Capítulo 4
Pov Ana
Quando entro, olho para a minha princesa. Mas, ela não tinha acordado? Por que é que ela está de olhos fechados. Chego perto dela, e percebo que ela já não tem aquele tubo na garganta, e apenas continua com alguns fios que se mantém ligados ao monitor de batimentos cardíacos.
- Não estou a perceber? Tia, ela não tinha acordado?
- Boa Tarde, sou o Doutor Rodrigues. Sou neurologista e estou a acompanhar a sua irmã.
- Boa Tarde Doutor. O que é que aconteceu? Disseram-me que ela tinha acordado, entro e ela está a dormir de novo?
- Nós tivemos que a sedar, ela alterou-se muito. E não podíamos deixar que ela se machucasse mais.
- Machucar como? Não estou a perceber nada...
- Bem a sua irmã sofreu um trauma muito grande. Para além do traumatismo que provocou o coma, havia a possibilidade de outros traumas especificamente na coluna. Mas só poderíamos saber ao certo o grau quando ela acordasse.
- Espere...coluna? Isso quer dizer que a minha irmã está...ela não vai mais...
- Neste momento a única coisa que conseguimos perceber é que ela não sente as pernas. Teremos que fazer mais exames para saber a extensão dos danos.
- Ana, ela vai ficar bem. Temos que ter fé, a nossa princesa vai ficar bem. Ela tem te a ti, tens que te manter forte agora, por ela.
- Eu...eu não sei se sou capaz. Como é que eu vou gerir tudo?
- Calma filha, nós arranjamos uma forma. Para tudo existe uma solução.
Ficamos ali a olhar para aquela menina de 13 anos, assustada com a perspetiva de ficar agarrada a uma cadeira de rodas. O que seria de nós agora? O que é que eu faria? Precisava de arranjar um emprego, algo que me pagasse bem. A Sofi iria precisar de cuidados, e aqui nunca iria conseguir algo que me pagasse bem.
A única solução era sair de Everett, ir para uma cidade Sim, iríamos para Seattle, numa cidade maior seria a melhor hipótese para conseguir um emprego que pagasse o suficiente para cobrir todos os tratamentos que a minha irmã iria precisar. Por ela eu faria qualquer coisa, eu dava a minha vida pela Sophia. Com alguma sorte, quem sabe poderia conseguir um trabalho que me desse um seguro de saúde, e desta forma poderia cobrir as despesas da Sophia.
Os dias foram passando, e a minha pequena estava sem dizer uma palavra. Ela ficava apenas a olhar para a janela, com lágrimas a correr-lhe pela cara. E por muito que eu ou a tia Flora nos esforçássemos, não a conseguíamos tirar daquela depressão em que ela estava. O dia da alta dela estava perto, eu já tinha falado com o Dr. Rodrigues da nossa ida para Seattle. E ele já me tinha dado o nome de um médico para que pudesse seguir a Sophia. Também me deu todos os exames dela, e um contacto de um centro de fisioterapia.
A Tia Flora, já tinha conseguido um apartamento perto do centro da cidade. E até já tinha conseguido um trabalho na casa de um casal. E eu já tinha conseguido um trabalho num Colégio em Seattle, apesar de não ter feito a entrevista pessoalmente, a directora percebeu a minha situação e acabou por fazer a mesma on-line. E para além de ter conseguido o trabalho e o seguro de saúde, consegui ainda uma vaga para a Sophia no colégio.
- Sofi? Sophia? Ei, queres ir dar uma volta no jardim, o Dr. Rodrigues disse que podias sair dessa cama.
- Não.- foi a primeira palavra que me dirigiu desde que soubemos da sua paraplegia.
Ia ser difícil, mas tínhamos que tentar. O Dr. Rodrigues, fez vários exames, nenhum deles deu algo permanente, por isso havia uma grande probabilidade da nossa princesa voltar a andar. Porém tudo dependia dela, da sua força de vontade e de ela acreditar nisso. O que estava ela simplesmente se negava a fazer.
- Sophia Anne Steele és capaz de olha para mim.- Sofi olhou para mim, com uma cara de desafio. Ela podia estar numa cama de hospital, paraplégica, e a sofrer. Porém eu e a Tia Flora, também estávamos.
- O que foi?- responde ela...
- Primeiro podes tirar mudar essa tua forma de falar, sou tua irmã mais velha e infelizmente sou a tua tutora legal.
- Porque tu mataste o pai.- olho para os olhos avelã de Sophia iguais aos da minha mãe, e nem acredito no que ela acabou de me dizer.
- SOPHIA.- olho para trás e vejo a Tia Flora entrar, não consigo segurar as lágrimas, e sem dizer mais nada saio do quarto.
Eu não tive culpa do acidente, não tive. E ao contrário do que a "ViúvaCinza" disse foi o meu pai que organizou a viagem. Foi ele que quis passar uns dias sozinho connosco. Se eu pudesse, se houvesse essa possibilidade eu trocaria de lugar com ele. Seria ele aqui com a nossa princesa.
