Capítulo 11
Eu não estava acreditando que eu me encontrava no campus de uma faculdade. Tá certo que eu sabia que seria real. Fui com minha mãe para fazer uma prova, pois o curso que eu queria fazer pedia por aquilo, mas estar ali tornava tudo crível para mim. Se Emanuel me visse naquele momento, estaria rindo de mim.
— Dá pra apagar esse bendito cigarro Ana? Está todo mundo olhando pra gente. — Lisa sussurrou em meu ouvido e fiz um aceno como quem espanta um inseto.
— Acha mesmo que vou fazer isso só por causa desses engomadinhos? Me poupe Lisa.
— Poderia fazer isso fora daqui?
— Como se nenhum deles fizesse isso. — Torci os lábios e dei mais um trago, para logo em seguida expelir a fumaça, fazendo uma garota de cabelos pretos demais torcer o nariz e espantar a fumaça para longe do seu rosto.
— É proibido fumar aqui dentro, você mal chegou e já está querendo quebrar regras? — Revirei os olhos. Dei um último trago e joguei o cigarro no chão usando meus tênis de cano longo para o apagar.
— Ah que ótimo, está sujando o chão.
— Não pira Lisandra ou vou embora.
— Não vai não, sua mãe pediu para que você começasse a estudar e não vai recusar um pedido dela.
— Eu te odeio.
— Odeia nada. Agora vamos para a secretaria, eles estão te esperando.
Lisandra só faltou arrancar meu braço quando me puxou pelo extenso corredor em direção à uma sala com parede de vidro onde era possível ver pessoas lá dentro mexendo em computadores, absorta em suas tarefas.
Ela entrou sem bater e fez sinal para que eu me sentasse em uma das muitas poltronas confortáveis, o fiz, mas minha vontade mesmo era dar meia volta e sair dali.
Ela conversava animadamente sobre alguma coisa com a recepcionista com cara azeda. A mulher falou alguma coisa para ela que a fez tirar dois papéis de sua enorme bolsa. Com certeza aquilo tinha alguma coisa a ver com a nossa matrícula.
A faculdade era enorme e facilmente eu me perderia em meio aquele caos de alunos. Seria engolida ou me destacaria, como eu não era mais como a antiga Ana Paula deveria me preparar, pois eu não costumava passar despercebida. Quando pensei que finalmente pudéssemos ir embora, já que Lisa veio para onde eu estava, me enganei, tínhamos que esperar a papelada do contrato ficar pronta para assinar.
— Quando penso que o inferno acabou aí me dou conta de que é só o início. — Resmunguei mau humorada.
— Deixa de ser ranzinza Ana.
— Poderia me chamar de Natasha? — Sibilei baixinho.
— Por que cargas d'água vou te chamar pelo seu nome falso?
— Podíamos fingir que é meu segundo nome ou um apelido.
— Ah sim, tem muito a ver Ana Paula com Natasha. — Revirei os olhos e bufei irritada. Aquele dia só piorava.
Peguei meu telefone a fim de mexer nele, mas vi que naquele covil em especial a rede não pegava, o jeito seria me distrair olhando as pessoas ao redor. A secretaria não estava cheia, tinha apenas um garoto de cabelos ruivos de estatura baixa que usava óculos de armação escura, contrastando com seus cabelos de cor chamativa. Uma garota negra que se vestia como patricinha e tinha dreads super estilosos e um garoto de cabelos pretos cacheados como os de anjos, barba por fazer e lábios expressivos.
Ele escrevia algo em seu caderno, mas para meu azar sua cabeça se levantou e seu olhar encontrou o meu. Droga, estava o observando tempo demais.
Mas o que era mais curioso era que mesmo sabendo que ele tinha ideia de que estava o encarando, eu não desviei meu olhar do seu. Algo naqueles olhos me era familiar só não me recordava de onde. Sua sobrancelha se arqueou e jquerer visto a sombra de um sorriso em seus lábios. Ele era o típico garoto bonito, que as garotas faziam fila para ter uma chance com ele. Confiança emanava de cada poro e caras assim me irritavam profundamente.
— Ai caramba, Rafael Monteiro, o cara mais gato desse campus, não para de olhar pra cá. — Lisandra alisou seu cabelo claro de forma patética.
— Deve ser porque eu estava o encarando. — Dei de ombros como se fosse normal eu ficar encarando as pessoas.
— Teve essa cara de pau?
— Aqui não tem nada pra fazer, porque não olhar o bonitinho de cabelos cacheados?
— Bonitinho? O cara é gato, você escutou sobre eu dizer que é o mais bonito da faculdade? — Fiz um aceno para descartar seu comentário.
— Já vi melhores.
— Quem desdenha quer comprar. — Lisandra cantarolou.
— Me poupe Lisa, eu o vi faz apenas dois minutos... — Parei de falar. Por muito menos do que aquilo que eu já fui pra cama com outros caras. — Não é essa questão. Eu não estou interessada.
