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Capítulo 1

A campainha tocou.

Era sábado de manhã e meus pais não estavam em casa. Minha mãe, Sonya, tinha ido ao salão de beleza e meu pai, Harry, estava jogando basquete com os amigos. Mas eu não estava sozinha. Alicia estava comigo e pulou, agitada, para atender à porta.

Alicia Jackson era minha amiga desde sempre. Não existia um só momento importante da minha vida em que ela não estivesse presente. Éramos inseparáveis e gostávamos de dizer que era coisa de família. Nossas mães haviam se conhecido na faculdade e ainda eram melhores amigas.

Ela se adiantou pelo corredor e escada abaixo até a porta da frente, saltitante em sua agitação. Esta era uma de suas características mais marcantes. Alicia estava sempre correndo e animada, tentando ir a todos os lugares e fazer todas as coisas.

A casa possuía dois andares. O meu quarto era o mais distante da escada, seguido do quarto do meu irmão e do dos meus pais, que ocupavam o corredor largo. A sala de estar logo abaixo tinha paredes que se estendiam até o segundo andar e se encontrava com o corredor de cima. Uma balaustrada fazia o corredor parecer um tipo de varanda que dava para a sala de estar. Tudo aquilo parecia um espaço pequeno para minha amiga – que tinha "corrida" como seu esporte favorito, –, apesar de a verdade ser o contrário. Os passos dela eram largos e a escada foi percorrida dois degraus de cada vez.

Os cachos volumosos de seu cabelo loiro balançavam livres com o ritmo que ela imprimiu aos próprios passos, o corpo magro e esbelto tinha um ritmo próprio que ela sempre atribuía a uma herança latina por parte da sua avó, e, mesmo sem vê-los, eu sabia que seus olhos castanhos brilhavam de entusiasmo.

Sorri ao pensar que aquela agitação toda era perfeitamente normal para ela, mesmo quando nós duas sabíamos que nada de extraordinário aconteceria.

Diferente de Alicia, eu andava devagar, tendo fechado a porta do meu quarto quando saí e passando pelo corredor enquanto olhava para o andar de baixo, para a porta cor de creme, tentando imaginar quem poderia estar tocando a campainha. Havia apenas mais uma pessoa que visitaria minha casa de repente, principalmente em um momento em que meus pais não estavam. Porém essa pessoa estava completamente ocupada àquela hora da manhã – um evento importante ou assuntos urgentes, eu não me lembrava exatamente com o quê – e não teria deixado seus compromissos para me visitar. Para esta pessoa, o dever era algo muito importante.

Quando eu cheguei ao topo da escada, Alicia abriu a porta.

Um homem estava ali parado. Alto, forte e com cabelo castanho muito curto. Usava um traje que eu conhecia bem, um traje que me deu medo. O uniforme do exército.

Para muitas pessoas, o exército americano era algo de que se orgulhar. Aqueles que serviam nas forças armadas eram heróis que protegiam nosso país e o salvavam caso algum problema ocorresse, mas não para mim. Eu tinha passado a entender um lado mais obscuro daquele suposto veículo de proteção. Podia, agora, ver um lado que a maioria das outras pessoas simplesmente escolhia ignorar, o lado perigoso.

Para alguém cuja família possuía um membro que servisse no exército, qualquer visita ou notícia recebida de alguém que não fosse aquele parente não era coisa boa. Morte e desaparecimento costumavam ter alto índice de frequência entre essas notícias.

Por um instante obscuro, percebi que estava errada ao pensar que nada importante poderia acontecer naquela manhã tranquila de sábado. Para aquele homem estar ali, definitivamente havia acontecido algo importante.

O homem analisou Alicia cautelosamente por vários segundos. Quando seus olhos se voltaram para mim, um lampejo de reconhecimento passou por eles.

― Brianna McGregor? ― Sua voz era calma e controlada, treinada para aquele tipo de situação. Ele esperou que eu afirmasse levemente com a cabeça para continuar. ― Meu nome é Bryan Krist, sou segundo tenente do exército americano. Trago notícias urgentes.

