Inspiração: "Cristãos, vinde todos" (Versão em português da canção "Adeste fideles")

Título do conto: "Natal, luzes e sonhos que (re)acendem"

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Em meio à explosão de luzes coloridas que inunda meus olhos, sou como uma lâmpada queimada. O calor do início do verão foi abafado pelo frescor da chuva. Entretanto, a garoa fina, que salpica o asfalto com pontinhos escuros, não é suficiente para acalmar meus pensamentos, que fervem.

Estou. Demitida.

Eis a sentença que me persegue como um fantasma desde que saí do último turno na loja de calçados em que trabalhei ao longo dos últimos oito anos. As palavras da dona do estabelecimento ainda assombram minha mente: "Querida, encare isso como um presente de Natal! Pode não fazer sentido agora, mas... É hora de viver seus próprios sonhos, Luciana! Vá em busca de algo que faça seus olhos brilharem!"

Atingida pela surpresa, não consegui sequer contestar a decisão dela. Até então, acreditava que existia algum "código de ética" que proibia demissões nesta época, mas aqui estou, dispensada em plena noite de Natal.

A verdade é que não preciso de "algo que faça meus olhos brilharem". Tenho duas pessoinhas que dependem de mim para terem comida na mesa.

Por que o caminhão que Marcos dirigia saiu da estrada naquela noite?! - Questiono pela milésima vez.

Faz mais de seis anos que aconteceu, mas ainda sinto o abraço sufocante da solidão. Hoje, aos trinta e cinco anos, depois de muitas sessões de terapia, sei que o buraco deixado em minha alma já cicatrizou, o que não significa que foi preenchido.

De repente, minhas angustias são entrecortadas por uma melodia alegre. Parada diante da escadaria de uma igreja, reconheço a música que escapa pelas portas de madeira.

Só percebo que meus olhos estão marejados quando, ao piscar, uma lágrima salta entre meus cílios. Vejo-me de novo na sala da minha avó. Os olhos cinza e embaçados, cintilavam enquanto ela contava a história do menino Jesus para a rodinha de netos, reunidos em volta do Presépio. Depois disso, a família inteira cantava:

Cristãos, vinde todos, com alegres cantos
Oh! Vinde, oh! Vinde até Belém (...)

Meus olhos também brilhavam naqueles momentos. Sempre amei grandes celebrações, tanto que sonhava em trabalhar com organização de eventos.

Subindo os degraus da escadaria, recordo as palavras que vovó costumava dizer no fim da noite: "Natal é tempo de recomeços e segundas chances!"

Parece uma boa hora para dar uma nova chance aos meus sonhos...

Enquanto cruzo as grandes portas de madeira. Sinto-me deslizar entre os braços implacáveis da solidão. Pela primeira vez em muito tempo, encontro aconchego, sei que terei Alguém guiando meus passos ao longo do caminho que me espera.

No fim das contas, talvez eu não seja uma lâmpada queimada. Entre os solavancos da vida, acabei me desencaixando da fonte que me proporcionava energia. Porém, consegui me reconectar a tempo. Com essa certeza faiscando dentro de mim, entoo a última estrofe da música junto ao coral:

A estrela do Oriente conduziu os Magos
E a este Mistério envolve em luz
Tal claridade, também, seguiremos

Oh! Vinde, adoremos!
Oh! Vinde, adoremos!
Oh! Vinde, adoremos!
O Salvador!

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