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Capítulo 2

Cheguei em casa e estranhei por a encontrar silenciosa, normalmente o corredor era preenchido por algum ruído de alguma música tocando em um volume consideravelmente alto, que fazia com que os vizinhos fizessem queixas para o síndico. Emanuel, Mariana e eu éramos pessoas que gostávamos de fazer tudo com som. Ler, cozinhar, limpar a casa e até mesmo algo relacionado a trabalho que era o caso de Mariana.

Minha amiga estava sentada no sofá com seu grande bloco de desenhos, na certa fazendo algo novo para seu trabalho. Por vezes eu a ajudava, mas ultimamente me faltava ânimo para continuar utilizando o meu talento para desenhar. 
Mari era tatuadora desde que a conheci um ano antes em um trabalho social que a igreja do meu pai fazia, ao qual eu era obrigada a ir querendo ou não.

Uma vez ao mês toda a igreja tinha que ajudar em algum centro de caridade ou até mesmo fazendo sopas para moradores de rua. Em um desses trabalhos conheci minha amiga. Na primeira vista eu estranhei uma garota alguns anos mais velha que eu com diversas tatuagens por seu corpo estando ali pra ajudar alguém, recebendo olhares enviesados de muitos membros e um julgamento silencioso por parte do meu pai.
Ele sempre queria parecer melhor do que era. Tentou falar com Mariana a respeito dos cultos e disse que a igreja estava aberta para quando ela precisasse, seu olhar maldoso passando por todo o corpo da jovem, mas quando chegou em casa ele revelou quem era, como sempre. Fizera comentários desrespeitosos em relação a tudo em Mariana, o que contradizia com tudo o que ele pregava e me colocava em dúvida a respeito do que eu lia na bíblia.

Deus era amor, não julgamento. Deus acolhia a todos independente de tudo. Jesus era o retrato da bondade, fazia o bem sem olhar a quem. Então por que as pessoas tinham a péssima mania de julgar a todos por sua orientação sexual, por sua maneira de vestir, seu estilo de vida? Foi a partir dali que comecei a sentir que aquele não era meu lugar, acreditava em Deus, mas as pessoas que frequentavam a igreja do meu pai tornavam tudo muito desagradável. 

Na segunda vez que vi Mariana procurei me manter afastada dos demais membros e fiquei no cantinho a observando. Apesar da pose sisuda seu semblante era amoroso ao ensinar uma criança a comer de garfo e faca e vi que ali, naquela garota coberta de tatuagens, existia muita bondade, muito mais do que em muitas pessoas que se achavam melhores do que outras. Mariana olhara para mim de soslaio, sua expressão curiosa do porquê eu estar a encarando como uma louca. Até que por fim, ela veio falar comigo, conversamos e foi a partir dali nos tornamos melhores amigas. Pegamos números de telefone e conversávamos por mensagens, escondidas, como se fossemos crianças. Ela foi minha primeira e única amiga de verdade.

Foi com a amizade dela que conheci Emanuel. Ela o definiu como o cara que fazia coisas ilegais, mas que tinha um grande coração. Na primeira vez que o vi o achei lindo com seus cabelos cacheados caindo por seus olhos, barba por fazer e sorriso cativante. Após um tempo de convivência pensei estar gostando dele, mas com o tempo percebi que era só carinho mesmo, não era amor. Aquilo eu era incapaz de sentir, tinha aversão na verdade. Mas com eles eu nutria um amor fraternal, único e que me fez achar meu lugar no mundo. Foi Emanuel que fez a proposta de fugir para outro estado, fugir do meu pai. No início eu relutei, mas depois vi que a ideia não era de toda ruim. Até o momento não me arrependi nenhum pouco da decisão. 

— Ei minha baixinha, chegou cedo hein. — Seu olhar me analisou criticamente, sua mão parando de desenhar, o papel quase todo preenchido por traços delicados, um sombreado profissional. — Foi trabalhar assim? Você está uma merda. — Fiz uma careta e fui até a cozinha, peguei uma xícara e coloquei um pouco de café fumegante nela.

— Obrigada pela parte que me toca.

— Pelo visto não está 100% por conta da noite de ontem, não colocou açúcar no café. — Ela apontou com o queixo para a xícara com dizeres fofos que ganhei de Emanuel no meu aniversário.

— Impressão sua. — Sorvi um gole e cuspi o conteúdo de volta na xícara. Estava horrível. — Eca, parece água suja. Você que fez não é?! — Apontei um dedo acusatório e ela bufou irritada.

— Não reclame, meu café é maravilhoso. Está com um mal gosto porque você não colocou a quantidade de açúcar devida. — Coloquei a xícara na mesinha de centro, ignorando o descanso para copos que Emanuel insistia que usássemos.

— Quer dizer aquela quantidade em que corro o risco de perder os dentes ou pior me tornar diabética? — Ela me mostrou a língua.

— Por que tomou então? Ninguém te obrigou. — Ela ajeitou seus óculos e voltou para o desenho, me ignorando por completo.

— Pensei que foi o Emanuel que tivesse feito, esse aqui tem gosto de água suja.

