Capítulo 15
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A SENSAÇÃO ERA CONFORTÁVEL, a luva servia perfeitamente bem e o tecido era de uma fibra ajustável e flexível. Adeline se sentia mais segura e à vontade sabendo que não iria encostar na pele de alguém por engano, pelo menos até aprender a dominar aquela nova função do seu corpo.
Depois do encontro com Tom, ela havia voltado para o Edifício Baxter. Susan havia deixado uma mensagem avisando que ela e Reed iriam demorar, Johnny havia percebido que os alimentos não apareciam na cozinha sozinho e se predispôs a ir ao mercado, enquanto que Ben permaneceu no quarto o dia todo.
Adeline estudava os resultados que tinham até o momento, revisava sem parar a ficha de cada e o resultado das amostras. Estava com a teoria de que poderiam ter sido afetados em diferentes graus, porque estavam em posições diferentes em relação à onda de radiação. Prova disso foi que Ben teve a mutação mais significativa.
Porém, não haviam dados sobre Victor. Afinal, ele também estava lá. Ele também foi afetado.
Seria muito importante acompanhar os efeitos colaterais, poderia ter alguma informação importante que ajudaria os demais. Ela pegou o telefone e digitou o número de Tom, sabia que poderia convencê-lo a compartilhar o que fosse necessário. Depois de ter recebido as luvas dele, percebeu que devido à mágoa havia esquecido que outrora haviam confiado um no outro. Talvez pudessem manter aquilo novamente.
Mas ele não atendeu.
O telefone chamou por diversas vezes até que caiu na caixa postal.
Addie estava deixando uma mensagem gravada quando ouviu um estrondo vindo do elevador. Um grito ecoou pelo hall de entrada. Ela estava na mesa no canto da sala aberta, não conseguia ver o que estava acontecendo, mas podia ouvir o som de metal se retorcendo e a porta do elevador atravessou o corredor.
Logo em seguida algo foi jogado atravessando a sala aberta, houve o baque seco de algo caindo ao chão bem ao lado da mesa de Adeline. Ainda com o telefone no ouvido e paralisada pela surpresa, ela observou o que acabara de cair ao seu lado.
O corpo de Rodney, o porteiro do Edifício Baxter, estava no chão, seus olhos bem vidrados e aberto mesmo já não estando mais vivo.
Adeline tremeu e deixou o telefone cair, as luzes do apartamento começaram a piscar, era possível ouvir o som da eletricidade passando pelas paredes, passos calmos começaram a soar pelo hall de entrada. A luz se apagou por completo e com cuidado Adeline engatinhou para baixo da mesa.
Victor Von Doom entrou assobiando e observando a própria mão que liberava uma fumaça sutil, havia nele um certo fascínio e obsessão pelo próprio poder.
— Reed?! — Ele chamou. — Precisamos conversar e acertar algumas coisas.
Adeline permaneceu embaixo da mesa, repassando em sua cabeça todos os detalhes que havia percebido em Victor desde o desastre da missão. Não podia encará-lo sem saber o que ele conseguiria fazer.
Ela percebeu algo se mover devagar nas sombras do corredor atrás de Victor, com certeza era Ben.
— Reed não está no momento, Victor. Mas eu posso deixar um recado. — Ben com sua voz grave e em um tom sério.
Victor riu baixo se virando na direção de Ben. As luzes piscaram novamente oscilando conforme o humor dele.
— Cansei de ficar na espera, Ben. Você não? — Victor murmurou, com passos lentos se aproximou de Ben. — Não está cansado de perder tudo enquanto Reed está por aí passeando e as pessoas não conseguem nem mesmo olhar pra você? Todos aqui estão bem depois de tudo, são vistos como heróis, celebridades… mas você, Ben… não passa de uma aberração para eles, não é? Se Reed se importasse de verdade, ele já teria dado um jeito.
Addie imaginava o que aquelas palavras estavam causando em Ben. Uma das habilidades de Victor era mexer com a vulnerabilidade dos outros e pelo silêncio de Ben, ele havia conseguido atingi-lo onde precisava, no emocional. Ela saiu devagar debaixo da mesa, arrancou uma das luvas e esticou a mão para Victor.
Mas ele a pegou, sua mão fria se fechou no pescoço dela e as luzes acenderam.
Adeline viu o rosto retorcido de Victor, a pele descamação e caia revelando uma segunda pele acinzentada e endurecida por baixo, metade da boca já havia se desfeito expondo a arcada dentária dando a impressão de um sorriso cruel e constante.
