Capítulo 1
"Se você acertasse depois de mil vezes errando e soubesse que iria conseguir, desistiria por conta de todas as vezes que errou?"
A sala de reuniões era grande, mas o clima nela parecia um tanto sufocante. Victor estava sentado na ponta da mesa, sua cadeira a maior de todas. Ele estava com as mãos cruzadas e um sorriso convencido que deixava claro que ele só havia concordado com a pesquisa de Reed, porque se sentia com o ego satisfeito ao ver o antigo colega se rebaixar e pedir ajuda para ele.
Ben estava ao lado de Reed o que de certa era reconfortante, estar ao lado do melhor amigo que acreditava em suas ideias o deixava mais confiante para liderar a proposta. Depois de tanto ser rejeitado pela comunidade científica, aquele momento era importante para ele. Ainda mais na frente de Sue, sua ex-namorada.
Ela estava linda e o tratava com uma postura educada e distante, a tensão entre eles era palpável. Não esperava vê-la como Diretora de Pesquisa em Genética e muito menos como a namorada de Victor. Mas Von Doom tinha que ter tudo. Para Reed era ótimo ver Sue feliz e realizada, mesmo que não fosse com ele.
Victor olhou no relógio como se estivesse entediado, mas Reed sabia que ainda faltava cinco minutos para o horário marcado. Sue parecia estar contendo uma certa apreensão que ele não sabia identificar o que era.
A porta da sala se abriu e a Dra. Rudolph entrou. Ela estava com o cabelo preso, calça e camisa social. Usava um casaco longo e os óculos escuros apoiados na cabeça. No braço ela trazia vários papéis, provavelmente ela já havia começado o trabalho na noite anterior. Pelo menos alguém ali estava tão empolgado quanto Reed.
Ela se virou para Sue e estendeu a mão livre:
-Sue Storm, é um prazer! -Ela disse e Sue apertou sua mão. -Eu sou a Dra. Adeline Rudolph.
A expressão de Sue foi de surpresa para contentamento.
-É um prazer conhecê-la.... -Sue olhou para Victor como se esperasse pela reação dele. Mas o momento foi interrompido quando a porta da sala foi aberta novamente.
Um jovem rapaz entrou, seu cabelo era loiro e curto. Ele usava uma jaqueta, jeans folgados e coturnos. A camiseta era de alguma banda que Reed não conhecia. Seus óculos escuros pareciam caros e quando ele os tirou para olhar bem todos na sala, Reed percebeu com pavor que conhecia ele.
-Ah, creio que já conhecem o meu irmão Johnny. - Sue disse enquanto Johnny se aproximava na direção de Rudolph. A apreensão em Sue suavizou, então ela estava com receio de que o irmão chegasse atrasado.
-Eu não a conheço. -Johnny disse estendendo a mão para Adeline. -Eu teria me lembrado.
-Prazer, Senhor Storm. -Adeline disse com uma frieza calculada depois de observar a expressão de Johnny e se afastou dele sem apertar a sua mão.
Johnny pareceu surpreso e depois riu consigo mesmo, pelo visto não estava acostumado a ser rejeitado daquela maneira.
Ben não escondeu sua risada de contentamento. Ela se virou para ele e eles trocaram um aperto de mãos.
-Ben! É um prazer revê-lo! -Ela disse enquanto Ben afagava-lhe o ombro carinhosamente. Reed olhou ao redor e percebeu que Victor tinha uma expressão sombria, enquanto Johnny parecia ter encontrado algo muito interessante em Rudolph.
Ela então viu Reed e ele abriu os braços para ela que caminhou energicamente em sua direção e o abraçou.
-Adeline! Quanto tempo, até me esqueci que você continua jovem. -Ele disse brincando. Ela era a garota prodigio de sua sala de alunos, na época havia acabado de atingir a maioridade e já era uma das mentes mais ativas nas pesquisas da NASA.
Sue observou por um longo segundo, afinal aquele havia sido o momento mais caloroso da reunião.
Reed e Adeline se olharam e ele percebeu que de certa forma ela havia crescido, amadurecido. Não era mais uma adolescente e se sentiu orgulhoso da antiga pupila.
Então Adeline olhou para Victor, só olhou sem mover um músculo em sua direção.
-Victor. -Ela cumprimentou, mas soou mais como nojo e se sentou.
-Podemos começar, Reed? -Victor disse olhando o relógio novamente. Ele sempre parecia muito mais impaciente em seu terno caro.
Ben e Sue escolheram seu lugar, Johnny sentou na cadeira em frente a Adeline com a intensão de lhe direcionar alguns olhares furtivos. Ela não olhou na direção dele, nem por um instante.
As luzes da sala diminuíram e um holograma foi exibido sobre a mesa. A imagem tridimensional mostrava o planeta e a rota da nave que utilizariam. A imagem se movia devagar conforme Reed explicava seus elementos.
