Capítulo 13
Capítulo 13
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ERA INVERNO E A NEVE PINTAVA TODA A PAISAGEM DE BRANCO, pela janela do apartamento Adeline conseguia ver a neve cobrindo a rua como um cobertor. Ela sabia que não podia ficar olhando a paisagem por muito tempo, não poderia mais esconder suas lágrimas e teria que encarar Tom. Ele estava sentado no sofá, em um silêncio absoluto desde que ela havia dito que deveriam se separar. Ele estava calmo por fora, mas ela sabia que ele era como uma panela de pressão acumulando tudo dentro de si sem dar vasão, e uma hora poderia explodir.
Ele estava usando uma camiseta e uma calça de moletom, o casaco dele estava nela como sempre faziam - ela roubava todos os casacos dele, era mais confortável. Mas naquele dia, ela sabia que ia perder o casaco, o conforto e a presença dele. Era um vazio estranho de se sentir, a aproximação inevitável do fim.
— Por quê? — Ele perguntou por fim. — Por causa da estação espacial?! Eu já admiti para a empresa e para o mundo que foi seu trabalho, Addy. Eu não tive a intenção, eu pedi perdão...
— Eu sei, Tom! — Ela disse se virando para ele e colocou a mão na boca impedindo seus lábios de tremerem ao falar quando viu os olhos cheios de lágrimas dele. — Mas o que isso representou para nós, o que isso me fez ver em nós é maior do que isso. Vivemos um para o outro, não temos nada fora do nosso relacionamento... eu não sei quem eu sou se eu não estiver sendo sua, eu não sei o que eu quero se você não quiser também.
— Não entendo, Addy... Nós temos um ao outro. Não é assim que tem que ser? — Ele perguntou sinceramente confuso, tentando entender. Uma lágrima escorreu pelo rosto de Tom e ele abaixou a cabeça.
Nesse momento, Laika a beagle que eles tinham juntos caminhou até o sofá abanando o rabo e lambendo a mão de Tom. Ele acabou a cabeça dela e então olhou para Adeline.
— Você é minha família, minha casa, minha vida. — Ele murmurou. — Como isso pode não ser o bastante?
— Tom, crescemos acreditando que só o amor vai nos preencher. Mas eu não tenho sido o bastante pra mim a minha vida inteira, sempre esperei que outra pessoa fosse me amar... — Ela se aproximou e sentou no sofá ao lado dele. — Mas isso é errado, não devemos colocar o sentido de nossa existência em outra pessoa sem estarmos completos primeiro.
Ela segurou a mão dele, ele deixou por um instante e então a soltou.
— Está bem, Adeline. — A voz rouca soou dolorida com o peso da mágoa. — Eu vou embora.
Ele se levantou para fazer as malas e Laika se aproximou de Adeline colocando o focinho no colo dela como se perguntasse o que fariam agora.
***
Com a mente de volta ao presente e focada no momento, Adeline saiu do quarto e desceu até o andar onde ficava o amplo salão do apartamento de Reed. Se aproximou da mesa onde todos estavam sentados aguardando por ela. Ela viu Ben, Reed e Susan sentados próximos de Victor que claramente havia escolhido o assento da extremidade da mesa onde poderia observar bem todos. Curiosamente não havia mais ninguém representando a Von Doom no recinto, somente eles e Victor.
E a primeira coisa que ela reparou foi que havia algo de errado na postura de Victor, não era a aura impaciente e investidora de antes. Parecia algo mais agressivo, uma expressão faminta e dolorida. Era possível ver que a cicatriz dele havia aumentado de tamanho, cobria todo o lado esquerdo do rosto e não parecia estar cicatrizando como deveria.
A mão direita de Victor estava coberta por uma luva escura da mesma cor de seu terno, mas a mão esquerda não estava coberta, ele a deixou sobre a mesa com os dedos curvados como se segurassem alguma emoção dentro de si. Uma parte de Adeline percebeu que nem mesmo Tom estava ali, o que significava que Victor tentaria a todo custo manter somente os seus interesses.
— Onde estão os outros? — Adeline perguntou jogando uma pasta sobre a mesa e se dirigindo a Victor.
Ele ergue as mãos em sinal de impotência que era pouco característico dele e disse calmamente:
— Somos só nós. Ninguém se importa com os danos colaterais, só com o valor perdido. — Victor suspirou olhando para cada um como se os desafiasse a contrariá-lo. — Nós somos prejuízo, o conselho não pode mais lucrar conosco então nos deixaram à própria sorte.
— Nós? — Pontuou Ben em um tom que indicava que dificilmente acreditaria que Victor estava tão ferrado quanto eles.
— Estou prestes a perder o cargo da presidência, minha carreira está por um fio. — Ele murmurou claramente a contragosto. — Tom está nesse momento estudando as possibilidades da Von Doom continuar nos eixos e nos auxiliar na recuperação. Mas devemos ter em mente que não haverá nenhum grande auxílio...