- Ana.- sinto alguém abraçar-me...- Não fiques assim filha, ela está revoltada com tudo. Ela nunca te iria magoar assim de propósito.
- Mas magoou. Eu podia esperar tudo: revolta, gritos, choro. Mas não o que ela disse.
- Calma, ela sabe que foi longe demais. Entra e conversa com ela...- olho para a minha "Tia"...- Vocês são mais iguais do que pensam, entra e conversa...sem levantares a voz.
Embora, não queira dar o braço a torcer, preciso de fazer a minha irmã perceber algumas coisas. Sim ela neste momento está dependente de nós, tudo o que aconteceu está a doer. Mas está a doer às duas, às três. Porque, eu sei que a Flora sempre foi apaixonada pelo meu pai, mas ele nunca a viu como mulher, apenas como alguém que cuidava de nós e da casa. Talvez a visse como uma amiga, mas nada mais que isso.
Entrei, olhei para ela, e percebi que ela estava a chorar e com uma carinha triste, a minha vontade foi mesmo correr até ela e abraçá-la. Porém, naquele momento eu não podia. Tinha que me manter firme, e antes de poder ceder a qualquer mimo, dizer-lhe tudo o que estava entalado há tanto tempo.
- Desculpa, desculpa Nana. Eu...Eu sei que te magoei, desculpa.
- Magoaste sim Sophia, muito. E agora vais olhar bem nos meus olhos, e ouvir tudo o que te vou dizer.- sento-me nos pés da cama e olho bem nos seus olhos...- Nada do que aconteceu foi culpa minha, eu sei disso, e magoaste-me muito com o que disseste. Eu amava o pai, tal como tu. E eu juro que se pudesse eu trocaria de lugar com ele, só para que tu o tivesses aqui contigo.
- Não...- olho para ela, e logo percebe que não é para falar e apenas para ouvir.
- Sophia, sei que estás a sofrer, pela perda do pai, por toda a situação em que estás. Mas, tu não estás a ajudar princesa. O Doutor Rodrigues já te disse que a paralisia é temporária, que nada nos teus exames mostram que seja algo permanente. Mas tu tens que acreditar nisso, tu tens que nos ajudar a ajudar-te.
- Eu tenho medo Ana, eu tenho medo de tentar e não conseguir. E depois, se nada resultar e eu continuar assim? Aí vou sofrer ainda mais. E eu sei que tu a tia vão sofrer também, então para quê tentar?
- Sofi, a primeira coisa que tens que colocar nessa tua cabecinha: é que vais conseguir sim. Princesa, se tu colocares nessa tua cabeça que n~~ao vais conseguir, então não vais mesmo. Metade do teu tratamento é coragem e fé, a outra metade é o teu esforço. Mas se te falta a coragem e a fé, então a solução é começar e logo a coragem chega.
- E se eu não conseguir...
- Vamos fazer um pacto? Não vai haver "ses" neste caminho, não vai haver lágrimas. Quando duvidares de ti, pensa na mãe. Ela não hesitou em te ter, apesar de saber dos riscos que corria. Não houve "ses" para ela, havia apenas uma certeza, ela iria conseguir.
- Mas ela não conseguiu...
- Aí é que te enganas. Ela conseguiu sim princesa, porque tu nascestes linda e saudável. E foi para isso que a mãe sofreu todos aqueles meses.
Depois de lhe contar o que a minha mãe um dia me contou, Sofi começou a chorar. Fui até ela e abracei-a. Ficámos ali as duas a chorar, mas não eram lágrimas de dor, ou tristeza. Eram lágrimas de saudade, de amor.
No final da semana, finalmente a nossa princesa teve alta. Já tínhamos todas as nossas malas e pertences mais importantes no carro, então foi apenas colocar a Sophia no carro e partimos para a nossa nova casa, em Seattle. Não era uma viagem muito longa, mas mesmo assim decidimos fazer no mínimo uma duas paragens, para que a Sophia pudesse mudar um pouco de posição. E fazermos os exercícios que o Dr. Rodrigues nos tinha ensinado, para estimular os músculos. Seria importante até ela começar a fisioterapia.
Chegámos a Seattle já de noite, tivemos o cuidado de arranjar um apartamento onde houvesse elevador, para facilitar a saída com a Sofi. Graças a Deus tivemos a ajuda do porteiro para levar algumas coisas para casa. Não eram muitas coisas, mas eu sozinha iria demorar séculos.
Agora, iria ser uma nova página nas nossas vidas. O que ficou para trás é do passado, uma passado onde fomos felizes, onde rimos e chorámos também. Um passado onde a dor também existiu, mas que nos fez crescer. Agora é olhar para o futuro, olhar para a frente e escrever novas e belas histórias na nossa vida.
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