Capítulo 8
ADELINE SENTIU ALGO MUITO incomum. Sua mente estava tão agitada que ela não conseguia se concentrar. Ao mesmo tempo em que levantava hipóteses sobre os efeitos da radiação sobre em relação ao dna de cada um, ela tentava desesperadamente não tocar em alguém.
Toda vez que um deles se aproximava, ela dava um passo para longe. Todo o clima estava tenso, começando por Ben que não cabia em nenhum táxi e precisou de uma carona do caminhão de bombeiros. Reed continuava com o olhar perdido e a cabeça entre as hipóteses e a culpa.
Sue chegou a tentar fazê-lo falar sobre o que estava pensando, mas no fim das contas só o irritou ainda mais. Ela continuava constantemente ligando para Victor, mas não obteve nenhuma resposta.
O caminho até o Edifício Baxter não poderia ter parecido mais longo. Quando o grupo finalmente passou pela porta giratória e colocaram os pés no hall de entrada, foi como se finalmente tivessem chegado em casa.
De fato Adeline havia passado mais tempo lá do que em sua própria casa. O prédio era grande e luxuoso, nem ela lembrava quantos andares eram no total. Reed era proprietário dos três últimos andares, ele havia os adaptado para servir como uma espécie de oficina/laboratório/apartamento. Era uma bagunça científica adorável.
-Boa tarde, Sr. Richards. -Disse Rodney acenando de trás do balcão da recepção, ele tocou a aba do chapéu. -E Senhorita Rudolph, que bom revê-la!
Adeline acenou com um sorriso enquanto esperavam pelo elevador.
-Olá, Rodney. -Sue cumprimentou, mas ele não respondeu.
Rodney havia acabado de notar Ben que passara pela porta giratória com bastante dificuldade e estava respirando forte demais o que fazia parecer que ele estava prestes a esmagar alguma coisa.
E um cara grande feito de pedra realmente podia esmagar qualquer coisa.
O elevador chegou ao térreo e as portas se abriram. Felizmente o elevador era grande, cabia Ben e ainda permitia que Adeline tivesse espaço para evitar contato físico com todos eles.
Ela reparou que Ben parecia ter crescido um metro a mais. Johnny não parava de o encarar, como se estivesse disposto a entender onde as orelhas de Ben tinham ido parar. Addy estava pronta para socá-lo se ele fizesse algum comentário maldoso e estava considerando não usar sua luva para isso.
O elevador fechou as portas e apitou um alarme de aviso. No painel eletrônico apareceu a mensagem de "peso acima do recomendado". Todos involuntariamente olharam para Ben Grimmes.
-Acho que é você grandão. -Johnny disse num tom casual. -Vai ter que ir de escada.
-São mais de vinte andares. -Adeline protestou perdendo a paciência com toda a situação incômoda. -Deve haver um jeito.
-Só se contratarmos um guindaste para o erguer pelo lado de fora e ele entra pela janela. -Sugeriu Johnny em tom sarcástico.
A sorte dele era que no elevador não tinha nenhum objeto que Adeline pudesse usar para jogar na cara dele.
-Eu vou de escada. -Ben murmurou entre o desânimo e a irritação.
-Não. -Adeline disse em um tom imperativo sobressaltando a todos. -Você sobe sozinho, Ben. O resto de nós vai esperar o próximo elevador.
Ela apertou o botão para abrir as portas.
Johnny bufou revirando os olhos.
-O elevador não vai aguentar o peso dele. -Ele resmungou enquanto seguia os outros de volta para o hall de entrada.
Assim que eles saíram a porta do elevador fechou e ele subiu carregando Ben.
Johnny ficou calado ao ver que Adeline tinha razão.
-Não é possível que Ben tenha tanta massa a ponto de o elevador não conseguir carregá-lo. Se fosse assim, ele iria se mover em uma velocidade extremamente baixa se considerarmos a força da gravidade. -Addy recitou enquanto eles entravam no outro elevador.
-É só uma questão de física. -Murmurou Reed.
-Nerds. -Johnny murmurou enquanto fingia um espirro.
Reed suspirou em resposta enquanto Johnny sorria para si mesmo como se fosse muito engraçado.
