca imaginava que faria uma coisa dessas.
Agora estávamos na base do meu pai, Luke mexia nos computadores enquanto eu, Sara e Noah estávamos sentados sem saber o que fazer.
— Ainda não dá pra acreditar. — Sara disse negando com a cabeça. — Não parece real.
— Eu nunca imaginei que ele faria isso com a gente. — Luke murmurou digitando no teclado de costas para nós.
— Ele é um traidor. — Sara falou apertando os punhos.
Todos ficamos em silêncio, até aquele momento ninguém tinha falado isso em voz alta, eu mesma não conseguia falar isso, parecia que essas palavras pesavam na boca.
— Por que ele fez isso? — Noah sussurrou. — Tem que ter algum motivo.
— Sim, tem um motivo. — Sara cuspiu. — Ele é um traidor, é um falso e mentiroso.
Mordi minha boca, um choro ficou entalado na garganta, pensar nisso é uma coisa, agora ouvir alguém dizer era muito pior.
— Não sei, tipo... é o Peter. — Noah falou dando de ombros. — Ele nunca faria isso nem que o torturasse, ele de todos nós, era o que mais odiava os Ceefus.
— Isso é só mais uma prova de que ele nunca foi o que nós pensávamos. — Sara retrucou irritada.
Noah soltou um suspiro e descansou seu rosto na mão que estava apoiado na mesa.
— Além do mais, ele beijou a Abby na frente da Alyssa. — Sara continuou. — Isso foi baixo, uma escrotisse.
— Sara, por favor, para com isso. — Luke disse se virando pra nós.
— Não, não vou parar até que a gente pare ele e os Ceefus! — Ela falou determinada batendo na mesa.
— Eu pensei que ele me amava. — Eu sussurrei negando com a cabeça.
— Não se preocupe, Aly. Vamos resolver isso. — Sara falou. — Ele vai se arrepender de ter nos trocado, a se vai!
— Seja o que for, temos que estar mais preparados do que nunca. — Noah falou. — Vamos ter que fazer o maior plano de todos, porque vamos enfrentar todo o batalhão deles.
— Temos que descobrir quanto tempo temos até ele resolver vacinar todos e tirar nossa memória. — Luke falou voltando para o computador.
— Vamos perguntar para a Ellie. — Sara disse.
— Me chamou, senhorita Allen?
— Ellie, você sabe quando os Ceefus vão tirar a memória da cidade? — Sara perguntou com expectativa.
— Sinto muito, mas eu não tenho bola de cristal, senhorita.
Eu e Luke começamos a gargalhar enquanto a Sara fez careta.
— Boa tentativa. — Noah falou sorrindo piscando um olho.
— Ha ha ha, muito engraçado. — Sara murmurou cruzando os braços.
Pelo menos eu ainda conseguia rir para esquecer dos problemas, mas logo as risadas acabaram e ficamos para baixo de novo. Voltamos a fazer nada e só observar o Luke fazendo sua mágica nos computadores.
°•°•°•°
Dois dias se passaram, como eu não tinha nada para fazer nessa casa, eu pedi para a Sara me ensinar a lutar, acho que já estava na hora de aprender a me defender com a força física e não só com o arco e as flechas, até porque vamos ter que lutar contra os Ceefus e o Peter. Não sei se vou conseguir lutar contra ele se chegar a hora. Quando pedi para a Sara me ajudar, ela topou na hora toda feliz em poder se distrair um pouco, agora todos os dias nós duas treinamos sozinhas na base.
— Não sei porque o... — Falei ofegante. — O Peter não me ensinou a lutar antes.
Eu e Sara estávamos sentadas no chão, tomando água e descansando de mais um treinamento.
— Ele nunca quis que você viesse pra esse mundo de problemas. — Ela respondeu brincando com a tampa da garrafa de água. — Ele nunca quis que você tivesse que passar por perigos e lutas, fico surpresa dele ter cedido e ter te ensinado a usar o arco.
