Nasceu o Amor
Dedicado especialmente para minha Amiga Secreta do Grupo Unidaspelaleitura. Ti loviu!
A garotinha soprava na vidraça gelada da sala seu hálito quente e com seu dedo desenhava um floco de neve até que o embaçado no vidro desapareceu. Ela olhou pensativa para a noite iluminada e chuvosa da rua. As luzes de natal enfeitavam a vizinhança e davam um colorido especial. Isabela não entendia bem o porquê, mas toda essa decoração a deixava mais alegre.
Júlia, sua mãe, que bordava na poltrona ao lado percebeu sua expressão curiosa formar-se e sorriu esperando a pergunta que viria.
A garotinha, com seus inocentes seis anos, perguntou a sua mãe:
─ Mãe! Por que comemoramos o natal?
Júlia sentou-se ao seu lado no espaçoso e aveludado sofá cor de cinza. Este ficava abaixo da janela que prendia a atenção da pequena Bel segundos antes.
Sorriu docemente e suspirando disse:
─ O que quer saber exatamente?
Com seu jeito surpreendente de criança falou impaciente deitando-se no colo da mãe:
─ Ai, mãe! Só quero saber o porquê de tudo isso ora!
Júlia soltou uma gargalhada e abandonou o bordado no braço do sofá. Deitou a cabeça no encosto e fixou o olhar num ponto vazio do teto. Lembrou-se das noites alegres ao lado do seu falecido marido. Ele era muito brincalhão, do tipo que sempre contava piadas, simplesmente porque gostava de ver todos sorrindo.
Desviou o olhar para a árvore de natal com seus presentes abertos e para a mesa de jantar com o restante da pequena ceia feita para as duas. Tinham outras opções para essa noite, mas preferiram passar no aconchego do lar apenas curtindo uma a outra. As lembranças bateram em seu peito trazendo certa nostalgia. Era a primeira noite de natal que passavam sozinhas.
Um cutucão da pequena Bel a fez despertar de seus devaneios. E fez também se dissipar a melancolia estampada em seus olhos castanhos com a visão de um belo sorriso infantil. Voltou sua atenção para a filha, acariciando seus finos e dourados cabelos, iguais aos do pai.
─ Mãe! Estava pensando em quê?
─ Desculpa filha, eu estava pensando na resposta para sua pergunta. Vamos lá! Como eu começo? Hum... Já sei! ─ Fala Júlia pronta para explicar.
─ Era uma vez...
─ Bem no meio do mundo onde havia o mais belo de todos os jardins. Lugar que o Deus Supremo vinha todos os dias conversar com um homem chamado Adão e com uma mulher chamada Eva, esposa de Adão. Eles viviam felizes e eram amigos, até que um dia eles traíram ao Deus Supremo e tornaram-se maus, e inimigos de Deus.
─ Traíram? ─ Interrompeu confusa a pequena Bel.
─ Sim, eles o traíram. Deus confiou neles e havia avisado que tinha no jardim uma árvore com um fruto que eles não poderiam comer, senão morreriam! Mas, eles comeram e começaram a morrer lentamente. Conseguiram ter filhos, mas iam morrendo pouco a pouco e seus filhos também. Não viviam mais no jardim, não ficavam mais na companhia de Deus e não eram felizes.
─ Que triste, mãe. Isso é natal? ─ Falou Bel inconformada.
─ Não, filha! Deixa-me terminar. ─ Respondeu sua mãe tentando acalmá-la.
─ Deus estava com saudade e queria que voltassem a serem amigos. Ele tinha um plano e iria oferecer o Seu Amor, e a Sua Vida como remédio para curar a humanidade. Por terem comido aquele fruto ficaram todos muito doentes, tão doentes que não conseguiam mais ver Deus, e não acreditavam que Deus os amava tanto para perdoar a traição. Assim, Deus decidiu continuar com seu plano de fazer algo muito grande para provar seu amor por eles. Ele viria a terra em forma de homem, nasceria e viveria sem magoar, e trair ninguém.
Júlia beijou a filha que já estava sonolenta e continuou:
─ Depois de um tempo nasceu de uma mulher chamada Maria um menino. Ela deu-lhe o nome de Jesus porque Ele seria o Salvador do mundo. Também era conhecido como Emanuel porque Deus estava presente entre os homens. Chamado de Maravilhoso Conselheiro, Deus Poderoso, Pai Eterno e Príncipe da Paz. Porém, os homens não o reconheceram, o maltrataram e o levaram à morte. Só que ele viveu de novo! Ele lutou com a morte e venceu! O Amor sempre traz vida.
─ Já está acabando, mãe? ─ Perguntou Isabela bocejando.
─ Sim, Bel. ─ Respondeu sua mãe sorrindo.
─ Então, Jesus, que era Deus em forma de homem, cresceu e deu sua vida pela humanidade. Provou ao ser humano o Amor que tinha por eles. Ao receber o Perdão e o Amor de Deus poderiam ser curados. Quem aceitasse o remédio viveria como amigo de Deus para sempre, sem jamais morrer. E é por isso que até hoje comemoramos o Natal. Porque nasceu o Amor, o verdadeiro amor entre os homens. Um amor capaz de perdoar e vencer a morte. Jesus é o motivo de nós existirmos e da nossa alegria. É por Ele que comemoramos essa data.
Em lágrimas, Júlia viu os olhinhos azuis da filha, pesados de sono, se fechando. Ajeitou a menina em seu colo e a levou para o seu quarto de casal. Deitou-a na cama e como há muito tempo não fazia ajoelhou-se à beirada da mesma e decidiu orar. Após a morte do esposo não dormia mais lá. Aliás, ela havia deixado de fazer muita coisa. A solidão ao dormir naquele quarto a expulsava toda noite para o sofá da sala, então cedia ao sono assistindo TV depois de fazer a Bel adormecer.
De joelhos ela orou da única forma que conseguia: chorando. Depois de um longo tempo em prantos lá estava ela acordando na cama confortável onde há muito tempo não dormia. Nos lençóis de cetim ainda havia o perfume dele, inspirou a fragrância e abriu os olhos. Nunca se sentiu tão leve e feliz. A esperança tinha se renovado em seu coração.
Viu a filha ainda dormindo serena ao seu lado e sorriu. Levantou-se e abriu a janela se apoiando no batente. A chuva tinha cessado e o frescor da manhã pairava no ar em harmonia com o canto dos pássaros e os primeiros raios de sol. Ela resolveu se unir àquela sinfonia e orar:
─ Obrigada, meu Deus, por ter sido tão bom comigo e ter me presenteado com tantas bênçãos, sendo a maior delas a Bel. E por ter feito com que eu enxergasse que ainda tenho um bom motivo para comemorar o Natal. Porque nasceu o Amor. E através da minha filha posso contemplar esse nascimento todos os dias.
Foi a oração mais simples que já fizera, mas a mais completa. A primeira com palavras depois de tanto tempo.
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