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Capítulo 12

Pov Sophia

Quando o casal e a moça chegam perto de nós, o Dr. Ethan dirige-se até eles, acho que eles se conhecem...

— Tio Carrick, Tia Grace. E Bea?! O que fazes aqui? Isto não é caso de polícia.

— Polícia!? Tia, a Ana não vai ser presa pois não? Ela não fez nada...— Eu não estava a perceber nada, eu só queria sair dali com a Tia Flora e com a Ana. Eu não as podia perder, sem elas eu ia ficar sozinha...

— Calma Sophia.— Diz o Dr. Ethan...— Ninguém vai ser preso.

— Isso ainda é algo que ainda vamos ver Ethan. Afinal o que é que aconteceu?

— Bea, por favor menos.— A Senhora com um ar simpático diz, zangando-se com a tal Bea.— Primeiro estás a assustar a criança, segundo neste momento eu quero a minha filha Beatrice e não a policial Grey.

— Desculpa mãe, mas é o Christian, o meu irmão que está ali dentro. E...

— Mais uma razão para tirares essa capa de mulher durona.— a senhora aproxima-se de mim, abaixa-se e faz-me uma pequena festa na minha bochecha.— Não ligues para a Bea, ela tem esta máscara de durona, mas é doce que nem...

— Algodão doce!?— a senhora ri-se com o que digo, e a moça fica com um ar engraçado.

— É, como o algodão doce.— diz a senhora, que olha para filha com um sorriso no rosto.

— Estás a tirar-me todo o respeito que ganhei na minha profissão.— Diz a tal Bea.— Afinal o que aconteceu? Alguém me explica?

— A culpa não foi da Ana.— digo depressa.

— Calma Sophia, ninguém aqui acusou ninguém.— Diz a Tia Flora que olha para a moça com um olhar que se pudesse matava-a.

— Ela disse.— E aponto para a moça...— Eu não posso ficar sem a Ana, não posso.— os meus olhos já estão cheios de lágrimas.

— E não vais ficar meu doce.— A minha Tia abraça-me, e tenta acalmar-me...— Eu peço desculpa, estas duas meninas já passaram por muito, e apenas se têm uma à outra.

— Sophia.— A mulher polícia aproxima-se devagar.— Ei! Olha para mim...— levanto o meu olhar para ela, limpa-me algumas das lágrimas que me caíram...— Desculpa. Eu só estou nervosa e preocupada com o meu irmão. 

— A Ana só tentou ajudar...foi o rapaz que o feriu...ele roubou a mala da tia...a Ana começou  correr atrás dele...aí ele...

— Sofi, respira...— estava tão nervosa que estava a atropelar as palavras todas...

— Mas...

— Respira.— Diz a Tia Flora abraçando-me como podia.

Depois de me acalmar, ela começou a contar como tudo se tinha passado. Que lhe tinham roubado a mala, em como Ana correu atrás do ladrão e em como encontramos o tal de Christian ferido. A Tia Flora contou que como enfermeira não poderia deixar de tratar do ferimento. Conta em como o teimoso quis ir a casa, e com medo que ele não voltasse para tratar da mão, pediu a Ana para o ajudar. Porém, tudo se alterou...

— Por que não o trouxeram para o hospital? Por que...

— O seu irmão não queria. Eu tive que o "ameaçar" para, no mínimo, me deixar fazer um curativo. Eu por mim já teríamos ido embora, mas a Ana não quis deixar o Sr. Grey sozinho.

— Ela diz que ninguém deve ficar sem companhia num hospital. A mamã ficou, porque o papá tinha que tratar dela. E depois...— E de novo as lágrimas me escorrerem pelos olhos.

— Não fiques assim minha querida. Ninguém aqui vai fazer mal à tua irmã.— a senhora, que agora sei que é mãe do Christian e da moça que é polícia, olha para ela com uma cara muito zangada.— Certo Beatrice Marie Trevelyan Grey?