— Posso te sentir com essas luvas, Addie. — Ele murmurou e com a outra mão segurou a dela enluvada. — Elas tem pequenas fibras metálicas que transmitem energia pra mim.
Foi como se o tecido retraísse apertando seus ossos.
— Nós somos parecidos, Adeline. — Victor soltou a mão dela e tocou a sua têmpora.
— Victor, Adeline está nos ajudando, não machuque ela. — Ben pediu.
— Eu só vou dar a ela um pequeno vislumbre do que podemos fazer. — Ele apertou as mãos nas têmporas de Addie.
Ela pode sentir seu corpo ser preenchido por uma avalanche que fez todos os seus sentidos explodirem. Sua visão se tornou turva e branca, sua audição um zumbido constante, mas ela podia sentir a energia vital que pulsava ao redor através dos corpos naquela sala, através das paredes. Ela podia sentir a cidade pulsar como um batimento cardíaco que podia alimentá-la.
Ela podia sentir as moléculas, células e átomos vibrando e a energia entre eles, o que constituía cada coisa presente no universo e que foi passado para ela. Energia vital que saía dela, esvaziava seu corpo e passava para Victor.
Os olhos de Adeline começaram a embranquecer, uma névoa tomava conta de sua íris e pupila, as mechas do cabelo começaram a perder a cor gradativamente.
Ben reagiu, Adeline não podia vê-lo com os mesmo olhos de antes, mas podia senti-lo se mover na direção de Victor que em resposta o acertou com uma onda de energia cheia de força.
Força e intensidade que ele estava tomando de Adeline.
— Reed é tão burro, todo esse tempo procurando uma fonte de energia para recriar a tempestade cósmica, sendo que a bomba sempre esteve embaixo do nariz dele. — A voz de Victor ecoava, vibrava como ondas pela mente de Adeline.
Ela flexionou os dedos devagar tentando retornar o controle do próprio corpo, retirou a luva e tocou nos pulsos de Victor, resistindo. Sentindo aquele fluxo de energia e o condicionando para ela, sentiu cada parte dele se agitando para convergir para ela.
As luzes da cidade oscilaram, uma rachadura começou a surgir no teto conforme Adeline e Victor brigavam pelo poder. Ela chegou ao limite, ainda não conseguia canalizar o que precisava e controlar isso da forma devida.
"15 quilotons", havia dito Tom. Se Addie não se controlasse, explodiria a cidade inteira.
Em meio à porta amassada do elevador, corpos arremessados e rastros dos destroços da loucura de Victor. Johnny Storm entrou segurando as sacolas de mercado.
— Mas que porra é essa?
Addie vacilou e Victor desestabilizou, a energia entre eles ricocheteou e o lançou contra a parede de vidro do edifício. A parede se partiu em cacos e Victor Von Doom foi lançado para fora. Ela cambaleou, mas conseguiu se manter de pé. Apertou as mãos sentindo-se cheia, desperta e furiosa.
No chão ao canto da sala, Ben praguejou tentando se levantar.
— Aquele filho da…
— Aquele era o Victor?! — Johnny exclamou desviando do corpo de Rodney e largando as sacolas.
— Precisamos de Seu e Reed. — Adeline falou para Johnny. — Vai atrás do Victor, eu vou chamar os outros.
Johnny Storm não questionou, prontamente se lançou pela abertura formada na parede de vidro e enquanto caía em queda livre, gritou:
— EM CHAMAS!
— Você não pode ficar com toda a diversão sozinho, Johnny! — Bem disse pulando logo em seguida.
Addie correu para a beirada e observou os dois irem em direção a avenida abaixo.
— Que merda, eu não posso pular!
Ela pegou o celular e começou a ligar para Reed enquanto corria para as escadas do Edifício. Não queria arriscar o elevador.
Na avenida principal, um comércio teve o teto destruído após a queda de algo não identificado e pesado como metal e com a forma humana. Um carro com duas civis freou bruscamente antes de acertar uma pedra enorme que caíra do céu deixando um buraco no asfalto e um cara em chamas destruiu o forno à lenha de uma pizzaria na esquina.
Enquanto isso Adeline descia as escadas do edifício pensando no quanto não havia nada de legal ou heróico naquilo.
Ben se levantou no meio da confusão que havia se tornado o trânsito, os carros pararam às pressas freando bruscamente enquanto do outro lado do quarteirão Victor saia de um mercado disparando fluxos de energia acertando carros para os tirar de seu caminho.