— Mas e quanto a responsabilidade da empresa? — Ben disse ameaçando bater na mesa fazendo com que Sue tocasse em seu braço e o impedisse de reagir daquela forma.
Johnny estava estranhamente quieto e de braços cruzados e Adeline nunca tinha esperado que ele tivesse a capacidade de ficar tão sério.
— Responsabilidade? Nós assinamos um termo de responsabilidade, sabemos dos riscos de uma missão espacial e nada do que aconteceu lá foi culpa da empresa. — Victor levantou a voz e o abajur ao lado de Adeline piscou.
Ela se virou para encarar a luz falha da lâmpada, mas logo voltou sua atenção novamente para o grupo ao redor da mesa. Reed massageou a têmpora enquanto dizia:
— Isso vai complicar o desenvolvimento do nosso trabalho, até descobrirmos uma forma de reversão...
Victor se levantou e ajeitou o paletó balançando a cabeça.
— Mas a mídia adora vocês, devem conseguir tirar algum proveito disso... — Ele disse em um tom que imediatamente fez Adeline perceber que havia ressentimento naquilo.
Nesse instante Johnny pareceu a ponto de dizer algo, mas seus olhos encontraram Addy e ele desviou o olhar em silêncio.
— Vamos precisar de tempo e de muita energia para reconstruir a cápsula e retomar a nuvem cósmica. — Reed olhou para os dados nos arquivos da pasta à sua frente.
— Eu confio em você, Reed. — Victor disse se aproximando do cientista e em uma frase que poderia ser algo sobre a relação de longa data soou mais como um peso e uma obscura ameaça.
Então ele se virou para Adeline para falar sobre algo que só eles compreenderiam bem:
— Tom está tentando, por você principalmente. Estou fora das reuniões até o Conselho escolher um novo presidente, não tenho mais acesso a alguns recursos. Ligue para ele, Rudolph, ele pode ser mais útil nesse quesito agora.
E então ele olhou para Susan, um chamado silencioso para ela o acompanhar. Victor Von Doom caminhou para a saída e Susan o acompanhou saindo do apartamento.
Um silêncio pesaroso recaiu sobre todos ali.
— Só eu estou sentindo o cheiro do cadáver que é a carreira do Victor agora?! — Johnny finalmente falou e por mais inconveniente que fosse o comentário, uma leveza tomou conta do ambiente e Adeline até se sentiu grata por ele ter voltado ao seu modo normal.
Mas aquilo não pareceu aliviar as coisas para Ben que saiu do cômodo com uma expressão ainda mais fechada e aquilo fazia o coração de todos doer, para Ben era infinitamente mais difícil viver naquela condição. Reed se levantou juntando todas as pasta em uma pilha, o cabelo já estava mais bagunçado do que no minuto anterior e ele correu em direção a mesa do laboratório murmurando outras possibilidades, indicando que seria mais uma noite sem dormir e muito trabalho.
— Eu ajudo o professor chato hoje. — Johnny disse se levantando e por um instante Adeline achou que era alguma piada ou flerte que ela não tinha entendido. — Você deveria descansar.
Era a segunda vez no dia que ele parecia sério sobre alguma coisa, ela se perguntou se deveria se preocupar. Mas ele foi até a mesa de Reed para ver o que podia ser feito. Aquilo fez com que Addy sentisse uma espécie de gratidão silenciosa, ela se levantou e foi até o quarto. Mais tarde não se lembrou muito bem de ter feito o caminho até a cama, mas deitou e dormiu quase que imediatamente.
***
Quando ela abriu os olhos já era de noite e o quarto estava escuro, a única luz que tinha era da janela aberta. A lua cheia brilhava no céu lá fora e Addy se levantou e esticou os braços despertando, ela caminhou até a janela e deu uma boa olhada no céu reconhecendo algumas constelações naquela noite. Pensou no espaço e em sua imensidão, na adrenalina correndo pelo seu corpo toda vez que olhava para a terra pelo outro lado. E então sua mente se lembrou da correspondência da NASA sobre a sua escrivaninha.
Ela não queria abri-lo agora, não queria saber o que estava nele e o que a impediria de ter a chance de ir para o espaço novamente. A carreira de Victor não era a única ameaçada e aquilo doía nela, a ideia de não ser mais uma astronauta era a ideia de viver uma vida sem propósito.
Adeline só queria sair logo dali, do quarto, de perto da carta, e fazer qualquer coisa que tirasse sua mente daquilo. Talvez Reed tivesse alguns cálculos para lhe passar e com essa ideia em mente, Addy saiu do quarto e ao passar pelo quarto de Johnny encontrou a porta aberta e ele sentado na beirada da cama com seu violão no colo. Ela parou ao perceber que ele estava cantando baixo, dedilhando as cordas de uma forma delicada fazendo com que a melodia parecesse estar ecoando dentro dela e não fora.
There's no one in town I know
You gave us some place to go
Addy sempre pensou em Johnny como as baladas de rocks que sacudiam estádios, falavam sobre um amor rebelde e um solo de guitarra emocionado. Ver uma melodia serena como aquela, bem calculada e profunda fez ela esquecer do que estava fazendo e simplesmente ficar ali o ouvindo.