— Seja como for você não faz o estilo dele, então essa conversa é irrelevante. — Estalei os dedos na frente do seu rosto.
— Acorda Lisandra, eu faço o estilo de todos, mas eu não quero saber de ninguém desse fodido campus, só quero saber como faço pra ser expulsa.
— Mas que raios de ideia é essa?
— Estou armando um plano, quando tudo estiver correndo te falo. — Passei a língua nos lábios em uma atitude descontraída e meu olhar se relanceou mais uma vez para o tal Rafael.
Ele ainda me observava, me medindo de cima para baixo e aquilo já estava me irritando. Me encontrava a ponto de perguntar o que ele me tanto olhava quando a recepcionista nojenta nos chamou.
— Precisava ela falar nossos nomes tão alto assim? — Murmurei para Lisandra que me beliscou no braço.
— Sossega, já vamos embora.
— Como se isso fosse resolver meus problemas. — Ela fingiu não escutar e começou a assinar onde a mulher indicava.
Fiz o mesmo de muita má vontade e ela nos entregou o contrato sobre a faculdade e o meu curso escolhido: artes visuais. Se eu fosse pra passar minha semana toda naquele inferno, seria pra fazer algo estimulante.
Passamos pelo carinha ruivo, ao qual a recepcionista chamou pelo nome de Jonathan e ele sorriu pra mim. Aquele lugar era rodeado de pessoas carentes, eu não entendia o porquê das pessoas mal se conhecerem e ter aquela mania de fingir o contrário.
— Estudo aqui desde o semestre passado, se quiser eu posso te ajudar na segunda a encontrar cada ponto desse campus. — Ele estendeu a mão e eu revirei os olhos. Lisandra me cutucou e espelhei seu gesto, pegando a sua de muita má vontade.
— Será ótimo. — Tentei forçar um sorriso.
Recolhi minha mão e dei aquele dia por encerrado, decidida a ir embora antes que eu vomitasse ali mesmo. Ao passar por Rafael ele abriu um meio sorriso e fez um aceno de cabeça.
— Bem vinda Ana. — Ele disse com malícia na voz.
🎀🏅
— O que estamos fazendo aqui mesmo? — Lisandra perguntou pela milésima vez e francamente, aquilo já estava me irritando.
Droga, eu só queria beber e dançar um pouco, tirar todos os receios de que tudo na minha vida daria errado a partir do momento em que eu entrasse em uma sala de aula, mas até aquele segundo de paz Lisandra estava conseguindo estragar. Terminei de tragar o cigarro e o apaguei com a sola da minha bota de cano longo. Ignorei seus resmungos e a puxei para a fila da bilheteria.
A boate era bem de classe baixa e o som de uma música explícita poderia ser ouvida. Pela cara da minha prima, aquele não era o tipo de ambiente que estava acostumada, mas era o meu e depois de um dia cansativo em que consistia em me instalar na sua casa e correr para comprar material para o início dos meus estudos, eu merecia um descanso.
— Olha pelo lado bom, você vai beber um pouco.
— Não quero beber, quero ir pra casa e descansar, pois segunda o ritmo das aulas vai começar frenético. — Revirei os olhos.
— Seu papo de estudo e responsabilidade só me deixa com mais vontade ainda de beber.
Deixei Lisandra falando sozinha e comprei duas entradas para a boate mal iluminada já gostando muito quando entramos e vimos o enorme bar bem a frente. A puxei e nos sentamos nas banquetas altas.
— Uma garrafa de cerveja, por favor. — Pedi para um homem de cabelos negros presos em um coque frouxo.
— Não vou beber isso. — Lisandra protestou e a provoquei de novo.
— Anime-se, olhe em volta. Podemos beber e dançar depois. — Lhe dei uma sugestão para tirar aquela expressão ranzinza de seu rosto.
— Está muito cheio. — Ela olhou para a pequena bolsa de mão que fiz questão de trazer. — Espero que você tenha dinheiro para pagar suas bebidas. — Um sorriso enviesado se formou em meus lábios.
Me sentei de frente para a pista de dança e cruzei as pernas em uma pose extremamente sexy. Peguei a bebida que o cara pôs na minha frente e dei um longo gole apreciando a vista.
— Não preciso de dinheiro, alguém vai pagar pra gente. — A cabeça de Lisa virou tão rápido que quase me fez rir ao pensar que ela não deu um mal jeito no processo.
— Nem vem com essa ideia. Pensei que você ia beber e ia pagar.
— E vou, alguma parte, mas minha grana tá curta e não posso gastar o tanto que quero beber. — Dei de ombros.
Aquilo era normal pra mim, eu costumava arranjar amigos para me pagar bebidas e depois caía fora quando via suas segundas intenções, mas para Lisandra aquilo deveria ser novo.