Ben pegou um carro vazio estacionado no meio fio e o lançou na direção de Victor. Ele lançou um raio de energia que partiu o veículo no meio, juntou as duas mãos e canalizou a energia para atingir Ben. A eletricidade o acertou em cheio no peito o fazendo rolar pelo asfalto.
Ao redor as pessoas gritavam e tentavam ao máximo se afastar do confronto.
Victor pegou um pedaço de barra de metal que estava entre os destroços do mercado e caminhou até Ben, mirando em seu peito ele se preparou para o golpear.
— Não vou deixar você fazer isso, Victor.
Reed Richards surgiu na avenida caminhando na direção dele, acompanhado de Sue e Adeline.
— Não existe mais Victor, agora percebo que a única coisa que importa é esse poder. A missão não foi um fiasco, Reed. Vocês que são a falha… Agora eu, eu sou o Destino. — Um jato de fogo atingiu Victor interrompendo seu discurso.
— Olha, não dá mais pra levar seu discurso narcisista à sério. — Johnny se juntou aos outros.
Claramente irritado, Victor ergueu as mãos para canalizar energia, mas Reed se lançou sobre ele, esticando o próprio corpo de borracha como um cobertor para cobri-lo. Adeline já previra o próximo passo dele e assim que Reed saiu de cima de Victor, causando a distração necessária, Addie o tocou no rosto que era onde a pele dele estava exposta e sugou o máximo de energia dele que podia nos poucos segundos que tinha.
— Johnny, precisamos de uma supernova! — Reed gritou.
Victor cambaleou para trás com a falta de força que Addie retirou.
— Eu achei que tínhamos combinado que uma supernova seria ruim!
— Precisamos agora Johnny! — Sue disse em um tom de urgência.
Adeline estendeu a mão para ele.
— Tem certeza? — Johnny perguntou.
— Sim, vamos queimar!
Ele segurou a mão dela e explodiu com a força de uma nova estrela surgindo no espaço, Adeline nunca se sentiu tão viva.
Sue criou um campo de força para conter as chamas ao redor de Victor. Adeline e John eram como o nascimento de um universo inteiro juntos, canalizando toda aquela força e magnitude até Victor Von Doom.
Depois de liberar a grandeza de um sol, Johnny soltou a mão de Adeline, e a pegou no colo quando as pernas dela fraquejaram devido ao esforço. Se afastou de Victor que mal conseguia se mover e apertou Addie contra o seu peito.
— É tudo o que pode fazer, Reed? — Victor sibilou com dificuldade. — Um pouquinho de calor?
— Sabe o que acontece quando se resfria metal quente? — Reed perguntou e olhou para Ben que chutou o hidratante na calçada e com o pé direcionou o jato de água gelada em Victor.
Ben manteve o jato de água por alguns segundos até Reed indicar que podia parar. Ele amassou o hidratante com as mãos até o fechar por completo.
A fumaça ao redor de Victor começou a se dissipar, todos observaram apreensivos pelo resultado. Como os cientistas que eram, essa era a parte mais difícil. O corpo foi resfriado causando uma contração térmica, Victor estava preso dentro do próprio corpo.
Reed suspirou de alívio e trocou um olhar afetuoso com Sue.
— Esse cara foi um pé no saco. — Ben resmungou.
Johnny tocou o rosto de Adeline que estava aninhada em seu peito, com os olhos cansados ela sorriu.
— Mudou o visual, space girl? — Ele tocou as mechas de cabelo que haviam perdido a cor. — Meio ultrapassado, mas eu gostei.
— Cala a boca, vulcão.
Ela riu enquanto Johnny a abraçava.
— Te impressionei tanto que suas pernas ficaram bambas? — Ele continuava a implicar conforme aguardavam a polícia e a segurança nacional chegar para arrumar a bagunça.
— Você é insuportável, Storm. — Addie murmurou sentindo todos os seus membros cansados.
Johnny beijou sua testa e deixou que ela descansasse em seu abraço.
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notas: como o último capítulo foi menor, resolvi já liberar pra vocês essa parte. estou tão feliz de estar escrevendo essa parte, gente, de verdade. os comentários, votos e suporte de vocês motivam tanto! espero que possamos acompanhar o fechamento dessa fic assim morrendo de amores. para quem está lendo e curtindo, pode me ajudar seguindo o meu perfil e indicando a fic para outras pessoas que possam se interessar? isso ajuda bastante ❤️❤️❤️
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