O Edifício tinha tantas dezenas de andares que Adeline nem mesmo tentava contá-los ou memorizar a quantidade exata. Até chegar na cobertura foram longos segundos desconfortantes com Sue e Reed evitando qualquer tipo de contato.
Ao contrário deles, Johnny parecia bem determinado a estar pronto para prender os olhos de Adeline caso ela olhasse em sua direção, coisa que aconteceu por um instante e ele aproveitou para piscar um dos olhos. Ela fingiu que não viu e olhou para seu relógio de pulso como se tivesse acabado de perder um segundo e nunca mais poderia recuperá-lo na vida.
Quando a porta do elevador se abriu, Reed tomou a frente e o grupo o seguiu pelo grande hall de entrada. Pelas paredes haviam certificados e capas de revistas emoldurados, todas as conquistas cientificas e acadêmicas estavam lá. Também haviam uma mesa de vidro com um jarro sobre ela e vários envelopes.
Quando Adeline passou por ela pode ler o aviso vermelho que estavam nas cartas: "hipoteca". Percebeu no que a falha do projeto poderia significar financeiramente para Reed. Se ele já estava com problemas antes, então corria o risco de perder o prédio se não tivesse financiamento para suas pesquisas.
Ela se perdeu nesse pensamento por um instante enquanto eles seguiam para a sala.
Era bem maior que uma sala normal. Era como um enorme saguão de um laboratório e oficina espacial. Cheio de equipamentos, mesas, computadores atuais e avançados que dificilmente teriam no mercado disponível para um público comum. Muitos papéis, relatórios, peças, máquinas inacabadas.
Céus! No meio havia uma grande câmara fechada que só Reed saberia para quê seria útil. Aos olhos de todos parecia uma grande bagunça de bugigangas cientificas, mas todos sabiam que Reed seguia uma ordem que só fazia sentido para ele.
Reed indicou a passagem à esquerda que levava para a sala de jantar e para os quartos.
-Posso mostrar onde vocês podem ficar. Eu tenho toalhas e roupas... -Ele disse enquanto Sue e Johnny o seguiam. Então ele parou e olhou para Adeline que permanecera na entrada.
-Eu vou depois, quero ver o que temos disponível por aqui. -Ela disse se aproximando de uma das mesas.
Reed conduziu Sue e Johnny pelo corredor.
Adeline tirou o casaco e o pendurou sobre a cadeira e se sentou. Ela começou a reunir os papéis e separá-los por categoria. Separou o que era teoria, resultados de testes e o que eram os gastos que tiveram no decorrer do projeto.
Enquanto ela mexia nos papéis, Ben entrou no saguão de cara fechada e punhos cerrados.
-Aquele maldito elevador demorou mil anos. Todo mundo que entrava e me via saía correndo. -Ele resmungou olhando ao redor. -Esse lugar é enorme, tem todo tipo de máquina. Mas não tem uma porcaria de cadeira onde eu possa sentar.
Adeline olhou ao redor e realmente todas as cadeiras eram pequenas demais para comportar o novo corpo grande e rochoso de Ben.
-Vou colocar isso na lista de prioridades, Ben. -Addy retirou um papel e começou a anotar. -Você vai ser nossa prioridade.
Com o que ela disse, ele respirou fundo e abriu as mãos.
-Mas pode algo por mim, Ben? -Ela o olhou nos olhos, a única parte que a radiação espacial não havia alterado. -Descanse por hoje. Se alimente e tente se manter saudável. Quero que a primeira rotina de testes e coleta de dados seja com você, vou organizar tudo para começarmos amanhã de manhã.
-Adeline, você precisa descansar também... -Ele disse com a voz rouca.
Reed entrou no saguão parecendo já ter ouvido o que foi dito antes.
-Eu e Adeline podemos esperar. Você não. -Reed disse e indicou o corredor para Ben. -Vem, você pode ficar com o sofá na sala de jogos.
Ele guiou Ben enquanto Adeline arregaçava as mangas da camisa social e começava e estabelecer as necessidades mais urgentes do grupo.
Alguns instantes depois Reed se juntou à Addy e começou a separar os dados coletados para montar as hipóteses.