— Não acredito que vamos fazer isso.
— Eu vou, você só vai apreciar o show. — Lhe dei um tapinha no ombro e ela deu um gole na bebida fazendo uma careta.
Entornei o restante da bebida e coloquei a garrafa com um baque no balcão. Levantei disposta e peguei no braço de Lisandra a puxando para a pista de dança.
— O que está fazendo?
— Pretende encontrar alguém para pagar bebidas para mim sentada no canto?
— Não vou encontrar ninguém pra você Ana.
— É Natasha. — Pronunciei cada sílaba com calma e cuidado. — E estava brincando, eu que vou arrumar.
O local estava lotado de corpos suados e juntos demais, mas era assim que eu gostava. Quando começou a tocar what 's my name de Rihanna pareceu que um espírito havia possuído meu corpo. Comecei a cantar e rebolar com Lisandra que tentava mexer seus quadris não levando jeito algum.
— Assim Lisa, rebola. — Mexi minha cintura e sorri para ela que balançava a cabeça como se não acreditasse que estivesse fazendo aquilo.
O suor já escorria pelo meu pescoço fazendo com que uma gota dele rolasse por minha coluna. Mas não me importei, continuei a dançar uma música após a outra, intercalando com uma ida e vinda até o bar para pegar uma garrafa de cerveja. Fiz amizade com o bonitinho do barmen e ele me ofereceu duas garrafas de uma bebida barata que aceitei com gratidão.
Eu já estava um pouco bêbada e meus pés já não me obedeciam, por vezes escutei Lisandra dizendo que tínhamos que ir embora, mas eu aguentava beber muito mais que aquilo e ainda não estava satisfeita.
— Vamos Ana, por favor, meus pés estão doendo. — Ela me puxou e dei um passo para trás, para longe do seu toque.
— Mas ainda não acabou, só chegamos aqui faz duas horas.
— E já está de bom tamanho pra mim. — Quando ela tentou me segurar de novo, dei mais um passo para trás esbarrando em alguém.
Era uma pessoa mais alta que eu e com um peito muito sólido, provavelmente um homem, e pelos olhos de Lisandra era alguém que ela conhecia. Me virei dei de cara com o carinha de cabelos cacheados, o tal Rafael.
— Que surpresa agradável. — Revirei os olhos e dei um gole na bebida.
— Só se for pra você.
— Não sabia que você era de curtir baladas Lisandra. Quando eu te chamava para ir as que eu fazia na minha casa você não ia. — Olhei de relance para minha prima e a vi ficando sem graça. Parecia sufocada com a própria língua.
— Vai ver que ela não queria perder tempo com suas festinhas sem graça. — Vi surpresa em seu olhar por minha resposta.
Ele deveria ser aqueles tipos de homens que não tinham o costume das mulheres o desafiarem, mas iria perder o tempo se achava que comigo ia ser igual. Achava muito divertido quebrar o ego de caras assim, os reduzir a pó.
— A gatinha tem as unhas afiadas. — Ele sussurrou bem perto do meu ouvido e permaneci no lugar. Não queria dar o gosto dele ver que sua proximidade me incomodava.
— Não imagina o quanto. — Passei minhas unhas por seu pescoço vendo que tinha alcançado meu objetivo. Um simples olhar para seus braços pude constatar que um arrepio percorreu seu corpo.
— Estou ali com alguns amigos, gostaria de beber alguma coisa? — Ele perguntou apontando para uma mesa distante onde homens e mulheres conversavam e dançavam de forma animada.
Me senti tentada a aceitar o convite, mas Lisandra não estava confortável ali e tínhamos que bater em retirada antes que ela tropeçasse nos próprios pés.
— Ah não, não. Temos que ir, somos garotas boazinhas e a hora pra chegar em casa já passou.
— Garotas boazinhas? — Ele me mediu de cima para baixo, seus olhos parando em minha blusa branca que deixava boa parte da minha barriga à mostra. Passei a língua nos lábios pintados de vermelho e senti um desejo insano quando vi seu olhar azul seguindo meu movimento.
— Bom, Lisandra é boazinha — Me aproximei dele e, mesmo de salto, fui obrigada a ficar na ponta dos pés, passei a mão por seus cachos e concluí minha fala em seu ouvido. — Já eu, sou a garotinha má, a que põe fogo no convento. — Mordi o lóbulo de sua orelha e senti seu corpo ficar rígido.
— Acho que deveria ficar mais um pouco. — Ele tentou envolver minha cintura com suas mãos, mas fui mais rápida e me afastei.
— Eu já vou indo. Não olhe para minha bunda. — Apontei para ele com um dedo acusatório, me virei e fui embora puxando minha prima comigo.
Aquele garoto devia ser um rei naquela faculdade, mas iria lhe mostrar que um rei não era nada contra uma rainha má intencionada.
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