Capítulo 5
QUANDO ELE CHEGOU no compartimento central Reed, Sue e Victor já estavam checando os dados de pesquisa. Sue separava as amostras de plantas a serem colocadas do lado de fora da estação para entrar em contato com a nuvem da tempestade.
-Tivemos algumas alterações, mas nada que não tenha sido previsto. -Reed explicava à base pelo conector. -É uma singularidade, é comum que não tenhamos os dados exatos. É para isso que estamos aqui, para observar....
Johnny passou por eles e seguiu até a câmara onde Ben se preparava para sair da nave. Ele estava com um macacão especial leve e colado ao corpo enquanto Adeline checava o traje espacial que ele iria vestir.
Johnny se aproximou dela e começou ajudá-la a abrir todos os fechos. O traje era pesado e levava vários minutos até ser colocado no astronauta.
-Quero ver quando Reed vai perceber que não tem a menor chance com a minha irmã. -Ele comentou com Bem e quis ver se Adeline respondia também, nem parecia que um instante atrás eles estavam falando de beijo sob as estrelas.
-Entre ele e Victor, ela deveria escolher Reed. -Ben disse enquanto Johnny e Adeline subiam a parte de baixo do traje pelas suas pernas.
Rudolph checava os fechos dos tornozelos e das panturrilhas, enquanto ele checava o da cintura.
-Victor é rico, famoso, tem o carro do ano e está caidinho por ela. -Johnny enumerou os fatos. -Reed é um cientista falido.
Adeline e ele pegaram a parte superior do traje e o colocaram sobre o tronco de Ben fechando todos os lacres e botões elaborados. Ela parecia muito concentrada como se Johnny nem mesmo estivesse ali.
-Aquele cara não presta. -Be n argumentou franzindo a testa quando sentiu o peso do traje sobre si. -E Johnny, talvez não seja só os sentimentos do Reed. Talvez ela queira algo também.
-Posso garantir que todo luxo dos Von Doom não passa de lixo. -Adeline falou se afastando alguns passos para observar melhor o traje de Ben. E então olhou para Johnny. -Sua irmã só faria bem a si mesma se deixasse aquele idiota.
-Como foi com o Tom? -Johnny chegou no ponto em que queria. Ben olhou para ele como se estivesse o alertando para não perguntar demais, porém Adeline sorriu.
-Começamos bem. Temos a mesma idade, a mesma paixão por descobertas. Ele parecia só um garoto rico e mimado, ficava com todas as garotas. -Ela disse e se aproximou de Ben para ajustar a parte do colarinho onde encaixavam o capacete. -Então me fez acreditar que tínhamos algo de especial. Namoramos e noivamos. Ele precisava apresentar um novo projeto para o irmão e ajudar na empresa já que as ações estavam caindo. -Ela pegou o capacete transparente da bancada ao lado e se virou para Johnny. -Achou que poderia pegar o meu projeto e vendê-lo sem me consultar. Quando eu descobri, achou que "estava tudo bem, porque eu faria aquele sacrifício pelo meu noivo".
-Babaca. -Disse Ben recebendo o capacete de Adeline.
-Tirou um bilhão dele e o acertou nas bolas, eu espero. -Johnny deu um sorriso brincalhão e até Ben se surpreendeu quando Adeline retribuiu.
-Infelizmente eu não havia pensado na segunda parte. Eles seguraram Ben pelos braços e o ajudaram a se posicionar em frente à abertura da nave. -Quem sabe na próxima.
Johnny riu ao pensar em Tom os interrompendo pelo comunicador.
-Talvez na próxima eu é quem vai chutá-lo.
Sue se aproximou segurando as amostras em frascos que colocaram em uma mala aberta e adaptada para ser encaixada no traje de Be n. Ela a entregou para Adeline que com cuidado prendeu a maleta transparente na parte frontal do traje de Ben e verificou se as amarras estavam firmes.
Sue observou a colega notando a atenção e o cuidado com que ela executava a ação, repassando os passos para ter certeza de que não ocorreriam falhas.
Johnny sabia que os filmes nunca mostravam como era realmente a manutenção e a preparação para vestir um traje espacial, na realidade levava até quarenta e cinco minutos para o astronauta estar completamente pronto e vestido. Cada detalhe precisava de cuidado, qualquer falha no espaço era mortal.
E Rudolph, experiente como era, sabia muito bem que se houvesse qualquer erro na colocação, por menor que fosse, Ben iria para o espaço. Literalmente.
Johnny quase riu com seu próprio pensamento.
-Para de graça, Storm e me ajuda com o SAFER. -Rudolph disse o fazendo perceber que ele realmente havia deixado uma risada baixa escapar.