— Certo, Dra. Grace Marie Trevelyan Grey.— e dá-me uma piscadela, e eu sorrio. Afinal acho que ela não é assim tão ma.

Caminhamos até ao quarto, de onde sai a Ana. Quando a Tia Flora os apresenta como a família de Christian, a Ana fica muito nervosa, acho que nunca a vi tão nervosa assim. Ela pede desculpa por ter colocado o filho deles ali, que não devia ter gritado para o apanharem. E foi aí que o pai dele acalmou a Ana, dizendo que o Christian nunca iria deixar alguém ficar prejudicado.

— Filha, acho que agora podemos ir. A Família do Sr. Grey chegou e a Sofi precisa de descansar.

— Descansar de quê tia? Só se for dos quilómetros que não corri, ou melhor dos quilómetros que a coitada da cadeira rola por mim.— Vejo a mulher polícia rir, mas a tentar esconder o mesmo....— Acho melhor é colocar a cadeira a descansar.

— Sophia Anne Steele. Já falámos sobre essa tua forma de responder.—  Diz Ana.

— Desculpa Ana, mas eu estou cansada dela...— E aponto para a minha fiel amiga cadeira.

— Eu sei que estás, mas o médico disse-te que se te esforçares vais conseguir sair dessa cadeira.

— E também disse que sou "louca"...

— Ele não disse isso Sofi. E a sessão de grupo vai fazer te bem.

Sessão de grupo para pessoas em cadeira de rodas? Não sei onde é que isso nos ajuda. Um bando de pessoas infelizes e condenadas a viver uma vida inteira sentada.

- Sophia. Posso convidar-te para comermos uma fatia de Bolo de Brigadeiro? A cozinheira aqui do hospital faz um maravilhoso.

- Eu posso ir Ana?- perguntei á Ana, bolo de brigadeiro? Quem é que recusa uma fatia desta maravilha?

- Tu nem comeste direito hoje.

- Que tal se comermos um pequeno almoço reforçado com uma fatia de bolo?— diz a moça olhando para a minha irmã.— Vão ver o Christian, eu depois vou lá ter com a Sophia.

— Sophia, alguma coisa liga. Tens o telemóvel, certo?

- Sim. Mas eu estou com uma polícia, o que é que me pode acontecer?

Claro que a Ana tinha que se armar em minha mãe. Eu adoro-a, não me levem a mal, mas por vezes gostava que ela fosse apenas a minha irmã, a minha amiga. depois de mil e uma recomendações acaba por concordar e saímos às duas animadas para a cafetaria.

— Nós vamos mesmo comer o bolo?

— Claro que sim.

De repente ela para. Pede para eu esperar ali que vai só buscar alguma coisa. Foi até uma porta, entra e quando saí lá de dentro, está sentada numa cadeira de rodas tal como eu.

- Que tal uma corrida de cadeira? Quem chegar por último será um ovo podre?

- Isso não vale, eu nem sei onde fica a cafetaria.

- Tens razão, então que tal tocar o terror pelo hospital de cadeira de rodas.

- Não vamos arranjar problemas?- ainda dizem que eu me meto em encrencas.- Sei que és polícia, mas sabes que também podes ir presa, certo?

- Vou-te contar o primeiro segredo do dia...— Chega-se perto do meu ouvido.- A dona do hospital é a minha irmã...gémea. Este hospital é da minha família há anos.

- Percebi, podes fazer o que quiseres que ninguém te diz nada.

- Mais ou menos isso. Os meus pais provavelmente vão olhar torto para mim e a minha irmã vai dar-me um sermão. Mas, vai valer a pena, certo?

— Acho que sim...

— Então vamos?

— Sim. Mas se a Ana se zangar comigo, vou dizer que a culpa foi tua.

— Combinado. Preparada...— Ela assente com um sorriso...— Um, dois, três...