Meu coração parou por um segundo, quase pude sentir. Provavelmente algo sério tinha acontecido, mas tentei me acalmar. Eu não costumava ser o tipo de garota que ficava histérica facilmente. Durante quatro anos, desde que meu irmão entrara para o exército, eu e meus pais sofremos com a possibilidade de um dia receber notícias sobre as quais eu nem conseguia pensar. Agora era hora de recebê-las. Todo o medo que eu tinha tentado esconder por quatro anos estava acumulado agora. Um nó tinha se formado em minha garganta.

― Entre, por favor, senhor Krist. Sente-se ― de repente minha voz estava fria como só ficava quando eu queria esconder emoções.

Fiz um esforço para engolir o nó na garganta, sem sucesso.

― Seus pais, senhorita? ― Perguntou ele aproveitando meu convite e sentando-se na poltrona macia de estofamento verde escuro, mesmo sentindo-se visivelmente desconfortável.

Será que ele não podia ir logo ao assunto? Uma parte distante do meu cérebro me dizia que ele estava certo em querer que meus pais estivessem presentes, mas o tenente parecia estar simplesmente protelando as coisas.

― Não estão em casa, senhor.

Ele olhou para o relógio grande demais em seu pulso.

― São notícias urgentes, senhorita.

― Mesmo que eu tente chamá-los, eles não vão conseguir chegar aqui mais rápido do que você pode contar o que aconteceu, senhor — eu disse, sentando no sofá à sua frente. Então, achando que tinha sido dura demais com ele, tentei amenizar um pouco o tom de voz e as palavras. ― Posso receber as notícias e dar a eles depois, se o senhor tem que estar em outro lugar.

― Muito bem ― seus olhos me analisaram por um instante, duvidando. Mesmo estando incumbido daquela tarefa e sem hesitar em cumpri-la, o segundo tenente não parecia nem um pouco confortável com o que tinha a dizer. ― Ocorreu um acidente...

Alicia fechou a porta com um estrondo e veio sentar-se junto de mim, um dos braços ao meu redor, apoiando meu corpo que tombava fraco para trás no sofá. Era uma das grandes demonstrações de amizade dela. Desde pequenas, tínhamos desenvolvido a habilidade de, ao notar o sofrimento e a necessidade da outra, dar o maior apoio possível sem invadir um espaço que era muito pessoal, sempre esperando que a outra estivesse pronta para compartilhar seus problemas, sem pressionar.

O barulho havia sido proposital. Minha amiga teve sucesso em fazer o tenente se calar e esperar até que ela estivesse ao meu lado, dando-me todo seu apoio e – mesmo que o homem nunca fosse capaz de admitir ou sequer perceber o que ela fazia – controlando a conversa.

― Que tipo de acidente, senhor Krist? ― Alicia pronunciou as duas últimas palavras com um pouco de desprezo implícito na voz.

― Era uma missão para manter a paz, já que não podemos considerar que a guerra tenha começado. Todo o esquadrão estava preparado apenas para acontecimentos de pequena importância... ― Ele parou e respirou fundo. ― Eles entraram em um beco, pois tinham ouvido a voz chorosa de uma criança sair de lá, ou pelo menos foi o que disseram. Afinal, nenhum corpo de criança foi encontrado quando a busca foi feita. Foi então que a bomba explodiu. ― Eu fechei meus olhos, esperando a verdadeira tragédia. ― Trevor McGregor estava mais perto da lixeira do que os outros, mais perto da bomba ― parecendo ter percebido o significado que aquelas palavras tinham para mim, completou. ― A missão foi abortada e ele foi socorrido imediatamente.

― Ele está... ― minha voz era baixa, só pude ser ouvida por causa da pausa que se seguiu ao relato. ― Vivo?

― Sim, senhorita. Fizemos tudo o que pudemos ― ele olhava para baixo, um gesto de vergonha, talvez.

― E quando foi isso, senhor? Onde ele está agora? ― A voz dela era surpreendentemente mais alta e clara que a minha, parecia que tinha sido treinada para isso. Em vinte e dois anos, eu nunca tinha visto Alicia Jackson mais determinada. Sua proteção dirigida a mim era evidente em cada palavra.

― A enfermaria da base militar não tinha muitos recursos para ajudar. O cabo foi colocado no primeiro avião partindo do Afeganistão para os Estados Unidos. Deve chegar ao hospital a qualquer momento. Ainda não sei como o tenente Evans conseguiu que fizessem isso.