Ele e Adeline checaram o SAFER, que era o cabo e o controle ligados ao traje que permitiam que o astronauta não ficasse muito longe da nave e pudesse retornar em caso de algum incidente.
Por último eles checaram os níveis de oxigênio, hidrogênio e água armazenados na mochila do traje. Tinha o bastante para manter Ben por sete horas fora da nave, mesmo que não fosse necessário todo esse tempo.
-Tudo certo, grandão. Agora é só não se perder lá fora. -Johnny disse dando um tapinha no ombro de Ben que nem sentiu o gesto, já que sua roupa tinha quatorze camadas super finas de fibras especiais.
Reed entrou na câmara para dar uma olhada.
-Tudo certo, Ben? -Ele perguntou pelo comunicador para testá-lo.
-Sim, estou pronto. Rudolph já checou todos os instrumentos.
Ele sorriu para Adeline que seguiu para o lado de Reed. Ele carinhosamente afagou-lhe as costas e Johnny percebeu que ele era a única a pessoa que a tocava assim. Às vezes Ben bagunçava o cabelo dela de um jeito carinhoso também, mas só de vez em quando. Johnny não soube o porquê reparara logo naquilo.
Ele e os outros saíram da câmara e passaram para o compartimento central onde tinha uma enorme tela de vidro onde era possível ver Ben. Ele fechou o capacete e com o comando em sua mão direita ajustou o visor. Sue e Reed seguiram para o computador central onde Victor estava guiando a comunicação com a base.
Adeline e Johnny ficaram na intersecção da câmara com o compartimento onde havia o controle de fechamento das comportas, eram duas: ume que separava a câmara do compartimento central e outra que separava a câmara do espaço sideral.
-Vamos começar a contagem. -Reed anunciou e Johnny pode ouvi-lo também pelo comunicador em seu ouvido.
-Vai ser rápido, duas horinhas... -Bem respondeu brincando. Pelo comunicador Rudolph reconheceu os sinais de excitação de quem estava prestes a flutuar no vácuo da existência. Era aterrorizador e magnifico. Ela queria que tivesse sido ela.
-Não se engane, Ben. -Ela disse o observando com Johnny ao lado dela. -A gente sente o tempo diferente no espaço. Se atente à sua lista de tarefas no braço esquerdo.
-Começando a contagem. -Reed anunciou. -5, 4, 3...
Johnny apertou o botão de controle e a comporta entre a câmara e o compartimento central foi fechada.
-2, 1... -Continuou Reed. Johnny acionou o outro botão e a comporta de aço entre a câmara e o Espaço foi aberta.
Ben tomou impulso e flutuou para fora da nave.
-Astronauta Benjamin Grimm está fora da nave. -Confirmou Reed para a base.
De onde Johnny e Adeline estavam era possível ver Ben e seu traje branco caindo na imensidão enquanto o cabo SAFER se esticava aos poucos.
Johnny olhou para ela até ela perceber que estava sendo observada.
-O que foi, Storm? -Rudolph se virou para ele vendo os olhos azuis sugestivos dele e aquele meio sorriso debochado.
-A oferta dos amassos ainda está de pé. -Ele disse e mordeu os lábios.
-Não, obrigada. -Ela disse se virando novamente para observar Ben que era um ponto branco distribuindo amostras genéticas pela estrutura exterior da nave.
-Tudo bem, estou à disposição quando precisar. -Ele piscou para ela. Era um idiota e ele bem sabia disso, mas pelo menos era um idiota bonito.
-Vou precisar que você execute bem a sua função. Não quero ter que pedir ao meu ex-namorado para nos resgatar caso você exploda essa nave. -Ela murmurou.
-Mas eu bem poderia explodir todo o resto e deixar só nós dois sob as estrelas. Prejuízo de bilhões para os Von Doom e um pouco de romance no espaço para você. -Ele sugeriu com aquele olhar brincalhão que podia muito bem ser sério.
- Cala a boca, Storm! - Rudolph acertou um soco no ombro dele, era a primeira vez que ela o batia diretamente sem disfarçar sua impaciência com ele. O que significava que ela estava muito irritada.
-Humm, então é disso que você gosta... -Ele murmurou voltando seus olhos para a silhueta distante de Ben. -Romance no espaço.
Rudolph revirou os olhos e o ignorou pelos trinta minutos seguintes. Reed fazia o monitoramento de dados, Sue preparava as próximas amostras e
Victor mantinha o contato com a base descrevendo o andamento em tempo real.
Adeline e Johnny observavam Ben e dialogavam com ele para manter o nível de ansiedade e estresse baixo. Adeline era quem monitorava os dados do metabolismo dele como respiração, batimento cardíaco enquanto Johnny checava os dados do traje como exposição à radiação, temperatura, oxigênio e etc.