— Ainda não parece real. — Falei suspirando. — Parece que a qualquer momento ele vai entrar por aquela porta e dar várias ordens pra gente.
— É, é difícil. — Ela sussurrou. — Mas ele nos enganou, agora temos que seguir em frente sem ele e esquecê-lo.
— Acho que nunca vou conseguir esquecer ele. — Eu disse balançando a cabeça.
— O primeiro amor a gente nunca esquece.
— Falando em amor, como vai você e o Luke? — Eu perguntei mudando de assunto.
Ela riu fechando a garrafa.
— Vai indo bem, nunca imaginei que sentiria isso por alguém, ainda mais com o Luke que eu via como irmão.
— Vocês estão namorando? — Eu perguntei sorrindo.
— Não sei, mas estamos juntos. — Ela disse dando de ombros. — Agora vamos parar com essa conversa e treinar, sei que está fugindo, dona Aly.
— Eu estou cansada. — Falei fazendo manha.
— Que cansada, o que! — Ela disse puxando minhas mãos. — Você ainda tem que progredir muito.
Deixei que ela me levantasse do chão, ela tem razão, ainda falta muito para ficar boa o bastante para lutar contra os Ceefus. E aprender alguma coisa é uma boa distração para esquecer de tudo por um pouco.
°•°•°•°
Se passou uma semana, todos os dias de manhã eu e Sara ficamos treinando na base, às vezes, os meninos ficavam nos olhando para ver meu desempenho e dando algumas dicas, eles disseram que eu tenho aprendido bastante e rápido.
Eu estava vestindo uma calça jeans, moletom, botas, luvas e uma boina por causa do frio, meus pés afundavam na neve enquanto caminhava, eu estava andando pela floresta para espairecer um pouco, os outros queriam vir comigo, mas eu preferi vir sozinha. Eles estavam muito em cima de mim desde que o Peter trocou de lado, acho que eles pensam que vou desmoronar a qualquer hora.
A floresta ficava linda nessa época, é tudo branco e brilhante, não ficava escuro como costumava ficar, a neve fazia com que a floresta parecesse ter paz, por isso, andei calma e com passos pequenos, para ter paz mesmo que por alguns minutos, apreciando as belezas dos caminhos.
Mas, parei de andar ao ver duas pessoas caminhando ao longe, me escondi na árvore mais próxima e inclinei minha cabeça, com certeza é um Cefur, cerrei meus olhos para tentar enxergar melhor, até que o outro homem virou um pouco a cabeça de lado, é ele, é o Peter.
Meu coração acelerou ansioso, fazia uma semana que não o via, nunca fiquei tanto tempo longe dele, mesmo que ele tenha feito o que fez, eu ainda sentia sua falta, não tem como esquecer de alguém do dia para a noite, isso é impossível. Eu não deveria sentir sua falta, mas sinto. Ainda observando-o, percebi que o Cefur ao seu lado era o Matthew e ele carregava uma maleta, o que será que tem naquela maleta? Com certeza é algo importante. Se os meninos estivessem aqui eles iriam tentar pegá-la.
Encostei minha testa na árvore ainda escondida, será que devo ir tentar a sorte e pegar aquela maleta e enfrentar eles? Ou devo dar as costas e ir embora? Se eu for tentar roubar deles, eu não vou conseguir enfrentar ele, mas também quero ser corajosa. Quero ver do que sou capaz.
Respirei fundo e andei mais para frente tentando ser silenciosa, eu devia ter colocado meu traje com o arco e as flechas. Olhei de novo para eles que estavam se afastando calmamente, eu comecei a segui-los, olhei para a maleta na mão do Matthew, é agora ou nunca. Sem pensar muito, eu comecei a correr na sua direção.
Você consegue, Alyssa. Você consegue.
Eles não ouviram meus passos pesados na neve enquanto me aproximava, percebi que eu já estava os alcançando e comecei a ficar nervosa, quando já estava perto deles, eu dei um chute na perna do Matthew como a Sara me ensinou, fazendo com que ele caia de joelhos, rapidamente peguei a maleta e sai em disparada.