E lá vamos nós pelos corredores do hospital, de cadeira de rodas. As enfermeiras, que andavam pelos corredores davam gritinhos que nos faziam rir, e algumas chegavam a dar saltos pelo susto. E houve uma que até caiu. Quando chegámos à cafetaria, estávamos cansadas, mas acho que nunca me diverti tanto.

Ela pede duas fatias de bolo e dois copos de leite, e fica a olhar para mim. Não é um olhar de pena, é um olhar de quem me vê para além da cadeira.

— Posso perguntar-te uma coisa?

— Queres saber o por quê de estar sentada na minha fiel amiga?

— Bem...só se quiseres falar. Percebi que a tua irmã e a tua Tia...

— Elas são tudo o que tenho. A minha mãe morreu quando eu nasci, e foi nessa altura que a Tia Flora foi trabalhar lá para casa. Ela que tomava conta de mim...e de certa forma da Ana. Sempre fomos nós três contra o mundo, e éramos felizes. Até que apareceu a bruxa ou a "Viúva Cinza" como a Ana a chamava.

— Viúva Cinza!? Então o teu pai casou de novo?

— Infelizmente sim. E com uma bruxa, o pior é que com ela veio a diaba em forma de gente.

— "Diaba em forma de gente"!? Meu Deus, mas tu dás nomes a toda a gente...

— Dizes isso porque não tiveste que viver sobre o mesmo telhado que elas. A Bruxa era má para nós, principalmente para mim. E a cascavel fazia sempre com que eu e a Ana apanhássemos do meu pai. Ele deixou de nos ouvir, bastava a outra lá chorar um pouco e a Bruxa fazer-se de vitima...

— E vocês nunca falaram com o vosso pai, nunca lhe explicaram que era...

— Falar até falámos. A Ana quase foi expulsa de casa por enfrentar o meu pai, foi a Tia Flora que entreviu.

— Bom e então, continuaram a viver com a "Viúva Cinza" e com a "Cascavel"?

— Não tivemos outro remédio, mas evitávamos estar muito tempo com ela, o que significava pouco tempo com o meu pai. Há uns meses a bruxa e a cobra tiveram que fazer uma viagem. O meu pai decidiu passar também uns dias fora só connosco. Foi uma semana maravilhosa, tivemos o nosso pai de antes: divertido, carinhoso, bom ouvinte...mas na volta não sei o que aconteceu, o carro começou a andar numa velocidade vertiginosa.

— Tiveram um acidente?— apenas aceno que sim...— Então foi por causa do acidente que ficaste...

— Sim. Os médicos dizem que fisicamente eu estou bem, que depende de mim. Mas eu...eu tenho medo.

— Sabes eu até te consigo perceber. Eu tenho um amigo, ele também ficou numa cadeira, assim como tu. E também ele estava com medo. Mas a filha, uma menina linda e muito esperta tem sido a mais entusiasmada na recuperação do pai, e por isso mesmo ele não desiste.

— A Ana também me pediu para tentar, é por ela que vou tentar. Mas pensar que a vou desiludir...

— Ei!! Não, não penses assim. Tu vais conseguir sim, eu sei que sim. Tu és uma menina tão linda e forte...

— Como é que sabes se sou forte? Tu nem me conheces.

—  Bastou ver como defendeste a tua irmã, como a tua "Tia" cuida de ti. Eu tenho a certeza que tu vais conseguir. E só para te incentivar...— entrega-me um cartão e eu fico a olhar para ela...— Por cada progresso que fizeres, recebes uma fatia de bolo. Que tal? Combinado?

— Em vez de bolo pode ser gelado? De Morango, é o meu preferido...

— Pode, pode ser....agora vamos lá ter com a tua irmã e com a tua Tia. Acho que já estamos aqui há muito tempo...

E assim voltamos para o quarto do nosso anjo da guarda, e o futuro namorado da minha irmã...

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