― O senhor parece muito satisfeito com isso, tenente ― eu ainda estava me recuperando e não entendi a alfinetada de Alicia.

― Estou orgulhoso de nosso esforço para salvá-lo, senhorita. Perder alguém é ruim para todos.

― Ficaremos bem, tenente Krist. ― Alicia disse, indiretamente o dispensando.

Ele levantou, apertou minha mão e acenou para Alicia enquanto se dirigia à porta. Não parecia se importar com a maneira com que Alicia o estava tratando. Talvez entendesse que este tipo de notícia abalava as boas maneiras de uma pessoa.

― Qual hospital? ― Perguntei antes que ele pudesse sair.

Ele me disse o nome e o endereço surgiu como num passe de mágica na minha cabeça.

Alicia foi até a cozinha e voltou com um copo d'água.

― Vou até lá ― eu disse.

― Assim que avisarmos a seus pais.

Ela cuidou de tudo. Ligou para os meus pais, um de cada vez, e, com o que parecia a maior calma do mundo, contou o que tínhamos ouvido do segundo tenente pouco tempo antes.

Meu pai errou uma cesta, minha mãe saiu do salão com apenas metade das unhas pintadas, mas todos estavam indo para o hospital, inclusive eu e Alicia.

Dentro do carro, enquanto começava a dirigir – ela nunca me deixaria dirigir estando tão nervosa –, colocou os fones de ouvido do celular e fez uma última ligação. Eu pude ouvir apenas a parte da conversa em que ela falava, mas sabia quem estava do outro lado da linha.

― Oi. Trevor sofreu um acidente. Parece ter sido algo inédito, mas ele foi enviado para um hospital aqui em Washington. Estamos indo para lá agora. Se não puder vir agora... — Fez uma pausa enquanto ouvia e disse o nome do hospital.

Então, eu percebi. Talvez meu próprio nervosismo não tivesse me deixado perceber, influenciado pela maneira eficiente com que minha amiga de infância estava cuidando de tudo, mas estava claro agora. Alicia estava tão nervosa quanto eu. A maneira insensível com que ela tratou a pessoa com quem falava ao telefone era prova suficiente disso.

Alicia e ela frequentemente discordavam, mas depois de anos de amizade tinham conseguido chegar ao ponto de quase nunca discutirem. Na maior parte das vezes, elas só se encaravam e diziam seus pontos de vista até que eu escolhesse o que seria melhor, mas eu não estava em condições de tomar decisão alguma naquele momento. Não até ter certeza de que meu irmão estava bem.

Algumas vezes o gênio forte de Alicia a fazia ter problemas com as pessoas. Felizmente, a pessoa do outro lado da linha também tinha aprendido a lidar com isso sem sacrificar a amizade.

Depois de ouvir algo ao telefone, que eu imaginei ser uma bronca leve e sutil, Alicia suspirou e falou de novo.

― Só pensei que talvez você tivesse que terminar o que está fazendo...

Mais alguns instantes ouvindo e vi minha amiga de infância assentir.

― Certo. Bri está bem, ainda não pirou. Estou cuidando dela. ― Outra pausa, mais curta desta vez. ― Tudo bem, tchau ― e, para mim, acrescentou. ― Eu vou ouvir quando ela chegar lá, mas ela vai chegar.

Quase pude ouvir a voz da outra pessoa se despedindo. Seria um conforto. Por mais que Alicia tentasse controlar sua voz normalmente agitada, nada seria mais reconfortante que a voz dela, suave e rítmica, dizendo que tudo ficaria bem. Era sempre mais fácil acreditar quando era ela quem dizia.

A viagem de carro até o hospital levava vinte minutos e eu passei todos eles batendo os dedos das mãos contra as pernas, coisa que eu sempre fazia quando estava nervosa. Eu brigava com todos os sinais de trânsito que encontrávamos vermelhos e torcia para que ficassem verdes rápido.

Alicia pôs uma de suas mãos sobre a minha e apertou, dizendo que eu não precisava me preocupar tanto, que Trevor estava bem e ficaria melhor. Tentei sorrir para ela, mas não fui muito convincente. Sabia que até mesmo ela, que tentava encontrar o lado bom e animado em tudo, estava preocupada.