— Alyssa, não! — Ouvi o Peter gritar.
Olhei para trás sem parar de correr, o Matthew ainda estava caído no chão e o Peter estava correndo atrás de mim. Eu continuei correndo, agora que eu consegui, não ia mais parar.
— Alyssa, pare agora! — Peter gritou de novo.
Sou forçada a parar de correr quando vi uma flecha fincar em uma árvore do meu lado bem perto de mim, paralisei onde estava, minha respiração estava ofegante pela corrida, Peter estava tentando me deixar com medo. Me virei para ele lentamente, ainda segurando a maleta firmemente na mão.
Ele estava há alguns bons passos de distância de mim, e estava com uma flecha apontada para mim, ele me olhava ofegante comigo em sua mira.
Ele não vai atirar em mim, eu sabia disso.
Ficamos quietos olhando um para o outro, eu sentia o nó na garganta ao lembrar dele com a Abby aos beijos.
— Solta a maleta, Alyssa. — Ele disse ainda mirando em mim.
— Não. — Eu sussurrei.
Ele apertou seus dedos no arco e na flecha, ele começou a respirar rápido, conseguia ver seu peito subir e descer.
— Não sei o que tá acontecendo com você. — Eu disse com calma. — Mas de uma coisa eu sei: você não vai atirar em mim.
Ele vacilou e depois começou a baixar o arco com a flecha, mas continuou me olhando e eu engoli em seco, dei uma última olhada para ele e dei as costas, começando a andar pra longe dele.
Só dei quatro passos e fui empurrada para uma árvore e minha boina caiu no chão pelo impacto, olhei pra ver se foi o Peter, mas quem estava na minha frente era o Matthew, ele tirou a máscara e sorriu debochado, depois deu mais um passo ficando bem de frente para mim.
— Muito espertinha você, não é? — Ele perguntou no meu rosto. — Achou que ia roubar de mim? Agora eu vou roubar de volta, gata.
Ele pegou a maleta da minha mão e puxou para ele, mas eu não soltei e ele me olhou irritado.
— Tá bom, então eu vou roubar de uma gatinha morta. — Ele falou e colocou uma arma na minha testa.
— Abaixa a arma. — Peter disse aparecendo ao seu lado.
Olhei para ele, ele estava de olhos fixos no Matthew apontando a flecha na sua cabeça, ele olhou irritado para o Peter.
— O que você pensa que está fazendo, Blake? — Matthew perguntou.
— Abaixa a arma. — Peter falou baixo e com a voz assombrosa. — Agora.
Eles se encaravam friamente, o Matthew com a arma apontada pra mim e o Peter com o seu arco e a flecha apontada para o Matthew, e eu segurando a maleta.
— Então diz para ela soltar a maleta. — Matthew disse me olhando de volta.
O Peter me olhou e eu olhei pra ele de volta, seu olhar me dizendo para soltar a maleta, ele em nenhum momento desviou os olhos, respirei fundo e exitante eu soltei a maleta e o Matthew a pegou me dando um olhar cruel, ele abaixou a arma e o Peter o arco, ele olhou para o Peter e depois pra mim de novo e deu as costas para nós dois.
Eu continuei encostada na árvore, Peter se abaixou pegando minha boina e passou a mão nela para tirar a neve que a sujou. Ele se virou pra mim e colocou a boina na minha cabeça, meu coração acelerou pelo contato.
— No que você estava pensando?! — Ele sussurrou irritado. — Nunca mais faça essa besteira.
— Como se você se importasse! — Eu sussurrei magoada.
Ele olhou firme para mim.
— Lembra do que você prometeu? — Ele perguntou com os olhos intensos.
Cruzei meus braços e não respondi.
— Por favor, Alyssa. — Ele disse. — Você prometeu! Fique longe daqui.
Respirei fundo sentindo meus olhos marejados e desviei os olhos, me lembrar daquela noite era doloroso.