-Precisamos criar um ambiente seguro para a análise de Johnny. Talvez aquela câmara possa ajudar, vamos precisar revesti-la... -Adeline murmurou acrescentando anotações em seu computador.
Reed estava com a camisa amarrotada, tinha uma caneta atrás de cada orelha e encarava a lousa branca onde estava seus cálculos.
Depois de um tempo nenhum dos dois sabia dizer há quantas horas estava ali. Adeline pensou em ter ouvido Ben gritar com Johnny, mas continuou calculando o que ainda lhes restava de fundo.
-Eu vou tomar um café e já volto. -Disse Reed.
-Você deveria dormir. -Adeline mal ergueu os olhos dos papéis. Seu olhar só desviavam deles para ver a tela do computador. -Amanhã vai ser pior, precisa estar descansado.
-Certo... -Ele disse relutante. -Se precisar de algo pode chamar.
-Não vou chamar.
Ele soltou uma risada fraca e cansada e seguiu em direção ao quarto.
Ela não queria dizer a ele que estavam com o fundo extremamente comprometido. Dificilmente Victor iria colaborar tendo em vista que a missão foi considerada um fracasso. Pensando na correspondência sobre a hipoteca que ela havia visto mais cedo, estava considerando se eles teriam que recorrer ao investimento do próprio bolso.
O que não seria problema ela ajudar. O problema era o orgulho de Reed, mas uma hora ele cederia. Ben e todos eles precisavam de uma resposta.
Ela primeira vez ela olhou no relógio e já passava da meia-noite. Ela bocejou e viu Sue e Johnny entrarem no salão.
Sue estava com roupas largas e o cabelo preso, segurava uma bandeja com um prato de comida e um copo de suco. Johnny estava de camisa, calça moletom e o cabelo loiro molhado do banho.
-Reed já foi deitar? -Sue disse estranhando a ausência dele sabendo que ele sempre virava a noite trabalhando.
-Eu o mandei ir. -Addy disse escondendo outro bocejo.
Sue deixou a bandeja sobre a mesa dela e ela a encarou surpresa.
-Você devia comer alguma coisa e descansar também. -Sue disse com uma voz doce que quase deixou Adeline sem jeito.
Mesmo suspeitando que a comida era na verdade para Reed, ela agradeceu.
Johnny tirou a mão do bolso e mexeu na pilha de papéis, Adeline afastou a mão dele.
-Eu vou dormir agora. -Sue disse depois de ver os dois trocando faíscas de irritação pelo olhar.
Ela saiu para o quarto e Johnny puxou uma cadeira para ficar de frente para Adeline.
-Você sempre foi assim? -Ele perguntou.
-Assim como?
-Nerd.
Adeline olhou séria para ele.
-Sim. E você?
-Se eu sempre fui lindo? Sim.
-Na verdade eu ia dizer "idiota". -Ela riu.
-Meu Deus. Você acabou de rir. -Johnny sorriu e pegou o copo de suco dela e levou até a boca, mas Addy o tirou de sua mão antes que conseguisse beber o líquido.
-É que eu estou cansada e com fome. Meu cérebro não está processando mais como antes. -Ela começou a comer.
Sue tinha preparado tacos fazendo o que podia com os poucos ingredientes que tinha na cozinha. Johnny havia insistido que ela levasse algo para Adeline que não havia parado para comer o dia todo.
Ela tinha tirado o casaco e dobrado as mangas da camisa até o cotovelo. Seu cabelo longo e escuro estavam presos em um coque como se ela não quisesse que algo tão banal quanto seus fios atrapalhassem sua concentração.
-Você já avisou sua família? Devem estar preocupados com o que aconteceu.
Ele se lembrava de que a ficha dela não indicava o contato de parentes.
-Não. Eu não tenho família. -Ela disse com uma naturalidade que Johnny não estava esperando. -Eu cresci em orfanatos, passei de um lar adotivo para outro, nunca fiquei em um lugar só. Tenho uma amiga chamada Chloe, ela é quem se preocupa em situações assim.
-Ah, eu... Não fazia ideia. -Ele disse em voz baixa passando a mão pelo cabelo loiro.
Era a primeira vez que Johnny Storm parecia sem graça na frente de alguém.