Tentei manter minhas palavras presas na boca, mas era difícil. Meu filtro cérebro-boca não funcionava com regularidade e não costumava pegar leve com o que dizia, um péssimo defeito. Mariana era minha amiga, mas eu tinha que ser sincera, ela era horrível cozinhando e fingia que era ótima.

— Como foi seu dia no trabalho? — Ela fez a pergunta, na certa para mudar de assunto.

— Péssimo. Dormi demais na casa Jason e perdi a hora. — Ela franziu o cenho.

— O nome do cara não é Jason. Você tem que parar de chamar todos os homens que dorme por essa alcunha. — Me sentei mais confortável no sofá e pus os pés na mesinha, não fazendo nem questão de descalçar minhas sapatilhas. Por sorte, eu sempre mantinha um par de sapatos confortáveis para emergências onde eu trabalhava, seria no mínimo desconfortável chegar em casa com aqueles saltos apertando meus pés.

— Já faz tempo que homem nenhum me dá um orgasmo então me referir a eles como um personagem do filme de terror é o mínimo. — Mariana gargalhou e balançou a cabeça incrédula. 

— Fora isso, correu tudo bem? — Fiquei séria de repente e ela se pôs em alerta. Era raro que eu não tratasse tudo com um sorriso. — Aconteceu algo? 

— Daniel voltou. 

— O cara que gagueja pra falar comigo? — Assenti. — O mesmo cara que ao me ver de sutiã quase morreu engasgado aqui nessa sala? — Mais um cenho de cabeça. — O mesmo cara que...

— Para Mariana, podemos ficar aqui o dia todo listando os micos que Daniel pagou na sua frente ou você vai me deixar contar o que aconteceu. — Ela ficou em silêncio e vi aquilo como um aval para eu começar.

Contei tudo para Mariana e ela me ouvia com uma expressão analítica, seus dentes perfeitos e brancos mordiam a ponta do lápis e seus olhos focados no nada como se estivesse me escutando e deixando as palavras penetrarem em seu cérebro. Após contar tudo fiquei cansada e com uma vontade absurda de me deitar na cama e nunca mais sair dela.

— Diga alguma coisa. — Pedi quando vi que ela continuava no mais absoluto silêncio. 

— Acho que ele está certo. — Arregalei os olhos como se ela tivesse me contado algo obsceno.

— Tá brincando né?

— Querer algo de bom para você pode ser interpretado como isso? Ah pode crer que estou sim. — Ela largou o bloco de desenhos em cima do sofá e foi para a cozinha retirando ingredientes para o que pareceu ser uma macarronada ou uma tentativa de uma no caso de Mariana. 

— Sabe muito bem que não posso Mari. — Ela começou a cortar a cebola com mais força do que o necessário.

— Não pode ou não quer? 

— Preciso responder? — Ela se virou com uma faca enorme em mãos e dei um passo para trás com medo dela usar aquilo como uma arma. 

— Você só terminou o ensino médio Ana, é inteligente e não procura nada para fazer. Está enfiada em um trabalho que não lhe da segurança nenhuma, com um chefe idiota que te explora. — Aquilo foi como um tapa bem dado em meu rosto, pois por mais que fosse doído era a verdade.

— Fala como se eu tivesse escolha. — Resmunguei como uma adolescente mau humorada, o que de fato não deixava de ser verdade.

— E tem. Se não pode fazer como Natasha faça como Ana mesmo, apenas faça. 

— Não tenho dinheiro para pagar. — Aleguei usando mais uma desculpa. Ela revirou os olhos e não me deu atenção, se virou e continuou a maltratar a cebola.

— Eu não queria que você continuasse em um lugar como aquele Ana. — A abracei por trás e dei um beijo na bochecha dela. 

Por mais que ela quisesse meu bem, eu sabia que tentar algo melhor me colocaria em risco. Eu ainda era menor de idade, se meu pai me achasse eu teria mais um mês suportando tudo o que ele me fazia passar, vendo minha mãe passando por provações horríveis e sendo submissa a um homem ruim que usava o nome de Deus em seus castigos. Por muito tempo, mais precisamente durante as punições a que ele me submetia por conta de bobeira, montei uma teoria de que eu merecia passar por aquilo por conta da minha desobediência, mas com o tempo vi que aquilo não tinha fundamento, que a culpa não era minha.

Pensei que todas as pessoas que pregavam o nome de Deus eram como meu pai, mas uma visita por uma outra igreja me fez enxergar que não podia generalizar todo mundo, era meu pai que era uma pessoa horrível mesmo. Alguns membros eram muito devotos dele e compravam todo o seu discurso fervoroso para justificar todas as suas loucuras, mas alguns não aguentavam aquilo por muito tempo e procuravam um ambiente menos poluído, ou simplesmente saíam na primeira oportunidade, como eu fiz.