-De acordo com os meus cálculos , uma tempestade próxima das coordenadas irá gerar ondas de radiação cósmicas. O objetivo é estudar os efeitos da radiação sem entrar em contato direto com a tempestade. -Reed caminhou ao redor da mesa e o holograma o acompanhou mostrando imagens ilustrativas da radiação. -Colocaremos nossas amostras em campo antes da tempestade e colheremos os dados depois para estudos dos resultados. Durante a tempestade, ficaremos na nave que possui escudos de proteção.
-Então você está interessado nos meus brinquedos caros? -Victor parecia não conseguir evitar um sorriso de contentamento.
O holograma apagou e as luzes voltaram a ficar acesas. Victor se levantou e caminhou até Reed dizendo:
-Eu fico com 75% dos lucros, quero a patente dos resultados. -Ele disse com segurança, sabia que o trabalho de Reed tinha um grande potencial, mas ninguém se arriscaria tanto por aquela pesquisa.
Reed ia ceder, afinal não tinham escolha. Então Adeline se levantou e caminhou na direção dos dois.
-Você tem a grana, Victor. Mas não o cérebro. Os cientistas à frente da pesquisa que levam a patente, mas não se preocupe, os livros de história vão citar o nome da sua empresa para explicar que fundo de garantia utilizamos. -Ela disse encarando Victor nos olhos. A expressão dele se alterou com impaciência.
-Fundo de garantia? Estou disponibilizando 1 bilhão para vocês!
-Para uma pesquisa desse porte deveria ser bem mais. Mas tudo bem, você não deve ter peito para encarar o conselho e investidores da companhia para desembolsar mais. -Ela murmurou enquanto Victor parecia prestes a explodir. -Então faça o seu trabalho que é liberar o dinheiro e lidar com a mídia enquanto a gente cuida do resto.
-O que ela quis dizer, Victor.... -Reed falou chamando a atenção dos dois. -É que esperamos trabalhar de igual para igual.
-Reed, uma pequena porcentagem de um bilhão já dá para pagar a hipoteca do Edifício Baxter. -Victor jogou sua última carta, a expressão de Reed era de vergonha. Ben e Adeline compartilhavam uma raiva cobtida enquanto Johnny assistia a tudo como se visse sua novela mexicana favorita.
-Quanto à você, Senhorita Rudolph... -Começou Victor, os olhos eram como os de uma cobra pronta para dar o bote. -Espero que nossas desavenças do passado não interferam no nosso trabalho.
Aquilo era uma provocação mal educada muito bem disfarçada. Até Sue se virou para ele pedindo para que encerrassem ali.
-Felizmente eu sou uma pessoa profissional, tanto que eu nem ia citar nosso triste desentendimento. -Ela deu ênfase no tom carregado de eufemismo. -Conversei com o meu advogado, terei cláusulas especificas nesse contrato para que nenhum injustiça se repita. Mas isso vai ser bom pra aliviar sua imagem.
-Eu não esperaria menos de você, Rudolph. -Ele sorriu educadamente. -Talvez isso ajuda a imagem de Tom também.
-Eu nunca ajudaria, Tom. -Adeline disse em voz baixa, ela e Victor trocaram um longo olhar até ele ceder e caminhar para fora da sala.
-Acertem os detalhes com Susan. -Ele disse ao sair.
-Eu os acompanho até a saída. -Ela disse se virando e os outros a seguiram até o elevador.
Susan apertou o botão do térreo e entregou um cartão para Adeline, Ben e Reed.
-Este é o meu telefone, entrem em contato quando precisar.
-Eu tenho o número. -Disse Reed.
-Eu mudei de número. -Susan disse entregando o cartão.
Johnny tentou não rir da situação de constrangimento entre os dois.
-Podemos começar o treinamento na semana que vem. -Disse Susan conforme o elevador ia descendo os andares.
Ben olhou para Reed o lembrando de um detalhe.
-Ah, estava contando que Ben fosse o nosso piloto. -Reed disse a Susan.
-Na verdade, Johnny vai ser o nosso piloto. Mas você é bem-vindo para o cargo de co-piloto, Ben. -Susan sorriu como se desculpasse em minar as expectativas dele.
Todos olharam para Johnny que exibiu um meio sorriso convencido.
-Espero que a gente não exploda no espaço. -Rudolph disse quando o elevador chegou no térreo. -Até mais. -Ela disse a caminho da saída sem esperar pelos outros.
-Foi um prazer te conhecer também, Adeline. -Johnny gritou acenando.
Ela gritou de volta, mas sem se virar para olhar:
-Pra você é Dra. Rudolph.
Ben sorriu percebendo que pelo menos alguém iria colocar Johnny em seu devido lugar.
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