Ela estacionou na primeira vaga que encontrou no hospital, mas me proibiu de descer do carro e sair correndo, segurando firme em meu braço para me impedir. Insistiu em que fizéssemos isso juntas. Quero dizer, sem a parte de correr. Pela primeira vez na vida, ela estava séria.

Entramos pelas portas automáticas que se abriram para nós e o ar frio chegou até mim, fazendo-me tremer um pouco. Washington não era um lugar tão quente para se querer um ar-condicionado tão potente.

A recepcionista estava desocupada, sorrindo para nós, pronta para nos atender. Não era como nos filmes em que elas sempre estavam falando ao telefone ou verificando dados na tela do computador. Mas, sinceramente, aquilo era um hospital. Por que ela parecia tão feliz?

Ignorando o fato de que a atitude da recepcionista não teve um bom efeito sobre mim, andei até o balcão com Alicia ao meu lado.

― Estamos procurando Trevor McGregor. Deve ter chegado há pouco tempo da base do exército no Afeganistão ― eu disse, ainda nervosa, batendo os dedos sobre o balcão.

― Somos da família ― Alicia completou.

― Sim ― a recepcionista disse depois de digitar algumas coisas no computador. ― Faz uma hora e meia. Vocês vão precisar esperar um pouco.

Pronunciei um fraco "obrigada" para ela e Alicia conseguiu me arrastar para uma das cadeiras da sala de espera.

Meus pais chegaram pouco tempo depois, primeiro minha mãe, correndo até nós e me abraçando antes de se sentar ao meu lado e chorar baixinho, depois meu pai, mais equilibrado, me dando um beijo na testa e indo conversar com a recepcionista. Ele passou um bom tempo lá tentando coletar informações.

Os minutos foram passando e pareceram dias. Eu estava em algum tipo de transe, abraçada a Alicia e observando pessoas entrarem e saírem da sala, quando alguém diferente chegou.

Era ela. Dava para notar pelas roupas elegantes, o incrível cabelo castanho que estava sempre perfeito e os grandes e brilhantes olhos verdes. Ela apressou o passo quando nos viu e ainda assim não deixou de ser elegante. Meu pai já tinha se juntado a nós e tentava acalmar minha mãe.

― Ah, querida, ele vai ficar bem ― ela disse para mim. ― Os melhores médicos estão cuidando dele.

Então me abraçou. Depois, para Alicia, disse:

― Que história foi aquela de "se não puder vir agora"?

― Só pensei que talvez você estivesse ocupada, talvez com seu pai, e não pudesse vir imediatamente ― deu de ombros.

Holly Hendrix, a filha do presidente, suspirou, mas seus olhos verdes brilhavam com intensidade quando ela olhou para a amiga antes de responder.

― Eu nunca estou ocupada demais para minhas amigas, Aly.

Diferente de Alicia, eu tinha conhecido Holly na faculdade, mas nossa amizade não era nem um pouco menor por causa disso. É claro que as personalidades completamente diferentes das minhas duas melhores amigas e os ambientes diferentes em que elas cresceram as faziam ter opiniões divergentes sobre quase tudo, mas a amizade nunca tinha sido uma dessas coisas. Nós três sempre estivemos lá umas para as outras desde que tínhamos passado de dupla inseparável para trio inseparável.

― Desculpe, acho que o que eu disse saiu do jeito errado ― disse Alicia, dando um sorriso de desculpas. ― Mas eu só queria dizer que você poderia nos encontrar aqui ou que, se não conseguisse sair imediatamente de onde estava, nós avisaríamos se fôssemos pra casa, pra você nos encontrar lá.

Às vezes aquilo acontecia. Alicia não conseguia evitar seu jeito apressado de fazer as coisas e acabava esquecendo que as outras pessoas também conseguiam fazer mais de uma coisa ao mesmo tempo ou até correr de um compromisso para o outro. Nas ocasiões em que os compromissos com o pai impediam Holly de estar presente em momentos que Alicia achava importantes, a loira acabava sem saber o que fazer, sempre achando que a amiga, tão diferente dela, não conseguiria chegar a tempo ou simplesmente acabaria não aparecendo.