Não, eu não poderia voltar. Nunca mais queria ver meu pai. Sentia falta da minha mãe com sua voz doce e uma boa mão para cozinhar, mas a ver implicava em me pôr em risco. Aquela era a minha desculpa para não procurar algo melhor para mim, mas dali há pouco tempo eu teria dezoito anos, tudo estaria terminado. O poder que meu pai tinha sobre mim iria terminar e eu seria completamente dona de mim. Então, qual seria a minha desculpa? 

Na verdade eu estava muito confortável com minha vida. Bebidas e baladas me atraíam desde o momento em que pisei pela primeira vez em um local como aquele cheio de luzes coloridas, som alto e um ar de alegria emanando de cada um ali presente. 
Eu nunca tinha experimentado nada parecido e fiquei meio intimidada no início, mas com a ajuda dos meus amigos eu consegui me adaptar facilmente, como um camaleão usando suas cores para se camuflar. Aquela era a vida que eu queria para mim.

Não demorou muito para que aquilo tudo, regado a nenhuma responsabilidade, conseguisse me envolver de todas as formas. Perdi minha virgindade com um cara que nem lembro o nome, mas que conseguia recordar perfeitamente dele se movendo sobre mim com maestria, de sua pele negra com uma fina camada de suor e olhos brilhantes. Ele tentou algo mais comigo após o ato, mas eu não conseguia, como sempre minha mente me travava.

Depois dele teve muitos outros, uma lista interminável, naqueles poucos meses de liberdade. Aprendi a fumar com um deles e não só cigarro como também maconha. Emanuel me ensinou como roubar carros e participar de rachas que me proporcionavam doses de adrenalina. Em um curto espaço de tempo preenchi meu corpo de desenhos, usava a dor física para mesclar a dor emocional. Construí uma vida e matei a outra, não precisava voltar e não queria. Estava bem vivendo daquela maneira, mas como Mari era mais velha pensava diferente. Ela conheceu a Ana Paula certinha, cheia de sonhos e ilusões e ficava triste ao ver que aquela garota não existia mais. Eu era Natasha e ela vivia me dizendo que um dia eu poderia entrar em uma crise de identidade, pois não se podia aniquilar uma vida inteira e viver outra. Uma besteira, por sinal.

— Não briga comigo Mari-Mari. — A chamei com uma vozinha doce e comecei a cortar os tomates para a ajudar. Vi a sombra de um sorriso em seus lábios sabendo que ela não estava mais chateada.

— Cadê minhas meninas? — Emanuel gritou da porta e a fechou com força.

— Cozinhando. — Anunciei.

— Me diz que é você cozinhando Nat? — Ele perguntou com receio na voz e quando viu a cara emburrada de Mari ele permaneceu na soleira. Estava certo de ter amor a vida, pois a morena tinha uma faca enorme em mãos.

— Sou eu seu pedaço de merda, fique contente de estar fazendo. — Ela colocou a mão na cintura enquanto colocava o sal na panela com água.

— Poderia estar descalça na cozinha para completar o ditado.

— Ditado machista né. — Acrescentei. Ele me olhou de soslaio e ajeitou o corpo para me observar melhor.

— O que houve contigo? Parece que um caminhão passou em cima de você. — Revirei os olhos pela sua sutileza. Eu sabia que minha aparência estava uma merda, mas não precisava de todos ressaltando aquilo.

— Foi o que eu disse. Já falei que não deveria sair em pleno domingo. — Mari disse em um tom que lembrava a minha mãe.

— Deveria sim, o que eu não deveria era dormir fora com caras que não me oferecem orgasmos. 

— Informação demais. — Emanuel tapou os ouvidos e saiu da cozinha.

— Por que não vai tomar banho Nat? Logo, logo vai estar pronto.

— Deve me preparar psicologicamente para a bomba em forma de macarrão? — Perguntei divertida e corri quando Mari ameaçou jogar um garfo em mim.

No meio do corredor, Emanuel me parou antes que eu pudesse entrar no banheiro. Me entregou um panfleto e nele tinha informações sobre uma corrida que aconteceria no próximo fim de semana, exatamente dali há poucos dias. 

— Pretende correr? Vale dinheiro. — Um sorriso ladino se formou em meu rosto e assenti. 

— Preciso mesmo de botas novas. 

— Essa é minha garota. Só não beba demais, do contrário não deixarei nem entrar no carro. — Ele bateu sua mão na minha e entrou no seu quarto.

Emanuel era diferente de Mari enquanto ela era toda protetora, ele gostava que eu sempre deixasse livre meu espírito aventureiro. Ele tinha algo em comum comigo, vinha de uma família de controladores e apreciava a liberdade tanto quanto eu e por aquele motivo tinha minha admiração por tudo que fazia, por sua coragem ao qual eu tentava imitar sempre que podia.

Eu tinha dentro daquele apartamento jovens adultos que eram como um porto seguro, muito mais do que poderia dizer da minha casa. Eu os amava muito, eram as únicas pessoas que conseguia deixar de maneira permanente em minha vida. Nunca tive a questão de me arrepender por fazer o que eu fiz, pois estava com as melhores pessoas que se poderia encontrar. Que me deram a mão quando eu mais precisei e era grata, eles me salvaram.

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