— Alyssa... por favor. — Ele disse parecendo suplicar.
Eu neguei com a cabeça.
— Você me traiu. — Eu sussurrei com a voz embargada. — Me traiu da forma mais dolorosa possível, me machucou, você me machucou.
Ele abriu e fechou a boca, seus lábios tremeram, claramente sentindo o impacto das palavras.
— Eu nunca pensei que você pudesse fazer uma coisa dessa, eu entreguei meu coração para você e você enfiou uma faca nele. — Falei e senti as lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
— Alyssa. — Ele sussurrou com dificuldade e ergueu sua mão para me tocar, mas depois recuou.
— Espero que tenha feito uma boa escolha para você e que seja feliz com a Abby.
— Para com isso. — Ele sussurrou com dor transmitindo nos olhos.
Abaixei minha cabeça e passei minhas mãos no rosto para secar as lágrimas, ele deu um passo para frente e senti sua respiração no meu cabelo, eu funguei e olhei para ele de novo, seus olhos brilhavam diante dos meus, ele abriu a boca, mas antes que pudesse falar alguma coisa, nós ouvimos um grito.
— Ei!
Virei meu rosto para o lado e vi o Luke correr na minha direção preocupado, Peter se afastou de mim e o Luke chegou até nós colocando seu braço no meu ombro, ele deu para o Peter um olhar enfurecido.
— Você tá bem?! — Luke perguntou se virando pra mim.
— Estou. — Eu sussurrei
— Eu disse pra você não vir sozinha, mas você não me deu ouvidos! — Luke disse me repreendendo.
— Luke... — Peter falou, mas foi interrompido.
— Não quero falar com você, cara. — Luke disse. — Você nos traiu, você não faz idéia de como deixou a Aly, nos deixe em paz.
Peter me olhou com dor no olhar.
— Nunca mais chegue perto da gente. — Luke falou firme.
Luke me puxou com ele para longe do Peter, virei minha cabeça para vê-lo uma última vez, ele estava com a cabeça abaixada e passava sua mão pelo cabelo e seu rosto, depois começou a seguir o mesmo caminho que o Matthew tinha ido. Me virei para frente suspirando e deixei que o Luke me levasse para casa.
°•°•°•°
Faz três dias que eu vi o Peter na floresta e tentei roubar a maleta dele e do Matthew, naquele dia quando eu cheguei em casa com o Luke, eu contei para eles o que eu fiz, primeiramente eles ficaram bravos porque corri muito risco, depois eles ficaram curiosos para saber o que tinha naquela maleta, Sara ficou irritada porque queria ter ido comigo para tentar pegar a maleta e dar uma lição no Peter.
Depois da nossa conversa, eles decidiram que eu não iria mais sair por aí sozinha de novo, por um lado eu fico feliz porque sei que eles se preocupam comigo, mas por outro lado, é um pouco sufocante ficar só dentro de casa onde o único lugar que posso ficar sozinha é o meu quarto.
Sara continuou me treinando, todos os dias ficamos juntos para conseguir formar um plano para acabar com os Cefurs, mas não está sendo fácil, qualquer ideia que temos não é bom o suficiente para derrotar eles, temos que ter cuidado para que ninguém saia machucado dessa guerra, nem nós e nem as pessoas dessa cidade.
Ainda é difícil pensar no Peter, acho que vai demorar para isso ficar mais fácil, ou talvez nunca fique. Ainda todos estão magoados e se sentindo trocados por um nada. Queria que ele estivesse aqui, que nunca tivesse ido para o lado de nossos inimigos, queria que ele estivesse nos dando ânimo e nos ajudando a formar um plano, tudo seria mais fácil com ele por perto, ele sempre foi o mais esperto e mais ágil.