Mas Holly tinha uma mania com a qual Alicia ainda não tinha conseguido se acostumar. Se a filha do presidente se comprometesse com algo, ela cumpria; e a primeira filha nunca ficava ressentida com Alicia por mais de dois segundos.

― Eu estava do outro lado da cidade, mas vim assim que você me ligou ― seus olhos mostravam que Alicia estava perdoada. Ela sempre era perdoada. A morena de olhos verdes sabia que era difícil entender como ela conseguia lidar tão bem com os compromissos políticos que tinha para ajudar o pai e com a vida pessoal. Às vezes, ela mesma admitia que pensava que não ia conseguir conciliar, mas acabava dando um jeito. ― E não se preocupe, todos sabemos que você também está preocupada com Trevor.

― Espero que isso não tenha causado problemas para o seu pai ou para o evento ― falei, apertando uma das mãos dela como estava fazendo com a de Alicia.

― Eu já tinha feito a minha parte, de qualquer forma. E acho que ele entendeu quando eu disse: "Houve um acidente com o irmão de Brianna. Ela está indo para o hospital e precisa de mim." ― Eu e Alicia nos entreolhamos. Sabíamos que Holly provavelmente não tinha usado aquelas palavras exatas, nem tinha falado tão rápido, mas que com certeza não teria explicado mais do que isso em público. ― Tudo bem, talvez a minha mãe tenha apertado a mão dele e lhe dado um olhar de "deixe a menina ir, Adam", enquanto se despedia de mim com um beijo no rosto e desejava o melhor para Trevor. ― Concluiu Holly com um sorrisinho maroto.

Quando Alicia e eu rimos, ela se virou para o meu pai e perguntou.

― Alguma notícia?

― Ele chegou há mais de duas horas. Parece que está na sala de cirurgia.

Holly olhou para mim, apertou minha mão carinhosamente e se levantou para falar com a recepcionista. A conversa demorou menos do que a do meu pai, mas teve maior efeito. A mulher atrás do balcão assentiu várias vezes e se dirigiu a um corredor. Holly voltou e sentou.

― Houve um problema sério com uma das pernas, mas parece que a cirurgia já deve ter acabado. A recepcionista foi tentar chamar o médico ― disse ela ―, mas... parece que ele também passou pela sala de tratamento intensivo de queimaduras.

Meus olhos se arregalaram e eu perdi o ar. Aquilo não podia significar nada bom, mas, graças a Holly, agora nós sabíamos o que estava acontecendo.

― Obrigada ― eu disse a ela.

― Às vezes é bom ter tanta influência ― ela sorriu.

Eu sabia que Holly não tinha qualquer motivo para reclamar de sua família ou mesmo das consequências que vinham com ela. Afinal, ser filha do presidente dos Estados Unidos não era algo tão fácil assim. Por outro lado, orgulhosa de sua própria inteligência, minha amiga não gostava de usar sua imagem e a posição de seu pai para conseguir o que queria, e eram raros os momentos em que ela o fazia de boa vontade. Aquele parecia ser um desses momentos raros, e eu não sabia como começar a agradecer. Nada representava bem toda a gratidão que eu sentia.

Pouco tempo depois, um homem veio do corredor por onde a recepcionista tinha saído. Usava um jaleco branco, típico dos médicos. Chamou Holly e falou com ela; depois, os dois nos chamaram. Meu irmão tinha acabado de sair da sala de cirurgia.

O médico nos levou a um quarto igual a todos os outros – parte das paredes era pintada de um azul claro para quebrar o branco fantasmagórico que cobria o resto – e todos nós entramos ao mesmo tempo.

Trevor era um homem bonito, jovem, de vinte e dois anos e tinha nascido cinco minutos antes de mim. De cabelo curto graças ao exército, suas faces angelicais, mesmo quando marcadas com arranhões e hematomas que ele chamava de "presentinhos do exército", ficavam acentuadas enquanto dormia. Sua constituição física era quase infantil.

Era quase inacreditável o quanto se parecia comigo.

Os olhos azuis eram apenas ligeiramente mais escuros que os meus, chegando perto do verde. Os lábios cheios, que quase nunca tinham cortes ou rachaduras, davam-lhe uma aparência exótica.

Contudo, essa não foi a imagem que eu tive dele quando entrei no quarto.