Rudolph e ele alinhavam os seus dados para garantir a segurança de Ben, por um momento até ficaram lado a lado com os braços se tocando. Ela notara que o nível de ansiedade aumentara um pouco e Johnny precisou fazer alguma piada ridícula para Ben rir.
Até que um som alto soou pela mesa de controle de Reed. Os radares e medidores de radiação apitaram, Johnny sentiu Rudolph ficar tensa ao seu lado.
-O que é isso, Reed? -Ela olhou para trás na direção da mesa de controle onde Reed encarava as telas com uma expressão alarmada.
-Tem algo errado, a tempestade de radiação cósmica se aproxima. -Ele disse checando os dados na tela novamente.
-Mas os cálculos indicavam que isso ocorreria só daqui há nove horas. -Victor murmurou e em seguida tocou o comunicador em seus ouvido. -Aqui é da estação Von Doom, permissão para emitir chamado de auxílio às outras estações espaciais, tempestade de radiação se aproximando em...
-Quanto tempo Reed? -Sue perguntou o seguindo para olhar os telões.
-Cinco minutos! -Gritou Reed.
Adeline e Johnny olharam para o ponto distante que era Ben. Mais distante ainda no vácuo escuro do espaço, algo começava a tomar a forma de uma névoa cheia de energia. Era como se uma nuvem de fragmentos do universo começasse a se formar anunciando uma tempestade.
-A singularidade se desloca vário metros por segundo, ele não vai conseguir. -Adeline sussurrou e ativou o comunicador em seu ouvido levantando o indicador para que os outros fizessem silêncio.
Ela estava no comando agora.
-Ben, consegue me ouvir? Isso é uma emergência, precisamos que volte para a nave imediatamente. -A voz dela estava séria de um jeito que Johnny nunca tinha ouvido antes. E Rudolph sempre era séria.
-Ainda não terminei de colocar todas as amostras. -Be n disse pelo comunicador.
-Precisamos que retorne agora. Isso é uma ordem. -Ela disse com a seriedade um pouco mais autoritária.
-Preciso que chegue aqui em cinco minutos contando a partir de agora.
Ben se movimentou ao longe já virando seu corpo em direção à nave. Atrás dele ao longe a tempestade crescia tomando cores aterrorizantes, como se um pequeno sol tivesse se misturado à um pequeno planeta e dançasse em forma de uma nuvem linda e mortal.
-Você está indo muito bem. -Ela continuou a dizer pelo comunicador e sinalizou para que Johnny abrisse a comporta de metal para a câmara. -Mas eu preciso que use o SAFER para ter mais impulso.
Ben estava mais próximo da nave, apenas alguns metros. Mas a nuvem atrás dele era claramente mais rápida.
Johnny viu uma gota de suor escorrer pela têmpora de Adeline, mas ela não demonstrava nervosismo em sua voz. Era porquê precisava passar segurança a Ben e não aterrorizá-lo sobre possível morte nos próximos três minutos.
Ela olhou para o traje espacial na câmara e ele soube o que ela estava pensando.
-Addy, não dá tempo de você ir lá fora. -Johnny disse e surpreendeu a si mesmo com o tom firme e confiante. -Precisamos de você aqui para guiar Ben.
Storm acionou o botão para abrir a comporta de metal. A entrada estava livre aguardando Ben. Todos encaravam pelo vidro enquanto ele ativava o jato de nitrogênio do traje e avançava mais rápido.
-Aqui é a estação Von Doom para a base de operações. Risco de contato com radiação cósmica... Repito. -Victor continuava no controle central. Se virou para outros furioso e gritou: -Deixem-o lá! Fechem as portas e ativem o escudo da nave.
-Isso mesmo, continue Ben! -Adeline incentivou e Johnny deixou a mão sobre o comando pronto para fechar a porta.
Só mais alguns centímetros e ele conseguiria entrar. Mas no mesmo instante em que Ben alcançou a nave, a tempestade também alcançou.
Ben entrou e no mesmo instante Johnny acionou o fechamento das portas. Mas um microssegundo e a falta dos escudos de proteção não impediu que a nuvem de radiação cósmica os atingisse.
Ben foi arremessado contra o vidro e mesmo estando fora da câmara, Johnny e os outros foram atingidos. A nuvem de radiação cósmica invadiu a nave como uma grande massa de energia, sacudiu as estruturas de metal, sacudiu as células de seu corpo. Ele sentiu como se tudo fosse uma enorme fogueira.
Adeline que estava ao seu lado foi arremessada para trás, Reed caiu ao chão e Sue de alguma maneira se manteve em pé mas seu corpo estranhamente parecia estar desaparecendo.
A sensação de ser queimado vivo consumiu Johnny até que ele perdesse os sentidos.
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