O sonho da noite anterior ainda perpetua em meus pensamentos, deixando-me cada vez mais intrigada. Sarah, a garota fantasma tinha uma irmã... E sua irmã é a garota que está nos quadros e na biblioteca misteriosa de John Jones. Minha mente começa a ligar os pontos e começo a entender pouco à pouco, que as duas tem realmente uma ligação com esse assassino. Mas qual? Inúmeras perguntas ainda se fazem em minha mente e eu quero mais do que nunca, desvendá-las. 

Encaro meu reflexo no espelho e percebo que estou com um aspecto melhor, já que finalmente, pude tomar um banho e colocar uma roupa limpa —, mesmo que se tratasse desses vestidos esquisitos e bregas. Sigo em direção as escadas e  desço, pego a lista de tarefas que me foi deixada na sala de estar e começo a preparar os materiais para a limpeza, então percebo que a casa está mais silenciosa que o normal. Será que ele está em casa? Começo a percorrer todo o térreo à sua procura  e ele realmente não  parece estar nesse andar. Subo o primeiro lance de escadas e vou em direção ao corredor, o qual há não mais que três portas. Todas estão fechadas. Subo mais um lance de escadas onde há mais um corredor com portas, desta vez, mais iluminado que o primeiro. Começo a girar as maçanetas uma a uma, até que uma delas se abre. Um escritório.  

É, essa casa é  definitivamente maior do que pensei. 

Entro e fecho a porta rapidamente. O local é elegante e moderno, em comparação ao resto da casa. Há uma cadeira em couro de cor preta e a mesa central é de madeira. Alguns livros e revistas estão sobre ela. Também percebo algumas prateleiras no local, onde estão alguns livros e… fotos. Começo a analisar uma a uma, com curiosidade. 

 A primeira, um garoto sorridente de cabelos negros e lisos e olhos claros está  acompanhado de uma mulher em semelhantes traços. Os dois sorriem. Na segunda foto, um jovem bonito e sorridente, seus olhos claros estão em destaque na imagem, assim como os cabelos negros. Ele é realmente muito bonito. Na terceira imagem, está um casal. Então eu a pego, sentindo meu coração acelerar descompassado, de repente. Uma sensação completamente estranha. Puta que pariu! São eles. O garotinho da foto é o Jonh Jones, assim como o jovem e bonito rapaz. E a jovem da foto ao seu lado, a Meddelin, era sua... namorada? Só pode ser isso, não tem outra explicação! 

Puta que pariu! Onde  foi que me meti? 

— O tempo está próximo,  Ellie. Você precisa pará-lo. 

Giro meu corpo ao encontro da voz, de repente. É  a Sarah. 

— Agora eu entendo tudo, Sarah! Você é a irmã da Meddelin, não é? — Questiono a garota, que se mantém imóvel a minha frente. — O que aconteceu  com você, Sarah? Onde está a sua irmã? — Pergunto, sentindo pouco a pouco, uma aflição repentina tomar conta de meu corpo. Uma sensação esquisita que eu não consigo descrever. 

— Ela está morta, Ellie. Eu estou morta. — A garota diz, o semblante mórbido e melancólico estão estampados em sua face, sinto um frio percorrer  meu corpo, uma sensação esquisita e agonizante. — Você precisa parar isso! — A garota grita, sua voz soa cortante. — Eu não quero que morra, Ellie. Eu não quero! 

E então, eu escuto um barulho no andar de baixo. Resolvo estupidamente abrir a porta devagar, atravessando-a em seguida. Desço as escadas devagar, seguindo o barulho, que parece cada vez mais próximo. Eu não deveria estar fazendo isso, eu sei. Mas por algum motivo, não consigo parar. Chego à sala de jantar e deparo-me com toda a cena à minha frente. John Jones segura uma garotinha pelos braços, a qual se debate, freneticamente. Seu choro invade o ambiente rapidamente, desesperado. E ele parece cada vez mais sedento e motivado, enquanto  a garota chora e grita para que ele a solte. E então, no segundo em que ele levanta o machado, eu grito. 

— NÃO! 

Meu grito soa alto e cortante. Meu corpo inteiro está tremendo, uma onda de pavor e medo o percorrem, sinto uma lágrima quente querer escapar pelos meus olhos, mas não me dou por vencida. Eu não posso. 

— Você não pode fazer isso, John! Você não precisa fazer isso! — Digo, tentando  soar forte e decidida, quando na verdade eu só quero gritar e correr dalí. — Deixe a garota  em paz, por favor! Mate a mim, mas deixe a garota viva! 

O homem solta a garotinha no chão, a qual se encolhe em posição fetal, assustada. Ele caminha em minha direção, e sinto meu coração bater cada vez mais forte à cada passo que se aproxima, meu corpo inteiro treme, sentindo o medo percorre-lo por inteiro. O homem à minha frente solta o machado no chão, então levanta-se lentamente, encarando-me fixamente. Ele mantém os olhos claros fixos em mim, olhos que não parecem mais os do garoto que vi na foto. Jones aproxima-se ainda mais, chegando próximo ao meu rosto, então o toca, levemente. Aquele carícia me causa repugnância. 

— Eu jamais machucaria você, Meddelin. Jamais.