Nesse momento, eu tinha acabado de sair do banho e colocar um pijama. Era exatamente meia noite e eu fiquei assistindo um filme com a Sara até o sono bater, todos já estavam em seus devidos quartos e dormindo. Eu deitei na cama e puxei a coberta quentinha para me cobrir dessa noite fria de inverno, levantei minha mão até o meu rosto e fitei o anel no meu dedo, o anel que o Peter me deu na minha formatura. A saudade preenche meu peito, então eu decidi tirar aquele anel e abri a gaveta, colocando ele bem no fundo igual estou tentando fazer: empurrar o Peter para o fundo da minha mente e meu coração.
Me ajeitei na cama e fechei os olhos para tentar dormir, amanhã de manhã eu tenho treino com a Sara e ela é muito insistente. Eu estava quase pegando no sono quando ouvi um barulho na janela e então ouvi ela se abrir. Eu paralisei o meu corpo e agarrei o cobertor, meu coração começou a saltar forte pelo meu peito quando ouvi passos pelo quarto.
Engoli em seco e tomando toda a coragem que eu tinha, eu me virei para a janela e arregalei os olhos ao ver a sombra de uma pessoa dentro do quarto, perto da penteadeira. Eu ofeguei e me sentei na cama assustada, então a sombra saiu do canto escuro e consegui ver o seu rosto com a luz que entrava da janela.
— O que você está fazendo aqui?! — Eu perguntei um pouco assustada.
— Shh! — Peter murmurou se aproximando da cama. — Fale baixo, os outros vão acordar.
— Mas eu quero mesmo que eles acordem! — Eu falei exasperada.
Peter suspirou e se aproximou mais, ficando de pé ao lado da cama.
— Alyssa, por favor. — Ele suplicou.
Eu olhei com raiva para ele, pelo menos, era isso que eu queria demonstrar, mas eu não sabia se era isso que eu estava transmitindo para o garoto que eu amo bem ali, de pé na minha frente.
— O que você veio fazer aqui, Peter? — Eu perguntei sussurrando.
Ele lentamente se sentou na cama e eu me afastei até a cabeceira, ele engoliu em seco ao ver a minha atitude. Eu estava irritada e magoada, eu seria uma trouxa se deixasse ele se aproximar como se nada estivesse acontecendo, como se ele não tivesse beijado outra bem na minha frente.
— Eu senti a sua falta. — Ele sussurrou.
Meu coração bobo disparou, mas tento me lembrar que eu não posso me permitir sentir isso.
— É mesmo? Eu não acredito. — Eu falei tentando soar firme.
— Eu ter me aliado a eles, não quer dizer que eu não te ame mais, Alyssa. — Ele falou com olhos suplicantes.
— Como eu vou saber se isso não é uma mentira sua? — Eu perguntei magoada. — Você não me ama, não se machuca alguém que ama desse jeito igual você fez e ainda mais traí-la bem na sua frente.
— Não dá para esquecer alguém que você ama da noite para o dia. — Ele disse baixinho.
— Talvez você nunca tenha me amado.
Ele comprimiu os lábios e negou com a cabeça sem desviar seus olhos dos meus.
— Pela segunda e última vez, o que você veio fazer aqui? — Eu perguntei.
Ele suspirou e juntou as mãos.
— Lembra do desafio que eu ganhei? Eu quero o meu prêmio, você prometeu que iria cumprir caso eu ganhasse.
Eu engoli em seco, eu tinha esquecido completamente desse maldito desafio. Abri a boca para falar que eu não cumpriria coisa nenhuma, mas depois fechei de volta.
— Promessa é promessa. — Peter murmurou.
Eu respirei fundo e fechei os olhos tentando me acalmar, depois o olhei outra vez.
— O que você quer que eu faça? — Eu murmurei com o coração na mão.
E se ele pedir para que eu me torne uma Cefur também? Isso eu jamais serei, não vou deixar os meus amigos.
— Quero que me beije. — Peter falou sem desviar os olhos.
Eu abri a boca sem falar nada, meu coração parou de bater e depois voltou com toda a sua força e acelerado. De todas as coisas, essa era a última que eu imaginei que ele pediria.