-Mas no fim isso acabou me fazendo ser quem eu sou. Nunca senti que alguém me quisesse aqui na Terra, então gosto de explorar o espaço. -Ela murmurou colocando um fio solto atrás da orelha, então ela o encarou com seus olhos de traços asiáticos que pareciam marcar o peito de Johnny com uma martelada.
-Eu nunca pensei muito sobre isso, sobre porquê eu gosto de voar.
-Você e pensamento parecem ser duas coisas que não combinam.
Johnny sorriu.
-Não mesmo. Não gosto de complicar as coisas, talvez por isso eu goste de ver tudo lá de cima. -Ele sussurrou pela primeira vez admitindo algo tão pessoal. -Quando você vê de longe, parece mais fácil.
Adeline olhou para todos os dados e papéis que precisavam lidar e compreender até a última vírgula.
-Sempre é mais complicado do que parece.
-Tipo o que aconteceu com a gente. Não é estranho que cada um tenha um poder diferente? -Ele pareceu subitamente mais animado a falar disso do que motivações pessoais.
-Poder? Não sei se podemos chamar assim. -Addy bocejou e apoiou o rosto sobre a mão. -Mas cada corpo vai reagir de maneira diferente à reação.
-O que exatamente você faz? Eu estava pensando, antes de você acordar uma enfermeira encostou em você e logo depois desmaiou. -Johnny franziu a testa, os olhos azuis estavam escuros com a luz do saguão.
Ele cheirava a banho fresco e sabonete.
-Você estava no meu quarto há quanto tempo antes de eu acordar?
Johnny ignorou a pergunta e continuou:
-Logo depois eu te toquei e explodi! Era como se eu tivesse levada uma sobrecarga. Ao contrário da enfermeira. Será que você sugou a energia dela e depois me recarregou?
-Suguei a energia? Eu sei lá, Johnny. Não sei se sou uma espécie de Dementador. -Ela resmungou olhando para o rosto dele e se perguntando se ele ainda pareceria tão bonito depois de levar um soco.
Johnny riu e seus olhos azuis brilharam.
-É um bom codinome.
-Cala a boca. Você não vai me chamar de Dementador, caso contrário você vai ser o Cabeça de Fósforo.
-Prefiro Vulcão. É mais poderoso. -Ele piscou um dos olhos para ela.
-É ridículo.
-E Espectro? Soa como energia misteriosa, algo sobrenatural. -Ele sugeriu encostando um dos dedos no lábio inferior.
Tão lindo e irritante. Adeline queria socá-lo.
-Esse é menos pior. Mas esquece. Nada de codinomes, Cabeça de Fósforo.
Ele deu uma risada baixa e decidiu parar por ali, era o bastante para implicar com ela por uma noite.
Depois de comer ela acabou cedendo ao cansaço e foi com Johnny até o corredor.
-Até amanhã... -Ele disse parando na porta do quarto, fez uma paisa dramática como se estivesse pensando em como chamá-la agora.
-Eu juro que se me der um apelido eu quebro a sua cara, Storm.
-Como você fica selvagem com sono. Eu a convidaria para o meu quarto... -Johnny abriu a porta, os aluz azuis brincando como estrelas no escuro.
-Vai sonhando, Vulcão. -Addy o empurrou para dentro do quarto e ela mesma fechou a porta deixando Johnny sozinho dentro do cômodo.
Resmungando ela seguiu até a sala de jogos.
Ben estava no sofá que quase parecia confortável, mas ainda assim ele parecia dormir bem.
Havia uma poltrona reclinável na outra extremidade do quarto, foi onde ela decidiu que passaria aquela noite.
Ela tirou os sapatos e se jogou na poltrona, deixando todo o seu corpo mergulhar nas estrelas em seus sonhos.
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notas: demorou, mas saiu. Precisei focar em algumas questões particulares nas últimas semanas e tive que deixar a escrita de lado. Mas cá estou com mais um capítulo soft pra Addy e Johnny se aproximarem. Gente, vou precisar usar outra faceclaim, porque a Adeline não tem muito material. Então para gifs vou usar a Arden Cho. A personagem vai continuar sendo asian american, ok? E mais pra frente vou trabalhar como ela se relaciona com suas origens e como isso constrói sua identidade. Afinal, nós amamos representatividade.
XOXO
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