I never said thank you for that
I thought I might get one more chance
Ele ergueu a cabeça e a viu ali na porta, ele não pareceu envergonhado e nem mesmo parou de tocar. Continuou a melodia como um convite suave para ela compartilhar aquele momento com ele. Adeline entrou no quarto se aproximando devagar sem deixar de notar os detalhes no rosto de Johnny enquanto ele cantava o verso. Ela se sentou na cama na outra ponta com o olhar dividido entre os olhos azuis dele e as mãos conduzindo o violão.
May angels lead you in
Hear you me, my friends
On sleepless roads, the sleepless go
May angels lead you in
A voz de Johnny era aveludada, era como deitar na cama depois de um longo dia de trabalho, ou sentar em frente à lareira depois de passar frio, era simples e sentimento de uma forma pura. E então ele terminou o verso estendendo as notas no violão, diminuindo o tempo até o último acorde ecoar e finalizar. Ele então ergueu os olhos para ela com um meio sorriso como se temesse que ela não tivesse gostado da performance.
— Já passou da meia-noite, então hoje é o aniversário de morte da minha mãe... — Ele murmurou, sem sorrisos brincalhões, sem piscadinha, era apenas ele sendo sincero. — Eu sempre tiro uma música para lembrar dela. Sei que ela não pode me ouvir, mas eu não disse para ela tudo o que eu queria dizer quando ela estava aqui, então vou fazer isso pra sempre desejando que ela possa ouvir.
— Eu sinto muito, Johnny... — Addy esticou a mão para tocar a dele e então se lembrou de que não podia e recolheu o braço, aquele pequeno detalhe doeu nela e doeu em Johnny também.
— Tudo bem se quiser me tocar... — Ele disse deixando a mão deslizar do violão em direção a ela, devagar, dando-a a chance de se afastar quando ela quisesse. — Eu vou correr o risco.
— Como o incêndio astronômico que causamos da última vez?! — Ela o lembrou recolhendo o braço com esforço.
— Foi maneiro, tem que admitir! — Ele sorriu voltando a focar no violão como se estivesse pensando na próxima música. — Você conseguiu descansar?
— Sim, obrigada por ter ajudado na minha parte hoje. — Ela disse sorrindo para ele e colocou as pernas sobre a cama procurando uma posição mais confortável. — Mas não quero voltar a dormir agora.... Eu recebi uma carta de Houston e isso pode acabar com minha perspectiva de vida, não quero abrir aquilo agora.
Johnny balançou a cabeça pensativo e a observou o rosto dela, era quase como um carinho preocupado e cuidadoso. Ela nunca imaginara uma expressão daquela nele antes.
— Não abrir a carta quer dizer que não foi recusada ainda. Entendi, é como o paradoxo do Gato de Schrödinger, se não observar o fenômeno as duas realidades aconteceriam simultaneamente, assim nesse momento você continua sendo astronauta e não sendo. Você abrir a carta agora acabaria com essa dualidade.
— Johnny Storm, usando um exemplo de mecânica quântica?! — Adeline disse surpresa e rindo. — É exatamente isso.
Ele revirou os olhos a fazendo rir mais ainda.
— Se contar pra alguém que eu disse uma coisa nerd como essa, vou negar pra sempre.
Ela deixou uma gargalhada escapar e ele começou a tocar uma nova música no violão.
— Fica aqui comigo hoje e prometo que não vamos colocar fogo no violão. — Ele pediu suavemente, ela balançou a cabeça e Johnny voltou a cantar.
Eles passaram a noite falando sobre música, prometendo trocar discos e rindo do gosto musical bizarro de Reed. Descobriram bandas em comum e imaginaram como iriam nos próximos shows. Eventualmente, Johnny deixou o violão de lado e se deitou na cama ao lado de Adeline, estavam um de frente para o outro, perto o bastante para sussurrarem enquanto conversavam e sentir a respiração um do outro no rosto. perto o bastante para as mãos se alcançarem, as pernas se entrelaçarem e ambos os corpos se encontrar em um abraço. Mas não fizeram isso e de alguma forma ainda assim se sentiam abraçados.
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notas: mais um capítulo, isso é uma vitória pra mim! O que estão achando da história do Tom e da Adeline? Imaginei sempre como sendo uma relacionamento bom, mas que acabou mal. Aqui a conexão de Johnny e da Addy ganha um pouco mais de profundidade. eu vi um vídeo do Chris Evans cantando e tocando piano e eu quis trazer isso para o personagem, porque o Johnny me parece muito oc ara que tocava guitarra no ensino médio e que ama rock. Enfim, me digam o que estão achando e vou tentar manter o ritmo de atualizações. Vocês são leitorxs muito diferentes das outras que acompanham minhas outras fics, é como um apoio incondicional sabe? Sem cobranças e críticas pesadas, é tudo muito leve e eu sou muito grata por compartilhar essa fic com vocês.
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