— Você está brincando? Eu não vou te beijar. — Eu murmurei, tentando não me abalar.
— Você prometeu que iria cumprir. — Ele disse firme. — E é isso o que eu quero, um beijo e nada mais.
Engoli em seco e por um segundo, eu olhei para os seus lábios convidativos e um lado meu queria imensamente senti-lo outra vez, mas o outro lado estava muito magoado. Então, começo a pensar que esse pode ser o nosso último beijo, um beijo de despedida pelo o que passamos juntos nessas últimas semanas. Um último beijo para todo o sempre.
Tirei meus olhos que estavam na coberta em meu colo e olhei para o garoto na minha frente que ainda me olhava fervorosamente. Eu respirei fundo e tomei uma decisão.
— Está bem. — Eu sussurrei e o seu rosto começou a se iluminar. — Mas só porque eu dei a minha palavra, não vou ir contra eu mesma.
Peter engoliu em seco e molhou seus lábios, uma tensão começou a aparecer no ar. Sem desviar seus olhos, ele se aproximou lentamente e colocou a palma da sua mão na minha nuca, então aproximou seu rosto do meu e ficou ali observando os detalhes do meu rosto. Eu abri a boca para tentar respirar melhor e meu coração poderia ser ouvido a qualquer distância desse quarto.
Ele encostou nossos narizes e acariciou o meu rosto, então sem esperar mais um segundo, ele grudou seus lábios nos meus. Nós dois soltamos um gemido sufocado e nos beijamos intensamente, com paixão e muita saudade. Eu passei meus braços em volta do seu pescoço, puxando-o mais até o seu corpo tocar cada parte do meu e ele ofegou.
Eu estava com tanta saudade dele que esse beijo não era capaz de fazê-la ir embora, eu precisava cada vez mais. Peter me encostou na cabeceira e aprofundou o beijo, eu passei meus dedos pelo seu cabelo e ele apertou minha cintura no mesmo instante.
Então, a paixão vai se tornando em mágoa. Uma placa em neon começou a piscar na minha mente que ele era um Cefur e beijou outra, os mesmos lábios que estavam me beijando, tocaram a de outra, bem na minha frente. Um nó começou a se formar na minha garganta e meus olhos ficaram marejados.
— Não. — Eu murmurei. — Para.
No mesmo instante, ele parou se afastando do meu corpo e me olhou preocupado. Nossas respirações estavam completamente irregulares, o peito dele subia e descia rapidamente.
— Isso é errado, eu não posso. — Eu falei baixinho e piscando meus olhos para as lágrimas não saíram.
— Por que não?
Eu olhei para ele e engoli em seco tentando fazer o nó descer.
— Você me magoou, me magoou profundamente e traiu a todos nós, que tipo de pessoa eu seria? Eu não quero ficar perto de você. — Falei com dificuldade, mesmo que não fosse verdade, tudo o que eu queria era ficar perto dele e voltar a beijá-lo como se não houvesse amanhã.
Peter engoliu em seco e consegui ver dor em seu olhar, ele respirou fundo ainda me observando, então ele abaixou seu olhar para a minha mão e viu que eu não estava usando o anel. Ele comprimiu os lábios tremendo.
— Alyssa… — Ele disse com certa dificuldade.
— É melhor você ir embora. — Eu sussurrei e escondi minha mão debaixo da coberta.
Ele me olhou de novo, ficamos nos olhando por pouco tempo, então ele assentiu devagar.
— Tudo bem. — Ele sussurrou. — Eu vou.
Ele ficou de pé e foi em direção a janela, uma lágrima escorreu pela minha bochecha e eu a sequei rapidamente quando ele virou o rosto para mim, mas ele já tinha visto. Sem falar mais nada, ele atravessou a janela e foi embora.
No segundo seguinte, eu já estava chorando descontroladamente, encolhida no cobertor e olhando fixamente para a janela. Desejando que tudo isso não passasse de um pesadelo.
Alguém pegou a referência? 👀
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