O cabelo loiro estava sujo e bagunçado. O rosto, apesar de não formar expressões em seu sono induzido, não parecia tranquilo. Como se ele ainda estivesse perturbado com tudo o que havia acontecido, os traços do meu irmão estavam mais duros que o normal.

Porém, ao olhar para ele, não era a dureza em seu rosto que trazia inquietação e preocupação. Todo o lado esquerdo de seu rosto, poupando apenas os lábios e o olho, apesar de até o lado direito do queixo ter sido atingido, estava tomado por uma bandagem, mas eu conseguia ver parte da queimadura que não tinha sido totalmente coberta. O local estava avermelhado, enrugado e com algumas bolhas. A pele não tinha se desprendido, apesar de já não parecer se agarrar à pele saudável com tanta força. A beleza angelical do meu irmão tinha sofrido bastante. Nem mesmo consegui chegar perto de imaginar a dor que teria causado aquele estrago.

Todo o resto do corpo dele estava coberto por um cobertor com o mesmo tom de azul das paredes. Apertei os lábios tentando me controlar. Será que o corpo dele tinha a mesma aparência do rosto?

Vê-lo daquele jeito, sem conseguir relaxar em seu sono induzido e com o rosto tão afetado pelas chamas da bomba que explodira tão perto, causou um aperto em meu coração e um embrulho em meu estômago.

Pensando no que teria acontecido com ele internamente, além do estrago físico, imaginei que a partir daquele momento meu irmão nunca mais seria o mesmo.

Analisei o monitor que mostrava os dados atuais dele, mesmo sem entender. Tudo parecia bem.

Avancei alguns passos e segurei a mão do meu irmão gêmeo por baixo do cobertor, aliviada por sentir o calor da vida ali.

Nesse momento percebi que meus olhos estavam cheios de lágrimas não derramadas e fiz um esforço para contê-las mais um pouco. Minha mãe já estava chorando o suficiente por nós duas.

O médico escolheu aquele momento para falar sobre o estado clínico dele.

― A explosão foi muito próxima e queimou boa parte do lado esquerdo dele, atingindo as costas por completo e também parte da perna esquerda. A queimadura do rosto é de segundo grau. Já começamos o tratamento, mas lamento informar que vai levar algum tempo até que ele esteja bem o suficiente para acordar sem enlouquecer de dor e é muito improvável que a pele volte a ser como antes. Imagino que, com a aparência dele, ele se preocupe bastante com sua imagem, o que significa que vai ser um grande choque se olhar no espelho daqui para a frente. As queimaduras do corpo foram de terceiro grau. ― Olhei para a cama outra vez e afastei um pouco o cobertor azul, agora vendo as bandagens que cobriam o corpo bonito de Trevor: braço, tronco e parte da perna esquerda que ficou visível. ― Ele foi jogado para longe e, com o impacto, quebrou a perna direita gravemente. Foi o motivo da cirurgia. Foi bem difícil colocar a perna no lugar. Ele vai ter problemas para voltar a andar. ― Olhei e pude ver o formato do gesso embaixo do cobertor fino. ― Ele bateu a cabeça e tem vários hematomas causados por destroços de uma parede que caíram sobre ele, mas, comparados aos outros estragos, a concussão e os hematomas são os menores problemas.

Desta vez, eu não quis olhar. Podia imaginar o estrago que tijolos e outras coisas tinham causado em meu irmão e como seria sua imagem se aquelas fossem as únicas consequências da explosão. Eu já tinha visto a queimadura no rosto dele e não queria olhar com mais cuidado para procurar hematomas roxos em meio à pele enrugada e com bolhas. Eu concordava com o médico sobre os hematomas serem o menor dos problemas e, contanto que não trouxesse consequências – a concussão também –, decidi agir como se eles não existissem. A perna quebrada e as queimaduras precisariam de muito mais atenção e cuidados dali pra frente.

O médico ainda falou mais alguma coisa para os meus pais antes de sair. Eu não prestei atenção. Se ele desse qualquer instrução sobre como cuidar de Trevor dali em diante, meus pais me diriam depois. Naquele momento, minha mente estava ocupada demais, preocupada com meu irmão. Eu analisava repetidas vezes o estado dele e, sem chegar a qualquer conclusão, perguntava a mim mesma o que fazer em seguida.

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